Qual é a sua intenção?
A melhor solução para um problema é aquela que você pode encontrar dentro de si. Essa é uma reflexão rápida para estimular mais momentos de felicidade em sua vida.
Por um lado, há uma ligação íntima e dinâmica entre como percebemos nós mesmos, os outros e o entorno e, por outro, a maneira pela qual experienciamos tudo isso. Essa percepção influencia o modo como agimos. Em outras palavras, nossas emoções definem nosso comportamento, pensamentos e percepções. A visão de mundo pode ser completamente diferente para duas pessoas na mesma vizinhança, com o mesmo nível socioeconômico, se elas tiverem perspectivas opostas. Buda (563-483 a.C.) reforça esse entendimento, que já é comprovado cientificamente, quando citou: “Nós criamos o mundo com nossos pensamentos”. Ele percebeu que nossos pensamentos, nossas emoções e nossas ações são as principais fontes de sofrimento, mas também de nossa alegria e nossa liberdade.
Tudo o que reside dentro de nós constrói aquilo que habitará outros espaços, contextos e pessoas, isto é, a partir de como nos relacionamentos conosco expressamos comportamentos e entendemos sinais. Nossas relações interpessoais são dependentes e influenciadas pela forma como nos encontramos internamente, ainda que nossas emoções não sejam explícitas; pelo contrário, estejam reprimidas.
“Qualquer um pode ver que pretender e não agir quando podemos não é realmente pretender, e amar e não fazer o bem quando podemos não é realmente amar”, afirmou o filósofo sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772). Quando nossas aspirações incluem o bem-estar e a felicidade de outros, nossas ações e nossa vida como um todo adquirem um propósito maior que nossa existência individual.
Há diversas técnicas, métodos e conhecimentos que podem fazer a diferença em nossa vida e na de outras pessoas, inclusive hábitos de motivação e intenção.
Motivação para fazer algo é uma ou mais razões por trás daquele comportamento, a fonte de nosso desejo e o ímpeto de realizá-lo, ou seja, tudo que nos anima e pode ser estimulado a partir de um ciclo de desejo e recompensa.
Já a intenção é a articulação de uma meta consciente. Ela pode influenciar nosso humor, nossos pensamentos e sentimentos. Portanto, se estabelecermos uma intenção pela manhã, criamos o tom do dia e escolhemos o tipo de experiência que queremos ter. Podemos incorporar esse hábito e potencializar o nosso bem-estar. É algo simples, mas não necessariamente fácil.
Esse pequeno passo que está acessível a todos demanda disciplina, assim como dedicar mais tempo às reflexões.
Quando estabelecemos uma intenção pela manhã, precisamos completar o ciclo que foi iniciado com uma avaliação, isto é, ao final do dia se reconectar com o propósito estabelecido, investigando de forma curiosa e não julgadora, como foi materializado ou não e se alegrando com o que foi conquistado. Para viver nossa intenção de forma verdadeira, é necessário estabelecê-la e restabelecê-la sempre. Uma grande oportunidade é encontrar forças e motivação nesta avaliação. Contudo, podemos não alcançar essa meta e, quando isso acontece, é fundamental não nos penalizarmos com julgamentos negativos ou autocríticas. Devemos apenas reconhecer a diferença entre intenção e ação e tentar de novo no dia seguinte. Esse ato contínuo nos mostra que temos uma escolha que, por si só, pode nos dar uma sensação mais intensa de controle.
Trata-se de uma consciência que nos deixa mais atentos e possibilita novas oportunidades para que pensamentos e ações cotidianas estejam mais alinhados com nossas metas.
Há benefícios adicionais, como o autoconhecimento e a autopercepção, para identificar situações e momentos, nos quais ainda temos a possibilidade de nos autorregularmos, em vez de transformarmos nossas emoções em atitudes impulsivas ou até desastrosas.
Também nos leva a ter mais confiança, segurança e, é claro, potencializar as relações com todos, inclusive conosco.
E antes de encerrarmos essa provocação, tenha em mente que é essencial estabelecer uma intenção, mas também é importante saber qual intenção estabelecemos. Todos nós já enumeramos muitas metas, desde planos de carreira, estudos até dietas e mudanças de hábitos de saúde. Sabemos que uma intenção, mesmo que seja realmente sincera e boa, está muito longe de ser um fato consumado. Em nosso cotidiano, a relação entre nossas intenções conscientes e nossas motivações não tão conscientes que influenciam nossos pensamentos e ações é complexa. Contudo, com consciência e reflexão persistentes podemos tornar nossas motivações cada vez mais alinhadas com nossas intenções.
E há um modo simples sugerido pelo Dalai Lama que facilita muito a verificação das nossas motivações. Ele pede que façamos estas três perguntas:
1. Isso é só para mim ou para os outros?
2. Pelo benefício de pouco ou de muitos?
3. Para agora ou para o futuro?
Essas perguntas nos ajudam a esclarecer com objetividade e critério, novamente sem julgamento, nossas motivações. Assim como trazem compaixão a nossos pensares e atitudes. Podemos usar esse método antes de uma ação, decisão, enquanto já estamos realizando ou mesmo ao final do dia. Lembre-se de que sempre haverá a oportunidade de restabelecer nossa intenção com a chance de agir de acordo com ela, pois amanhã é sempre uma oportunidade de aplicar o aprendizado de hoje.
Um provérbio tibetiano já dizia: “Ficamos à mercê de nossos pensamentos e nossos pensamentos ficam à mercê de nossas emoções negativas e dessa maneira nós sabotamos”. Quando podemos aquietar a mente e não a perturbar com nossas rajadas costumeiras de pensamentos – expectativas, apreensões e julgamentos – enxergarmos a verdade dos fatos com maior clareza, descobrimos o que realmente importa, o que serve a nosso propósito e o que precisamos fazer.
Com frequência somos nossa própria “pessoa difícil”. Por isso, meu convite é para que você inclua, junto comigo, um pequeno hábito que pode promover um grande resultado na sua jornada. Vamos tentar hoje?
Nota: Esse texto foi criado a partir de muitos recortes de Um coração sem medo, de Thupten Jinpa. Tomei a liberdade de construir uma sequência cronológica diferente do que se apresenta na obra, bem como ajustar e incluir novos trechos. Caso tenha gostado, leia o citado livro na íntegra. Ele traz muitas oportunidades de aprofundamento acerca da Compaixão, bem como exercícios e práticas para impulsionar sua conexão consigo, com os outros e com toda a humanidade.