Autoridade

Autoridade

Neste capítulo, trago uma referência do que pode conduzir a humanidade para o tão necessário processo de evolução: a autoridade para influenciar e sermos  influenciados na direção dos  importantes propósitos que precisamos realizar juntos. Apresento um caminho  para que possamos construir  autoridade, a fim de alcançar, da melhor maneira possível, o futuro desejado.

Izabela Mioto

Eu lhe concedo autoridade porque acredito na sua intenção.

Eu lhe concedo autoridade porque não me sinto ameaçado(a) por você.

Eu lhe concedo autoridade porque você inclui a minha perspectiva.

Eu lhe concedo autoridade, pois vejo coerência em suas atitudes.

E quando lhe concedo autoridade, me percebo melhor, evoluo.

– Izabela Mioto

Autoridade é uma relational skill essencial, pois é capaz de conectar pessoas a bons propósitos. Explico. Parto do princípio de que pessoas que adquiriram níveis de consciência mais elevados, quando conquistam autoridade, facilitam o processo evolutivo da humanidade. Os mais conscientes sobre as condições climáticas podem mobilizar indispensáveis hábitos com o meio ambiente. Aqueles que compreendem como conquistar equilíbrio emocional, quando autorizados, contribuem para diminuir os altos índices de adoecimento emocional. Necessitamos de quem saiba como percorrer o caminho para genuinamente indicar a direção de nobres ideias para a edificação do futuro que desejamos. 

Neste capítulo, enfatizo que existe um processo para que a autoridade seja conquistada. Quem lhe concede autoridade é outro. Você pode até ter poder, mas isso não lhe concede autorização para influenciar outra pessoa na direção do que deseja. Um famoso livro, escrito por James Hunter (2004), O monge e o executivo, ao citar a diferença entre poder e autoridade, explica que ela se dá por meio da capacidade de influenciar as pessoas por meio do respeito que se conquistou. Ao exercer autoridade, por exemplo, uma liderança é capaz de inspirar de maneira positiva seus liderados, pois eles acreditam naquilo que devem realizar e passam a se conduzir de maneira espontânea e automotivada para atingir os resultados. O capítulo sobre Liderança Humanizada, escrito pela idealizadora desta obra, Lucedile Antunes, complementa muito bem o tema da autoridade. Compreender e exercitar a humanidade que nos habita facilita o processo de conexão com os liderados. 

E o poder? Ele, muitas vezes, pode até ser concedido a pessoas que não conquistaram autoridade. Mas o risco que se corre é que uma pessoa se sinta forçada a fazer algo, mesmo não acreditando naquilo. Uma motivação extrínseca pode ser acionada pelo poder, sendo ela um salário no final do mês, o medo de perder um emprego ou, até mesmo, o receio pessoal de não pertencer ou não ser validado(a). Poder deveria andar junto à autoridade. Nosso querido filósofo e professor Mario Sergio Cortella, há algum tempo, citou esta expressão: “Um poder que se serve, em vez de servir, é um poder que não serve”. Nosso poder deveria servir a um propósito que vai além das demandas dos egossistemas. O bom poder combina com alguém capaz de ter uma visão interdependente, mobilizando que se realize algo que seja bom para si, para os outros e que colabore para a evolução dos ecossistemas em que estamos inseridos.

Como construir o caminho da autoridade?

No livro Conversas decisivas, os autores afirmam que “As pessoas raramente ficam na defensiva por conta do que você está dizendo (conteúdo), elas ficam na defensiva por conta do motivo pelo qual elas pensam que você está dizendo algo (intenção)”. A primeira reflexão a se fazer no processo de construção da autoridade é se as pessoas acreditam e compreendem sua intenção. Aqui temos algo simples a se fazer: comunicar a intenção. Ao iniciar uma conversa em que precisa dizer para o outro que uma de suas atitudes não é adequada, você poderia começar dizendo sobre a intenção que tem de ajudar no processo de desenvolvimento do outro e no estabelecimento de melhores relações interpessoais para sua vida.

Um segundo ponto relevante nessa trajetória é mobilizar a percepção de que existe um ambiente emocionalmente seguro nessa relação. Nesse aspecto, a segurança psicológica se faz essencial. Uma pesquisa feita pelo Google, com 180 equipes com bons resultados, que recebeu o título de “Projeto Aristóteles” (APPUS, 2023) e teve o intuito de compreender quais são os principais fatores que mobilizam a alta performance, revelou que o que condiciona uma equipe de sucesso são: segurança psicológica, confiabilidade, estrutura e clareza, significado e impacto. Enfatizo que a segurança psicológica se demonstrou nesse estudo um fator que tem quatro vezes mais impacto do que os demais, isto é, quatro vezes mais impacto para um time se tornar de alta performance.

De acordo com Amy Edmondson (2020), que escreveu A Organização sem medo, segurança psicológica é a crença de que temos um ambiente seguro para corrermos riscos interpessoais; quando nos sentimos confortáveis em nos expressar livremente, sermos nós mesmos, sentimo-nos à vontade para compartilhar nossas preocupações e nossos erros sem medo de constrangimento ou represália. Com segurança psicológica, o outro não se sente ameaçado na relação e não se coloca em uma condição defensiva, mas sim de abertura.

Costumo citar em minhas palestras que, no final do dia, tudo o que nós, seres humanos, desejamos é pertencer e acreditarmos que somos relevantes. Por isso, um terceiro e decisivo passo é substituir julgamentos rígidos pela inclusão de perspectivas. Atenção: por mais que não se concorde com a perspectiva alheia, você pode compreender por que o outro pensa, sente ou age de determinada maneira. Quando há compreensão, o outro não se sente ameaçado e abre espaço para também ouvir e incluir sua perspectiva, concedendo-lhe autoridade.

Geralmente, admiramos pessoas que têm discursos eloquentes, com oratórias dignas de nota, mas perdemos rapidamente essa admiração quando nos damos conta de que suas atitudes são incoerentes com suas palavras. Isso até pode acontecer, pois, nesse caminho, você vai errar, esquecer e ultrapassar limites. Não ignore suas atitudes. Seja humilde, volte atrás, peça desculpas, converse sobre suas inconsistências. Ao se perceber mais humano e menos super-herói, você se conecta com a humanidade que habita em si, o que também facilita a construção de autoridade. Seja coerente, dê exemplo e conquiste admiração por suas atitudes.

Um último ponto citado refere-se ao resultado que a influência gerada por meio da autoridade traz. Você deve se lembrar de um momento na sua vida em que a emoção negativa entrou em cena e quase o sequestrou, desviando sua atitude do que realmente desejava para aquela situação. Foi quando alguém, com tranquilidade e amorosidade, olhou para você, sem julgamento, fez uma pergunta poderosa ou deu um conselho. Aquela fala fez total sentido, porque sentiu que o outro realmente se importava com você. Ele o ajudou a se reconectar com sua intenção, diminuir os níveis de emoção negativa, prometendo uma reflexão crítica e mais racional sobre a situação. Você concedeu autoridade para que ele o influenciasse. E isso fez que você pudesse manter a integridade consigo mesmo(a), com sua intencionalidade. Um sentimento de gratidão, tranquilidade e uma sensação de que tudo estava no seu devido eixo tomou conta de você. E o vínculo com aquela pessoa se fortaleceu. Você evoluiu.

A experiência gerada por uma influência positiva, por meio da autoridade, teria um impacto benéfico até mesmo em nossa saúde. Goleman (2019) enfatiza que nossos relacionamentos moldam não somente nossa experiência, mas também nossa biologia. De acordo com Humberto Maturana e Francisco Varela, no livro A árvore do conhecimento, eu só aprendo quando me conecto – o imperativo da evolução é me conectar. Tudo o que está acontecendo é porque estamos desconectados. Assim, a autoridade permite que a influência ocorra e aumente nossos níveis de conexão, facilitando nosso processo de evolução.

Relato sobre conquista de autoridade

O gerente João chega esbravejando na frente da equipe. Uma das áreas de interface do projeto não tem cumprido o combinado e a entrega, tão importante ao cliente, talvez necessite ser postergada. As pessoas ouviram com atenção o desabafo do líder. Alguns disseram: “Isso é um absurdo, não podemos penalizar nosso trabalho porque os outros são incompetentes”.

O diretor da área entra na sala, fica sabendo do ocorrido. Muda até o semblante, bate na mesa, em sinal de desaprovação. Todos se calam. Ele diz que a ordem é entregar o projeto na data especificada, que todos deveriam ter acompanhado as etapas e que o problema é de todos. Boa parte das pessoas na sala sente-se incompreendida, pois tem consciência de que entregou seu melhor e acha que não é justo ouvir aquilo daquela forma. Ficam desanimadas. 

José, o estagiário, percebe o clima ruim que foi gerado. Ao término da reunião, convida o gerente João para tomar um café na padaria da esquina, a fim de falar sobre o projeto. 

Ele começa a conversa dizendo quanto aprecia a atitude de João em cumprir os prazos e entregar os projetos com o máximo de excelência, reforça sobretudo o que já aprendeu com ele e que tem a intenção de contribuir com uma perspectiva que pode ajudar. José pergunta qual é a opinião dele em relação à sua ideia: mobilizar, temporariamente, uma equipe de trabalho para apoiar a área que está com dificuldades. João responde que não acredita nessa possibilidade, pois o coordenador da área é muito individualista. José faz que sim com a cabeça, mas não desiste. 

Ele busca ampliar a perspectiva de João. “E se você disser a ele que, por ter participado do planejamento inicial, a sua equipe tem informações que podem facilitar? O que nós perderíamos com essa tentativa?”. Estou disposto a fazer parte dessa equipe temporária e lhe digo que, na semana passada, levei uma ideia que vi na faculdade para esse coordenador. E, ontem mesmo, recebi um e-mail agradecendo e que a ideia foi validada. 

Mais calmo, João já cogita essa possibilidade. Chega cedo no dia seguinte e se dirige para a sala desse coordenador. Começa dizendo a ele que tem a intenção de ajudar e que pensou em uma estratégia para não perderem o prazo. Dá a ideia da equipe de apoio temporária. Sem precisar ir adiante, um sorriso se abre e o coordenador diz a João: “Nunca imaginei que você fosse tão empático, que pudesse mobilizar sua equipe para nos ajudar. Muito obrigado, João; fico feliz e aceito”. 

José ousou comunicar sua intenção. Ele demonstrou que validava as atitudes do gerente João, incluiu sua perspectiva e deu exemplo de uma de suas atitudes, revelando coerência naquilo que estava propondo. O resultado? Todos evoluem nesse processo e encontram a forma mais íntegra de resolver os desafios, melhoram os níveis de conexão entre si e ainda entregam seu melhor para o cliente. E tudo isso porque José, o estagiário, construiu o caminho da autoridade. 

E você? Já pensou em que gostaria de ter autoridade? Trilhe esse caminho e contribua com o ciclo de evolução tão necessário. 

Referências

APPUS HR. Inspire-se no Projeto Aristóteles desenvolvido pela Google.
Disponível em: <https://www.appus.com/blog/people-analytics/
projeto-aristoteles/>. Acesso em: 08 jun. de 2023.
EDMONDSON, A. A organização sem medo. Criando segurança psicológica no local de trabalho para aprendizado, inovação e crescimento. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.
GOLEMAN, D. Inteligência social: a ciência revolucionária das relações humanas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.
HUNTER, J. C. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
MATURAMA, H. R.; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento – as bases biológicas da compreensão humana. Palas Athena. Edição original, 2001.
PATTERSON, K.; GRENNY, J.; McMILLAN, R; SWITZLER, A. Conversas decisivas – técnicas para argumentar, persuadir e assumir o controle nos momentos que definem sua carreira. São Paulo: Campus, 2003.

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Inteligência emocional na prática

Inteligência emocional na prática

“A mente é seu próprio lugar e, por si mesma, pode tornar o inferno um céu e o céu, um inferno.”

John Milton

 

O despertador não tocou. Eram 7h30 e a reunião começaria às 8 horas em ponto. O deslocamento de casa para o trabalho levaria no mínimo 20 minutos. O coração disparou, e a ansiedade tomou conta de Luiza. Ela seria a primeira a se apresentar. Levantou-se correndo e seu dedinho do pé direito foi quase esmagado na quina da cama. Após a higiene pessoal, vestiu-se rapidamente, apanhou a bolsa, abriu a porta e se dirigiu ao elevador. Antes de descer, se lembrou de que está faltando algo. Esqueceu a mochila com o notebook. Como faria a exposição sem o computador? Dias de intensa dedicação estavam nele. Por segundos, ficou com muita raiva do seu celular, acreditando que ele já não respondia mais aos seus comandos. “Preciso trocá-lo!”, logo pensou! Para complicar, no seu retorno, os elevadores resolveram dar uma volta até o último andar. No subsolo, ligou o seu carro e seguiu em direção à empresa. O trânsito não estava tão carregado, mas o aplicativo apontava dez minutos até o destino. A moça comunicou ao seu gestor que o trânsito se complicou e que se atrasaria uns 10 minutinhos.

 

      Mas só chegou 20 minutos após a reunião ter começado. Por esse motivo, a ordem das apresentações foi invertida. Não conseguiu prestar atenção em uma só palavra e foi tomada por um diálogo interno: “Isso não poderia ter acontecido, é por isso que não vou progredir na carreira. Tantos dias de trabalho e o despertador não toca justamente hoje. Que vergonha eu ter chegado atrasada!”.

 

      Finalmente, é a sua vez. É possível perceber a sua respiração ofegante e que ela não tem a melhor qualidade de presença. Sua explicação fica mais restrita ao que está consta nos slides. Seu gestor faz uma brincadeira no meio da participação dela, o estado emocional de Luiza melhora um pouco e ela se conduz mais harmônica até o final. Porém, nas apresentações que seguiram, ainda se sentia muito aérea e culpada, com aquela sensação de que algo não estava bem e isso roubou muito da sua energia!

 

      No livro de Susan David, Agilidade Emocional, a autora nos convida a dançarmos mais do que lutarmos com a vida e com as circunstâncias. Ela nos faz refletir que, com autocompaixão, podemos transformar os nossos desafios diários em oportunidades, sem perder o foco daquilo que realmente desejamos.

 

      Uma das perguntas que ela faz que iremos nos ater aqui é: quantas voltas no quarteirão você tem dado? A autora afirma que “andamos (ou corremos) repetidamente em volta dos quarteirões das nossas vidas, obedecendo a regras que são escritas, implícitas ou simplesmente imaginárias, presos ao costume de ser e fazer coisas que não são úteis. Por vezes, somos instrumentos de corda, indo repetidamente de encontro às mesmas paredes sem perceber que pode haver uma porta aberta à nossa esquerda ou à nossa direita”.


        Vamos analisar o que aconteceu com Luiza? Para isso, voltaremos à sua infância e entenderemos o que são as suas voltas no quarteirão. Abordaremos sobre a gestão dos pensamentos que interferem nas nossas emoções, sendo essas os condicionantes de nossos comportamentos.

Nossas experiências de infância interferem!

Precisamos compreender que as nossas vivências quando crianças e os padrões que aprendemos durante nossa trajetória têm forte interferência em relação à maneira como nos comportamos. Muitas vezes, nem nos damos conta desses padrões. Formas que provavelmente tenham sido úteis para nos tornar quem somos, mas que podem nos acompanhar em diferentes circunstâncias, impedindo-nos de alcançar maior discernimento em relação às situações. Luiza mantém a crença de que necessita ser excelente em tudo o que faz, que precisa dar o exemplo e o efeito colateral é que ela não se permite relaxar.

 

Esse ritmo frequente e sem pausas conduz à exaustão, que, por sua vez, nos faz perder o foco em relação àquilo que realmente é importante, nos tira a qualidade de presença e afeta a excelência das nossas ações. A pausa pode ser vinculada, inclusive, a um processo terapêutico, pelo qual podemos encontrar um “espaço” importante para identificar e aprender a gerenciar nossas emoções, inclusive alterar padrões que incorporamos ao longo da vida, mas que já não servem mais para a nossa jornada de desenvolvimento. Lideranças que desfrutam desses espaços são mais humanizadas e promovem ambientes de trabalho com mais segurança psicológica.

 

Na série de aulas sobre história do autoconhecimento, Luciano Meira [@lucianoameira@caminhosvidaintegral], autoridade em desenvolvimento do potencial humano, enfatiza que todo conhecimento possui valor, mas o autoconhecimento tem valor incalculável. Afinal todo conhecimento, científico, técnico ou mesmo de negócio pode perder validade, pois o mundo é instável nesse aspecto. Já com o autoconhecimento isso não ocorre, pois, quanto mais se aprofunda, mas ele se pereniza, e os níveis de consciência se ampliam. E mais: que essa é a única área do saber que propicia um encontro tão rico de perspectivas – tradições espirituais, filosóficas, psicológicas e neurocientíficas. Por isso, investir no conhecimento de si é o principal caminho para gerenciarmos as nossas emoções, pois ganhamos mais clareza acerca do que as condicionam. Líderes que desejam lidar com mais discernimento e eficácia com as adversidades da vida ou os diferentes perfis das pessoas podem encontrar as melhores possibilidades quando dão atenção aos seus processos de autoconhecimento.

Observe seus pensamentos – Quem está no controle: o pensador ou o pensamento?

“O pensamento é o diálogo da alma consigo mesma.”

Platão

 

Muitos de nós estamos aprisionados em nossos pensamentos. Perdemos a liberdade e a qualidade de presença, no sentido de percebermos com mais atenção ao que, de fato, está acontecendo ao nosso redor. Muitas histórias contêm mais inferências do que evidências. E como escreve Susan David, as pessoas acabam sendo “enredadas” por essas histórias: “em um modo específico de pensar ou de se comportar não estão realmente prestando atenção ao mundo como ele é. Elas são insensíveis ao contexto, seja ele qual for. Mais exatamente, elas estão vendo o mundo como elas mesmo organizaram, em categorias que podem ou não ter alguma coisa a ver com a situação em questão”.

 

Nossos pensamentos são carregados por experiências do passado, por aspectos inconscientes que se traduzem em algo que não fomos capazes de resolver totalmente, mas que ficam ali, “martelando”, sem que, ao menos, possamos ter uma percepção consciente de como nos roubam o discernimento. Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria no Brasil, costuma dizer que carregamos muito “lixo mental”. Vale refletir sobre como estamos lidando com isso! Além disso, é essencial nos conceder pausas para deixar ir o que nos impedirá de usufruir da necessária qualidade de presença para que nos conectemos genuinamente aos acontecimentos e fatos.

