Letramento racial, para quem se destina?

Letramento racial, para quem se destina?

Suponhamos que você lidera um time, no qual há um colaborador com dinâmicas bem particulares – ele, em sua atuação, sempre consegue vantagens e privilégios sobre os demais. E essa diferenciação não ocorre porque ele seja mais inteligente, mais sagaz, mais preparado ou qualquer outra competência de destaque, mas, sim, porque ele conseguiu uma brecha na empresa e vem aplicando suas táticas que geram vantagens unicamente para si mesmo. Como você agiria diante dessa injustiça? Manteria suas práticas como de costume ou faria uma intervenção em prol do coletivo? Aposto que faria o melhor, ou seja, uma reparação para essa situação.

   Letramento é um conceito que vem se popularizando. Quanto mais estudamos, mais percebemos que precisamos nos aprofundar nas temáticas, assim como nas tendências. Então, surgem as novas demandas, a exemplo do letramento digital, mas também ganham força as temáticas mais estruturantes, entre elas o letramento racial, o emocional, entre outros. Letramento racial é para todos! Por meio dele acessamos o conhecimento histórico que nos falta para compreender que muitos crimes foram cometidos e que para diminuir o impacto traumatizante que foi gerado, temos de realizar reparações sociais.   

    Vivemos em comunidade e somos interdependentes; portanto, o todo nos afeta e nós afetamos o todo. Sem romantismos, de fato, temos nossas responsabilidades na sociedade, além de ética e cidadania. Há um compromisso com nossos ancestrais e com as gerações futuras. Somos o resultado das diversas decisões que foram tomadas antes de nós. Escolhas essas que para muitos geraram privilégios e para outros estabeleceram dificuldades. Não basta seguirmos rumo a um futuro melhor. Precisamos atuar em um presente mais justo e colaborativo. Devemos intervir para que mais oportunidades e acessos sejam gerados àqueles que foram privados.

    Historicamente o mundo gerou e continua promovendo guerras. Desde os primórdios da civilização as batalhas se estabeleceram com a perspectiva de escassez. Entendia-se que era preciso lutar para conquistar algum recurso para si, ao mesmo tempo que o privava do outro. Com isso buscava-se o suprimento das necessidades pelos diversos grupos. Conforme um combate acontecia, o ganhador escravizava o povo que sucumbira na batalha até que houvesse uma nova disputa e o cenário fosse alterado. A escravização, nessa conjuntura, se fazia móvel. Ela era determinada pelo vencedor que ora era um povo, ora outro.

    Contudo o contexto nas Américas, e, por conseguinte no Brasil, teve um grande diferencial, a sua determinação. O povo escravizado não foi um grupo que perdeu a batalha, mas um coletivo de pessoas que, a partir de características físicas, foi subjugado como servidor e, com isso, fixou-se privilégios para alguns de forma atemporal. Ou seja, o povo escravizado não teria oportunidade de ascender na sociedade. Pelo contrário, seria sempre escravizado, ele nasceria escravizado. Esse entendimento partiu de uma desumanização de pessoas, provocando uma marca indelével, uma mancha na alma e a perpetuidade pela sua descendência.

    A raça passa a ser uma construção branca. A branquitude constitui-se Ser a partir do outro enquanto Não Ser. O branco se coloca como referência em todo e qualquer padrão e faz uma alteração negativa – reconhecendo a diferença no outro, e ao mesmo tempo, hierarquizando a partir dessa diferença. A verdade é que o padrão da sociedade vai além da raça, ele engloba diversos outros marcadores e os hierarquiza da mesma forma, por gênero, por idade e tantos outros.

    Educamos e somos educados em um entendimento centrado no homem branco cis [pessoas que se identificam com o gênero que é designado quando nasceram], vide nos livros e publicações, a referência dentro da evolução humana nunca é diversa, continua sendo representada do macaco ao homem [branco, cis, com idade média “produtiva”, magro, forte, entre outros marcadores]. Repetimos a produção de um padrão de humanidade que é, por sua essência, discriminatório. Mulheres, deficientes, idosos e outros grupos majoritários, que são minorizados, não se veem representados nesta e em outras imagens.

     Não há reconhecimento, não há representação e, quando há, são justamente referências negativas, estão vinculados com estigmas e, por isso, desvalorizados pela população. A partir disto, a sociedade odeia e cada ser humano reproduz esse mesmo ódio, uma pessoa odiada também odeia, bem como aos seus semelhantes. O ódio direcionado a si mesmo se estabelece e fortalece as distâncias que foram estabelecidas há tantos anos. Atingimos um lugar altamente pulverizado, no qual a compreensão do que se estabeleceu, e do que continua sendo perpetuado não é perceptível, estamos alienados, enxergamos pequenas partes, não entendemos o todo. Para as pessoas pretas se faz necessário aceitar-se negras, mas acima disso celebrar-se negras.

    O embranquecimento perpetua-se em todas as camadas e com isso reforça sua continuidade. O poder é embranquecido, a beleza é embranquecida, a cultura é embranquecida. Faça uma autoavaliação: quais são as suas grandes referências em autores, atrizes, poetas, líderes, CEOs e outros profissionais? O embranquecimento está em tudo. Dos fornecedores e marcas que você compra, aos lugares que frequenta, até as relações de amizade que estabelece. 

     Já entendemos que racismo no Brasil é fenotípico, caracterizado tão e exclusivamente pela estética das pessoas. Como a música Alegria da Cidade de Margareth Menezes: “Minha pele é linguagem e a leitura é toda sua”; é a cor, o cabelo, os traços que são entendidos como brancos, mais próximos dos brancos ou negros. E, com isso, outro fenômeno perverso surge a “passabilidade”, marcada pelos pseudo privilégios dos pretos de pele clara perante aqueles de pele retinta e traços  afrodescendentes. Essa dinâmica toma dimensões assustadoras, quando nos deparamos, por exemplo, com o censo de 2019 que afirma que um jovem negro morre a cada 23 minutos no Brasil.

