Aprendizados

Não a conheci, porém, ela vive em mim. Fala comigo, cochichando ao meu ouvido, me guiando pelas estradas da vida.

Juntas, caminhamos pelos campos, subimos montanhas, nadamos em rios e mares, tomamos banhos em lindas cachoeiras e corremos pelas matas.

Com ela, e através dela, vejo flores, insetos, aves, enfim, todos os tipos de vida, com olhos de amor e muito respeito.

E a minha paixão por cristais também está ligada aos ensinamentos dela, que os usava para energizar, limpar e curar as pessoas que lhe pediam ajuda. Ela me ajudou a aprender sobre as suas cores, formas, desenhos e propriedades curativas.

De mãos dadas, quando vamos colher ervas medicinais, ela me conta que estas plantas maravilhosas doam sua energia vital para nos curar! Com naturalidade, ela me ensina a segurar as ervas, sentir sua energia e seu aroma e sempre me mostra plantações para que eu entenda que nosso alimento não nasce nas prateleiras dos mercados, mas vem da terra que nos sustenta.

Aprendi com ela a escutar o silêncio, no entanto, quando quebrado pelos sons dos animais, pelo farfalhar das folhas, pelo ir e vir das ondas do mar, pelas cachoeiras, pelos trovões, dentre tantos outros sons, todos os tipos de manifestações são importantes. Tudo isto ela me mostrou, pois me ensinou a observar a natureza.

Andar descalço e tomar chuva não nos adoece! É cura! É bênção! Aprendi! 

Unidas, respeitamos o sol, a chuva, o vento, o dia e a noite e adoramos os mistérios do céu noturno, momento que olhando para a profundidade da noite, com ela, oro em silêncio, nada pedindo, mas somente agradecendo. Agradecendo por todas as lições.

Tudo isto e muito mais, ela me ensinou e me ensina, dia a dia.

Maria Curandeira era seu nome para os familiares. Ela, cujo nome em Tupi-Guarani não me lembro, foi minha bisavó paterna que nasceu no final dos anos de 1880 no norte de Minas Gerais, por quem tenho imenso carinho, respeito e gratidão!

O texto faz parte da Coletânea ORIGINARIAS – A força criativa do legado feminino, organizado pela AJEB – ASSOCIAÇÃO DAS JORNALISTAS E ESCRITORAS DO BRASIL

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A massa do pão

Quando minha filha mais velha era pequena nós fazíamos pãezinhos juntas. Ela “me ajudava!”

Hoje não os faço mais porque a vida mudou de rumo, mas a lembrança daqueles momentos de ternura veio me visitar e vejo as minhas mãos e as mãozinhas dela dando forma aos pequenos pedaços da massa, pondo as bolinhas que “deveriam ser de tamanhos semelhantes” na assadeira, respeitando as distâncias entre elas e cuidando do tempo de crescimento.

Depois disto tudo feito, eu lhe dava a importante função de me avisar quando a pequenina bolinha de massa posta no copo com água subisse! Notícia que me era dada com a alegria e a simplicidade de uma criança: “Mamãe! A bolinha já subiu!”, me pegando pela mão e me levando até a cozinha para ver a bolinha no alto do copo, como se tudo fosse mágico.

Claro que alguns pãezinhos eram comidos ainda mornos, com a manteiga derretendo, e outros eram guardados para o papai!

Sim! As coisas simples são as melhores!

“Crescer!” palavra interessante!

O pãozinho cresceu, a filha cresceu, veio a segunda filha que também cresceu, eu cresci, e nossos relacionamentos cresceram.

Mas “tudo” aquilo que recebe nossa atenção, nossa energia, e nosso amor, cresce! As coisas boas e as coisas ruins também!

Pãezinhos, pessoas, amizades, relacionamentos, conhecimento, plantas, animais… e ainda o amor, a alegria, a raiva, a dor, a tristeza, o medo…Tudo!

Então alimentar somente o que é bom para nós faz muito sentido! E o momento certo para começarmos a fazer isto é “agora”, para que a alegria, o amor e tudo de bom, belo e bonito cresça como os pãezinhos e permaneça vívido em nós.

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Esquecimento

Era domingo e ter mais tempo livre fez com que eu fosse para o jardim, “fazer nada”.

Mas para mim, este “fazer nada” significa estar lá com os olhos de ver o belo, mas mais do que ver, sentir o belo e deixá-lo entrar em mim.

Sim! Quando estamos abertos para o belo, sem medos, sem julgamentos, o belo se faz presente em suas infinitas formas

Nestes momentos, em meu silêncio interior, aprendo sobre as cores em todas as suas nuances, observando e absorvendo as flores, as folhas, as árvores…a vida!