 

Outro ponto é a forma como “culpamos” as pessoas e circunstâncias e não assumimos a responsabilidade pelo que nos cabe. É interessante observar que Luiza culpou o celular. Parece absurdo, mas é exatamente isso que fazemos muitas vezes. Nessa condição, não empreendemos esforços para ir na direção do que queremos e passamos a acreditar que somos vítimas e que não há nada mais a fazer. As adversidades acontecem, mas o que nós decidimos e fazemos após o fato é que condicionará os momentos posteriores. A respiração, nesse momento, ajuda muito! Pode trazer um alívio de que essa é somente uma dificuldade e que isso não apagará o seu brilho, passará assim como outras que já aconteceram.

Depois dos pensamentos, as emoções!

Você é capaz de perceber os seus sentimentos? Quantas vezes, agimos com raiva e, posteriormente, temos que gerenciar as consequências das nossas próprias atitudes? Quando somos capazes de fazer a gestão dos nossos pensamentos, atuando como observadores de nós mesmos, conseguimos mais facilmente nos autorregular e, claro, obter mais gestão de resultados do que consequências.

 

Não controlamos o que sentimos, mas regulamos as nossas emoções. Susan destaca ainda que se tornar emocionalmente ágil significa “ser flexível com seus pensamentos e sentimentos para responder da melhor maneira possível às situações do seu dia a dia”. Uma estratégia eficaz que contribui com essa habilidade emocional é justamente a clareza da nossa intenção. Quando cultivamos algo importante em nós que mobiliza nossas ações podemos refletir e atuar de modo a honrar esses valores e intenções, bem como de construir um legado maior, em vez de responder às situações pequenas e pontuais.


 Para nos desenredar, não podemos aniquilar nossos sentimentos, pois estaríamos comprometendo nosso próprio bem-estar. Também não podemos reprimir as nossas emoções. Não reconhecer sua existência gera um acúmulo e um transbordamento repentino, pois, em algum momento, essas emoções vêm à tona, como um adoecimento ou uma explosão de raiva. Outro comportamento comum e sem resultados positivos são os denominados por Susan como “ruminadores, pessoas que ficam obcecadas por uma dor, um fracasso percebido, uma deficiência ou uma ansiedade”, aquelas que continuam pensando da mesma forma sobre o mesmo fato e se culpando sobre isso. Saiba que nossas emoções negativas não são ruins. Elas funcionam como um alerta. Podem, sim, claro, se tornar ruins quando não somos capazes de perceber, refletir e agir com mais consciência. Veja que interessante esse trecho que está no livro da Susan David, Agilidade Emocional, de Clayton M. Christensen, saudoso fundador da teoria de Inovação Disruptiva:

“Ano passado, recebi o diagnóstico de câncer. Precisei encarar a possibilidade de que minha vida chegaria ao fim antes do que eu planejaria. Felizmente, parece que serei poupado. Mas a experiência me forneceu um importante insight.

Tenho uma noção bem clara de como minhas ideias trouxeram enorme ganho para as empresas que as usaram; sei que tive um impacto significativo. Mas, ao enfrentar essa doença, foi possível perceber como isso é irrelevante para mim hoje em dia. Cheguei à conclusão que o critério pelo qual Deus vai avaliar a minha vida não é o financeiro. O que contará é cada indivíduo cuja vida toquei.

Creio que assim será para todos. Não fique pensando em quanto destaque pessoal você obteve; pense nos indivíduos a quem ajudou a se tornarem pessoas melhores. Essa é minha recomendação final: pense nos critérios pelos quais a sua vida será julgada e adote a resolução de viver todo dia de modo que, no final, essa vida seja considerada um sucesso”.

 

Cuidado com o mundo de fora e com aquilo que pode confundir você. Olhe para dentro, compreenda-se e encontre o que é sucesso para você. Estou certa de que isso vai tornar a sua jornada de vida mais equilibrada e leve. Dance mais, lute menos. Com inteligência emocional, você adquire a tão importante agilidade para lidar com as adversidades que, com certeza, aparecerão e transforme-as. Não fique paralisado, aprenda com elas e seja o comandante desse transatlântico que se chama vida. Afinal, a Luiza pode ser você nos próximos minutos.

Referências bibliográficas
  • DAVID, Susan. Agilidade Emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo, Cultrix, 2018.
  • Amy Cuddy. O poder da presença HBR – Gerencie a si mesmo – 10 leituras essenciais da Harvard Business Review. 2016.
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Conexão e cuidado: plantar, regar e florescer

Por que ainda somos tão inconscientes sobre a interdependência e a conexão que há entre tudo e todos? Por que será que não temos a dimensão sobre a importância e os benefícios do autocuidado, de estabelecermos relações interpessoais eticamente cuidadosas e de convivermos de forma respeitosa com a natureza? Essa são indagações que me faço frequentemente.

Vivemos os movimentos dos ciclos das nossas vidas, alguns mais favoráveis, outros nem tanto. Ciclos que nos convidam a evoluir, a avançarmos para estar melhor amanhã do que estamos hoje. Cada ciclo tem seu aprendizado. Cada atitude que empreendemos, inclusive as pequenas, constroem o nosso futuro e podem facilitar até os ciclos mais desafiadores. Plantar. Regar. Florescer.

Atitudes inconscientes e desconectadas do que realmente intencionamos, não trazem florescimento e, por isso, não contribuem com a nossa evolução. O piloto automático que permitimos que ocorra em nossas vidas repetidas vezes, traz com ele o risco de deixarmos o ‘cultivo’ de lado. Na construção de um futuro sustentável, a nossa qualidade de presença pode ser a chave para cuidarmos e regarmos o que realmente desejamos, para percebermos a potência das conexões.

A vida, tal qual a natureza, não tem a hora exata do desabrochar, do amadurecer. O tempo para as coisas acontecerem pode não ser o tempo que projetamos. A ansiedade e o imediatismo, muitas vezes, nos tira o foco. Eu te convido a refletir:


– Em sua vida, quais são as sementes que você genuinamente deseja plantar?

 

Tendo clareza de quais elas são, vamos seguir refletindo:

 
– Você já deu o primeiro passo para materializar essa intenção?


Em seguida, convido você a investigar sempre de forma curiosa e amorosa:

 
– Qual é o foco e a disciplina com que nutre essas sementes? Tem regado periodicamente, mesmo nos dias mais desafiadores?
 

Plantar. Regar. Florescer. Com cuidado, disciplina e conexão nós chegamos lá!

 
Era final de tarde. Voo tranquilo, pouso calmo. Aproveitei cada minuto das três horas de voo para colocar o sono em dia. O avião pousa em uma área remota e, por isso, demanda um ônibus, subo nele para chegar até o desembarque. De repente, um barulho ensurdecedor. Uma mãe entra com seus dois filhos neste mesmo ônibus. A menina, filha mais velha, acomoda-se calmamente em um dos assentos, mas está nitidamente incomodada com a atitude do caçula. Ele deveria ter uns três ou quatro anos e grita desesperada e repetidamente: “seca, seca, seca.” Percebo o semblante da mãe. Desconsertada, ela nada fala. Uma mulher pergunta se ele deseja se sentar, mas antes mesmo de ceder o lugar para a criança, a mãe envergonhada diz que não, que ele não queria sentar-se, ele queria ‘secar’. Explicou que o menino havia derrubado água na calça.
 
Da minha perspectiva e ainda sem conseguir conectar ao certo o que deveria estar sentindo o pequenino, pensei – ‘está calor’, não seria agradável estar um pouco molhado? Mas ele continua e os gritos se fazem cada vez mais altos.: ‘seca, seca, seca.’ A irmã finge nem ouvir, mas a mãe fica com o semblante cada vez mais fechado. Sem olhar para o menino, ela repete – ‘já vai chegar’. Tenta mudar o foco de atenção do garoto mostrando os aviões que estão na pista. E os gritos não cessam, pelo contrário, ele parece gritar cada vez mais alto.
  
De repente, aparece uma moça, estatura média, bem magrinha. Ela abaixa para ficar na altura do menino. Ele parece ignorar o sorriso dela. Ela diz em voz alta tentando se fazer ouvir: ‘eu tenho um superpoder. O menino para de gritar uns três segundos, mas logo continua, ainda mais alto. Penso que ela vai desistir, não teve êxito.
 
Achei interessante a tentativa. Para minha surpresa ela não desiste, continua: ‘eu tenho um superpoder e você também tem, quer saber qual é?’ E ele responde: ‘não tenho não e nem você.’ Ela insiste. ‘Está vendo a minha calça? Estava molhada e eu consegui secar com o meu superpoder. Você também consegue. Nós, super-heróis, temos esses superpoderes. Toma cuidado para as pessoas não nos reconhecerem aqui, não estamos com as nossas capas.’

O menino começou a prestar atenção. Um alívio se deu. O semblante da mãe já não estava tão tenso. E a moça continuou: ‘feche seus olhos, pense no que você deseja com muita vontade, conte até dez e depois você não vai mais sentir que está molhado.’ A moça pacientemente começou a contar e ao fim disse: ‘Pode abrir os olhos. Você sentiu? Viu como melhorou? Você é um super-herói!’ Como se o sol nascesse após um dia cinza e chuvoso, um sorriso se abriu. E o grito de desespero, deu lugar a uma linda manifestação de alegria – ‘mãe, eu sou um super-herói!’.  

 

Confesso que entrei em flow com essa cena. Aliás, flow é aquela sensação de quando você está totalmente absorvido por uma atividade, onde você fica 100% focado, sem perceber o tempo passar e sem se dar conta de tudo o que está acontecendo ao seu redor. Eu torci por aquela super-heroína, como se eu tivesse em uma superprodução de Hollywood. Senti o desejo genuíno que ela demonstrou ao amparar aquela criança. Ela não o julgou, mas gentilmente, saiu da sua perspectiva de um adulto racional, para uma diferente, não menor ou inferior, apenas diferente. Plantou uma semente. Não desistiu, esteve ali, conectada, presente, atenciosa, regando, insistindo. Após o olhar de consentimento da mãe, parecia não se importar com mais nada a seu redor. Apenas com o garotinho. Ela semeou, regou e floresceu. A gargalhada de satisfação que ela deu quando o pequeno disse que era um super-herói denunciou uma alegria contagiante. Ela nos fez acreditar que todos nós temos superpoderes. Plantar. Regar. Florescer.

 

Nesta interação e intenção genuína, aprendi um pouco mais sobre cuidado e conexão. Ela poderia seguir o seu curso até o desembarque, eram poucos minutos ouvindo os gritos, cada um tomaria seu rumo e tudo ficaria bem. Mas existem pessoas que se desafiam a ir além, conectando com as possibilidades que a vida apresenta. De repente, eu senti tudo, absolutamente tudo conectado! A energia gerada na intenção daquela moça, moveu muita coisa naquele ônibus. Passageiros que agora podem florescer mais por estarem conscientes do superpoder do cuidado e da conexão,Plantar. Regar. Florescer.

 

Moça do ônibus, onde quer que você esteja, saiba do meu desejo de que você tenha sempre bons motivos para sorrir e dançar nesse jardim que é a sua vida, o qual você demonstrou estar cultivando e regando tão bem. Aproveite o florescimento!

 

Não por acaso, uma das minhas empresas, a que eu cofundei com Claudia Serrano e tenho hoje também como sócia, Marília Camargo, a Arquitetura RH, tem os seus C ‘s como valores chave. Colaboração, Coerência, Coragem, Confiança, Cuidado e Conexão. Acreditamos que essas atitudes podem melhorar o mundo.

 

Eu acredito que a sustentabilidade que tanto desejamos possa ser cultivada com pequenas atitudes como a dessa moça. Sustentabilidade começa agora. Com a consciência do presente e do quanto você contribui e impacta. Quais sementes você tem plantado? Quais das suas atitudes tem regado essas sementes? Plantar. Regar. Florescer.

 
Não basta PLANTAR
Você precisa saber como REGAR.
Uma simples atitude
Faz surgir uma grande virtude.
 
É da intenção presente no CUIDAR
Que uma incrível CONEXÃO pode dar.
Colher é como renascer
E sustentar um novo amanhecer.
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Autoliderança

O primeiro passo para a autoliderança: saia do piloto automático!

“De vez em quando você tem de fazer uma pausa e visitar a si mesmo.”

Audrey Giorgi

Muitos de nós andamos pela vida sem ter a verdadeira compreensão para onde nossas atitudes poderão nos conduzir. É o que muitas pessoas chamariam de uma condução inconsciente de si. Gosto de dizer que seria um existir no “piloto automático”.  Viver nesse estado nos traz um enorme risco, pois estarmos nos conduzindo para um “lugar” que, ao chegarmos, não nos sentiremos confortáveis.

Será que as nossas atitudes vão na direção do que realmente é bom para nós mesmos ou, muitas vezes, são condicionadas ao que é conveniente para o mundo externo? Penso que ainda não contamos, na maioria das escolas, com uma educação socioemocional – ou seja, com as inteligências emocional e racional – que ajude a nos compreender, que privilegiem o autoconhecimento e uma melhor gestão das nossas emoções. Esse é o tema da reflexão que convido você a fazer: quando nos encorajamos a olhar para o mundo interior, entramos em contato com os nossos aspectos luminosos e sombrios, e somos capazes de abraçar nossa essência integral, diminuindo os medos e trazendo mais amplo repertório para gerir atitudes. Passamos a liderar de dentro para fora e não o contrário. E o mais importante para o que irei tratar aqui: passamos a compreender nossos desejos mais genuínos e nos tornamos aptos a direcionar nossas ações com muito maior consciência.

Para saber mais sobre isso, não deixe de ler o capítulo que fala sobre autenticidade.

Na série de aulas sobre a história do autoconhecimento, ministradas por Luciano Meira, autoridade quando o assunto é desenvolvimento do potencial humano, ele afirma que todo conhecimento tem serventia, mas o autoconhecimento possui um valor incalculável, inestimável. Meira, que também assina a abertura deste livro, enfatiza que todo conhecimento — científico, técnico ou mesmo de negócio — pode perder validade, pois o mundo é instável nesses aspectos. Porém, o autoconhecimento não, pois quanto mais aprofundado, mais perene ele é e os níveis de consciência se ampliam, considerando que seja a única área do saber que é possível ter um encontro muito rico de perspectivas – tradições espirituais, filosofia, psicologia e neurociência. Por isso, investir no conhecimento de si próprio é o principal caminho para a autoliderança, pois ganhamos maior clareza das atitudes que nos condicionam.

O primeiro passo para a autoliderança é ir ao encontro de nosso Eu mais genuíno, essa dimensão que dispensa “disfarces”, em que nossas ações são pautadas em verdades, aumentando os níveis de amorosidade e diminuindo nossos medos e raivas. Para chegarmos a esse “estágio”, muitas vezes teremos que abandonar aquilo que é bom para o mundo de fora (me refiro aquilo que é bom para as pessoas que nos cercam e para os contextos em que estamos inseridos), assumindo e sustentando as nossas verdadeiras intenções e fazendo uma boa gestão das nossos potenciais e nossas sombras. Nessa perspectiva, caminharemos em nossas vidas com a capacidade de oferecer o melhor de nós para os outros e para os contextos. Para se aprofundar no assunto, recomendo o capítulo sobre Liderança Altruísta que faz parte desta publicação.

Somente quando somos capazes de exercitar o autorrespeito, ficamos muito mais inteiros para uma conexão genuína com o outro e com os contextos em que habitamos, podendo desfrutar da potência que nos cabe e das estradas de evolução que somos convidados a trilhar! Caso você se perceba no piloto automático, pare, respire, visite as suas intenções e depois “revisite” seus pensamentos, emoções e ações. Verifique se elas fluem na direção do que deseja ou se têm sido sabotadores de si mesmo.

Intenções e expectativas para sustentar escolhas 

João  teve uma infância em que o estudo sempre foi prioridade. Mesmo sendo de família humilde, seus pais fizeram questão que estudasse nas melhores escolas possíveis. O pai dele sempre foi muito rigoroso e repetidas vezes lhe dizia: “Meu filho, você precisa se preparar para o mundo. As coisas não são fáceis e as pessoas não facilitarão para você”. João  tinha muita admiração e respeito pelo seu pai, e essa frase acabou sendo assimilada por ele, influenciando suas escolhas, mesmo que inconscientemente.

João  cresceu com o desejo genuíno de progredir na carreira. Queria dar orgulho aos pais que tanto haviam se empenhado em sua educação. A irmã mais velha acabou por se tornar uma renomada e bem- sucedida executiva. O rapaz  percebia o brilho nos olhos de seus pais ao falarem dela e deseja ser alvo da mesma admiração. Com 26 anos, já era analista sênior de uma multinacional e tinha a expectativa que seu gestor o promovesse a coordenador. Ele esperava há mais de um ano pelo surgimento de uma nova oportunidade. De fato, ela surgiu. João nutriu uma expectativa muito grande, acreditando que tudo daria certo.

Ele participou do processo seletivo interno, juntamente com outras pessoas da empresa e, em uma manhã de segunda-feira, recebeu a notícia do seu próprio gestor de que não tinha passado. Naquela vez, quem havia  sido escolhido fora um colega de trabalho que, nas palavras do seu administrador, estava mais bem preparado. Para o jovem, foi como perder o chão. Ele depositou todas as suas expectativas naquela conquista. Saiu da sala sem conseguir dizer quase nada, teve dificuldade em trabalhar durante o restante do dia. Foi tomado por uma frustação que lhe tirou toda a energia.

No dia seguinte, ao encontrar o colega de trabalho que tinha conseguido o cargo de coordenador, João  não conseguiu parabenizá-lo. Estava tão sem energia que acabou se atrasando para uma reunião importante. E também perdeu o ânimo para dar o melhor de si em um dos projetos que estavam sob sua liderança, o que acarretou muito retrabalho. Em uma das reuniões, chegou a elevar o tom de voz, e o clima ficou tenso.