    Confundimos direito com educação, subvertemos valores e a valorização, por exemplo as culturas ancestrais – nas quais os anciões são pessoas sábias e, por isso, prestigiadas com cuidado e espaço para compartilhamento do seu conhecimento, como ocorre com os povos indígenas, – foram substituídas por uma sociedade que descarta as pessoas mais velhas. Tentamos ao máximo descaracterizar a idade, minimizando rugas, cabelos brancos e outros traços, até o momento em que enquadramos essa pessoa em um papel secundário dentro da conjuntura familiar e comunitária. O escritor Amadou Ampatabá (1901-1991) já dizia que “o ancião é um livro em que suas páginas estão sendo levadas pelo vento” e, dentro da nossa dinâmica frenética de ascensão e acúmulo, nem percebemos que algumas coisas se esvaem para sempre. 

   Como o saudoso ativista dos direitos civis e humanos Abdias Nascimento (1914-2011) afirma, a “matemática” social é básica, para apenas algumas vidas serem importantes, outras precisam ser desimportantes. E neste entendimento inclusive as pessoas brancas antirracistas continuam com seus privilégios, elas herdam essa condição e são tratadas diariamente a partir desta construção social coletiva. Todas as pessoas brancas são beneficiárias, o que elas podem e devem escolher é não ser signatárias, ou seja, que elas atuem de forma consciente para ressignificar a segregação que ainda existe pela raça, destinando inclusive o seu lugar de poder e privilégio para o outro. Quantas vezes diante de uma vaga, de uma oportunidade, você se privou de ocupá-la para que ela fosse disponibilizada para uma pessoa de um grupo minorizado? Sim, nós humanos também temos disso, ora não reconhecemos o racismo, ora ao verbalizá-lo como uma realidade. Sempre aguardamos a reparação social pelo outro e estamos constantemente nos esquivando das nossas responsabilidades que foram herdadas assim como os nossos privilégios. 

     Uma pesquisa muito interessante aponta que 81% dos brasileiros declaram que o nosso país é uma sociedade racista e ao mesmo tempo apenas 11% reconhecem ter atitudes racistas. Todo mundo sabe que o racismo existe, mas o difícil é encontrar o racista. A branquitude atua de forma subjetiva, como um pacto não verbalizado, mas que está lá, nos olhos dos avaliadores, nos ouvidos dos entrevistadores e na decisão dos contratantes, que continuam a perpetuar os mesmos padrões de escolha e promoção. Quantas vezes você pode ter sido racista apenas hoje, pelo seu pensamento, olhar, expressões, escolhas e tantas outras atitudes do cotidiano?

    O racismo não é desconstruído sozinho. É um mal social coletivo, e a branquitude herdou isso. Exterminar a branquitude fala sobre a eliminação do sistema de manutenção do privilégio estabelecido – que se materializa nas práticas cotidianas que sustenta o privilégio branco -, e não sobre cada ser humano de pele branca. Assim como exterminar a negritude é sobre eliminação de um grupo social com a destituição de direitos e não sobre cada ser humano de pele preta ou parda. Estamos nos referindo à exterminação da injustiça. Uma pessoa letrada pode aplicar este conteúdo de acordo com as demandas sociais, como você tem contribuído para que a diversidade racial seja uma referência positiva, em vez de uma mancha triste que se perpetua na nossa história com seu consentimento?   

Este artigo foi construído a partir das reflexões, falas, participações e conteúdos promovidos durante o curso “letramento racial”, ministrado pela professora Dra. Bárbara Carine Soares Pinheiro (@uma_intelectual_diferentona).

Para se aprofundar, a partir da perspectiva negra:
Discutindo a mestiçagem no Brasil de Kabengele Munanga

Negritude de Kabengele Munanga
Dispositivo de racionalidade de Sueli Carneiro
Tornar-se negro de Neusa Santos Souza
Pele negra, máscaras brancas de Frantz Fanon
O pacto da branquitude de Cida Bento
O genocídio do negro brasileiro de Abdias Nascimento
Racismo Estrutural de Sílvio de Almeida

Para se aprofundar, a partir da perspectiva de outros grupos:
Entre o encardido, o branco e o branquíssimo de Lia Vainer Schucman

“Eles combinaram de nos matar, mas a gente combinamos de não morrer.” 

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Aprendizados

Não a conheci, porém, ela vive em mim. Fala comigo, cochichando ao meu ouvido, me guiando pelas estradas da vida.

Juntas, caminhamos pelos campos, subimos montanhas, nadamos em rios e mares, tomamos banhos em lindas cachoeiras e corremos pelas matas.

Com ela, e através dela, vejo flores, insetos, aves, enfim, todos os tipos de vida, com olhos de amor e muito respeito.

E a minha paixão por cristais também está ligada aos ensinamentos dela, que os usava para energizar, limpar e curar as pessoas que lhe pediam ajuda. Ela me ajudou a aprender sobre as suas cores, formas, desenhos e propriedades curativas.

De mãos dadas, quando vamos colher ervas medicinais, ela me conta que estas plantas maravilhosas doam sua energia vital para nos curar! Com naturalidade, ela me ensina a segurar as ervas, sentir sua energia e seu aroma e sempre me mostra plantações para que eu entenda que nosso alimento não nasce nas prateleiras dos mercados, mas vem da terra que nos sustenta.