Além da aula sobre as cores, há a aula sobre a velocidade, pois o tempo entre o plantio e a flor é variável em todas as espécies! A velocidade da lesma comparada à da formiga faz esta lição ser muito fácil de ser aprendida.

Observar as abelhas e as vespas trabalhando incessantemente, de flor em flor para que tenhamos frutos é a lição sobre “termos asas para voar e produzirmos nossos frutos”!

Foto: Ilustração

Adoro as lições sobre as formas, pois há lindas mandalas nelas! Vale destacar que só no meu jardim encontro muitos adjetivos, como frágil, forte, longo, curto, fino, grosso, alto, baixo, velho, novo, retilíneo, curvilíneo, arredondado, triangular… Imagine o que podemos ver em uma floresta!

O jardim ainda me conta segredos sobre cheiros e perfumes, quando me lembro que muitos fogem da Maria Fedida e se encantam com os perfumes dos lírios, dos jasmins e de outras flores.

Seguir o canto dos pássaros, notar o zumbido de um inseto, ouvir o farfalhar das folhas ao vento e virar o corpo rapidamente ao som de uma grande folha que cai, nos ensina sobre o silêncio e os sons. Os sons das manhãs são totalmente diferentes dos sons da noite, que muitas vezes são misteriosos.

Há muito mais no meu jardim, mas o lindo de tudo isto é observar a PERFEIÇÃO DA NATUREZA, em todas as suas formas, em todos os seus reinos e nos lembrarmos que “somos” natureza, e temos a nossa diversidade.

“Esquecemos o que as pedras, as plantas e os animais ainda sabem. Esquecemos como ser – ser calmos, ser nós mesmos, estar onde a vida está: Aqui e Agora” ~ Eckhart Tolle em O Poder do Silêncio.

E mesmo que não estejamos sós nestes momentos, cada um vai ver com os olhos que tem, e está tudo certo! Um dia todos veremos o formato das folhas da planta chamada “Coração emaranhado” e sorriremos diante da sua delicadeza, nos lembrando que

“Há um grande silêncio envolvendo toda a natureza num abraço. Esse silêncio também envolve você!” ~ Eckhart Tolle em O Poder do Silêncio.

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Quem canta seus males espanta

Adoro os livros, os cristais, a natureza em todas as suas formas de vida, e também adoro as palavras, que aqui estão em forma de músicas. Uma amiga, que tem uma voz forte, canta em Karaoke e alegra muitas pessoas. Eu, em contrapartida, tenho uma voz aguda e canto o dia todo, só para mim. Se não estou trabalhando, estou cantando baixinho, ou até mesmo mentalmente e adoro cantar enquanto cuido do jardim, da casa ou dirijo. Vou ligando uma música a outra, como se fosse um longo colar de contas.

Adoro pensar na beleza das palavras que as músicas têm e com isto, vou cantando “os poemas”, como “Abracei o mar, na lua cheia, abracei o mar. Escolhi melhor meus pensamentos, pensei. Abracei o mar e nada pedi, só agradeci.”

Destas lindas palavras de Maria Bethânia eu rapidamente mudo para o poema de Luis Vieira (1928-2020) – A Paz do meu amor, e canto “Você é isto, uma beleza imensa. Toda a recompensa de um amor sem fim. Você é isto, uma nuvem calma, no céu de minh’alma, é ternura em mim…”

Depois o tempo é o tema que me enfeitiça, cantado por Nana Caymmi na música Resposta ao Tempo, assim: “Ele (o tempo) ri, diz que somos iguais , se eu notei. Pois não sabe ficar e eu também não sei.”

O tempo ainda me traz lembranças daqueles que não estão mais perto de mim, vivos ou não, e canto Naquela Mesa, de autoria de Sérgio Bittencourt (1941-1979): “Naquela mesa ‘tá faltando ele e a saudade dele ‘tá doendo em mim.”, mas sempre pensando nos momentos felizes que tivemos juntos.

Em seguida, viajo na letra de Viagem, de Paulo Cesar Pinheiro, cantada por várias vozes. “ Oh, tristeza me desculpe, estou de malas prontas. Hoje a poesia, veio ao meu encontro, já raiou o dia, vamos viajar.”

E continuo a viagem em O trenzinho do caipira, música que Boca Livre cantou para mim inúmeras vezes. “Lá vai o trem com o menino. Lá vai a vida a rodar.”