Vamos analisar essas circunstâncias em que João se envolveu, mas que poderiam ter ocorrido a qualquer um de nós. Qual era o verdadeiro desejo de João? Chamarei esse desejo de intenção – progredir na carreira. No dicionário Aurélio, intenção quer dizer “propósito, pensamento impulsionado pela vontade e que perdura conscientemente durante a ação”. No livro da Malika Chopra O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria, traz-se a ideia de que o tempo em que as coisas acontecem não é necessariamente aquele que desejaríamos. Então, manter-se no caminho, gerenciar a ansiedade e não perder o foco serão atitudes essenciais para realizarmos aquilo que desejamos. Intenção é o que está no nosso espaço de governabilidade, tem a ver com aquilo que depende de nós para realizarmos. Mais à frente, exploraremos as outras possibilidades que João tinha para continuar no caminho da intenção.

Mas por que nos desviamos das nossas intenções? Sem dúvida, por causa de nossas tantas expectativas frustradas. Um bom ponto para termos consciência é o de que, para realizar intenções, precisaremos empreender todas as ações possíveis, gerenciando os prováveis obstáculos e emoções negativas que surgirem até que cheguemos lá! E, mesmo não realizando a intenção, ao agir dessa maneira, saímos tranquilos de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.

Um dos maiores desafios para concretizarmos intenções repousa sobre nossas expectativas. Essas sim dependem do outro para realizarmos algo. No dicionário Aurélio, a definição de expectativa é “um estado interno de esperar algo que se deseja, cuja realização julgamos ser provável”.

Vamos compreender, a partir da situação que apresentamos, sobre gestão de intenção e gestão de expectativa e como esse entendimento pode nos ajudar na autoliderança.

João esperava de que o seu gestor o promovesse – dessa forma, a realização do que desejava estava submetida à dependência de que um outro fizesse alguma coisa – e, quando isso não aconteceu, ele perdeu completamente o foco da sua intenção. É evidente que teremos sempre anseios, mas a grande questão é a maneira como lidamos com eles. Quantos de nós temos expectativas em relação às pessoas, mas nunca comunicamos a elas o que verdadeiramente aguardamos? Ao comunicar, estamos lhes dando uma oportunidade de conhecer o nosso desejo, mas também estamos nos concedendo a chance de fazer a gestão daquilo que esperamos do outro. Quantas das nossas frustrações poderiam ser minimizadas se tivéssemos o hábito de contar às pessoas o que almejamos?

Voltamos ao caso de João. Será que as escolhas que ele fez, logo após não ter sido promovido, foram as melhores para o que ele desejava? Há uma célebre frase de Viktor Frankl que nos desafia a fazer diferente. Frankl foi um neuropsiquiatria austríaco, fundador de uma escola de psicoterapia e mundialmente conhecido pelo best-seller Em busca de sentido, livro em que relatou a sua experiência em quatro campos de concentração nazistas. Esta é a frase dele a que me refiro:

“Entre o estímulo e a reação há um espaço. Neste espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta está nosso crescimento e a nossa liberdade”.

O que quero enfatizar é que, nos momentos em que nossas expectativas são frustradas, é importante que façamos uso desse espaço sugerido por Frankl, pois assim nos damos o tempo de revisitarmos nossos propósitos. Após a tomada da consciência da intenção, devemos nos questionar: quais ações me conduzirão na direção do que desejo?

João se deixou “sequestrar” pela emoção negativa gerada pela frustração da expectativa não atendia. Em vez de ir ao encontro de sua intenção, ele se valeu de atitudes que poderão levá-lo justamente para o caminho oposto ao desejado – a tão almejada progressão na carreira. O que ele poderia ter feito para permanecer na liderança do que desejava, honrando seu intuito? Primeiramente, poderia ter feito uma pausa para compreender melhor a situação e observar as próprias emoções. Mais tranquilo e sereno, o rapaz  poderia ter tido uma conversa com o gestor, exposto as suas expectativas e buscado a compreensão de quais seriam os deficits que precisaria preencher para conquistar a promoção. Poderia ter sido cordial com o colega, cumprimentando-o pela promoção e continuar a fazer o seu trabalho com a máxima qualidade possível. E, se uma nova possibilidade surgisse, na mesma área, em outro departamento, ou até mesmo em outra empresa? Assim  teria mantido sempre as melhores referências sobre seu perfil.

É possível que João estivesse mais conectado ao “mundo de fora”, ou seja, ao desejo paterno de sentir por ele o mesmo orgulho que já revelava pela irmã dele. A crença vinda do pai — “meu filho, você precisa se preparar para o mundo. As coisas não são fáceis, e as pessoas não facilitarão para você” — também pode ter tido uma grande influência nas percepções e atitudes dele. Com experiência de vida e consciência, podemos revisitar algumas crenças que, por vezes, nos serviram bem, mas, depois de um tempo, acabam por pesar em nosso caminho.

No livro de Susan David, Agilidade Emocional, a autora nos convida a dançarmos mais do que lutarmos com a vida e com as circunstâncias. Ela nos faz compreender que, com autogentileza e presença, é possível transformar os nossos desafios diários em oportunidades, sem perder o foco daquilo que realmente desejamos. Uma das perguntas que ela faz é: “quantas voltas no quarteirão você tem dado?” E ela mesma responde: “andamos (ou corremos) repetidamente em volta dos quarteirões das nossas vidas, obedecendo a regras que são escritas, implícitas ou simplesmente imaginárias, presos ao costume de ser e fazer coisas que não são úteis. Ela ainda afirma: “Por vezes, somos instrumentos de corda, indo repetidamente de encontro às mesmas paredes sem perceber que pode haver uma porta aberta à nossa esquerda ou à nossa direita”.

O autoconhecimento é a chave para que possamos fazer boas escolhas, criando os melhores alicerces para a nossa vida. Meira, em seu livro Ser ou não Ser: a nossa dramática encruzilhada evolutiva, diz:

“(…) a espécie humana não pode se eximir da responsabilidade de carregar em si a capacidade de fazer escolhas conscientes. Após 13,8 bilhões de anos de evolução, o Cosmos vem cobrar, de nós, empenho e perseverança; e a cobrança chega na forma de um chamado para o crescimento e para a maturidade existencial: ‘Quem pode deve. Quem pode, deve e não faz cria débito. Débito gera sofrimento”.

Que possamos entrar em contato com o nosso Eu mais genuíno, assumindo e conduzindo nossos desejos na direção daquilo que realmente nos trará mais plenitude, equilíbrio e leveza. Que possamos fazer escolhas com maior consciência e atenção, compreendendo que são elas que constroem os enredos de nossas vidas. Assumamos o controle!

Desejo que você se conduza para um lugar em que se sentirá orgulhoso quando lá chegar!

 

Referências Bibliográficas

 

CHOPRA, Malika. O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria. São Paulo: Gente, 2015.

DAVID, Susan. Agilidade Emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo, Cultrix, 2018.

FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Traduzido por Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. 25 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

MEIRA, Luciano A. Ser ou não Ser: a nossa dramática encruzilhada evolutiva. 1ª ed. Goiânia: Vida Integral, 2019. @caminhosvidaintegral

 

 

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Excelência

A excelência pode ser conquistada dia a dia, beneficiando a si e muitas outras pessoas. Descubra o que você faz bem, coloque empenho, visualize as conquistas que essa habilidade lhe trará,  mantenha foco quando os obstáculos surgirem, aprimore sempre que possível. A excelência não surge do dia para noite, tem a ver com escolhas conscientes, com esforço e com o prazer sentido a cada pequena vitória!

Por que excelência?

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”

Ricardo Reis Fernando Pessoa

Inicio este capítulo enfatizando o motivo da escolha da soft skill que desenvolverei. Há mais de 12 anos, fiz a avaliação Clifton Strenghs, contemplada no livro Descubra seus Pontos Fortes e tive como meu primeiro ponto forte a Excelência. Nessa obra, temos o conceito de que quem se destaca nessa habilidade sempre encontra um modo de incentivar a excelência individual ou do grupo, estimula as pessoas a aplicarem seus potenciais e adora concentrar-se em áreas de competências para si mesmas e para os outros. Ao trabalhar com desenvolvimento do potencial humano, comecei a perceber a necessidade de estar cada dia mais atenta à prática cotidiana dessa soft skill, assim como sentir os efeitos benéficos que ela propicia em nossa vida. 

Associarei essa definição ao que propõe a psicóloga e professora da Universidade da Pensilvânia, Angela Duckworth, em seu livro Garra – o poder da paixão e da perseverança, no qual a autora salienta a importância da paixão e da perseverança na condução à excelência, bem como a compreensão trazida sobre o tema por Daniel H. Pink, em seu livro Motivação 3.0. E o meu convite é que você também busque estar mais atento em relação aos benefícios que a prática da excelência pode trazer para a sua vida e para as pessoas que o cercam.

Mudança de paradigmas: como mobilizamos a excelência?

A Psicologia Positiva surgiu no início do novo milênio, a partir dos estudos de Seligman e Csikszentmihalyi. Eles publicaram um artigo no ano 2000, intitulado “Positive Psychology: an introdution”, no qual afirmam que, desde a Segunda Guerra Mundial, o foco da Psicologia Positiva vinha sendo apenas para “doenças”, tratando como curar e reparar danos e que essa maneira de concebê-la a tornava incompleta. A partir daí, os aspectos saudáveis do ser humano igualmente começaram a ser considerados. Nasce, então, a Psicologia das Forças e Virtudes, e o foco passa a ser o olhar para questões saudáveis e de bem-estar do ser humano. Considero que ainda mantemos um olhar muito forte para os “pontos fracos”, por vezes, direcionando maior relevância a eles do que em relação ao que possuímos de forças e talentos. O nascimento da Psicologia Positiva e suas recentes pesquisas têm demonstrado quão eficaz é a utilização dos recursos positivos para maximizar nossas capacidades.

Então reflita:

Quais são seus principais pontos fortes?

Quais são suas principais virtudes e forças para alcançar a excelência?

No site do Instituto Gallup, vemos uma citação que nos auxilia rumo a essa descoberta daquilo que será possível experimentar se entronizarmos em nós grandes talentos de excelência: “Você não quer viver lamentando o que lhe falta. Em vez disso, quer aproveitar os dons com os quais foi abençoado. É mais divertido. É mais produtivo. E, contra intuitivamente, é mais exigente”.

No anteriormente citado livro Garra – o poder da paixão e da perseverança, a Dra. Angela Duckworth, por meio de suas pesquisas, revela que qualquer pessoa, do jeito certo, pode chegar às mais impressionantes realizações. Ressalto da análise dela o cuidado para a valorização excessiva do talento, que pode ser nocivo, e ela nos explica os motivos:  “Ao focarmos apenas no talento, nós arriscamos deixar tudo o mais fora de visão. Sem querer, passamos a mensagem de que esses outros fatores – como a garra – são menos importantes”. Já tivemos metodologias de gestão de pessoas que enfatizavam que se deveria promover de maneira agressiva os colaboradores mais talentosos e, da mesma maneira, se desfazer daqueles que apresentavam menor aptidão. Duckworth cita o jornalista Duff McDonald, autor de uma das análises mais completas da MacKinsey, na qual ele acredita que o mais correto seria nomear essa filosofia empresarial como “A guerra do bom senso”. Penso que ainda exista pouca valorização para o esforço e muita desistência de pessoas que, em médio e longo prazo, teriam muitas chances de ultrapassar os limites que lhes foram preconcebidos, tornando-se excelentes em uma ou outra tarefa ou, ainda, em determinada área de atuação. 

Por meio de seus estudos, Duckworth escreve que teve um lampejo que orientaria todo o seu trabalho futuro, ao afirmar: “Nosso potencial é uma coisa. O que fazemos com ele é outra, bem diferente”. Ela também concluiu que o foco excessivo nos nossos talentos pode nos desviar de algo que acaba tendo a mesma importância: O esforço. Sua teoria  nos esclarece que “(…) quando consideramos pessoas em circunstâncias idênticas, o resultado obtido por cada uma delas depende somente de duas coisas – talento e esforço. É claro que o talento (a rapidez com que melhorarmos nossas habilidades) é importante. No entanto, o esforço entra nesses cálculos duas vezes, e não apenas uma. O esforço constrói a habilidade. Ao mesmo tempo, o esforço torna a habilidade produtiva”.

Você já respondeu quais seus principais fortes, agora reflita: quanto de esforço você emprega para fazer que a sua habilidade, traga cada vez mais resultados de mais alto nível e impacto?

No livro Motivação 3.0, Daniel Pink, ao explicar como funciona esse sistema operacional, ressalta que ele é alimentado mais por desejos intrínsecos do que por desejos extrínsecos e que tem menos a ver com recompensas externas e mais com a satisfação inerente da atividade em si. Ele reforça que a motivação intrínseca depende de três nutrientes: autonomia, excelência e propósito. Fazer escolhas autônomas e atrelar nossos desejos a uma causa maior que nós mesmos abrem espaço para que possamos criar novos campos para a excelência. De acordo com Pink, alguns cientistas comportamentais abordam a perspectiva de que a excelência obedece a três leis peculiares. A primeira é a de que ela seja um estado mental. Ele cita Carol Dweck, autora do livro Mindset, no qual a autora sustenta que aquilo que cremos dá forma àquilo que conquistamos. A segunda lei é que a excelência é dolorosa. A ênfase é a de que essa habilidade não é nenhum mar de rosas. Pink cita o trabalho do psicólogo Andres Ericsson sobre o desempenho de experts, em que ele chega à conclusão de que características que, antes eram tidas como talentos inatos, vieram por meio de resultados de uma prática intensa de, no mínimo, 10 anos. A excelência seria, então, uma conquista de longo prazo. E a terceira lei é que essa soft skill é uma assíntona – um termo de origem grega que tem referência a algo que não tem coincidência, “(…) uma reta que, prolongada indefinitivamente, aproxima-se cada vez mais do ponto de tangência de uma curva, mas sem jamais encontrá-lo”, disse ela. Dessa maneira, podemos nos aproximar da excelência, chegar muito perto, mas não tocá-la. Ela estará sempre fora do alcance, pois traz a potência de ser aprimorada a cada dia mais. A alegria estaria mais na procura que na realização em si. Excelência seria uma busca constante.

Depois de considerar quais são seus pontos fortes, empreender esforço em relação a eles, concentre-se em pensar o que você realmente quer conquistar por meio deles. Posteriormente, tenha em mente que tal conquista se dará em longo prazo, que será preciso superar as adversidades sem perder o foco e que, no dia seguinte, você poderá ficar ainda mais excelente, caso continue focado.

 

Um exemplo para ilustrar...

Fiquei pensando no que poderia ser um exemplo, levando em consideração a perspectiva trazida para soft skill excelência e não precisei ir muito longe para encontrá-lo. Inicio reforçando sobre quanto agrega valor para a nossa vida conviver com pessoas que praticam a excelência. 

Rosana Aparecida Matheus, minha assistente do lar há mais de 17 anos, pessoa por quem nutro uma forte admiração e respeito, mais conhecida como Ro, já teve algumas oportunidades na vida, desde trabalhar em indústrias até recepcionista em hotel. Cheia de energia, ela escolheu acumular dois trabalhos por uma época, mas nunca deixou a profissão de assistente do lar. A Ro escolheu fazer algo que faz bem e focou nisso. Sem dúvida, ela é melhor a cada dia. Mesmo após 17 anos no mesmo trabalho, ela surpreende positivamente em muitos quesitos.

Dia a dia, noto seu esforço. Ela está sempre à procura de novas receitas, foi aprimorando a cozinha saudável com o passar dos anos e, atualmente, muitas pessoas reconhecem seu talento acima da média. A sua capacidade de organizar as coisas foi se aperfeiçoando ao longo do tempo. Semanalmente, reparo que ela incorpora facilidades para o dia a dia da casa. Proativamente, ela estabeleceu a organização dos guarda-roupas por cores e multiplicou as plantas da sacada, parece dar mais vida ainda a elas pelo carinho com que cuida, entre outras providências. 

A Ro visualiza o que deseja desde logo cedo. Nunca chegou de mau humor, e uma das suas frases preferidas é “como a vida é boa, não sei como alguém pode acordar mal-humorado com um dia tão lindo!”.

 Cada café da manhã ao lado dela é uma dose de energia postiva para o dia que está por iniciar. Ela expressa gratidão o tempo todo e parece fazer, mesmo das adversidades, pequenos obstáculos a serem superados. A Ro curte o fluxo, adora planejar os almoços, principalmente quando temos convidados, interessa-se pelo que as pessoas gostam, cuida de cada detalhe. Quando temos visita, ela prepara tudo de maneira pessoal, levando em consideração as particularidades de cada um. 

A busca da excelência passou a ser um hábito para a Ro e, sem dúvida, ela me inspira a ser melhor, sempre que possível no meu trabalho. A Ro é excelente no que faz, desperta admiração. Quantas vezes eu ouvi das minhas amigas: “Queria ter uma Ro na minha vida”.

“Excelente-se!”

“Todos nós temos um potencial inabalável
dentro de nós mesmos,
o que falta é crer e exercê-lo.”

Melissa Hadassah

Como sempre faz questão de enfatizar meu querido amigo Luciano Alves Meira, excelente profissional quando o assunto é desenvolvimento do potencial humano –, “muitos de nós ainda dormimos em cima dos nossos potenciais e o potencial humano é infinito”. Por isso, eu desejo que você “excelente-se” – neologismo que resolvi utilizar para a sua capacidade de acreditar que sempre será possível estar melhor em algo hoje, que no dia anterior e melhor amanhã que hoje. Para isso, precisamos ter consciência, empenho e não nos deixarmos paralisar pelas adversidades. Então, “excelente-se” da seguinte forma: 

1) Descubra o que você tem de pontos fortes e procure focar neles. 

2) Coloque empenho em suas competências e esforce-se para ser cada dia melhor. 

3) Visualize o que você deseja conquistar a partir desses pontos.

4) Não se desestimule com os obstáculos, mantenha o FOCO. Adversidades virão, e a excelência pode requerer mais tempo que imagina. Curta o fluxo, aproveite cada oportunidade para aprender.

5) Tenha em mente que a excelência não tem um ponto de chegada e que ela pode ser aprimorada todos os dias. Excelência é um hábito.

E finalizo com mais duas observações a serem consideradas: excelente-se, se possível, divertindo-se! Adote o mindset de crescimento, mantendo-se curioso e persistente, mesmo diante daquilo que desafia suas melhores habilidades. Não tema as falhas que poderão acontecer; pelo contrário, encare-as como oportunidades de aprendizado para que você seja cada vez mais excelente! Quanto mais excelência você conquista, mais ativa a sua paixão pelo aprendizado e, certamente, mais realizações virão.