Aprendi com ela a escutar o silêncio, no entanto, quando quebrado pelos sons dos animais, pelo farfalhar das folhas, pelo ir e vir das ondas do mar, pelas cachoeiras, pelos trovões, dentre tantos outros sons, todos os tipos de manifestações são importantes. Tudo isto ela me mostrou, pois me ensinou a observar a natureza.

Andar descalço e tomar chuva não nos adoece! É cura! É bênção! Aprendi! 

Unidas, respeitamos o sol, a chuva, o vento, o dia e a noite e adoramos os mistérios do céu noturno, momento que olhando para a profundidade da noite, com ela, oro em silêncio, nada pedindo, mas somente agradecendo. Agradecendo por todas as lições.

Tudo isto e muito mais, ela me ensinou e me ensina, dia a dia.

Maria Curandeira era seu nome para os familiares. Ela, cujo nome em Tupi-Guarani não me lembro, foi minha bisavó paterna que nasceu no final dos anos de 1880 no norte de Minas Gerais, por quem tenho imenso carinho, respeito e gratidão!

O texto faz parte da Coletânea ORIGINARIAS – A força criativa do legado feminino, organizado pela AJEB – ASSOCIAÇÃO DAS JORNALISTAS E ESCRITORAS DO BRASIL

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Para quem você cantou hoje?

Para quem você cantou hoje?

Um estímulo para você viver a sua melhor versão

O grande dia estava chegando! Aquele em que eu poderia, finalmente, prestar a homenagem para a qual estava me preparando havia meses: cantar para a minha irmã a música tão cheia de significado para nós duas, no dia do casamento dela! Passei a véspera daquela data tão especial conversando com a minha mente para me convencer de que conseguiria cantar e não teria medo. Afinal, eu estava ensaiando duas vezes por semana, com uma professora incrível, nos últimos seis meses. Fui acordada várias vezes por uma voz que me dizia: “Desista, poupe-se dessa vergonha, dessa exposição. Você não precisa disso. Depois, você canta só para a sua irmã e não na frente de um monte de gente”.

A festa foi incrível. Minha irmã estava linda, feliz, um verdadeiro encanto! E eu, apesar de toda a dedicação, não cantei. Ameacei algumas vezes pedir o microfone, mas a voz interna do medo e da vergonha foi mais alta que a voz do amor e da coragem. Fiquei triste, frustrada e me sentindo uma perdedora. Para me perdoar, usei como desculpas minha gestação – eu estava grávida de sete meses – e o fato de que a respiração fica mais curta, o que dificulta ainda mais para uma cantora amadora como eu. Mas sei que foi apenas uma desculpa, o que não alivia a minha consciência.

Já aconteceu com você alguma situação semelhante a essa, em que esperava ansiosamente por algo e, na hora, não conseguiu fazer o que havia planejado? Eu diria que, provavelmente, sim!

Na verdade, arrisco a dizer que, com certeza, sim. E minha afirmação possui embasamento científico. Está comprovado que, constantemente, existe uma batalha acontecendo em nossa mente – de um lado, a parte que é nossa melhor amiga, “Sábia”, aquela que tem acesso aos nossos talentos, potencialidades, aos poderes mentais, inclusive os inexplorados. É a voz também da autenticidade, do equilíbrio e das emoções positivas. De outro, a parte responsável pela maioria do seu sofrimento na vida: “Sabotadora”, a qual, assim como a anterior, todos nós temos. Ela sempre coloca nossas habilidades e das outras pessoas em dúvida, questiona nossa autoconfiança, ameaça nossas potencialidades, fazendo com que nós hesitemos até sobre a intenção de quem está perto de nós. Como nos saímos dessa luta e para quem permitimos maior espaço e comando das decisões e atitudes é o que vai definir o tipo de vida que teremos, o quão feliz seremos e quanto do nosso potencial conseguiremos atingir.

Inteligência Positiva – o que é?

Quem apresenta esse conceito de forma detalhada, propositiva e prática é o professor Shirzad Chamine, da Universidade de Stanford e autor do livro com esse mesmo nome. Ele define a Inteligência Positiva como uma indicação do controle que você tem sobre a sua própria mente, ou seja, quão bem usa a sua mente a seu favor. Ela é fruto de um conhecimento construído a partir da Neurociência, da Psicologia Positiva, da Psicologia Cognitiva e da Ciência do Desempenho e pode ser entendida como a capacidade de se autogerenciar, ou seja, a habilidade que você tem de gerenciar, principalmente, seus pensamentos e suas emoções. A Inteligência Positiva também pode ser compreendida a partir da percepção de qual é a voz predominante em sua mente, considerando que temos duas tendências principais, sendo a primeira: aquela que o coloca para cima, agindo a seu favor, de maneira favorável a você e aos outros; e a segunda: aquela que o põe pra baixo e o sabota, transformando sua mente em sua pior inimiga. Essa percepção de qual voz está mais forte, falando mais alto na sua mente, pode ser medida pelo “Quociente de Inteligência Positiva” ou QP. Trata-se do índice objetivo que indica quanto tempo, em percentual, sua mente está agindo como sua melhor amiga, em vez de sua inimiga.

Quem desenvolve um nível alto de Inteligência Positiva, ou um alto QP, consegue gerenciar essas duas vozes para que a positiva, que chamamos de Sábia, prevaleça, mobilizando suas ações e, é claro, seus resultados do ponto de vista pessoal e profissional.

A boa notícia é que existem ferramentas que podem nos ajudar a aumentar nosso nível de Inteligência Positiva e, com isso, atingir o sucesso pleno com felicidade duradoura. Para isso, mais do que conhecer é importante aplicá-las. Essa é a única forma de se beneficiar de todo esse estudo que foi feito. Por isso, na Arquitetura RH, ajustamos a nomenclatura de Inteligência Positiva para Atitude Positiva, pois preconiza a ação como ponto fundamental.