Neste momento chego ao Rancho Fundo, com Chitãozinho e Xororó cantando assim: “ No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo, onde a dor e a saudade, contam coisas da cidade…”

Mas, como a natureza me encanta, também vou lá no alto em Voarás, de Paulinho Pedra Azul: “Todo mundo quer voar, nas costas de um beija-flor. Todo mundo quer viver de amor, mas nem tudo é só querer.” E chego a sentir o perfume da rosa em Rosa, de Otavio de Souza e Pixinguinha (1897-1973), que diz assim: “Tú és, divina e graciosa, estátua majestosa, do amor, por Deus esculturada…”

Com grande frequência, a fé vem me intuir e canto Calix Bento, me lembrando de um show de Milton Nascimento, que assisti em praça pública, em Tiradentes MG. “Oh Deus salve o oratório, oh Deus salve o oratório, onde Deus fez a morada, oiá meu Deus, onde Deus fez a morada, oiá.”

Ainda com muita fé, chega Fran, neto de Gilberto Gil, e cantamos Leve Axé: “Independente da fé, leve com a gente o Axé, independente de onde você vá. Leve Axé! E assim eu vou cantar, jogar Axé pro mundo!”

Não poderia deixar o amor de lado, então Cidade Negra, na música A Sombra da Maldade é a próxima conta do meu colar de maravilhas: “Permita que o amor invada sua casa coração, que o amor invada sua casa coração!”, frase que foi bordada pela minha filha para que eu pendurasse na minha parede de mensagens.

O amor traz Luis Vieira de volta com Prelúdio para Ninar Gente Grande. A encantadora letra diz assim: “No calor do teu carinho, sou menino passarinho, com vontade de voar!”

A coragem é cantada, sim! E a ouço na voz de Maria Bethânia em Tatuagem, com estas palavras: “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem, pra seguir viagem, quando a noite vem.”

Após cantar tantas maravilhas, a paz e a alegria invadem minha mente e Gilberto Gil volta com A Paz: “A paz invadiu o meu coração, de repente me encheu de paz…” e sigo com O que é, o que é?, de Gonzaguinha (1945-1991): “eu fico com a pureza das respostas das crianças, é a vida, é bonita e é bonita! Viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar, a beleza de ser um eterno aprendiz…”

E como um eterno aprendiz eu me lembro de uma frase de Ray Charles (1930-2004): “A música faz parte de mim e tem que ser removida de mim cirurgicamente.”

Bem, eu poderia continuar escrevendo folhas e folhas, já que cantar espanta os males porque enquanto cantamos, deixamos de nos pré-ocupar com infinitos assuntos que nem mesmo acontecerão, mas estes dois trechos que seguirão serão inspiração para todos nós:

Samba da Benção de Vinicius de Moraes (1913-1980): “É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, ela é assim como a luz no coração!” e a última linha da música Diariamente, de Nando Reis: “Para você o que você gosta, diariamente!”.

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Manhã de Outono

É um domingo de Outono. Levanto-me cedo; meu relógio biológico está acostumado a isto. Estou sozinha em casa neste momento. Bem, sozinha não! Aqui também mora, além dos dois humanos, um ser muito humano, o nosso cachorro!

‍Vou para o quintal onde há várias árvores e me sento em um degrau da escada que há bem no centro do local. Olho para o alto. O céu se vestiu de um lindo azul claro!

‍O cachorro chega feliz e senta-se bem perto de mim, encostando seu belo pelo avermelhado nas minhas pernas.

Sinto o friozinho da manhã, mas sinto o calor do corpo do meu amigão, agora deitado sobre os meus pés.

Penso que em uma manhã de Domingo às 7:30h, todos devem estar dormindo pois o silencio é impressionante!  “Escutar o silêncio” é meditar!

Escuto o silêncio com muito carinho. A metrópole também tem seus momentos e seus lugares de quietude.

Olho ao meu redor. O limoeiro parece uma árvore de Natal com bolas cor de laranja, de tantos frutos que tem.

Um passarinho canta na Pitangueira e outro responde na Palmeira. Eles conversam por um curto tempo e voam para alegrar outras árvores.

Sinto uma dor fininha na mão e descubro que uma formiga me picou. A mão coça. Normal!  Entendi a mensagem da formiga: Eu invadi o seu espaço! Será verdade?  Eu também sou natureza!

Um besouro preto voa ao redor da minha cabeça. Talvez ele pense que sou uma enorme flor, pois minha blusa é vermelha! A picada seria dolorosa, mas ele não me incomoda e vai procurar uma flor de verdade.

Ouço o farfalhar das folhas, pois o silêncio ainda impera, mas de repente o silêncio é quebrado por uma folha da Palmeira que cai.