Referências:

DWECK, Carol S. MINDSET. A Nova Psicologia do Sucesso. São Paulo, Objetiva, 2017.

DUCKWORTH, Angela L. Garra: o poder da paixão e da perseverança. Trad.Donaldson M. Garschagen, Renata Guerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. 

GALUUP. Uma introdução ao tema Excelência Clifton Strengths. Acesso em: 20out. de 2021.

 
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Estratégias para melhorar o engajamento mesmo no home office

Momentos desafiadores exigem maior atenção e empenho para que possamos superá-los da melhor maneira possível. Ao longo de minha trajetória, compreendi que nós, seres humanos, preferimos ter o controle das situações. Mas, de repente, com o aparecimento da pandemia, todas as nossas certezas foram abaladas e, com elas, fomos convidados a encarar muitas dificuldades, seja na esfera familiar, seja no ambiente corporativo. A maioria das pessoas precisou adequar seu local de trabalho dentro de suas casas, mudando completamente a dinâmica do seu dia adia, vivenciando instabilidade e medos de toda a ordem, sem perder de vista a sua habilidade de entregar resultados. As organizações tiveram de alterar o modo como fazem a gestão das pessoas, preparar as lideranças para esses novos tempos e encontrar as melhores estratégias para não perder os níveis de engajamento e os seus resultados. (…)

Primeiramente, vamos analisar os obstáculos que os empregadores estão enfrentando. No livro Reiventando as Organizações, Frederic Laloux afirma: “A nossa forma de tentar lidar com os problemas atuais das organizações muitas vezes parece piorar as coisas, não melhorar”. Infelizmente, muitas organizações ainda estão presas a velhas manias, protocolos e métodos, principalmente em relação à gestão. Formas essas que deram certo, mas que faziam sentido e eram eficazes para outras circunstâncias. Otto Scharmer, quando apresenta a teoria U, enfatiza que a questão é não temer o desconhecido e aprender com o futuro à medida que ele emerge. Que possamos suspender nossos velhos pressupostos para abrirmos espaço ao novo, buscando oque ele chamou de “presencing”, ou seja, a capacidade de estarmos realmente presentes e conectados com o que acontece, sentindo e deixando emergir todas as possibilidades que emergem dos sistemas, nos quais nos inserimos.

Gosto muito da parte do sentir, algo que ainda não aprendemos a vivenciar com naturalidade nos ambientes corporativos, o que, atualmente, tem sido essencial. Luciano Meira, referência em liderança humanizada no Brasil, ajuda-nos a pensar como podemos aprender a navegar em mares procelosos. Foi o que ele chamou de “A segunda simplicidade” (título deum de seus livros), considerando que ela seja uma “experiência de resolução psíquica – estar bem com o passado, de bem com o futuro e ter a consciência plena no presente. É essa experiência libertadora que nos permite ‘surfar’ sobre as ondas da complexidade e da incerteza, sem nos afogar nelas”.

Vale lembrar que, mesmo antes da pandemia, já tínhamos índices alarmantes de adoecimento emocional. Pessoas com muito foco no futuro, sofrendo de ansiedade.

Em matéria publicada pela revista Super Interessante, em 2018, intitulada “Epidemia da Ansiedade”, descobrimos que nós, brasileiros, ganhamos o título de campeões mundiais nesse distúrbio, com um índice três vezes maior que a média da população mundial. Também presenciamos muitas pessoas sofrendo de depressão – com o excessivo aprisionamento no passado. E o medo acima do normal por diferentes razões, em especial com o contágio do novo corona vírus, acabou ampliando essas tendências e revelou a urgência de se cuidar do lado emocional dos colaboradores das empresas.

Juntando tudo isso, alguns apontamentos se tornam imprescindíveis, por exemplo: quantas pessoas sentem medo de perder o emprego e acabam por não compartilhar o que estão sentindo? Esse estado emocional certamente acaba por gerar uma queda em sua performance e no engajamento em relação ao trabalho que realiza. Quantas pessoas estão com algum tipo de adoecimento emocional e não encontram espaço para lidar com isso? Quantos de nós precisamos reestruturar rapidamente toda a nossa dinâmica de trabalho para lidar com todas essas mudanças?

Uma pesquisa realizada pelo Google, que recebeu o título de “Projeto Aristóteles”, revelou que os principais fatores que condicionam uma equipe de sucesso são: segurança psicológica; confiabilidade; estrutura e clareza; significado e impacto. Vamos, então, refletir sobre estratégias eficazes, a fim de melhorar a segurança psicológica das pessoas nas organizações e seus níveis de engajamento com o trabalho:

          1) Espaço para sentir: Certo presidente de uma multinacional abriu importante fórum de discussões com a presença de muitas lideranças e colaboradores, dizendo que ali era permitido sentir. Fez um discurso emocionado e contou como ele mesmo estava se portando diante das instabilidades atuais. De acordo com a equipe de RH dessa empresa, a repercussão foi muito positiva e fez com as pessoas adotassem uma postura de maior abertura. A atitude dele assegurou maior segurança psicológica e criou um ambiente emocionalmente seguro para que as pessoas pudessem expressar, com maior autenticidade, como estavam lidando com as mudanças ocorridas. Ao se manifestarem, os colaboradores ampliam a possibilidade de lidar com as emoções, de pedirem e receberem ajuda. Em vez de reprimirem suas emoções, as pessoas aprendem a lidar com elas. No livro Agilidade Emocional, Susan David nos alerta quanto aos riscos de represarmos nossas emoções, pois elas podiam vir à tona de uma maneira não voluntária, por meio deum vazamento emocional. Mesmo na interação on-line, o tempo de qualidade dedicado ao outro faz toda a diferença. Portanto, é essencial propor uma pausa e estar genuinamente disposto a ouvir.

          2) Gerar significado: uma das frases de impacto que ficaram evidentes na voz de Viktor Frankl, mas que foi primeiramente escrita pelo filósofo Nietzche, diz que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Na obra Em busca de sentido, Frankl conta suas experiências em quatros campos de concentração e ressalta a importância de termos um sentido para a vida. E isso também pode ser levado em conta em todas nossas escolhas. Uma empresa estabeleceu canais de comunicação bem transparentes e ativos. Ações como estas abrem espaços para que as pessoas se sintam seguras e questionem o que elas não entendem e, ao mesmo tempo, para que sejam informadas a respeito das principais decisões tomadas pela empresa. Contudo, o mais interessante é o presidente daquela empresa fez questão de salientar que a base de suas decisões se pautava na humanização das relações, esse era o seu porquê.

          3) Dialogue mais!: Quantas pessoas, neste instante, passam por problemas relativos à administração dos seus ambientes físicos, por vezes inapropriados, somados às demandas que vêm de seus familiares em horários de trabalho? Tudo isso pode incorrer em perdas significativas de concentração. Para minimizar esse impacto, é fundamental abrir mais espaços de alinhamento de expectativas, ou seja, checagens se o interlocutor compreendeu corretamente o que lhe foi solicitado. Essa atitude minimiza retrabalho, erros que podem ser complicados de reverter, visto que as demandas ficaram mais claras. Em home office, tudo isso continua sendo possível, mas é preciso ter disciplina e colocar essa agenda como parte da rotina.

          4) Mais leveza por favor: Você já ouviu falar em inteligência lúdica? Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria no Brasil, tem se dedicado a levar essa ideia para as organizações. A inteligência lúdica pode nos ajudar a criar ambientes em que estamos em constante aprendizado, como se fosse uma brincadeira em que os erros fazem parte do processo/brincadeira, onde jogamos com o outro e não contra o outro. Levar-se menos a sério e julgar menos, sendo mais cooperativo e criativo tornam os processos mais divertidos e, não por isso, menos desafiadores. Vale citar o dramaturgo George Bernard Shaw: “Não paramos de brincar porque envelhecemos. Envelhecemos porque paramos de brincar”. Portanto, a indicação é a de que as empresas proponham mais jogos, transformando os obstáculos em “gameficação”, visando mais às possibilidades do que às adversidades.

          5) Empatia na prática: Mara Morão, ao registrar a trajetória de empreendedores sociais pelo mundo no premiado documentário “Quem se importa”, tem como um dos destaques a história de Mary Gordon por intermédio da empatia. Com a intenção de diminuir o bullying nas escolas, ela leva bebês de 2 a 4 meses, acompanhados de suas mães, para interagirem com crianças de 4 a 14 anos, para que essas crianças e adolescentes desenvolvam a capacidade de cuidar. Mary Gordon enfatiza que “o melhor motor para o aprendizado é por meio da experiência”. Para ela, a empatia tem dois lados, o cognitivo: a importância da tomada de perspectiva do outro, imaginando como ele se sente a partir de seu próprio contexto; e o emocional: com a promoção da ética do cuidado, compreendemos até que ponto podemos avançar e em que tempo, proporcionando uma experiência de cuidado genuíno e atenção em relação ao bem-estar do outro. Nem sempre concordaremos com a atitude do outro, mas é possível entender suas razões e respeitá-lo.

De tudo o que foi citado, sobre o que você considera mais interessante pensar? Tudo, absolutamente tudo, pode ser realizado remotamente, no home office. Mas é preciso disponibilidade! As exuberantes estruturas físicas se mostram cada vez menos importantes. É momento de as empresas compreenderem que as pessoas são o caminho para que os resultados sejam atingidos e que, se lançarmos luz sobreo cuidado com elas, potencializando ambientes emocionalmente mais seguros, teremos os resultados em seus mais altos níveis e com sustentabilidade, colaboradores mais felizes e engajados. Nesse contexto, todos influenciam e impactam o todo. Por isso, eu pergunto: oque você tem feito para colaborar?

Referências

David, Susan. Agilidade Emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo, Cultrix, 2018.

LALOUX, F. Reinventando as organizações: um guia para criar organizações inspiradas no próximo estágio da consciência humana. Minas Gerais: Editora Voo, 2017.

MEIRA, L. A. A segunda simplicidade: bem-estar e produtividade na era da sabedoria. Goiânia: Editora Caminhos.

SINEK, S. Comece pelo porquê. Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agirem. São Paulo: Sextante, 2018.

Para saber mais sobre a pesquisa Google:

Inspire-se no Projeto Aristóteles desenvolvido pela Google

Para saber mais sobre o artigo de Ricardo Ogawa:

Sempre vale a pena focar em pessoas

Para saber mais sobre inteligência lúdica – artigo Revista HSM. A inteligência que falta no trabalho:
https://www.revistahsm.com.br/post/a-inteligencia-que-falta-no-trabalho

Leia Mais

Liderança Transformativa

“A consciência da complexidade nos faz compreender que não poderemos escapar jamais da incerteza e que jamais poderemos ter um saber total.” Edgar Morin

Durante minhas experiências de quase vinte anos como professora de cursos de Pós e MBA, líder, empresária e facilitadora de programas de desenvolvimento, sempre me instigaram a pensar quais os principais desafios desse “lu­gar”, o da liderança. Sob uma perspectiva am­pla, somos líderes não somente de negócios: podemos escolher papeis de liderança que assumimos ou não em nossas vidas. Como então nos conduzir em um estilo que seja capaz de gerar impactos positivos, promovendo contextos emocionalmente seguros para proporcionar desenvolvimento contínuo e para que se possa colher bons frutos?

Capa da revista Exame de fevereiro de 2020, uma reportagem chama muito a atenção: Bur­nout: o esgotamento pelo trabalho é o tema de gestão de pessoas mais quente de 2020.

 

 

Excessos têm trazido perdas econômicas e sociais, e não podem mais ser ignorados. Dados apontam que 72% da população brasileira tem alguma sequela de estresse e que, destes, 30% sofrem de Burnout – índices altíssimos, que podem impactar significativamente não apenas a economia, mas o desenvolvimento do potencial humano.

Ao prefaciar o livro “Segunda Simplicidade”, de Luciano Meira, menciono o quanto faz sentido o que ele escreveu sobre a ideia de migrar as áreas de T&D ou mesmo as universidades corporativas para a criação de Escolas do Florescimento Integral do Potencial Humano. Até o momento, a percepção é de que temos nos orientado para desenvolver as competências necessárias apenas para o atingimento de resultados. Luciano destaca que, se continuarmos trabalhando em prol daquilo que é menos importante, não alcançaremos um equilíbrio ou a plenitude desse potencial, seja ele em relação às pessoas ou aos próprios resultados. Afinal, se as pessoas atingirem o máximo do seu potencial, terão muito mais condições de promover e sustentar excelência nos resultados. Para mim, não há outro caminho.

Dessa forma, a Liderança Transformativa® nasce para ser a perspectiva que leva em consideração o indivíduo, atuando no máximo do potencial possível para aquele momento, sem perder de vista que a arte da vida está em “afinar o instrumento” todos os dias, com a perspectiva da evolução contínua. O alerta para o que temos visto atualmente é que o elástico está tão esticado que estamos colapsando. Muita gente certa no lugar errado; muita gente inconsciente em lugares de poder, em que decisões são tomadas inadvertidamente.

Li diversas teorias e posso dizer que a maioria delas sempre fez sentido para mim. Mas a partir daí, tive uma inquietação: como essas teorias se articulam e como posso conectá-las para construir uma perspectiva que ajude líderes a encontrar um lugar de equilíbrio, leveza e autor responsabilidade, considerando toda a complexidade que as ações de liderança trazem? Estas perguntas me “perturbaram” por mais de cinco anos e somente agora, talvez, eu tenha iniciado um pensamento que facilite o meu entendimento sobre essas questões.

Ao citar o que chamo de “teoria” da Liderança Transformativa®, não tenho a pretensão de trazer nada novo, mas sim, a partir de várias referências, pesquisas e autores, estruturar uma maneira de pensar que tem me ajudado nessa tão buscada compreensão. Meu objetivo é trazer uma proposição para um tema que tem se tornado cada vez mais importante e relevante: como influenciar pessoas e sistemas de maneira que se possa tomar decisões sustentáveis e que sejam capazes de promover evolução.

 

Uma primeira reflexão que trago é sobre a complexidade que o ato de liderar-nos apresenta. A teoria da complexidade, tal como propõe Edgar Morin, nos ajuda a pensar sobre isso. Complexidade vem do latim complexus, aquilo que é tecido em conjunto; é o tecido formado por diferentes fios que se transformam em uma só coisa. Morin considera que, por vezes, ficamos restritos a pensamentos multifacetados, nos quais levamos apenas um aspecto em consideração e que incertezas e contradições fazem parte da condição humana. Ele cita: a aspiração à complexidade tende para o conhecimento multidimensional. Ela não quer dar todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas respeitar suas diversas dimensões. O pensamento complexo não compartimentaliza, mas une conhecimentos separados, pois há risco de decisões erradas ou ilusórias quando os pensamentos são mutilados. A lógica deveria nos servir de muletas, nunca de pernas, explica Morin. O autor ainda nos ajuda a compreender que um sistema é mais e menos do que aquilo que poderíamos chamar de soma de suas partes: menos quando existem coações que inibem as potencialidades das partes, e mais quando se é possível observar o todo organizado como sendo alguma coisa maior que a soma das partes, porque faz surgir qualidades que não existiam nessa organização.

Uma das citações de Morin trouxe uma das melhores bases para a construção da minha perspectiva. Ele cita Pascal: “Só posso compreender um todo se conheço, especificamente, aspartes, mas só posso compreender as partes se conhecer o todo”. O primeiro pressuposto que trago é sobre a importância de, em tomadas de decisão, considerar integrar e energizar todas as partes envolvidas. E uma reflexão importante é: quais os desafios encontrados para que todas as partes sejam energizadas.

A teoria Integral é um resultado exaustivo de pesquisa intercultural, ao longo de centenas de culturas pré-modernas, modernas e pós-modernas e os vários mapas da consciência e cultura humana que elas oferecem. Wilber cita que, dessas pesquisas, surge um “Mapa Abrangente” da composição humana, partindo por colocar juntos todos os mapas conhecidos na mesa e, então, usar cada um para preencher qualquer lacuna que houver nos outros, resultando num mapa abrangente e genuinamente inclusivo das dimensões básicas, níveis e linhas que são os principais potenciais de todos os seres humanos. Vale a pena estudar as ideias de Wilber que, em minha opinião, tem sido um dos mais importantes pesquisadores de vanguarda. Trata-sede uma teoria que considera toda a complexidade existente, juntando-as em uma perspectiva de inclusão.

Laloux traz essa tese para as organizações e apresenta sua pesquisa, considerando empresas que sejam capazes de operar na etapa Integral (Teal). Ao final, Wilber cita que “uma das grandes descobertas da obra de Laloux é que hierarquias de atualização podem florescer quando as hierarquias dominantes são removidas. Uma companhia de 500 indivíduos possui não só um, mas 500 CEOs, entre os quais qualquer um pode ter uma ideia inovadora e ser capaz de implementá-la, uma verdadeira jogada de auto gestão que é uma das principais razões para o surpreendente sucesso de tantas dessas organizações. Cabe conectar essa pesquisa com o exercício de uma liderança mais inclusiva, que considere as várias perspectivas e que tem no desenvolvimento da autonomia um aliado para sustentar boas práticas e boas decisões.

Mas, no que se configura essa “filosofia de liderança”?

 

 

Trata-se de uma atuação que exige duas condições essenciais: o líder deve ter um nível de maturidade e capacidade de se relacionar com situações de incerteza e vulnerabilidade, considerando que precisará fazer a gestão de todos os envolvidos nesse campo para que exista uma conexão para a cocriação de novas formas, engajando pessoas em propósitos maiores. Assim, temos o cerne dessa teoria: liderar é tomar decisões o tempo todo, e a qualidade dessas decisões pode promover uma involução, levando até ao desaparecimento de um sistema; pode manter o status quo até o momento em que decisões mais radicais sejam requeridas; ou pode mobilizar decisões que mantenham um sentido e engajamento, mesmo para quando algo precise se desordenar para se reordenar em uma forma mais produtiva. E o grande desafio? Se vivemos em sistemas complexos em que muitas decisões precisam ser assimiladas, estando em consenso e alinhamento para direcionaras intenções em realizações, a maneira com que um líder toma decisões será fundamental.