A aplicação das ferramentas da Atitude Positiva pode ocorrer de diversas maneiras, tendo como estratégias principais: fortalecer a voz positiva (Sábia); minimizar a voz negativa (Sabotadora) e desenvolver a musculatura mental.

Fortalecendo a voz positiva (Sábia)

Suponha que você acabou de cometer um erro grave em algo importante na sua vida. A voz Sábia, movida pela empatia, vai primeiro se solidarizar com você – afinal, você é humano e, portanto, pode cometer erros, o que não o torna uma pessoa menos incrível. Você, então, se sente melhor e se abre para explorar o que aconteceu e onde errou, em vez de ficar se julgando, se criticando e se culpando. Com isso, essa voz o impulsiona a chegar a soluções inovadoras para se sair melhor da próxima vez. Vai ter mais energia para navegar entre as soluções e escolher o caminho que melhor se encaixe em seus valores e objetivos. Conseguirá, assim, agir de maneira decisiva e focada, alcançando melhores resultados, sem ter desperdiçado energia remoendo e sofrendo com o que já passou.

Sábia é a voz da sua essência, é a expressão das suas potencialidades, forças, qualidades, valores e do seu propósito. É a expressão daquilo que o torna único, especial. Ela é movida pela empatia, pela alegria de explorar as possibilidades, pelo desejo de criar e de se inspirar, pela vontade de contribuir e de encontrar significados construtivos, até mesmo durante crises. Para essa voz, que habita a mente de todos nós, os obstáculos que aparecem na nossa vida são chances para aprendermos, para ficarmos mais fortes e para nos inspirarmos a viver melhor. Ela aceita os fatos, em vez de negá-los, rejeitá-los ou ressenti-los e encara todos os resultados e circunstâncias como dádivas e oportunidades, considerando até situações extremas. Há diversos exemplos e pesquisas que corroboram com essa metodologia, desde a mais simples circunstância até casos de pessoas que passaram por tragédias e as transformaram em missão e inspiração. 

Para fortalecer a voz Sábia, quando estiver diante de um obstáculo ou problema, busque ter empatia por você, compaixão, explorar a situação com curiosidade e abertura. Assim, conseguirá aprender e se fortalecer para enfrentar novos desafios de modo mais leve e positivo, evoluindo constantemente.

Apesar de parecer simples, essa atitude ainda não é comum. Segundo Shirzad Chamine, apenas 20% da população consegue passar a maior parte do tempo com a voz positiva no comando de suas vidas. Essas pessoas, graças à autorregulação que têm da própria mente, conseguem atingir o seu máximo potencial. Os outros 80% da população estão majoritariamente infelizes e desconectados da sua Atitude Positiva. Isso porque na mente delas, o que prevalece é a voz negativa, a Sabotadora. Acesse o link para saber quanto a sua mente está funcionando a partir da vos sábia.

Minimizando a voz negativa (Sabotadora)

Um conjunto de padrões mentais automáticos e habituais, que se apresenta em diversos modelos pré-formatados, cada um com características, crenças e suposições que atuam de forma contraproducente, diminuindo suas oportunidades e resultados, além, é claro, do seu bem-estar. Isto é, agem contra o que é melhor para você, essa é a voz Sabotadora, que se mostra em diferentes abordagens improdutivas.

A formação dela é um processo orgânico, que ocorre durante o primeiro estágio de nosso desenvolvimento mental, na infância. Ela nasce para ser nossa amiga, nos ajudando e protegendo de ameaças físicas e, principalmente, emocionais. Sabe quando era pequeno e respondeu em sala uma pergunta errada? Você imediatamente ficou constrangido e se sentiu ameaçado, criando a oportunidade perfeita para essa voz Sabotadora se manifestar, como uma estratégia de sobrevivência criada pela sua mente para protegê-lo de passar vergonha novamente ou de se sentir mal. 

Na vida adulta, essa Sabotadora pode se manifestar de diversas maneiras: criticando, tentando convencê-lo de que não é bom o suficiente, fazendo você se sentir uma vítima injustiçada e por aí vai. Dentre todas as manifestações, foram definidas dez categorias de vozes sabotadoras que consolidam características específicas, sendo elas: Crítica, Prestativa, Hipervigilante, Hiper-realizadora, Controladora, Insistente, Esquiva, Vítima, Inquieta e Hiper-racional. Essas vozes vão fazendo com que nós criemos máscaras protetoras e nos afastando da nossa essência, diminuindo a autoestima e a confiança. Elas são as maiores responsáveis pelo nosso sofrimento na vida adulta.

Quando não aprendemos a trabalhar essas manifestações e a gerenciar nossa mente, perdemos oportunidades de ser quem somos verdadeiramente e de nos expressar com autenticidade. Nem mesmo os melhores pais e mães conseguem nos proteger desse drama mental. Não somos, definitivamente, educados para lidar com as emoções na infância e isso se agrava na idade adulta, com mais estímulos, responsabilidades, desafios e, é claro, muito mais complexidade. Por isso, fortalecer a voz sábia e desenvolver a musculatura mental é tão importante. Quer saber quais são os seus sabotadores principais? Acesse o link para saber quais são os seus sabotares principais.

Desenvolvendo a musculatura mental

As vozes sabotadoras nunca vão embora, eles continuam vivendo na nossa mente. Por isso, é a prática, ou seja, o exercício constante da musculatura mental, que vai permitir diminuir o volume delas. A conquista da boa forma mental funciona da mesma maneira que a da boa forma física: praticamos academia e levantamos pesos de modo rotineiro, disciplinado e focado para, com o tempo, ganharmos a musculatura desejada. Essa Academia Mental é fundamental para a criação dos novos músculos e caminhos cerebrais, permitindo uma reprogramação mental e o desenvolvimento de novos hábitos.