O cachorro se levanta rapidamente, em prontidão.

O morrer da folha eu vi e ouvi!

Foi só naquele momento que pensei que enquanto eu estive sentada lá, todas as árvores, as plantas e as flores estavam crescendo silenciosamente, porém o morrer é diferente! Algumas morrem silenciosamente, mas outras não!

Uma das incontáveis lições da natureza!

Por fim, pensei que as pessoas também são assim, pois quando silenciam, crescem.

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O peso das palavras

Gosto muito de parar uns minutos para pensar “no que falo” e “como falo”, porque as palavras têm poder e o “como” faz muita diferença!

Uma certa manhã eu falei: “Agora eu tenho que trabalhar.”. Quando proferi estas palavras, pensei: “Por que usei “tenho que” se eu faço o que gosto com muito carinho?” “Ter que” carrega uma certa carga de obrigação, e isto não era o que eu sentia e sinto sobre o meu trabalho.

Naquele momento, tudo com rapidez, eu reformulei: “Agora eu vou trabalhar!”, e me senti bem mais leve.

Há coisas que “temos que”, como tomar um antibiótico, mas nem tudo! Limpar uma casa, por exemplo, é um grande meio para nos limparmos e deixarmos ir o que nos machuca.

Outras vezes, eu parei para pensar nas frases com o verbo “precisar’, frases estas que eu usei ou ouvi. Na frase “Eu preciso de um celular novo!”, quando o nosso aparelho está bom, a ideia é mais “eu quero um celular novo”, certo?

Quantas coisas nós queremos!

Muitos vivem com muito pouco e são felizes só com o que precisam, como água, alimento, roupas adequadas à temperatura e abrigo. Gandhi viveu em um ashram com quase nada! Ser de Luz!

Eu ainda preciso ler muitos livros e ter muitos cristais, … Ainda estou muito longe desta leveza, mas aprendo todos os dias sobre a diferença entre querer e precisar. É um desafio!

Há até uma música de Balu e Mogly para nos ensinar:

“Eu uso o necessário,

Somente o necessário,

O extraordinário é demais! …”

E já que acabei de usar a palavra “necessário”, vou mencioná-la novamente em uma frase de Ralph Waldo Emerson (1803 – 1882 USA) para que pensemos nela com muito carinho e possamos fazer a diferença que o momento nos pede: “Torna-te necessário(a) a alguém!”

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Os relógios

Houve um tempo que o sol marcava as horas e juntamente com a natureza, marcava os ciclos da vida.

Houve um tempo quando os relógios eram de bolso, presos às roupas por lindas correntes de ouro ou prata e usados por elegantes senhores de ternos escuros e chapéus.

Houve também um tempo em que os despertadores eram objetos redondos de metal, com duas estridentes campainhas na parte superior, e três pezinhos também de metal. Estes despertadores ficavam sobre os criados-mudos ou mesinhas de cabeceira, para que pudessem ser desligados facilmente.

Eu me lembro deste tempo!

Muito brevemente diremos: “Houve um tempo quando os despertadores eram tapetes que ficavam ao lado de nossas camas e que vibravam para nos acordar. Eles só paravam quando eram pisados, então tínhamos que nos levantar da cama.”

Eu conheci um “despertador” destes em 2019!

Mas foi o “tempo”, marcado pelos relógios de todos os tipos que me trouxe aqui, pois eu costumava me preocupar com o futuro, achando que eu tinha algum tipo de controle sobre ele, o futuro, e frequentemente me perguntava: “Até quando será que eu vou conseguir continuar fazendo o que faço, como faço, já que não sou mais jovem?”

E eu tentava achar a resposta e pensava em me preparar para o futuro aprendendo algo novo.

Mas a dúvida persistia: “Até quando?”

Ai veio a resposta, quando eu menos esperava!

Um dia, todos paramos de fazer o que fazíamos, como fazíamos! O “o que” pode até ter continuado, porém, “o como”, ah! Este não é o mesmo e nunca mais será! E quando os “comos” foram alterados, nós tivemos que nos reinventar e usar o “Crie”, ignorando o “Crise”. Grande desafio que nos fez crescer.

Alguns gostaram! Outros não! Mas foi assim e é assim!

Aprendia lição sobre viver o momento, já que é tudo o que temos!

Mas este momento pede Renovação! Momento propicio para irmos para dentro de nós e sairmos lá de dentro melhores, seres humanos mais “humanos” !