Eu os convido a refletir:

1) Como seria uma decisão tomada por um líder que considera somente seus próprios interesses, não tendo muita empatia sobre como as pessoas se sentirão com aquela decisão e se será a melhor escolha para aquele contexto;

2) De uma outra maneira, um líder que toma decisões procurando se integrar às necessidades do contexto e das pessoas, mas não considera se aquilo que decidiu lhe trará tranquilidade, intimamente falando. Há casos de lideranças que sacrificam a vida pessoal; outros, mesmo sem ter total consciência disso, passam por cima de seus valores;

3) Uma decisão em que se leve apenas em consideração o que é bom para um contexto que pode ser representado por uma empresa, sem que se dialogue e inclua a percepção das pessoas; dentre outras maneiras de decidir que não levam em consideração o diálogo e a percepção de todas as perspectivas.

Mesmo que não seja possível atender às demandas das diversas partes, é importante trazer o sentido de inclusão e ter a oportunidade de dar contexto às decisões. É claro que esse tipo de atitude dá trabalho, requer mais tempo focado na interação e na comunicação; por outro lado, promove o pensamento crítico e criativo, cria senso de pertencimento e ajuda no desenvolvimento da maturidade e autonomia das pessoas.

Para “transitar” bem por essa maneira de liderar, é preciso desenvolver algumas competências que são divididas na teoria, da seguinte maneira:

C1: É onde tudo se inicia, na compreensão de si. Trata do desenvolvimento da inteligência intrapessoal que traz em seu bojo, de acordo com Goleman, três habilidades – autoconhecimento, automotivação e autocontrole. Aqui, estimula-se o diálogo interno e a busca de estímulos para se ter a melhor compreensão possível de si. Grande parte dos autores de vanguarda enfatizam que a chave de uma boa liderança está no autoconhecimento;

C2: Após a compreensão de si, é possível desenvolver uma integridade e uma maturidade que facilitam a compreensão dos outros. São desenvolvidas habilidades da inteligência interpessoal, com foco na empatia e sociabilidade,e ênfase para a questão da compreensão versus julgamento;

C3: Este é o espaço de entendimento de como os níveis de consciência,ao longo da história, nos atravessam; de como a cultura, a linguagem, a evolução do nosso cérebro nos condicionam para alguns comportamentos. É a compreensão dos contextos em que estamos inseridos, desde o micro ao macro;

C4: Aqui está a ação da liderança transformativa, por isso o nome: trans.for.ma.ti.vo – adj (transformar+ivo) Que pode transformar. Que tem o poder de converter uma coisa em outra.(http://michaelis.uol.com.br).

É no C4 que podemos perceber se a qualidade das ações é construtiva ou destrutiva, e qual a importância da ética e da integridade para que se chegue ao ponto principal da te­oria, o ponto T;

Ponto T: É o ponto de transformação, que parte da conexão entre C1, C2, C3e C4, marcando um ponto de aprendizagem e transcendência;

C1, C2 e C3 – compreensão; C4 – ação.

 

O prisma da LIDERANÇA TRANSFORMATIVA®

 

No exato espaço de encontro do equilíbrio entre C1, C2 e C3 está posicionado o C4, responsável pela conexão e pela cocriação de sentido, sendo este o responsável por transformar a figura do triângulo em um prisma, ganhando a forma tridimensional. O ponto projetado para cima e representado pela letra “T”, de Transformação, marca o ponto de aprendizagem, a partir do qual já não somos mais quem éramos antes. Portanto, transcendemos para um novo momento, um novo ser, um novo relacionar, um novo liderar e incluímos o que foi aprendido em um fluxo contínuo e ascendente.

 

 

Para finalizar, o líder transformativo é aquele capaz de, com consciência do poder que suas decisões traz, promover o pensamento crítico e criativo por meio do diálogo, engajar as pessoas em propósitos superiores, fazendo a roda girar comum “motor” tão potente que é capaz de gerar saltos de consciência que transformam contextos.

 

 

Referências

COLLINS,J. Empresas feitas para vencer: por que algumas empresas alcançam a excelência…e outras não. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.

DIAMANDIS,P. H., KOTLER, S. Abundância: o futuro é melhor do que você imagina. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.

GOLEMAN,D. Inteligência emocional. São Paulo: Objetiva, 1996.

LALOUX,F. Reinventando as organizações: um guia para criar organizações inspiradas no próximo estágio da consciência humana. Minas Gerais: Editora Voo, 2017.

MCCORD,P. Powerful: como construir uma cultura empresarial de liberdade e de responsabilidade para responder aos desafios da gestão de talentos. Sabedoria Alternativa Edições,2000.

MEIRA,L. A. A segunda simplicidade: bem-estar e produtividade na era da sabedoria. Goiânia: Editora Caminhos.

MORIN,E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Editora Sulina, 2015.

MORIN,E., ALEXANDRE, M. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1993.

Revista Exame, edição 1203, de 20 de fevereiro de 2020. Burnout: o esgotamento pelo trabalho é o tema de gestão de pessoas mais quente de 2020. Os excessos trazem perdas econômicas e sociais – e não podem mais ser ignoradas. São Paulo: Editora Abril, 2020.

SCHARMER,O. Teoria U: como liderar pela percepção e realização do futuro emergente. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019.

Diversos autores. Mapeando Diálogos: ferramentas essenciais para a mudança social.

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Como cultivar e materializar Intenções

Em minhas aulas e palestras tenho falado muito sobre gestão de intenção e expectativas. Enfatizo que intenções têm a ver com tudo aquilo que está em nosso “espaço de governabilidade”- aquilo em que de fato conseguimos atuar não depende das circunstâncias, nem de outras pessoas. Diferentemente da intenção, expectativa depende de algo externo para se realizar. No dicionário, expectativa “é um estado interno de esperar algo que se deseja, cuja realização julgamos ser provável”. Sobre intenção: “propósito, pensamento impulsionado pela vontade e que perdura conscientemente durante a ação”.

Em nossas vidas, existem intenções e expectativas. Quanto mais consciência temos de nossas intenções, melhor faremos a gestão de nossas expectativas e correremos menos riscos de deixar emoções negativas nos desviar de nossos verdadeiros objetivos, quando não tivermos nossos desejos atendidos pelo outro. Ao reler o livro da Malika Chopra, “O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria”, resolvi escrever sobre os passos trazidos pela autora nessa jornada para transformar intenções em ações.

Referencio apenas que o tempo de as coisas acontecerem não é necessariamente o tempo que gostaríamos. Então, manter-se no caminho, gerenciar a ansiedade e não perder o foco serão atitudes essenciais para realizarmos aquilo que desejamos. Recomendo a leitura do livro, que é bem didático e traz muito das reflexões da vida pessoal de Chopra.

1. Tudo começa com a INCUBAÇÃO

Segundo Malika Chopra, só conseguiremos acessar as intenções mais profundas se conseguirmos acalmar nossa mente. O “tagarela interior” que cada um de nós tem pode nos desviar daquilo que realmente nos importa e nos conduzirá para um lugar de mais plenitude. A incubação consiste em um “período em que algo, uma criação, um evento etc. estão em elaboração, antes de sua manifestação concreta” (definição Michaelis).

O que a autora nos convida a fazer nesse processo de incubação? Acalmar a mente, da maneira que for mais confortável. Algumas pessoas têm mais facilidade para meditar, outras nem tanto. De qualquer maneira, é preciso encontrar uma forma de gerar quietude, silenciar o barulho interior. Essa quietude ajudará a revelar seus processos de pensamento – tanto os produtivos quanto aqueles que podem destruir suas intenções. Você também terá mais condições de acessar seus medos, inseguranças e potenciais, chegando às intenções, ao exercitar o “estar presente”, sentir as emoções.

Chopra afirma:

“autoconhecimento e consciência ajudam não só a compreender a própria vida e sua finalidade, como também a nos relacionar com mais compaixão com os outros. Quando você está acordado na mente pode ser uma amiga melhor, uma esposa melhor e uma mãe melhor”.

Colocando em prática:‍

· Liste/escreva as dimensões mais importantes de sua vida, por exemplo: saúde emocional, saúde física, relacionamento íntimo, família, trabalho e carreira, espiritualidade etc.;

· Então, escreva uma intenção para cada uma dessas dimensões.

 

2. Esteja atento – PERCEPÇÃO

Malika nos convida, nesse segundo momento, para que nos tornemos cada vez mais atentos aos nossos pensamentos e ações. Torne-se um observador de si mesmo. Como você tem reagido às circunstâncias e às atitudes das outras pessoas? Acolha-se em suas ações e procure compreendê-las.

Para isso, será preciso sair do “piloto automático” – desacelerar para perceber e encontrar sinais de que você está ou não na direção corretar em relação às suas intenções. Malika cita o adorável Eckhart Tolle ao enfatizar a importância de prestar atenção a quantas vezes nossos pensamentos são negativos:

“Além de suas manifestações óbvias, como raiva, rancor e inveja, o negativismo assume formas sutis que, por serem muito comuns, não costumam ser reconhecidas como tal, como impaciência, irritação, nervosismo e sensação de estar ‘cheio’ de uma situação ou de alguém, isto é, de ter chegado ao limite. Elas constituem a infelicidade em segundo plano, que é o estado interior predominante de muitas pessoas. Precisamos estar absolutamente atentos e presentes para detectá-las. Sempre que fizermos isso, será um momento de despertar.

Tolle, Eckhart, Um novo mundo: o despertar de uma nova consciência. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.

Mantenha-se atento aos seus pensamentos e suas ações. Mesmo após um momento em que você não consiga manter o controle ou mesmo foi passivo ao não dizer algo a alguém, revisite-se. É possível que, com o tempo de observação, você encontre alguns padrões recorrentes que estão lhe desviando das suas verdadeiras intenções.

Colocando em prática:

· Preste mais atenção aos seus pensamentos e ações, e responda: onde eles vão te levar? Qual o possível desfecho de se continuar pensando e agindo dessa maneira? Eles estão condizentes com as intenções que você escreveu para as dimensões da sua vida?

· Acolha duas atitudes antes de julgá-las. Procure refletir mais profundamente o porquê de você ter agido daquela maneira;

· Observe também as atitudes positivas que estão alinhadas às suas intenções.

3. CONFIANÇA – essencial para seguir em frente

 

“Você precisa permitir ser guiado pela intuição, pelas mensagens silentes que vêm de dentro, as quais muitas vezes deixamos escapar na correria cotidiana”.
Malika Chopra

Chopra diz que “como as intenções são tão profundamente pessoais e únicas – como digitais emocionais –, é impossível cumpri-las sem que confiemos em nosso conhecimento interior, sem que acreditemos que o universo vai guiar nosso caminho”.

Por tudo o que tenho estudado, fica cada vez mais evidente que quando estamos conectados a nossa força interior, nossa verdadeira essência que traz em si uma potência que é singular a cada um de nós, podemos nos conduzir com mais possibilidade de vivenciar uma dança ao invés de uma luta. É como se o mundo de fora nos apresentasse o que precisamos para percorrer a jornada até atingir nossas intenções.

Malika nos convida a uma confiança que vem não somente de nossa voz interior, mas também de nossas intuições e sensações do corpo, bem como do que o Universo nos apresenta. É importante reforçar, porém, que no caminho da intenção existirão vários “tropeços”, alguns passos para trás. Dessa forma, ter autocompaixão ajudará muito nesses momentos.

Atingir nossas intenções requer confiança durante o caminho. A ansiedade e a cobrança podem se fazer presentes, pois ampliamos a responsabilidade sobre nossas ações. E, dependendo do nível de cobrança que temos sobre nós mesmos, pode ficar pesado. Três passos para frente são importantes; mas nesse processo também daremos passos para trás – e nesses momentos podemos paralisar e não seguir mais em frente.

Acolha-se, portanto!

As coisas não acontecem no tempo que desejamos, a confiança ajuda a estabelecer o foco, mas será preciso ter compaixão por si, persistência e compreensão. Entender que, por vezes, abandonar o lugar conhecido, o padrão que aprendemos, requer dar um salto no escuro.

Colocando em prática:

· Lembre-se de todas as vezes em que você teve algumas intuições sobre certas coisas. Reviste o que essas intenções diziam e se elas estavam ou não corretas;

· Pense: você tem alguma manifestação em seu corpo quando sente que algo não vai bem ou quando sente que algo muito bom vai acontecer?

· Relembre aqueles momentos em que você desejava ou pensava tanto em algo e aquilo “caiu no seu colo”.

 

 

4. EXPRESSÃO – trazendo vida às intenções

Nossos pensamentos encontram formas em nossas palavras, trata-se de um primeiro passo para “materializarmos” as nossas intenções. Ao comunicar nossos desejos repetidas vezes, eles ficam cada vez mais vivos entre nós. E ao comunicar para as outras pessoas, elas também poderão nos ajudar a avançar no caminho de realização de nossas intenções. Malika enfatiza que as intenções, quando compartilhadas, ganham força por meio da expressão.

Por vezes, uma intenção maior expressada abre espaço para mobilizar as microintenções:

“Dar passos positivos em direção a nossos objetivos – ir do pensamento à ação – proporciona um movimento para a frente, mesmo se for medido em passinhos curtos. Isso infunde confiança e reforça o ímpeto. A vida é cheia de incertezas, mas pôr um pé na frente do outro e ter uma visão de onde podemos chegar é uma forma de assumir o controle e aproveitar todo o potencial disponível”.

Quantas vezes as nossas intenções morrem em nossos pensamentos ao irem perdendo potência, quando deixarmos de energizá-las? Lembro do maestro João Carlos Martins, ao dar uma entrevista ao Jô Soares, dizer que quando ele ia ao programa, acabava falando sobre uma série de coisas que desejava fazer e que aquelas promessas o “comprometiam” na ação. Então, depois de ter clareza acerca de suas intenções, quais as maneiras de energizá-las, tornando-as cada vez mais vivas dentro e fora de você?

Colocando em prática:

· Revisite as intenções que você escreveu no passo 1 para as principais dimensões de sua vida – elas ainda fazem sentido para você exatamente da maneira que estão expressas no papel?

· Encontre uma pessoa em quem você confia, de quem você gosta bastante e que emana uma energia boa para si e converse sobre suas intenções;

· Caso já tenha realizado algumas ações em direção a uma ou outra intenção, verbalize para essa pessoa também.

5. NUTRIÇÃO – regue a semente, permita-se cair e levantar

O que te energiza e nutre para que você não desista de suas intenções? Podem ser pensamentos, ações, encontros, ou mesmo tarefas que são realizadas por você, e que podem representar simples rituais.

Malika Chopra diz:

“Nunca é tarde demais para realizar um sonho (…). Se você nutrir uma ideia por tempo o bastante, garanto que as décadas que ela passou em incubação vão se provar uma benção”.

Por vezes, encontro com pessoas que há muito tempo dizem não conseguir mais fazer coisas de que gostam e que lhes fazem bem… Então, nutra-se de suas qualidades, das pessoas que lhe trazem boas energias, daquilo que você gosta de fazer. Muitas vezes, não paramos para observar quais os momentos que nos trazem vitalidade e nos energizam para continuarmos nossa jornada ao encontro do que realmente desejamos na vida.

Eu, por exemplo, tenho me energizado muito na prática de Yoga, em conversas com uma amiga-irmã que é psicanalista e traz conexões importantes sobre meus esquemas operatórios. E, claro, eu me energizo demais na presença do meu filho e nas conversas que temos antes de dormir. Existem pessoas que conseguem se energizar cozinhando, outras visitando os avós, algumas escrevendo, existem muitas formas. Quais as suas?

Colocando em prática:

· O que você faz que lhe traz paz, alegria ou vitalidade? Quais são as pessoas que o ouvem com atenção ou apoiam com boas palavras, perguntas ou conselhos?

· O que você faz bem, gosta de fazer e sempre fica satisfeito por ter feito? Passe a fazer mais!

· Você também pode conversar com algumas pessoas sobre suas intenções e ajudá-las a nutrir esses desejos.

 

 

6. AÇÃO – regue a semente, permita-se cair e levantar

Desde conquistas de bens materiais, até mesmo sonhos de conquistar alguém, quando agimos, encontramos as possibilidades para que se tornarem reais. Eu me lembro de uma conhecida que morava no interior de São Paulo, na pequena Estrela D’Oeste, onde fui criada. Seu sonho era ter uma casa confortável e o seu salário pouco sobrava para fazer investimentos. Eu frequentei sua casa por anos, desde que ela começou a construção, pois era sua cliente. Era empolgante a cada semana, perceber ou ouvir sobre algo, por mínimo que fosse, que ela tinha incorporado. Foram dez anos até que seu “lar” estivesse pronto. E o mais incrível era perceber o quanto ela se orgulhava e desfrutava de cada cantinho que tinha conquistado. Penso que, assim como na questão material, a mudança de algum comportamento ou algum padrão que não nos serve mais tem um tempo para que seja nutrida com cuidado e atenção. Alguns contratempos podem acontecer antes que se floresça algo. No mundo de dentro, onde podemos nos encontrar em nossa verdadeira essência, o “lar” interno onde estamos protegidos, mesmo com as tempestades que podem acontecer no mundo de fora, também é preciso regar a semente do autoconhecimento. E isso leva tempo e requer disponibilidade. Suponho que primeira intenção que deveríamos nutrir é de nos conhecermos bem para que possamos dar passos cada vez mais conscientes e conectados com o que nos fortalece e importa.

Como você tem nutrido as suas intenções? Como uma semente, tudo o que não é regado corre o risco de não florescer. Confie na natureza, mas procure fazer a sua parte, regando e nutrindo sempre que possível. Um belo dia, talvez você possa ser positivamente surpreendido. Enquanto isso, curta cada passo da jornada!

Colocando em prática:

· Compre uma semente para você plantar e regar. Acompanhe o seu processo até o “desabrochar”. Entenda e estude antes as particularidades do que você escolheu plantar e procure ser disciplinado no processo de cuidados até o seu “desabrochar”;

· Lembre de algo que você “regou” em sua vida e que “floresceu”. Relembre também como foi esse processo, quais foram as ações que você realizou;

· Escreva pelo menos três ações que você pode empreender para nutrir as intenções que anotou para as várias dimensões de sua vida. No seu tempo, procure realizar essas ações. Pense em coisas simples para que não se tornem inviáveis;

· Pense nas ações que você já realizou até aqui e que você percebeu de resultados rumo a realização de suas intenções;

· Aja!