Seu funcionamento ocorre a partir da realização diversos exercícios ao longo do dia quando você se conecta com o presente, com uma mente tranquila e atenta ao aqui e agora e não fica preso ao passado ou ansioso com o futuro. Afinal, uma mente cheia faz você perder a vida que está acontecendo no momento. Isso significa, por exemplo: escovar os dentes de forma presente; fazer respirações conscientes ao longo do dia; meditar para aqueles que já tem esse hábito; se alimentar percebendo cada alimento e sabor; entre outras tantas possibilidades.

Com a musculatura mental forte, quando você estiver diante de um desafio, será mais fácil trazer à tona a voz Sábia que está aí com você, para que ela acolha você com empatia quando errar, o ajude a explorar o erro com curiosidade para aprender; a pensar fora da caixa e inovar; a navegar pelas possibilidades e a tomar as melhores decisões honrando sua integridade.

Afinal, qual caminho você escolhe? Essa decisão é só sua!

Adotando uma Atitude Positiva, você poderá viver com fluidez, leveza e muita sabedoria, acessando seu máximo potencial e desfrutando de cada experiência. Deixo a você, então, um convite: que tal praticar e escolher ouvir a voz Sábia, deixando que ela assuma o comando e fazendo da sua mente a sua melhor amiga? Veja a beleza na sua essência.

Pare um instante e faça uma respiração mais profunda. Se quiser, feche os olhos e imagine como seria a sua vida se vivesse o seu verdadeiro eu, sua essência, seu potencial, sua voz Sábia. Qual o impacto para si mesmo, as pessoas ao seu entorno e a sociedade? O que mudaria? O que se tornaria possível? Você é especial, único e única, um ser magnífico! Está na hora de se lembrar disso e não esquecer mais!

Como na frase de Oliver Wendell Holmes, “muitas pessoas morrem com sua música ainda dentro delas, não tocada”. Eu fortaleci minha voz Sábia, silenciei as críticas Sabotadoras e, finalmente, cantei para a minha irmã! E você, quando e para quem vai cantar sua música?

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Qual é a sua intenção?

Qual é a sua intenção?

A melhor solução para um problema é aquela que você pode encontrar dentro de si. Essa é uma reflexão rápida para estimular mais momentos de felicidade em sua vida.

 

Por um lado, há uma ligação íntima e dinâmica entre como percebemos nós mesmos, os outros e o entorno e, por outro, a maneira pela qual experienciamos tudo isso. Essa percepção influencia o modo como agimos. Em outras palavras, nossas emoções definem nosso comportamento, pensamentos e percepções. A visão de mundo pode ser completamente diferente para duas pessoas na mesma vizinhança, com o mesmo nível socioeconômico, se elas tiverem perspectivas opostas. Buda (563-483 a.C.) reforça esse entendimento, que já é comprovado cientificamente, quando citou: “Nós criamos o mundo com nossos pensamentos”. Ele percebeu que nossos pensamentos, nossas emoções e nossas ações são as principais fontes de sofrimento, mas também de nossa alegria e nossa liberdade.

 

Tudo o que reside dentro de nós constrói aquilo que habitará outros espaços, contextos e pessoas, isto é, a partir de como nos relacionamentos conosco expressamos comportamentos e entendemos sinais. Nossas relações interpessoais são dependentes e influenciadas pela forma como nos encontramos internamente, ainda que nossas emoções não sejam explícitas; pelo contrário, estejam reprimidas.

 

“Qualquer um pode ver que pretender e não agir quando podemos não é realmente pretender, e amar e não fazer o bem quando podemos não é realmente amar”, afirmou o filósofo sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772). Quando nossas aspirações incluem o bem-estar e a felicidade de outros, nossas ações e nossa vida como um todo adquirem um propósito maior que nossa existência individual. 

 

Há diversas técnicas, métodos e conhecimentos que podem fazer a diferença em nossa vida e na de outras pessoas, inclusive hábitos de motivação e intenção.

 

Motivação para fazer algo é uma ou mais razões por trás daquele comportamento, a fonte de nosso desejo e o ímpeto de realizá-lo, ou seja, tudo que nos anima e pode ser estimulado a partir de um ciclo de desejo e recompensa.

 

Já a intenção é a articulação de uma meta consciente. Ela pode influenciar nosso humor, nossos pensamentos e sentimentos. Portanto, se estabelecermos uma intenção pela manhã, criamos o tom do dia e escolhemos o tipo de experiência que queremos ter. Podemos incorporar esse hábito e potencializar o nosso bem-estar. É algo simples, mas não necessariamente fácil. 

 

Esse pequeno passo que está acessível a todos demanda disciplina, assim como dedicar mais tempo às reflexões.

 

Quando estabelecemos uma intenção pela manhã, precisamos completar o ciclo que foi iniciado com uma avaliação, isto é, ao final do dia se reconectar com o propósito estabelecido, investigando de forma curiosa e não julgadora, como foi materializado ou não e se alegrando com o que foi conquistado. Para viver nossa intenção de forma verdadeira, é necessário estabelecê-la e restabelecê-la sempre. Uma grande oportunidade é encontrar forças e motivação nesta avaliação. Contudo, podemos não alcançar essa meta e, quando isso acontece, é fundamental não nos penalizarmos com julgamentos negativos ou autocríticas. Devemos apenas reconhecer a diferença entre intenção e ação e tentar de novo no dia seguinte. Esse ato contínuo nos mostra que temos uma escolha que, por si só, pode nos dar uma sensação mais intensa de controle.