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Roupa no varal

Eu gostaria de saber quantos botões eu aperto desde a hora que me levanto até a hora que me deito. O último é sempre o do abajur que fica ao lado da cama, mas o primeiro depende das atividades de cada dia. Alguns dias é o do alarme do celular, outros é o botão do micro-ondas, já que não acordei muito cedo.

Os botões que aperto são os mesmos apertados pela grande maioria das pessoas neste momento: do forno, do fogão, do carro, …, mas um em particular, eu deixei de apertar.

Com mais tempo em casa, não somente parei de apertar o botão da secadora de roupas, como também parei de pendurar as roupas na lavanderia, e passei a usar os varais lá do quintal da casa, que sempre estiveram no mesmo local, esperando pacientemente para poder me ajudar, mas eu passava correndo por eles, como se não existissem.

 

Certo é, que ao pendurar as roupas no varal, sou forçada a olhar para cima, e o “teto” é o céu! Os cordões verticais dos varais de teto são substituídos por cordões horizontais presos às paredes, e o teto, sempre branco, é substituído por diferentes tons de azul, de branco, de cinza…

O monge budista Vietnamita Thich Nhat Hanh, no seu livro A Arte de Viver, me ensinou que podemos entrar em um estado meditativo enquanto cozinhamos, limpamos a casa, ou fazemos qualquer outra tarefa, sem a necessidade de estarmos em posição especial, nem em um lugar especial.

Ao olhar para cima, amplio meu olhar, meu pescoço agradece e a tela do computador, do celular ou a página do livro, que estão sempre a dois palmos de distância dos meus olhos, vão lá longe, muito alto! “Far, far Away!”, como diz Shrek.

Nestes momentos, mesmo estando ocupada pendurando as roupas, viajo nas nuvens, observando suas cores, formas e tamanhos. Às vezes, vejo o Sol! É claro que isto depende do horário. Às vezes, vejo a Lua, mas isto depende não só do horário como também da sua fase. Mas sempre vejo as três imensas palmeiras que tenho no jardim, com suas enormes folhas de um lindo verde escuro, e os frutos, vermelhos quando maduros, que atraem as aves.

Voltando aos varais, eles me remetem ao passado, quando isto era o que todos faziam, e quando os relógios davam todas as suas voltas com menos pressa.

 

Será que observavam o céu?

Sim! Porque lhes dava informações importantes para o cultivo da terra, não é?

Agora, eu também observo muito mais, porque “tenho roupas no varal” e é importante saber sobre a chuva, a garoa, o vento…

Porém, mais relevante do que tudo isto, pois se as roupas molharem, serão lavadas novamente, e tudo bem, é que quando eu olho para o céu, para cima, para fora de mim, estou na verdade olhando para bem dentro de mim, me vejo ínfima diante do Universo, mas ao mesmo tempo imensa porque sou parte deste todo!

Somos parte do Todo!

E saber disto faz muita diferença!

 

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Caixas e Caminhão

Pulou da cama bem cedo, tomou um banho rápido, comeu algo bem depressa sem prestar atenção ao que comia, escovou os dentes, vestiu a roupa que havia deixado sobre a cadeira na noite anterior, falou um “tchau” rapidinho e escutou um “tchau” rapidinho também, saiu, dirigiu o dia todo pela cidade grande, trabalhou muito, ficou estressado/a, almoçou qualquer coisa, voltou para casa tarde, tomou um banho para relaxar, comeu um lanche, dormiu e… começou tudo de novo!

Mas um dia, sem muitos avisos, alguém gritou: “O caminhão da mudança chegou!”

O caminhão que estacionou em frente ao imóvel era da empresa COVID e veio disfarçado de vírus e quarentena, e trouxe dentro dele muitas caixas vazias, e apenas uma caixa cheia.

A caixa cheia foi aberta e ela estava repleta de tecnologia, para ser usada por quem a conhecia, para ser aprendida por outros e até para ser ignorada e deixada de lado por muitos.

E as caixas vazias, como em todas as mudanças, foram sendo preenchidas uma a uma, respeitando ritmos diferentes, de acordo com a delicadeza dos conteúdos. Algumas ficaram cheias de objetos guardados por muito tempo, de relíquias de antepassados, de roupas que não serviam mais, de acessórios fora de moda, de livros que não seriam relidos, e até mesmo dos que não tinham sido lidos, de brinquedos antigos que haviam sido a alegria de filhos e/ou de netos, e muitas outras coisas para serem doadas.

Outras caixas, entretanto, foram preenchidas com a culpa, o perdão, o autoperdão, o arrependimento, a tristeza, a mágoa, o ego inflado, o orgulho, o choro, o desprezo, o negativismo, o medo … Estas caixas ficaram abertas para que mais conteúdo fosse acrescentado a qualquer momento, como por exemplo, a solidão. Elas ainda tinham espaço para muito conteúdo para ser transformado/transmutado.