Ao final do livro, o pai de Malika, Deepak Chopra oferece alguns “segredos” que ele mesmo diz ter adquirido ao longo de sua experiência de vida para a realização das intenções. Resumirei aqui as suas dicas, mas proponho que você as leia na íntegra, no final do livro, pois o texto é muito lindo!

1. Aprenda a nutrir seu corpo com sono, movimento e comida saudável;

2. Aprenda a viver no presente, pois é o único momento que você tem;

3. Tire um tempo todos os dias, mesmo que sejam cinco ou dez minutos, para ficar em silêncio, refletir ou meditar;

4. Renuncie sua necessidade de aprovação externa;

5. Quando se vir reagindo com raiva ou oposição a qualquer pessoa ou circunstância, perceba que você só está lutando consigo mesmo;

6. Saiba que o mundo ‘lá fora’ reflete a sua realidade ‘aqui dentro’;

7. Libere o ônus do julgamento moral: você vai se sentir muito mais leve;

8. Não contamine seu corpo com toxinas, seja por meio de comida, bebida ou emoções tóxicas;

9. Substitua o comportamento motivado pelo medo por uma conduta motivada pelo amor;

10. Entenda que o mundo físico é apenas um espelho de uma inteligência mais profunda.

Para Chopra, “se você viver com intenção, decerto chegará o dia em que os vícios da sensação, do poder e da segurança começarão a perder sua posição. Vícios são substituídos por conexão. Conexão dá lugar a preferências. Preferência é seguida pela escolha, a sutil intenção e o desapego”.

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Lição 1 – Pause!

Sem avisar, um forte apito vindo do trem se fez ouvir. Um barulho ensurdecedor. Até os mais distraídos ouviram. “Todos desçam agora, sua vida está em perigo!”, alertavam. Alguns entraram em pânico, mesmo sem saber ao certo o tamanho do perigo; outros resolveram respirar, compreender e agir da forma mais cuidadosa possível; mas houve também aqueles que tomaram a decisão de seguir em frente, pois não se pode parar, há muito o que conquistar antes de descanso.

Você vinha se sentindo dentro de um trem bala, vendo tudo passar muito rápido? Sentindo-se mal por ter de finalizar um dia ainda cheio de pendências; por correr muito e parecer não chegar a um bom lugar; por não estar sendo capaz de perceber o que realmente se passa no caminho, perdendo importantes conexões? Não se esqueça de que quem dá sentido ao tempo somos nós mesmos!

E vejam que interessante: quando não temos consciência sobre a importância de fazermos as devidas pausas, as circunstâncias surgem e nos convidam a fazer isso. Não digo isso somente para este momento desafiador, mas para tudo em nossa vida. Pense sobre a importância da pausa – uma respiração em que conseguimos inspirar e expirar de maneira adequada, melhora e muito a concentração de oxigênio no sangue. Ela representa nossa conexão com o exterior, pois é responsável pela troca de gases com o ar atmosférico, elimina o que não nos serve e nos alimenta com o que é vital. Sem nem atenção a esse mecanismo vital estamos tendo, imagine com o restante: mastigar os alimentos, dormir e acordar, férias etc.

Como você percebeu o apito?

Comece pelo simples, mas vital: preste atenção à sua respiração, inspire e expire com mais consciência. Este é o melhor começo para acalmar a mente e o coração em momentos de pressão.


 

Lição 2 – Esteja presente, acolha-se!

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Em seu livro “O poder da presença”, Amy Cuddy cita que “presença” são os próximos cinco minutos. Não temos a devida consciência de que tudo é impermanente e que não temos certeza sobre nada. Pense em qualquer certeza que tem e, em seguida, reflita: levando esse pensamento para o futuro – pode ser uma semana, um mês, um ano ou até dez anos –, você ainda assim continua certo disso? Quantas coisas podem acontecer e que não temos controle? Quantas situações podem mudar as nossas convicções, nossos desejos e até mesmo nossas capacidades?

O que temos é o agora. E parece que boa parte da humanidade vive a partir de uma projeção de futuro e uma busca de satisfação condicionada a um vir a ser.

Eu tenho esse momento: consigo ser grata por estar abrigada em um lar que estimo, por ter conquistado a capacidade de estar aqui escrevendo essas palavras para você e ainda pelo ar que entra em mim e que contribui para a renovação contínua do meu ser. Eu sou esse momento e, conectada a ele, posso caminhar com mais tranquilidade, construindo um futuro mais harmônico.

Uma outra citação do livro, é: Presença é renovação de julgamentos, barreiras e máscaras, de modo a criar uma conexão verdadeira e profunda com pessoas ou experiências. Entendo que a conexão profunda com pessoas e experiências se inicia pela conexão interior. Acolha-se! Olhe com atenção e cuidado para si e conecte-se aos seus sentimentos. O que tudo isso lhe causa? Quais são os sentimentos associados? Se você for capaz de acolher a si mesma(o), esse será o primeiro passo para que você se conduza com mais discernimento e um bom ponto de apoio para as pessoas que estão em estados emocionais caóticos. Viva cada experiência, procurando extrair o melhor que ela traz. “Pré ocupação” é agir em detrimento do que ainda não aconteceu e pode nos levar a um estado de ansiedade que paralisa as microações produtivas no aqui e agora, aquelas que constroem melhores perspectivas para o futuro.

Presença é ser eu mesmo e me manter confiante, aconteça o que acontecer. Acolha-se, tenha coragem de continuar caminhando, mesmo com medo. E repita: eu sou esse momento e serei o melhor possível agora!

 

 

Lição 3 – Lembre-se de que o todo nos influencia e nós influenciamos o todo

Para mim, uma das maiores inconsciências que temos como humanidade é a de que fazemos parte do mesmo sistema e que, ao fazer mal ao outro, estamos nos afetando também. Ouço frases do tipo: “não vou ajudar, não tenho nada a ver com isso”, “o outro que lide com as consequências dos seus atos”. Vejo empresas que espremem seus fornecedores ao máximo para garantir mais lucro em suas receitas. Será que essa ação é sustentável? Quanto mais uma empresa colabora com o negócio de seu fornecedor, mais qualidade na entrega de serviços ou produtos ela terá e mais sustentável se tornarão suas relações comerciais. Infelizmente, em muitos casos, ainda não percebemos a existência desse nível de consciência.

Quanto mais os meios de comunicação veiculem notícias mostrando somente o lado negativo dos acontecimentos, é bem possível que isso gere mais pânico nas pessoas e, por consequência, corremos o risco de entrar em um círculo vicioso. Pense no que você sentiu ao ler uma notícia positiva, com fonte confiável, em meio a esse momento turbulento que estamos vivendo? E então: como você pode influenciar os ambientes em que está inserido? O que tem feito para gerar mais harmonia, tranquilidade e confiança?

Recentemente, ouvi uma pessoa dizer que precisamos aproveitar todo o nosso tempo para nos preparar para o pior. De fato, senti um mal-estar; essa fala influenciou meu estado de espírito. Ainda bem que pude refletir sobre e retornar para o equilíbrio e ao fato de que preciso me manter atenta e cuidadosa para um estado de confiança e presença.

Como você tem contribuído para influenciar positivamente a si e aos outros?

 

 

Lição 4 – Cuidado com os julgamentos!

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço que ofereceu excelentes contribuições no campo da Psicologia, tem uma citação que vale muito para os dias atuais: “pensar é difícil, por isso as pessoas preferem julgar”. Honestamente, sinto alguns julgamentos como armas que destroem as verdadeiras possibilidades de cocriarmos as melhores formas para vencermos esse momento tão desafiador para a humanidade. Esquecemos o propósito e nos conectamos em causas pessoais ou partidárias. Esquecemos que as pessoas podem, sim, ter opiniões distintas e que podemos respeitá-las; que muitas vezes é da contradição e do diálogo que pode nascer uma terceira alternativa, mais eficaz para a resolução das questões ou das divergências.

E assim tem caminhado a humanidade. Como diz o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos em que perdemos o espírito de comunidade, vivendo a sociedade em rede. Gosto quando ele cita que no mundo interligado “as interações sociais ganharam a aparência de brinquedos de crianças rápidas”. Ele enfatiza que perdemos o espírito de comunidade e que, para a rede, fazer o enfrentamento das situações cara a cara, olho no olho, acaba sendo um evento traumático. Então, nós conectamos e desconectamos. E os nossos julgamentos ditam a regra – você gosta do azul, eu também, está conectado; não gosta, então eu te desconecto. As relações acabam se tornando cada vez mais superficiais e com menor possibilidade de diálogos construtivos.

Platão nos convidou a pensar que o homem realmente sábio é aquele capaz de observar tanto o fenômeno, quanto a sua essência. Se não chegarmos à essência, corremos o risco de ficar com nossas visões sempre muito “enviesadas” por crenças que podem ser limitantes ou mesmo por paradigmas que fecham o canal de comunicação para visitarmos outras perspectivas. Agora é momento de acolher mais e julgar menos. Precisamos estar abertos a ouvir, a tecer a verdadeira rede que nos levará para tempos melhores, uma rede com seres humanos, conectados e acolhedores de suas potências e vulnerabilidades.

Você em acolhido ou julgado mais?

 

Lição 5 – Habite os melhores lugares, nutra-se!

Hoje, dia 14/04/2020, ao acessar as redes sociais, chamou a atenção o número de posts com fotos que contemplavam o por do sol na cidade de São Paulo. Será que em outras épocas daríamos tanto valor a essa obra de arte? Eu mesma, por amar o meu trabalho e seguir com muita determinação meu propósito de vida, chegava a pegar 8 voos na mesma semana; deixei de dar o devido valor e importância em nutrir meu filho com o alimento preparado por mim. Assim como lembrar que as melhores inspirações para a construção de minhas palestras nasceram das conversas que tenho com ele antes de dormir – e ele só tem dez anos, mas ensina tanto!

Todos esses dias ao lado dele, adotamos o hábito de uma “mini meditação”, seguida de uma prece, antes dormir. É impressionante o que esse momento tem representado para mim. Sou muito grata por ter o Luca em minha vida: ele rega o que há de melhor em mim.

Hoje eu ouço uma música, assisto a um filme ou leio um livro com um nível de apreciação mais profundo. A arte nos nutre! Conecte-se à natureza e sinta-se parte dela. Semana passada, enquanto fazia minha caminhada noturna, eu me peguei completamente apaixonada pela lua da cidade de Assis. Compartilho aqui a foto tirada por Marcos Ferreira. Eu me nutri da lua e me senti tão bem!

 

Você tem conseguido buscar o silêncio interior? Ouvir a voz que vai lhe conduzir para o melhor habitat possível? Um lugar em que você compreende para onde suas ações devem seguir, pois deixa a clareza do que realmente é importante e que trará a satisfação e plenitude tão essenciais para nos sentirmos partes de algo maior? Habite a si mesmo com amorosidade, atenção e compaixão; assim, você será alguém capaz de nutrir pessoas e contextos e, de alguma maneira, pessoas e contextos mais bem nutridos, por reciprocidade, farão o mesmo para você.

Tenho ficado muito feliz com os movimentos de ajuda para a população que apresenta menos recursos para fazer o enfrentamento dessa situação. Psicólogos nutrindo emocionalmente, ao abrir espaços para que as pessoas tenham um lugar seguro para se reorganizarem. Iniciativas para doações de cestas básicas e produtos de primeiras necessidades para populações carentes financeiramente. Esses movimentos nutrem a capacidade empática e o espírito de comunidade que tanto precisamos nesses momentos.

 

 

Lição 6 – Simplifique!

Hoje eu estava vendo uma live – aliás, esta é uma das coisas que mais tenho feito: ouvir pessoas interessantes e agregadoras. Que bom que agora tenho tempo para isso! Estava ouvindo a Luciana Pianaro, CEO de uma das publicações aqui no Brasil de que eu mais gosto, a Revista Vida Simples. Eu admiro a Luciana pela sua história de vida, mas essencialmente pela humanidade com que ela expõe suas ideias e pelo propósito com que conduz sua vida. Ela falou que para ser simples, o que a gente precisa mesmo é descomplicar. Como somos bons em complicar as coisas, trazer peso para as bagagens que carregamos em nossas jornadas!

Começamos pelo consumismo desenfreado que tomou conta da sociedade. O ter, tão essencial para muitas pessoas que correm para lá e para cá, mas não desfrutam como gostariam. Talvez esse TER seja a sombra do SER perdido em nós. Entendo que não há problema nenhum em termos, mas não podemos condicionar nossas existências a isso – “eu não sou o que eu tenho”. Pergunte-se: se eu perdesse todos os bens materiais hoje, o que me restaria?

Esses dias de confinamento me fizeram perceber que eu posso viver com muito menos e que, surpreendentemente, fica muito mais leve e claro, sustentável. Por exemplo: para que ter várias coisas iguais? Isso só requer mais espaço, mais tempo para limpar e organizar; parece que a teoria do essencialismo nunca fez tanto sentido como agora.

Ao citar o consultor McKeown na Revista Simples, Rafael Tonom, autor do artigo “Só o essencial”, enfatiza: “O caminho do essencialista segue um propósito, não segue o fluxo. Em vez de escolher reativamente, ele distingue de maneira deliberada as poucas coisas vitais das muito triviais; elimina o que não é essencial e depois remove obstáculos para que o essencial tenha passagem livre”.

É chegado o momento de tirar o peso e remover os obstáculos para que tudo aquilo que realmente importa sinta-se regado para acontecer mais em nossas vidas!

O que você tem carregado em sua bagagem que não faz mais sentido para o agora?

 

 

Lição 7 – Encontre sentido

Encontrar sentido: sem dúvida, para mim, a lição norteadora de todas as outras, em relação a momentos de crise. Por distinção, eu a cito como última. Qual é o sentido de cada ação que você realiza? Qual o sentido da sua existência? O que verdadeiramente te move? Sei que não são perguntas fáceis de serem respondidas, mas de suma importância de serem perseguidas, mesmo que leve uma vida toda.

O sentido não está fora, essa é a principal pista para nos lançarmos nesse labirinto. Sou psicóloga e uma das linhas teóricas que mais parece atual é de Viktor Frankl – neuropsiquiatria austríaco, fundador de uma escola de psicoterapia, a Logoterapia (terapia do sentido). Ele ficou mundialmente conhecido após escrever “Em busca de sentido”, em que descreve a sua difícil experiência em quatro campos de concentração nazistas. Dr. Frankl tem uma frase que ficou muito famosa e resume um pouco do que contempla em sua teoria: “quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.”

Para Frankl, a busca de um sentido para a vida é a principal força motivadora de um ser humano. Gosto de pensar que a frustração dessa necessidade é um dos grandes causadores das principais dificuldades dos novos tempos: depressão e ansiedade, por exemplo. Tenho percebido o quão as pessoas que têm, de certa forma, algum sentido para a sua vida, estão passando muito melhor por este momento. Quando vamos para dentro de nossas casas, ou somos convidados a olhar para dentro, corremos o risco de nos depararmos com um vazio existencial que pode nos colocar em estados emocionais desafiadores, ou mesmo nos levar a preencher esse vazio com coisas que essencialmente não nos preencherão, e sim nos viciarão em uma dinâmica que fica mais parecida com aquele “buraco sem fundo”.

Eu sei que muitas pessoas podem até se irritar – por que todo mundo fala tanto em propósito? Eu não tenho e vivo bem assim. Claro que isso pode acontecer, mas por experiência – estudo muito e persegui meu propósito por anos, podendo afirmar que a vida fica mais conectada quando o temos. E em momentos de tensão, crise e desafios como o que estamos vivendo, o propósito nutre nossas ações e trazem mais sentimento de confiança para nossas existências. O meu propósito nessa vida é enxergar e comunicar a luz das pessoas, para trazer à tona a sua potência para si e para o mundo. E o resultado? Percebi que posso iluminar os caminhos por onde tenho passado.

A minha intenção genuína ao escrever estas palavras é a de que você se conecte e ascenda a luz que te habita, e que ela mobilize pensamentos de esperança, confiança, movendo em você ações que possam regar, mesmo que um pouquinho, as melhores condições para superarmos da melhor maneira possível a turbulência que se instaurou no planeta – a nossa casa, o nosso habitat!

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Desafios para o mundo: o que pensam os JPs da FTO?

A Fertilizantes Tocantins acredita e investe nas novas gerações. Mais do que isso, ela acredita em sua conexão com profissionais mais experientes – e esta foi uma das ênfases dadas pelo presidente da empresa, Sr. José Eduardo Motta, em seu discurso de encerramento e formatura do primeiro programa de Jovens Profissionais, desenvolvido no ano de 2019.

Sem dúvida, este é um desafio ao qual o mundo nos convida: conectar realidades, muitas vezes diversas, mas complementares. Sendo assim, os mais jovens são mobilizados a aprender sobre a experiência acumulada daqueles que já têm bagagem e muitos aprendizados em sua jornada; por outro lado, potencializa-se a abertura destes também para ouvir ideias e novos caminhos que podem ser trazidos pelas novas gerações. Com certeza, uma estratégia de diálogo que abrirá muitas possibilidades.

 

 

Durante o Kick-off do 2º Programa de Jovens Profissionais, abrimos a discussão para ouvir o que essa nova geração pensa sobre os grandes problemas mundiais. Perguntamos: se vocês tivessem a oportunidade de participar de um Fórum da ONU junto aos grandes líderes mundiais e pudessem pedir sua atenção a um tema, qual seria? Seis grupos apresentaram suas opções, sem que tivéssemos assuntos repetidos.

O primeiro desafio e questão a ser considerada foi a inserção de jovens de baixa renda no mercado de trabalho, com oportunidades justas. Enfatizaram a dificuldade que há em conseguir o primeiro emprego. Citaram que, de acordo com uma reportagem da Exame, 52% dos lares brasileiros são constituídos por pessoas de baixa renda ou nenhuma e que dados do IBGE contam que, dos 36 milhões de jovens de 15 a 25 anos, 24 milhões são de baixa renda e não têm acesso à educação de qualidade. Trouxeram a questão de que jovens nessas condições precisam dividir o seu tempo para trabalhar e complementar a renda familiar. E nossos JPs levantaram algumas possibilidades para reduzir esse difícil acesso: mais processos seletivos com foco em softs skills, ao invés de hard skills; aproveitar a capacidade de comunicação da pessoa, identificando áreas em que não há tantas exigências, como inglês e outras línguas; disponibilização de cursos para comunidades; preocupação sustentável com a comunidade, do ponto de vista financeiro e social.