 

Trata-se de uma consciência que nos deixa mais atentos e possibilita novas oportunidades para que pensamentos e ações cotidianas estejam mais alinhados com nossas metas.

 

Há benefícios adicionais, como o autoconhecimento e a autopercepção, para identificar situações e momentos, nos quais ainda temos a possibilidade de nos autorregularmos, em vez de transformarmos nossas emoções em atitudes impulsivas ou até desastrosas.

 

Também nos leva a ter mais confiança, segurança e, é claro, potencializar as relações com todos, inclusive conosco.

 

E antes de encerrarmos essa provocação, tenha em mente que é essencial estabelecer uma intenção, mas também é importante saber qual intenção estabelecemos. Todos nós já enumeramos muitas metas, desde planos de carreira, estudos até dietas e mudanças de hábitos de saúde. Sabemos que uma intenção, mesmo que seja realmente sincera e boa, está muito longe de ser um fato consumado. Em nosso cotidiano, a relação entre nossas intenções conscientes e nossas motivações não tão conscientes que influenciam nossos pensamentos e ações é complexa. Contudo, com consciência e reflexão persistentes podemos tornar nossas motivações cada vez mais alinhadas com nossas intenções. 

 

E há um modo simples sugerido pelo Dalai Lama que facilita muito a verificação das nossas motivações. Ele pede que façamos estas três perguntas:

1. Isso é só para mim ou para os outros?

2. Pelo benefício de pouco ou de muitos?

3. Para agora ou para o futuro?

Essas perguntas nos ajudam a esclarecer com objetividade e critério, novamente sem julgamento, nossas motivações. Assim como trazem compaixão a nossos pensares e atitudes. Podemos usar esse método antes de uma ação, decisão, enquanto já estamos realizando ou mesmo ao final do dia. Lembre-se de que sempre haverá a oportunidade de restabelecer nossa intenção com a chance de agir de acordo com ela, pois amanhã é sempre uma oportunidade de aplicar o aprendizado de hoje.

 

Um provérbio tibetiano já dizia: “Ficamos à mercê de nossos pensamentos e nossos pensamentos ficam à mercê de nossas emoções negativas e dessa maneira nós sabotamos”. Quando podemos aquietar a mente e não a perturbar com nossas rajadas costumeiras de pensamentos – expectativas, apreensões e julgamentos – enxergarmos a verdade dos fatos com maior clareza, descobrimos o que realmente importa, o que serve a nosso propósito e o que precisamos fazer.

 

Com frequência somos nossa própria “pessoa difícil”. Por isso, meu convite é para que você inclua, junto comigo, um pequeno hábito que pode promover um grande resultado na sua jornada. Vamos tentar hoje?

Nota: Esse texto foi criado a partir de muitos recortes de Um coração sem medo, de Thupten Jinpa. Tomei a liberdade de construir uma sequência cronológica diferente do que se apresenta na obra, bem como ajustar e incluir novos trechos. Caso tenha gostado, leia o citado livro na íntegra. Ele traz muitas oportunidades de aprofundamento acerca da Compaixão, bem como exercícios e práticas para impulsionar sua conexão consigo, com os outros e com toda a humanidade.

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A massa do pão

Quando minha filha mais velha era pequena nós fazíamos pãezinhos juntas. Ela “me ajudava!”

Hoje não os faço mais porque a vida mudou de rumo, mas a lembrança daqueles momentos de ternura veio me visitar e vejo as minhas mãos e as mãozinhas dela dando forma aos pequenos pedaços da massa, pondo as bolinhas que “deveriam ser de tamanhos semelhantes” na assadeira, respeitando as distâncias entre elas e cuidando do tempo de crescimento.

Depois disto tudo feito, eu lhe dava a importante função de me avisar quando a pequenina bolinha de massa posta no copo com água subisse! Notícia que me era dada com a alegria e a simplicidade de uma criança: “Mamãe! A bolinha já subiu!”, me pegando pela mão e me levando até a cozinha para ver a bolinha no alto do copo, como se tudo fosse mágico.

Claro que alguns pãezinhos eram comidos ainda mornos, com a manteiga derretendo, e outros eram guardados para o papai!

Sim! As coisas simples são as melhores!

“Crescer!” palavra interessante!

O pãozinho cresceu, a filha cresceu, veio a segunda filha que também cresceu, eu cresci, e nossos relacionamentos cresceram.

Mas “tudo” aquilo que recebe nossa atenção, nossa energia, e nosso amor, cresce! As coisas boas e as coisas ruins também!

Pãezinhos, pessoas, amizades, relacionamentos, conhecimento, plantas, animais… e ainda o amor, a alegria, a raiva, a dor, a tristeza, o medo…Tudo!

Então alimentar somente o que é bom para nós faz muito sentido! E o momento certo para começarmos a fazer isto é “agora”, para que a alegria, o amor e tudo de bom, belo e bonito cresça como os pãezinhos e permaneça vívido em nós.

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Esquecimento

Era domingo e ter mais tempo livre fez com que eu fosse para o jardim, “fazer nada”.

Mas para mim, este “fazer nada” significa estar lá com os olhos de ver o belo, mas mais do que ver, sentir o belo e deixá-lo entrar em mim.

Sim! Quando estamos abertos para o belo, sem medos, sem julgamentos, o belo se faz presente em suas infinitas formas

Nestes momentos, em meu silêncio interior, aprendo sobre as cores em todas as suas nuances, observando e absorvendo as flores, as folhas, as árvores…a vida!

Além da aula sobre as cores, há a aula sobre a velocidade, pois o tempo entre o plantio e a flor é variável em todas as espécies! A velocidade da lesma comparada à da formiga faz esta lição ser muito fácil de ser aprendida.