É obvio que os conteúdos das caixas dependem de cada pessoa ou cada família, então algumas caixas foram preenchidas com muitas orações, amor, humildade, companheirismo, paciência, tolerância, compaixão, diálogos…e estas caixas também foram mantidas sempre abertas para receber mais itens e seu conteúdo pronto para ser levado para a grande teia do universo.

Ah! Ainda existia a caixa cheia de abraços que foram guardados lá desde o dia que o caminhão da mudança chegou. Esta caixa, repleta de abraços apertados, sinceros apertos de mão e todos os outros tipos de contatos físicos, um dia será aberta e um desejo enorme de se expressar eclodirá. Porém, enquanto isto, vamos nos lembrar de que os olhos – as janelas da alma – podem expressar todo o amor que temos para dar e, além disto, podem sorrir.

Mas nem tudo pode ser encaixotado, então os cães e os gatos que caminham pelas casas em meio a tantas caixas estão felizes com a presença de seus donos, e a natureza, em todas as suas formas, resplandece.

É certo que todas as mudanças requerem muitas adaptações às novas casas, aos espaços que habitamos dentro e fora de nós e este processo pode ser lento, mas que tudo de bom venha a nós, com leveza, gratidão e amor.

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Sobre flechas, mandalas e tapetes

Não faz muito tempo que presenciei algo bem interessante quando estava sentada numa praça de uma cidade do interior de São Paulo.

Eram três rapazes, entre 16 e 18 anos, que após comerem seus lanches, resolveram fazer bolas de papel com a embalagem e jogar basketball no cesto de lixo da praça.

O primeiro errou e disse: “Ah! Mas este cesto de lixo tem a boca pequena!”

O segundo acertou e celebrou com pulos de alegria.

E o último rapaz também não encestou e disse que tinha errado porque a bola era leve. Eu, sentada lá por perto, pensei no ditado árabe que um dia ouvira: “Quando o arqueiro erra o alvo, não deve culpar a flecha, mas sim, melhorar sua pontaria”.

Naquele momento eu vi a “bola flecha” e o “cesto flecha”!

 

 

Podemos e devemos continuamente melhorar nossa “pontaria” (performance / desempenho / entrega), concordam?

Podemos nos questionar sobre o que fazemos e como fazemos o que fazemos, e pensar em como melhorar, através de várias ações como estudos, pesquisas, leituras, conversas…

Dar sempre o melhor de nós é algo muito importante, assim como fazer tudo com o coração, tendo em mente que pessoas que sabem mais ou menos do que nós também existem, nos dando a chance de aprender e ensinar.

No livro “Mandalas 0 formas que representam a harmonia do cosmos e a energia divina”, de Rüdiger Dahlke, há uma linda reflexão sobre a perfeição.

Dr. Dahlke, um médico, nos ensina que é tradição entre os índios inserir intencionalmente pequenas falhas nas suas mandalas, já que a perfeição só cabe a Deus.

Segundo ele, as tapeceiras turcas também têm a “falha intencional”, como ele as chama, em suas peças, pela mesma razão.

Dr. Dahlke ainda nos ensina que “uma “falha” é algo que falta e, assim, os índios e os turcos são mais fiéis à significação original; com o seu gesto, mostram que falta

algo às suas criações, pois a perfeição eles só veem em Deus.

Grande exercício de humildade!

Talvez, em nossos meios tão competitivos, essa “falha intencional” seja algo impensável ou inadmissível/descabido.

Bem, fica aqui um convite à reflexão sobre a perfeição, que começou com arqueiros e acabou com índios, tapeceiras e humildade.

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O botão e a flor

Moro numa casa antiga em São Paulo, a maior cidade do país. Até aqui, nada anormal, certo?

Mas as pessoas se surpreendem quando ficam sabendo que o meu quintal é de terra e que tenho dois limoeiros, uma pitangueira, uma amoreira e uma jabuticabeira no jardim, além de muitos vasos de suculentas e cactos.

Isto é bastante diferente em cidades grandes, concordam?

Dá trabalho? Sim, dá trabalho, mas dá muito prazer! (e aqui podemos parar para pensar que a ordem destas duas últimas sentenças faz toda a diferença, não é verdade? Comparem: Dá muito prazer, mas dá trabalho!)

Bem, morando aqui, tenho muito a aprender com a mãe Natureza, observando e absorvendo seus ciclos.