 

O segundo tema trazido tem a ver com a quantidade de informações que recebemos e como as interpretamos. Os JPs refletiram que hoje há muita informação por causa da tecnologia – mas até onde isso é seguro? Até que ponto sua utilização é confidencial, e quem é que as armazena? Como exemplo, citaram quando fazemos um cadastro no Facebook: quem lê o termo de política e privacidade? As pessoas não costumam ler o que está escrito em documentos e contratos desse tipo e, por conta disso, desconhecem quais dados estão sendo utilizados. Outro exemplo são os arquivos que vão para a nuvem: ninguém sabe onde eles serão guardados e quem terá acesso a eles. O que pode acontecer a partir dessas informações? Quando se faz um cadastro no site, quem e como são protegidos esses dados? Os JPs, sempre antenados, trouxeram a informação de que vai vigorar, a partir de agosto, uma lei para ajudar na proteção de dados. Citaram que no governo da China e da Coreia, por exemplo, existe um controle dos dados de quem utiliza as fontes de informação. Toda a população é afetada por causa de controle do governo sobre esses dados, visto que pode haver abuso de empresas, como também de diretos básicos que podem ser afetados por isso. Deram ênfase que segurança de dados é importante em uma era onde muitas informações sobre tantas pessoas estão expostas na internet. Vale refletir: quais mecanismos as empresas de proteção vão criar para proteger essas informações? É um trabalho conjunto nosso, o de ter o cuidado ao enviar dados pela rede! Por fim, nos lembraram de que Dilma Rousseff foi espionada pelo governo do EUA. Se a própria ex-Presidenta foi espionada, imagine as pessoas em geral!!!

 

 

O terceiro tema e que nos tem trazido muitos debates no dias atuais foi sobre tolerância ideológica. Eles refletiram o quanto as pessoas não são mais tolerantes umas com as outras, frente à divergência de opinião. Trouxeram o exemplo da Europa – caos da polarização da população por conta da chegada dos refugiados: parte entende que não são essas pessoas que causam as dificuldades econômicas; outra parte culpa os refugiados, causando a polarização que muitas vezes é usada pelos políticos para a conquista de votos. Acrescentaram que as pessoas têm dificuldade de vir para uma discussão com argumentos bem pontuados, a fim de tornar produtivas as discussões; que as pessoas estão ficando cada vez mais intolerantes, algumas até violentas; que relações vêm sendo abaladas, amizades acabam, etc. Como possibilidade, os JPs entendem que ajudaria: pedir auxílio para os líderes mundiais para que amenizassem os discursos de ódio; a total separação de política e religião; a promoção de uma educação infantil que incentive e conscientize quanto à tolerância e à diversidade

Falando sobre educação, este foi o tema apresentado pelo quarto grupo: a precariedade da educação básica no Brasil. Começaram trazendo uma Pesquisa do INEP: quase 70% dos jovens brasileiros de até 15 anos não sabem matemática básica. Trouxeram o exemplo do curso de Engenharia da PUC, em que se percebeu o déficit neste ramo em alunos oriundos de colégios públicos, fazendo com que a instituição adotasse a matéria “Pré-Cálculo” como opcional para tentar recuperar as bases que não foram criadas. Mais um dado trazido por eles: a disparidade do investimento realizado na educação básica e no ensino superior –dados de uma pesquisa de 2017 mostraram que o gasto médio por aluno na educação básica era de 11 mil por ano; já no ensino superior, 36 mil/ano. Toda a falta de preparação e investimento na educação de base potencializa para que o aluno não chegue preparado para a universidade. Como solução, nossos jovens entendem que é preciso mais investimentos, melhoria na administração dos recursos, planejamento e melhores condições aos menos favorecidos, sem contar a geração de uma melhor consciência para que possamos escolher quem são aqueles que ocuparão os cargos políticos com poder de decisão sobre esse aspecto.


 

E não poderia faltar a preocupação com as questões ambientais: este foi o tema trazido pelo quinto grupo. Eles compartilharam um ponto específico nessa área, trazendo que, segundo a ONU, o maior desafio ambiental no século XXI será o plástico. Como exemplo, enfatizaram que, na União Europeia, itens de plásticos como garfos, copos, cotonetes etc., serão proibidos até 2021. E até 2030, pretendem tirar todas as embalemos de plástico de circulação. Garrafas de plástico, por exemplo, eles pretendem coletar e reciclar até a próxima década. Hoje já existe no Estado do Rio de Janeiro uma lei que proíbe sacolas e canudos, e empresas como a Nestlé deixaram de usar o canudo de plástico; Burguer King está evitando o uso de tampas plásticas e canudos; Unilever desenvolveu uma garrafa utilizável do OMO; Starbucks pretende acabar com os canudos e os copos, que já são biodegradáveis; Adidas está desenvolvendo um tênis com plástico recolhido do mar; dentre outros exemplos. Trouxeram ainda um dado alarmante: mais de 100 mil animais marinhos morrem em decorrência do plástico lançado no meio ambiente. Eles enfatizaram também que de 8 a 13 milhões de toneladas de plástico chegam aos mares todos os anos, e que um estudo da Inglaterra mostrou que de 500 peixes analisados no Canal da Mancha, um terço estavam contaminados com microplásticos. Esses micropláticos, sob ação do sol e mares, se fragmentam e chegam a menos de 5 milímetros, ficando muito pequenos e tornando sua coleta impossível. Especialistas dizem e têm medo de que, com lavagem de roupa, a gente possa enviar microplásticos para os oceanos. Até 2050 existirá mais plásticos nos oceanos do que peixes. Para completar com mais um dado: no Brasil são registrados mais de 3 mil lixões, trazendo como consequência a liberação do gás metano, chorume, contaminação dos lençóis freáticos – o que impacta fortemente o ecossistema. Como solução, os JPs nos fazem refletir sobre desenvolvimento sustentável, enfatizando o tripé Economia, Sociedade e Meio Ambiente; que é preciso que existam melhores políticas de prevenção e fiscalização. Esse grupo trouxe uma contribuição e reflexão para a FTO – será que não poderíamos ter melhores soluções para as embalagens dos fertilizantes, mais estudos de materiais biodegradáveis, uma logística reversa (de embalagens que dê para reutilizar), dando a destinação correta. Fica a dica dos nossos JPs.

 

Por fim, o sexto grupo levantou uma reflexão que também tem sido bastante considerada: a igualdade de gênero e, principalmente, a questão das mulheres em cargos de liderança. Da mesma forma que o grupo anterior, os nossos jovens refletiram sobre a presença de executivas que existem na FTO, atualmente, trazendo um olhar de que isso vem melhorando com o passar dos anos. Lembraram que em menos de 100 anos, as mulheres ganharam o direito de voto e que antigamente a mulher quase não saía para trabalhar. Embasaram suas reflexões com dados: pesquisa da USP, no agronegócio, traz a informação de que a posição de mulheres empregadas subiu muito, mas não na posição de liderança, onde esse índice ainda é muito baixo. No Congresso Nacional, por exemplo, a presença delas é inferior a 10%. Mundo afora: somente no final de 2019, na Arábia Saudita, as mulheres ganharam o direito de dirigir e por lá, os cargos de liderança feminina eram 29% caíram para 25% em 2019. Na Europa, 32% das empresas têm pelo menos uma gestora mulher e, na América Latina toda, temos apenas 25%. O grupo também apresentou o desafio da maternidade, quando a mulher abre mão de sua carreira por decidir cuidar dos filhos. Pesquisaram dados para embasar essa informação: 56% das entrevistadas enxergam dificuldade para ter sucesso profissional, quando têm filhos; 23% alteram seus planos de ter filhos por motivos profissionais; 3 em cada 7 mulheres têm medo de perder o emprego por engravidar; 22% conseguem voltar ao trabalho, de fato, após engravidar; 63% precisam faltar ao trabalho quando o filho fica doente; e apenas 1 a cada 14 crianças fica com os pais. Os Jovens promovem uma reflexão crítica e convidam as empresas a equalizar suas políticas quando o assunto é diversidade de gênero.

A Jovem Profissional da Arquitetura RH, Flávia Passarella, ao entrar em contato com os temas trazidos pelos JPs, demonstrou entender que os assuntos trazidos pelos grupos são de extrema importância e precisam, sim, ser discutidos. Ela argumenta que:

“precisamos olhar para eles com seriedade e cautela; afinal, vivemos em um momento onde as situações, as causas, a educação, a tolerância, a informação, a igualdade, o mundo em si, precisa ser cuidado, olhado e abraçado. Precisamos falar sobre isso, precisamos expor nossas opiniões, nossos sentimentos e precisamos levar as pessoas a um pensamento de mudança e abundância.”

Ela ainda disse que após ouvir sobre todos os temas, refletiu sobre o que está fazendo para contribuir com mudanças e crescimento. De fato, parece que os nossos jovens estão vindo com um nível de consciência mais apurado. Desta forma cabe a todos nós, unidos, mobilizarmos atitudes que vão ao encontro de um mundo melhor e mais sustentável em todos os aspectos!

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A conexão como potência!

Já reparou no olhar de uma mãe quando se depara pela primeira vez com o rostinho de seu bebê? Ou o olhar dos pais para seu filho em uma apresentação de escola? Ou mesmo o olhar de duas pessoas realmente apaixonadas? Uso o termo paixão para representar uma energia que move o outro para a conexão com a potência que está ali. E muitos vão dizer que a paixão acaba, que é um estado “ilusório” e de grande idealização. Eu digo que sim, pode ser. Mas o fato é que existe a conexão com a potência do outro, um “vir a ser” que, em minha opinião, se regado, poderá acontecer e transcender para o melhor lugar. Por exemplo: uma relação entre pais e filhos que não traga todas as expectativas não atingidas, mas, sim, que permita a conexão com a potência daquela criança, regando dia a dia o potencial que se percebe emergir, intencionando simplesmente que ela possa ser o melhor que ela puder vir a ser – isso sim é conexão!

Mas por que vivemos tão desconectados? É exatamente isso que tenho percebido: um mundo desconectado daquilo que realmente é importante. Neste exato instante, escrevo este artigo em um dos momentos mais desafiadores para a humanidade: a pandemia da COVID-19, o corona vírus . O que será que deixamos de cuidar, de regar e que agora precisamos aprender ou até reaprender?

 

 

Será que nos esquecemos da conexão e do cuidado com a natureza, com o planeta – nossa casa! Será que nos esquecemos da conexão genuína com o outro “ser humano” e então saímos julgando o tempo todo as pessoas? Julgar desconecta, ergue barreiras. E a principal desconexão que temos tido é precisamente com nosso “eu interior”, aquele que dita as regras do que acontece no mundo de fora, que cultiva bons ou maus pensamentos, que deixa de cuidar do campo emocional e, muitas vezes, toma atitudes que não caberão em um bom lugar quando projetadas no longo prazo. Essa é a primeira conexão que devemos cuidar, a conexão com o mundo de dentro. Com a relação como percebemos o mundo de fora e como essa relação nos impacta.

Qual convite estaremos recebendo? É preciso fazer um caminho de volta. De volta para nossos “eus”, de volta para a compaixão com aqueles que estão ao nosso redor e de volta para a “natureza”, da qual somos parte integrante. Somente assim nos conectaremos com a verdadeira potência do SER, a verdadeira potência dos relacionamentos saudáveis, sem jogos de medo, vingança e julgamentos; com a potência do sol que nos aquece e da lua que nos ilumina.

Por que será que nos desintegramos tanto e perdemos a potência? Por que o foco se direcionou tão forte ao pensamento econômico? Precisamos tomar cuidado com o pensamento fundamental e exclusivamente orientado a contas. Como cita Edgar Morin, antropólogo, sociólogo e filósofo francês, para não corrermos o risco de não enxergamos o ser humano. É perigoso que o cálculo, ao ser o único meio de conhecimento útil, continue mascarando, como já o faz há muito tempo, a realidade humana. Assim que entra o cálculo, os indivíduos são tratados como objetos. Não dá mais para ser assim!


 

Mas e agora? Será que todo o dinheiro do mundo dá conta da inconsciência que cultivamos em nossas existências? Que possamos nos conectar sobre a importância de sermos mais conscientes em nossas atitudes!

Uma das intenções da Arquitetura RH, empresa que fundei junto com Claudia Serrano, é justamente conectar o maior número de pessoas a suas essências, abrindo espaço para o que há de mais potente. A maneira como entendemos Conexão, um dos nossos valores, é trazendo a perspectiva de que é necessário existir um ponto de intersecção entre 3 elementos: o intrapessoal (nosso mundo interno), o interpessoal e o contextual. No entanto, nesse caminho, a primeira coisa a fazer é iniciarmos pelo “mundo de dentro” – pois é somente a partir de um lugar de extrema inteireza e por meio do autoconhecimento que conseguiremos estabelecer uma conexão genuína com os outros e a agregação de valor aos contextos em que estamos inseridos. Acreditamos em ações que sejam pautadas pela “presença plena”, onde escolhas conscientes e sustentáveis são realizadas. Apresentarei as três dimensões:

· Conexão com o EU (mudo interno)– alinhamento mente, corpo, coração.

‍Mente – esvaziamos a mente antes de uma “inter-ação” com o outro. Corpo – respeitamos os limites e alertas do nosso corpo. Coração – levamos em consideração nossa “voz interior”;

· Conexão com OS OUTROS – alinhamento eu e o outro.

Damos importância à escuta generosa, sem interrupções, à percepção do estado emocional do outro, antes de uma “inter-ação”; valorizamos a inclusão da opinião do outro, mesmo não havendo concordância; a abertura para receber o outro de forma genuína e sem julgamento, acolhendo sua verdade;

· Conexão com os CONTEXTOS – alinhamento eu e o meio.

Consideramos o impacto de nossas atitudes no ambiente e como o este ambiente impacta as nossas; buscamos pontos em comum para gerar ações compartilhadas; reconhecemos e compartilhamos as boas ações de outras pessoas.

O meu desejo é que cada um de nós possa encontrar a conexão com seu “EU” mais genuíno, aquele que não precisa usar “máscaras” o tempo todo, que tem ações pautadas em suas verdades, por meio de energias de amorosidade e menos medos e raivas. Para chegarmos nesse “EU”, muitas vezes, teremos que abandonar aquilo que é bom para o mundo de fora (os outros e o contexto), assumindo e sustentando as nossas verdadeiras intenções e fazendo uma boa gestão das nossas potências e sombras. Nessa perspectiva, caminharemos em nossa jornada oferecendo o melhor de si para os outros e para os contextos.

Só assim, poderemos exercitar o ponto de intersecção entre aquilo que nos conecta interiormente, aquilo que genuinamente nos conecta ao outro e aos contextos que habitamos, podendo desfrutar da potência que nos cabe e da evolução que somos convidados a trilhar!

Lembro bem uma encíclica escrita pelo Papa Francisco que diz:

‍”Os desertos externos estão aumentando no mundo porque os desertos internos se tornaram tão vastos”.

Que possamos diminuir essa vastidão! Conecte-se!

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Coragem

A palavra “coragem” vem do latim coracticum – agir com o coração, de acordo com o que verdadeiramente sentimos. Mas será que conseguimos ser corajosos, bem no sentido etimológico da palavra? Acessando nossos desejos mais genuínos e conduzindo a vida partir da integridade com nossos propósitos. Ou estaremos confundidos com as “convenções sociais”, com padrões pré-estabelecidos que não cabem mais em nossa existência tão singular, condicionados a uma busca de felicidade fabricada e que é muito mais relacionada ao “mundo de fora” do que ao “mundo de dentro”? Minha provocação: você tem coragem? Coragem de acessar seus sentimentos? Coragem de assumir o que deseja? Coragem de transformar o que não faz mais sentido e já “atrofiou” em sua vida em algo melhor em mais potente?

Andamos pela vida e geralmente nem percebemos que o “piloto automático” está ligado, que nossos sorrisos já não são mais os mesmos e que nossa jornada começou a ficar mais “pesada”. Márcia Lerinna, fundadora da T-Ser e hoje uma grande amiga e mentora para mim, sempre diz: “se está pesado, está errado; precisa rever”. Essa reflexão deve nos acompanhar o todo tempo; precisamos fazer pausas para refletir quando sentimos que há peso. Porém, estamos tão ocupados com todos os compromissos que nos impusemos que, na maioria das vezes, não temos tempo para fazer essa reflexão. E aí simplesmente vamos “tocando o barco”…

A grande questão é que a vida nos cobra essas decisões – mais cedo ou mais tarde, surgem tempestades, turbulências, estímulos que evidenciam tudo aquilo que não está fluindo bem em nossas vidas. Nesses momentos, temos a oportunidade de lidar com isso, tirar o peso e ressignificá-lo.

No trabalho, vemos pessoas adoecendo por conta de escolhas não sustentáveis ou de se deixarem ficar em situação de “abuso emocional”. Quantos casais estão juntos, mas vivem sozinhos? Quantas sociedades trazem mais turbulência do que parceria e crescimento, e ainda assim estão operando em uma dinâmica nociva para todo o sistema de pessoas que abarcam?

O que está pesado em sua vida? Pare, pense, reflita – esse é o primeiro passo!

 

O que nos impede de sermos corajosos, por vezes, é o medo. Tendencialmente, nossas preferências têm a ver com aquilo que já mapeamos, conhecemos e que nos coloca em um “terreno seguro”. Evoluir significa dar um salto – sem necessariamente saber a que lugar esse salto vai nos levar. Mas pense: existe um oceano de possibilidades que ainda não exploramos, e a paralisia ou a covardia pode nos tirar a oportunidade de conexão com os nossos melhores potenciais, com uma capacidade mais ampla de nos mobilizarmos por meio de um campo de energia que está em nosso mais alto potencial – e assim, mobilizarmos as pessoas e agregamos aos contextos de que fazemos parte.

Coragem é a ação, apesar do medo; é o caminhar constante na direção da nossa melhor versão. É estar aberto a ampliar a consciência sobre quem você é de fato, o que te move, o que te tira do eixo e o que te faz florescer. Para isso, precisamos colocar em nossas vidas uma tensão criativa, um certo inconformismo, espaços para reflexões que vão nos levar ao encontro de decisões e escolhas o mais sustentáveis possível.