Observar as abelhas e as vespas trabalhando incessantemente, de flor em flor para que tenhamos frutos é a lição sobre “termos asas para voar e produzirmos nossos frutos”!

Foto: Ilustração

Adoro as lições sobre as formas, pois há lindas mandalas nelas! Vale destacar que só no meu jardim encontro muitos adjetivos, como frágil, forte, longo, curto, fino, grosso, alto, baixo, velho, novo, retilíneo, curvilíneo, arredondado, triangular… Imagine o que podemos ver em uma floresta!

O jardim ainda me conta segredos sobre cheiros e perfumes, quando me lembro que muitos fogem da Maria Fedida e se encantam com os perfumes dos lírios, dos jasmins e de outras flores.

Seguir o canto dos pássaros, notar o zumbido de um inseto, ouvir o farfalhar das folhas ao vento e virar o corpo rapidamente ao som de uma grande folha que cai, nos ensina sobre o silêncio e os sons. Os sons das manhãs são totalmente diferentes dos sons da noite, que muitas vezes são misteriosos.

Há muito mais no meu jardim, mas o lindo de tudo isto é observar a PERFEIÇÃO DA NATUREZA, em todas as suas formas, em todos os seus reinos e nos lembrarmos que “somos” natureza, e temos a nossa diversidade.

“Esquecemos o que as pedras, as plantas e os animais ainda sabem. Esquecemos como ser – ser calmos, ser nós mesmos, estar onde a vida está: Aqui e Agora” ~ Eckhart Tolle em O Poder do Silêncio.

E mesmo que não estejamos sós nestes momentos, cada um vai ver com os olhos que tem, e está tudo certo! Um dia todos veremos o formato das folhas da planta chamada “Coração emaranhado” e sorriremos diante da sua delicadeza, nos lembrando que

“Há um grande silêncio envolvendo toda a natureza num abraço. Esse silêncio também envolve você!” ~ Eckhart Tolle em O Poder do Silêncio.

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Quem canta seus males espanta

Adoro os livros, os cristais, a natureza em todas as suas formas de vida, e também adoro as palavras, que aqui estão em forma de músicas. Uma amiga, que tem uma voz forte, canta em Karaoke e alegra muitas pessoas. Eu, em contrapartida, tenho uma voz aguda e canto o dia todo, só para mim. Se não estou trabalhando, estou cantando baixinho, ou até mesmo mentalmente e adoro cantar enquanto cuido do jardim, da casa ou dirijo. Vou ligando uma música a outra, como se fosse um longo colar de contas.

Adoro pensar na beleza das palavras que as músicas têm e com isto, vou cantando “os poemas”, como “Abracei o mar, na lua cheia, abracei o mar. Escolhi melhor meus pensamentos, pensei. Abracei o mar e nada pedi, só agradeci.”

Destas lindas palavras de Maria Bethânia eu rapidamente mudo para o poema de Luis Vieira (1928-2020) – A Paz do meu amor, e canto “Você é isto, uma beleza imensa. Toda a recompensa de um amor sem fim. Você é isto, uma nuvem calma, no céu de minh’alma, é ternura em mim…”

Depois o tempo é o tema que me enfeitiça, cantado por Nana Caymmi na música Resposta ao Tempo, assim: “Ele (o tempo) ri, diz que somos iguais , se eu notei. Pois não sabe ficar e eu também não sei.”

O tempo ainda me traz lembranças daqueles que não estão mais perto de mim, vivos ou não, e canto Naquela Mesa, de autoria de Sérgio Bittencourt (1941-1979): “Naquela mesa ‘tá faltando ele e a saudade dele ‘tá doendo em mim.”, mas sempre pensando nos momentos felizes que tivemos juntos.

Em seguida, viajo na letra de Viagem, de Paulo Cesar Pinheiro, cantada por várias vozes. “ Oh, tristeza me desculpe, estou de malas prontas. Hoje a poesia, veio ao meu encontro, já raiou o dia, vamos viajar.”

E continuo a viagem em O trenzinho do caipira, música que Boca Livre cantou para mim inúmeras vezes. “Lá vai o trem com o menino. Lá vai a vida a rodar.”

Neste momento chego ao Rancho Fundo, com Chitãozinho e Xororó cantando assim: “ No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo, onde a dor e a saudade, contam coisas da cidade…”

Mas, como a natureza me encanta, também vou lá no alto em Voarás, de Paulinho Pedra Azul: “Todo mundo quer voar, nas costas de um beija-flor. Todo mundo quer viver de amor, mas nem tudo é só querer.” E chego a sentir o perfume da rosa em Rosa, de Otavio de Souza e Pixinguinha (1897-1973), que diz assim: “Tú és, divina e graciosa, estátua majestosa, do amor, por Deus esculturada…”

Com grande frequência, a fé vem me intuir e canto Calix Bento, me lembrando de um show de Milton Nascimento, que assisti em praça pública, em Tiradentes MG. “Oh Deus salve o oratório, oh Deus salve o oratório, onde Deus fez a morada, oiá meu Deus, onde Deus fez a morada, oiá.”

Ainda com muita fé, chega Fran, neto de Gilberto Gil, e cantamos Leve Axé: “Independente da fé, leve com a gente o Axé, independente de onde você vá. Leve Axé! E assim eu vou cantar, jogar Axé pro mundo!”

Não poderia deixar o amor de lado, então Cidade Negra, na música A Sombra da Maldade é a próxima conta do meu colar de maravilhas: “Permita que o amor invada sua casa coração, que o amor invada sua casa coração!”, frase que foi bordada pela minha filha para que eu pendurasse na minha parede de mensagens.