Recentemente, enquanto cuidava dos vasinhos de suculentas, vi um botão, na verdade, dois deles em forma de V.

Há três meses acompanho o crescimento deles e todas as manhãs, quando abro a janela, eu procuro ver “a flor”, mas ainda vejo o botão, que agora está bem mais alto do que a planta, mas ainda está em preparo, em desenvolvimento.

Neste momento a mãe Natureza faz com que duas ideias gritem na minha mente: processo e evento.

Processo – substantivo masculino

Ação continuada, realização continua e prolongada de alguma atividade, seguimento, curso.

Evento – substantivo masculino.

Acontecimento geralmente observável, fenômeno.

Voltando ao botão, o desabrochar de uma flor é um longo processo que pode durar dias, semanas e, neste caso, meses, até que um dia somos presenteados com uma perfeição da natureza.

Durante o processo há o preparo, o aprendizado, o crescimento, a evolução e tudo o mais que toma tempo para acontecer, mas o resultado é impressionante e duradouro.

Os eventos, ao contrário, são rápidos, durando horas, um dia, com a felicidade momentânea.

Muitos, no imediatismo, preferem os eventos, com seus resultados rápidos, porém, a vida tem muitos processos, que são longos, como aprender a andar e a falar que nos acompanharão por anos e anos.

Temos ainda processos ligados aos aprendizados de uma segunda língua, um instrumento, dirigir, uma profissão… dentre vários outros.

Ainda não há pílulas que nos façam tocar lindamente um violino, falar bem uma segunda língua, ou ser um excelente pizzaiolo, mas será que isto seria bom? E o amadurecimento, o crescimento e o aprendizado?

Enquanto escrevo estas palavras, outros processos estão acontecendo lá no jardim. É manhã, o sol está aquecendo a terra e o céu está pintado de um azul belíssimo, e as abelhas e as vespas, muitas delas, estão voando de flor em flor, trabalhando incessantemente. Em alguns meses,as flores serão limões e o mel adoçará nosso alimento.

Aí me lembro de duas frases lindas:

“Tudo tem seu tempo certo!” e “Entre a raiz e a flor há o tempo” , esta última, por Carlos Drummond de Andrade.

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História de três encontros

Há muito tempo alguém me disse que eu era “generosa”, porque eu tinha acabado de lhe ensinar algo. Naquele momento, eu só agradeci, mas depois parei para pensar na generosidade ligada ao ato de ensinar, e descobri que ensinar é pura doação. Doação de conhecimento, de tempo, de amor, e entre tantas outras coisas, doação de muito respeito.

E foi neste momento da vida que tive um encontro com BEDA, um monge Beneditino que viveu na Inglaterra entre os anos 673 e 735 d.C. Ele escreveu assim:

“Há três caminhos para a infelicidade (ou o fracasso):

1. Não ensinar o que se sabe;

2. Não praticar o que se ensina; e

3. Não perguntar o que se ignora

“Sucesso, então, está na generosidade mental (ensinar o que se sabe), na honestidade moral (praticar o que se ensina) e na humildade inteligente (perguntar o que se ignora)”. Fiquei “encantada” quando li isto, pois fez muito sentido para mim.

Mas, voltando, claro que o dar vem com o receber, certo? Assim é a lei! Como aprendemos com nossos alunos! Confesso que aprendi, e tenho aprendido, muito mais do que ensinei – dentre as diversas atividades que realizo, sou professora de idiomas.

Aprendi muito sobre outras profissões – as dos alunos, e sou quase uma cardiologista! rs – , ouvi sobre estilos de aprendizagem, pratiquei a escuta ativa, conversamos sobre comunicação não violenta, refletimos sobre linguagem corporal (minha e deles, já que o corpo fala, como nos diz o livro de mesmo nome, de Pierre Weil e Roland Tompakou), percebemos nossos sentimentos nos ajudando muito ou nos atrapalhando, exercitamos a administração de tempo, consideramos a situação financeira do momento, trocamos comprometimento, respeitamos a disciplina, observamos o ritmo de cada um e como controlar o meu, pois tendo a ser muito rápida. São inúmeros outros aprendizados a serem listados aqui.

Entendi também nesta busca que a lição que aquele que ensina deveria ter na primeira aula é a humildade e a coragem para dizer: “Não sei, mas vou pesquisar para nós!”.

E assim a dinâmica do dar e receber no ensino vai nos trazendo trocas constantes, pois também descobri que o que é sério não precisa ser chato, e que assim sendo, a alegria tem um papel importantíssimo neste universo.