O amor traz Luis Vieira de volta com Prelúdio para Ninar Gente Grande. A encantadora letra diz assim: “No calor do teu carinho, sou menino passarinho, com vontade de voar!”

A coragem é cantada, sim! E a ouço na voz de Maria Bethânia em Tatuagem, com estas palavras: “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem, pra seguir viagem, quando a noite vem.”

Após cantar tantas maravilhas, a paz e a alegria invadem minha mente e Gilberto Gil volta com A Paz: “A paz invadiu o meu coração, de repente me encheu de paz…” e sigo com O que é, o que é?, de Gonzaguinha (1945-1991): “eu fico com a pureza das respostas das crianças, é a vida, é bonita e é bonita! Viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar, a beleza de ser um eterno aprendiz…”

E como um eterno aprendiz eu me lembro de uma frase de Ray Charles (1930-2004): “A música faz parte de mim e tem que ser removida de mim cirurgicamente.”

Bem, eu poderia continuar escrevendo folhas e folhas, já que cantar espanta os males porque enquanto cantamos, deixamos de nos pré-ocupar com infinitos assuntos que nem mesmo acontecerão, mas estes dois trechos que seguirão serão inspiração para todos nós:

Samba da Benção de Vinicius de Moraes (1913-1980): “É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, ela é assim como a luz no coração!” e a última linha da música Diariamente, de Nando Reis: “Para você o que você gosta, diariamente!”.

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Manhã de Outono

É um domingo de Outono. Levanto-me cedo; meu relógio biológico está acostumado a isto. Estou sozinha em casa neste momento. Bem, sozinha não! Aqui também mora, além dos dois humanos, um ser muito humano, o nosso cachorro!

‍Vou para o quintal onde há várias árvores e me sento em um degrau da escada que há bem no centro do local. Olho para o alto. O céu se vestiu de um lindo azul claro!

‍O cachorro chega feliz e senta-se bem perto de mim, encostando seu belo pelo avermelhado nas minhas pernas.

Sinto o friozinho da manhã, mas sinto o calor do corpo do meu amigão, agora deitado sobre os meus pés.

Penso que em uma manhã de Domingo às 7:30h, todos devem estar dormindo pois o silencio é impressionante!  “Escutar o silêncio” é meditar!

Escuto o silêncio com muito carinho. A metrópole também tem seus momentos e seus lugares de quietude.

Olho ao meu redor. O limoeiro parece uma árvore de Natal com bolas cor de laranja, de tantos frutos que tem.

Um passarinho canta na Pitangueira e outro responde na Palmeira. Eles conversam por um curto tempo e voam para alegrar outras árvores.

Sinto uma dor fininha na mão e descubro que uma formiga me picou. A mão coça. Normal!  Entendi a mensagem da formiga: Eu invadi o seu espaço! Será verdade?  Eu também sou natureza!

Um besouro preto voa ao redor da minha cabeça. Talvez ele pense que sou uma enorme flor, pois minha blusa é vermelha! A picada seria dolorosa, mas ele não me incomoda e vai procurar uma flor de verdade.

Ouço o farfalhar das folhas, pois o silêncio ainda impera, mas de repente o silêncio é quebrado por uma folha da Palmeira que cai.

O cachorro se levanta rapidamente, em prontidão.

O morrer da folha eu vi e ouvi!

Foi só naquele momento que pensei que enquanto eu estive sentada lá, todas as árvores, as plantas e as flores estavam crescendo silenciosamente, porém o morrer é diferente! Algumas morrem silenciosamente, mas outras não!

Uma das incontáveis lições da natureza!

Por fim, pensei que as pessoas também são assim, pois quando silenciam, crescem.

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Os relógios

Houve um tempo que o sol marcava as horas e juntamente com a natureza, marcava os ciclos da vida.

Houve um tempo quando os relógios eram de bolso, presos às roupas por lindas correntes de ouro ou prata e usados por elegantes senhores de ternos escuros e chapéus.

Houve também um tempo em que os despertadores eram objetos redondos de metal, com duas estridentes campainhas na parte superior, e três pezinhos também de metal. Estes despertadores ficavam sobre os criados-mudos ou mesinhas de cabeceira, para que pudessem ser desligados facilmente.

Eu me lembro deste tempo!

Muito brevemente diremos: “Houve um tempo quando os despertadores eram tapetes que ficavam ao lado de nossas camas e que vibravam para nos acordar. Eles só paravam quando eram pisados, então tínhamos que nos levantar da cama.”

Eu conheci um “despertador” destes em 2019!

Mas foi o “tempo”, marcado pelos relógios de todos os tipos que me trouxe aqui, pois eu costumava me preocupar com o futuro, achando que eu tinha algum tipo de controle sobre ele, o futuro, e frequentemente me perguntava: “Até quando será que eu vou conseguir continuar fazendo o que faço, como faço, já que não sou mais jovem?”

E eu tentava achar a resposta e pensava em me preparar para o futuro aprendendo algo novo.

Mas a dúvida persistia: “Até quando?”

Ai veio a resposta, quando eu menos esperava!

Um dia, todos paramos de fazer o que fazíamos, como fazíamos! O “o que” pode até ter continuado, porém, “o como”, ah! Este não é o mesmo e nunca mais será! E quando os “comos” foram alterados, nós tivemos que nos reinventar e usar o “Crie”, ignorando o “Crise”. Grande desafio que nos fez crescer.

Alguns gostaram! Outros não! Mas foi assim e é assim!

Aprendia lição sobre viver o momento, já que é tudo o que temos!

Mas este momento pede Renovação! Momento propicio para irmos para dentro de nós e sairmos lá de dentro melhores, seres humanos mais “humanos” !

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