E aí, foi quando tive meu segundo encontro! Desta vez com Rubem Alves (1933 – 2014), que no seu livro Paisagens da Alma, escreveu:

“As prefeituras fariam bem em fazer, nas praças, balanços para adultos. Um adulto que se assenta num balanço é porque perdeu a vergonha. E perder a vergonha é o início da felicidade.”

Quando li esta fala tive um desejo imenso de construir balanços nas salas de aula das escolas, nos escritórios e nas casas dos alunos porque eu já havia notado que são muitos os que desistem das aulas por vergonha e medo de errar, mesmo que geralmente citem um outro motivo para tal. Como assim, se errar faz parte do processo de aprender? Quantos erros cometemos quando estamos aprendendo nossa língua materna.

Às vezes temos outros tipos de desafios, como quando tive um aluno com limitação visual, e quando eu, sendo destra, resolvi ensinar minha filha canhota a fazer crochê. Nestes dois momentos, que são extremamente diferentes, tive de desaprender o meu modo de ensinar e aprender a fazer diferente para contribuir com aquelas pessoas, e foi quando, para me ajudar, o terceiro encontro aconteceu!

Este encontro, porém, foi real, quando uma pessoa que respeito muito me falou que a vida é tudo sobre OBSERVAR e ABSORVER, e desde então tenho levado estas duas palavras comigo aonde quer que eu vá, tendo sempre em mente que somos todos professores e alunos!

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Sobre ler e escrever

Quando bem pequena, aprendi a amar os livros. Meu pai, sempre sentado no chão, encostado à parede, lia para mim as mesmas páginas, de novo, e de novo e de novo, conforme eu lhe pedia. Logo que aprendi a ler, eu também me sentava no chão e lia mais de uma vez os mesmos livros, até porque não tinha muitos! Em pouco tempo, enquanto as crianças brincavam na rua, o que era comum naquela época, eu lia a “enciclopédia” que tínhamos em casa. Bem mais tarde, li muito para minhas duas filhas. Mas qual a razão para eu ter começado este pequeno texto assim?

É porque eu sempre li muito, mas escrevi muito pouco, apenas o obrigatório no período escolar. Isto, até o dia que caí!

Sim! Levei um super tombo a 1000km de casa, em uma visita à Gruta de Salitre, na Serra do Espinhaço, em Diamantina, MG. Não! Eu não estava fotografando, desatenta ao solo totalmente irregular, mas caí! Também não estava sozinha, pois não é possível visitar a gruta, que é maravilhosa, sem um guia local! Mas caí!

Ao cair, machuquei várias partes do corpo: joelhos, coxas, costelas – costelas doem demais – e os meus braços ficaram sem movimento por quase quatro meses. Neste período, eu que sempre me considerei muito “independente”, precisei da ajuda de muitas pessoas! Ajuda para atividades super simples como escovar os dentes! E isto é simples? Naquele momento me lembrei do livro Ajuda – A relação essencial, de Edgar H. Schein que havia me ensinado sobre a humildade de quem pede ajuda e a postura de quem nos ajuda. Peguei o livro na estante e li minhas anotações ao lado das páginas. Sim! Eu faço isto! Recebi muita ajuda e várias vezes escutei meu marido me dizer: “Não se cobre tanto!” Aprendi! Depois foi a vez do livro A Coragem de Ser Imperfeito, escrito por Brené Brown, me dar apoio dentro da minha imperfeição e vulnerabilidade.

 

 

Mas, neste mesmo livro, a autora cita o livro de James W. Pennebaker, Writing to Heal”, que nos ensina que o ato de escrever sobre a experiência traumática pode produzir mudanças concretas na saúde física e mental. Neste ponto, comecei a escrever. Sim! Não digitar, porque o ato de escrever quando comparado à digitação, tem muitas vantagens. Comecei com itens, palavras mesmo, até porque escrever trazia dores nos braços, e fui escrevendo muito mais, conforme fui melhorando. Alguns dias escrevi páginas sobre um mesmo item.

Como escrevi várias páginas sobre meu período após a queda, vou compartilhar aqui somente algumas ideias que geraram mais aprendizado: Gratidão, Paciência, Independência, Aceitação, Força, Tempo, Flexibilidade, Aprendizado e Achar que temos tudo sob controle.

Hoje, oito meses após a queda, adoro escrever e mantenho um “caderno” onde escrevo sobre o que sonhei, sobre algo que aconteceu durante o dia, sobre conversas que tive, sobre as aulas que dei… e o escrever tem sido muito especial agora, neste período de recolhimento, quando converso comigo e ressignifico as emoções, os pensamentos, fazendo do ressignificar algo constante para seguir em frente aprendendo.

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