O maior cuidado que temos que tomar é com a quantidade de “pré-ocupação” que mobilizamos. Elas começam em nossos pensamentos: monstrinhos que nos desconectam dos nossos verdadeiros desejos, nos convidando a ficar em nossa zona de conforto. Precisamos lembrar que nossos pensamentos mobilizam emoções e que essas emoções são transformadas em comportamentos. Quantas vezes nossas ações estão indo ao contrário dos nossos desejos? Exemplo: eu quero ter uma vida cheia de respeito e amorosidade, mas ESCOLHO ficar em um trabalho onde as pessoas se desrespeitam o tempo todo, onde o sentimento de menos valia toma conta de mim. Mas ESCOLHO ficar, não enxergando todas as possibilidades que, sim, existem; não empreendendo esforços, mesmo que mínimos, para sair do lugar que não me faz mais sentido.

O medo vai existir, vai ser uma constante em nossas vidas, mas um impulso virá à medida que nós nos conectarmos com nossas verdades, mergulhamos fundo no que vai impulsionar a nossa existência. Assim, mesmo diante dos desafios, mesmo com medo, passamos a enfrentá-los com a confiança de que, do outro lado da ponte, sempre terá algo melhor e que nos levará à melhor versão de nós mesmos.

Nós, da Arquitetura RH, definimos a coragem como “jogar-se na intenção, agir com o coração, sem medo de carão, vendo no erro uma lição”. Adoramos desafios novos tanto conhecendo nichos e clientes, quanto criando ferramentas, jogos e metodologias. Buscamos constantemente o que podemos fazer além e, com isso, iniciamos jornadas em mídias diferentes ou reforçamos a equipe com mais mentes criativas. Honramos nossos valores, compartilhando nossa percepção para colaborar com as outras pessoas.

E você, como define e pratica a coragem?

Respire fundo, encontre coragem naquilo que lhe faz sentido e ACREDITE que a sua coragem pode te levar para lugares muito melhores do que os que você já tem habitado! Não deixe a tempestade chegar, seja proativo – CORAGEM!

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Premissas essenciais para você se tornar um Líder Coach

”Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que o desejo dos outros fizeram de mim.”
Fernando Pessoa

A citação acima, do admirável poeta português, traduz a essência do método de coaching. Aprendemos a buscar as respostas para várias de nossas perguntas no mundo de fora. Somos ávidos por respostas prontas, antídotos que parecem fazer efeito como se fossem uma varinha de condão, mas as boas respostas estão mesmo dentro de cada um de nós. Porém, elas geralmente não conseguirão ser encontradas na superfície, precisaremos refletir, ou seja, “cavar o poço” para encontrar o petróleo, onde de fato, ele se encontra. O risco de não nos lançarmos nessa busca é o de vivermos os desejos dos outros, aquilo que de alguma forma traz um benefício para alguém ou para alguns, mas não necessariamente para nós! E é exatamente isso que as técnicas de coaching nos ajudam: a realizarmos mais reflexões!

A liderança pode ser essencial no processo de descobertas de seus liderados. Para isso, precisará ter disposição para não oferecer todas as respostas e, com paciência, fazer as perguntas para levá-los ao encontro da resposta mais produtiva para si – aquela resposta que faz sentido e é genuína! A consequência é que, dessa maneira, podemos encontrar muito mais engajamento.

De acordo com Sztucinski (2001), “Coaching é um relacionamento de ajuda entre um executivo e um profissional (coach) externo. O propósito do relacionamento é facilitar o desejo do executivo (coachee) de atingir suas metas relacionadas com desenvolvimento profissional e, essencialmente, com o resultado da organização”.

De acordo com Rhandy di Stéfano, “Coaching é um processo focado em ações do coachee para a realização de suas metas e desejos. Ações no sentido de desenvolvimento e/ou aprimoramento de suas próprias competências, equipando-o com ferramentas, conhecimento e oportunidades para se expandir. [Compreende] os seguintes processos: investigação, reflexão e conscientização; descoberta pessoal dos pontos fracos e das qualidades; aumento da consciência de si; aumento da capacidade de se responsabilizar pela própria vida.”

O método de coaching, por meio de suas técnicas, facilita às lideranças a geração de mais autonomia nos seus liderados e equipes, quando sua atuação favorece a ampliação de consciência e a tomada de decisões mais produtivas e sustentáveis. Para isso, existem algumas premissas essenciais para colocar a técnica em movimento.

 

 

Premissa 1 – OUVIR ATIVAMENTE

“Quando lhe peço para ouvir e você começa a dar conselhos, você não faz o que estou pedindo. Quando peço que me ouça e você começa e me dizer por que eu não deveria sentir-me assim, você está pisando nos meus sentimentos. Quando lhe peço que me escute e você pensa que tem de fazer alguma coisa para resolver meu problema, você me desaponta, por mais estranho que possa parecer. Escute! Tudo o que pedi foi que você me ouvisse; não que falasse ou fizesse – ouça-me apenas… eu posso fazer. Não sou incapaz. Talvez desanimado e vacilante, mas não incapaz. Quando você faz por mim algo que eu posso e preciso fazer sozinho, você contribui para meu medo e meu sentimento de inadequação. Mas, quando aceita como um fato que eu sinto o que eu estou sentindo, por mais irracional, então posso deixar de tentar convencer você e posso tentar entender o que está por trás desse sentimento irracional. E quando isso fica claro, a resposta é óbvia e eu não preciso de conselhos.”
Ralph Roughton

Ouvir ativamente é essencial para gerar confiança – estamos tão condicionados a uma dinâmica diária de adversidades e pressão por cumprimento de objetivos em tempo escasso que, dificilmente, paramos para ouvir com atenção as pessoas ao nosso redor. Essa constatação, quando refletida no contexto organizacional, pode trazer muitos prejuízos ao pensarmos em desenvolvimento de pessoas. Ao serem procurados por seus liderados, não é incomum observamos gestores que no momento de ouvir aquilo que o liderado lhe traz, acaba por fazer pausas frequentes para atender seus telefones ou mesmo voltar a atenção para seus notebooks. Tal postura, mesmo sendo não verbal, caracteriza uma escuta passiva em que o foco de atenção não está completamente no emissor.

Escutar ativamente significa parar tudo o que se está fazendo e ouvir o que é dito até o final, sem que interrupções sejam feitas. A postura deve ser de olho no olho. Parafrasear aquilo que se ouve demonstra atenção e possibilita maior compreensão. Verbalizar que compreende o que é dito também é importante. Compreender não significa concordar com o que está sendo dito, mas demonstrar que você entende aquilo que a pessoa sente ou pensa ao considerar que a mesma é diferente de você e tem todo o direito de pensar e sentir daquela maneira. Agindo dessa forma, demonstra que você tem empatia, isto é, que você é capaz de “tomar a perspectiva de quem comunica”, considerando sua história de vida, crenças, valores e referenciais e demonstrando, assim, ética do cuidado na condução dessa relação. Procure refletir a partir das questões abaixo o quanto você atende a essa primeira premissa:

“Qual é a sua expressão corporal na maioria das vezes que o seu liderado lhe procura para contar algo? Você para tudo o que está fazendo e volta sua atenção ao outro?”

“Você tem o hábito de “cortar” as pessoas quando estão comunicando algo a você?”

“Você tem o hábito de “tomar a perspectiva do outro”, mesmo que não concorde e mesmo antes de ter uma conclusão a respeito daquilo que lhe foi comunicado?”

 

 

Premissa 2 – A LIMITAÇÃO DOS RÓTULOS

É absolutamente claro que o que as pessoas sentem e pensam está diretamente relacionado às suas crenças, atitudes e pressupostos. O perigoso é quando essas crenças são tidas como absolutas em todas as situações. É a partir daí que surgem os “rótulos”. Rotular o outro tem a ver com a nossa tendência de nos restringirmos à ocorrência de um evento para generalizar este acontecimento para todos os outros que ainda virão.

Por exemplo: um liderado que acabou de ser promovido para outra área e que irá iniciar com um novo gestor. Muito provavelmente, sua promoção se deu pelas excelentes competências demonstradas na função anterior. O gestor que recebe esse novo liderado cria expectativas com relação ao mesmo e, muito provavelmente, tais expectativas serão associadas a um bom desempenho nas novas tarefas que o liderado irá realizar. Ao mudar de contexto, a probabilidade do liderado, nos primeiros dias, ter uma atitude inadequada às tarefas do cargo são maiores, pois ele está em fase de aprendizado. Vamos supor que o liderado tenha cometido um equívoco ao passar uma informação e esse gestor tenha verbalizado: “agora tenho uma pessoa incompetente na minha equipe”. O gestor pré-julgou a atitude do liderado a partir de um evento isolado e então ele passou a tratá-lo levando em consideração que ele terá esta postura incompetente em todas as outras situações.

Quando se pré-julga o outro, dificilmente se realiza desenvolvimento de pessoas, pois desenvolvimento tem a ver com mudança. Rotular é o mesmo que dizer: você é assim e não há possibilidade de mudar. A capacidade de não pré-julgamento tem mais uma vez, relação com empatia. No caso do gestor citado acima, se ele se valesse do exercício da empatia, “tomando a perspectiva do liderado, possivelmente chegasse a conclusão de que se estivesse na mesma situação do liderado, talvez tivesse as mesmas dificuldades e pudesse cometer a mesma ação que fora inadequada aos seus olhos. Sendo assim, conseguiria se conduzir com mais ética do cuidado nessa situação e correria o risco de fazer aflorar as melhores competências e ainda mais engajamento em relação ao seu novo colaborador. Procure refletir:

“Você anda na vida com as lentes da certeza, onde a sua verdade é verdade e pronto? Ou, procura usar as lentes da curiosidade, estando sempre a aberto a visitar a perspectiva de outras pessoas?”

 

“Você costuma averiguar primeiro uma situação antes de emitir uma opinião?”

 

Premissa 3 – PERGUNTAR É OURO!

Já vimos no início desse artigo que para desenvolver as pessoas é preciso potencializar reflexões, levar o outro a pensar e encontrar por si só suas respostas. A tendência dos gestores em consonância com a tão reclamada “falta de tempo” tem levado os mesmos a darem respostas prontas aos liderados. A tendência é a de aconselhar o liderado a agir dessa ou daquela maneira. Agindo dessa forma, existe um condicionamento para que os mesmos criem certa dependência quando se depararem com situações adversas. Sendo assim, sempre retornarão ao líder que mais uma vez terá que formular a resposta.

É importante ressaltar aqui que, em alguns momentos, quando o nível de desenvolvimento do liderado com relação ao entendimento de suas atribuições for baixo, as respostas terão de vir do líder. Mas na medida em que houver compreensão por parte do liderado em relação às tarefas que deverá desempenhar, e houver a necessidade do desenvolvimento de algumas competências comportamentais, a habilidade do gestor em fazer perguntas será de extrema relevância.

Por vezes, as respostas dadas pelo líder fazem pouco sentido aos liderados, pois ao dá-las o líder leva em consideração toda a sua experiência e repertório que são diferentes dos do seu liderado. Algo que deu certo no passado ou em outro contexto pode não ter o mesmo resultado para um novo contexto. Levar o liderado à reflexão o ajuda a criar o seu próprio repertório e traz como benefício a tendência de o mesmo conseguir formular as suas próprias perguntas e respostas frente a situações de maior complexidade. Para refletir:

 

“Você sempre acredita que a sua maneira de fazer as coisas é melhor?”

 

“Sempre que lhe solicitam, tem um bom conselho para dar?”

Por fim, exercitar é essencial!

Caso as reflexões que fez por meio das perguntas consideradas em cada uma das premissas não estejam indo ao encontro das premissas descritas acima e você tem como objetivo ser um líder coach – aquele que, além de atingir suas metas e resultados é capaz de desenvolver sua equipe –,o exercício das atitudes elencadas neste artigo auxiliará bastante.

Ouvir ativamente é a base para estabelecer uma aliança/conexão com seu liderado; ter empatia (tomar a perspectiva do outro e se conduzindo com ética do cuidado) é a principal atitude para não pré-julgar e rotular. E, para ser um bom “perguntador”, é importante não deixar os conselhos e as respostas prontas tomarem conta dos diálogos com os seus liderados.

Espera-se que esse artigo seja os 10% de inspiração para que o leitor exercite os outros 90% que são de transpiração na arte do desenvolvimento de pessoas nas organizações!

Obs.: Este artigo não tem o objetivo de trazer técnicas de coaching, mas convidar o leitor à reflexão sobre essas três premissas essenciais para que um líder coach possa auxiliar seus liderados no desenvolvimento de suas competências.

 

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Liderança Assertiva promovendo o desenvolvimento de equipes por meio da prática da liderança situacional

“Nada é mais desigual que tratamento igual a pessoas desiguais.”
Hersey & Blanchard

‍Grande parte dos líderes deseja uma equipe de alto desempenho, ou seja, com colaboradores que apresentem domínio e comprometimento em relação às atividades sob sua responsabilidade. Todavia, todas as equipes são compostas por um elemento orgânico que naturalmente se modifica – sim! nós, seres humanos. Além da individualidade de cada integrante, há também mudanças pelas quais as empresas se reorganizam e que, como já percebemos, estão cada vez mais rápidas e intensas.

Diante de tantas variáveis, o papel e a responsabilidade dos líderes se destacam tanto na relevância de sua atuação, quanto no impacto positivo e até negativo que se desdobram de forma direta nas suas equipes, e indireta em toda a organização. Dentre várias pesquisas e reflexões promovidas acerca da gestão de pessoas há uma que se destaca, desenvolvida por Hersey & Blanchard: a Liderança Situacional. Esta se distingue das outras teorias por ser a que mais instrumentaliza o condutor na melhoria de performance de suas equipes.

Apesar das nossas expectativas, não é possível contratar funcionários que, como informalmente falamos, “cheguem jogando”. Isto porque, ainda que as habilidades estejam alinhadas e haja muita competência, o contexto é desconhecido, a cultura é nova, os processos têm suas particularidades. E quando há muita proatividade em um ambiente ainda em conhecimento, a probabilidade de erros é proporcionalmente grande.

Quando realizamos movimentações internas, a configuração muda um pouco, mas o resultado se mantém – isto é, o contexto passa a ser comum ainda que as atividades e competências requeridas para a nova posição sejam diferentes e se configurem como novos desafios. Neste exemplo, como no anterior, há similaridades com que o líder deve entender e atuar.

Vamos explorar os pilares desta teoria. Há 3 competências fundamentais para realizá-la, sendo elas: a capacidade de diagnóstico, a persistência e a flexibilidade. A primeira está vinculada diretamente à habilidade analítica, que pode e deve ser desenvolvida ao longo do tempo; é a capacidade de o líder ser um bom diagnosticador. No livro “Psicologia para Administradores”, os autores enfatizam a importância desta competência e as variáveis que estão envolvidas para a realização de um diagnóstico eficaz. Eles citam Schein:

“(…) O gerente bem-sucedido deve ser um bom diagnosticador e saber valorizar o seu espírito de observação. Se as capacidades e os motivos das pessoas que lhe estão subordinadas são tão variáveis, deve ter sensibilidade e capacidade de diagnóstico para poder sentir e apreciar as diferenças.”

Neste diagnóstico, há dois focos de atenção: o quanto de competência e o quanto de compromisso o liderado ou uma equipe tem para realizar determinada tarefa. Por competência, compreende-se o conhecimento e as habilidades que o liderado utiliza para a realização de uma atividade. Já por compromisso, entende-se a combinação da segurança, motivação ou entusiasmo de um liderado relacionado a uma tarefa, bem como a disposição de realizá-la. Perceba a relação entre os dois conceitos:

 

 

 

Considerando todas essas variáveis, entendemos por que os autores intitularam a teoria como Liderança Situacional, pois são diversos os fatores que precisam ser considerados e que compõem uma situação em particular. E a partir do entendimento do contexto, das atividades envolvidas e dos autores, tanto líder quanto o liderado em questão, há um processo de desenvolvimento pessoal adaptando o próprio estilo para o nível de maturidade do indivíduo em relação a um trabalho específico.

Para facilitar, vamos a um exemplo. A maioria dos pais e mães já passou por aquela fase em que precisa ensinar o filho a andar de bicicleta ou nadar. Geralmente, não é muito difícil de fazer o diagnóstico ao iniciarmos a introdução deles na aprendizagem dessas tarefas. Vamos pensar na tarefa nadar. Tendencialmente, as crianças, em dias de calor, ao olharem a piscina e as outras crianças desfrutando das brincadeiras na água, sentem-se muito motivadas a estarem ali. Por outro lado, sem dominarem a tarefa, seus líderes, os pais, correm o risco de ver suas crianças se afogando, caso as deixem ir para a água. Então, por mais motivados e compromissados com a tarefa que estejam, seu nível de competência para realizar a tarefa é baixo. Então, cabe ao líder (pai ou mãe) primeiro ensinar o seu liderado mirim até que ele adquira competência. Nesse caso, teríamos o nosso liderado no nível de desenvolvimento 1 – baixa competência e compromisso variável, porque pode ser baixo ou alto nesse início.

Após este entendimento, o gestor deve investir energia para atuar conforme seu diagnóstico, seja ensinando uma tarefa, direcionando uma conduta ou flexibilizando o grau de acompanhamento e controle. A clareza e a persistência farão a diferença no aprendizado e no desenvolvimento de cada um, e são passos importantes para que cada autor adquira mais maturidade para com diferentes demandas, criando uma trilha de crescimento e sucessão saudável para o grupo.

A terceira e última competência que o líder deve ter é a flexibilidade para adaptar seu estilo de acordo com o nível de desenvolvimento do liderado. É possível perceber que cada líder tem uma tendência no seu estilo de gestão. Porém, é preciso ter consciência desse estilo, para poder adaptá-lo quando ele não é o mais aplicável para o diagnóstico realizado.

O estilo de liderança de um indivíduo é o padrão de comportamento que ele apresenta e é percebido, quando participa da direção de atividades de outros. Existem, de acordo com a teoria, quatro estilos de liderança. Os quatro se referem à combinação de dois comportamentos básicos: Direção e Apoio.

‍Comportamento de direção – refere-se à extensão e à intensidade com as quais o líder, concentrando-se na competência de trabalho da pessoa:

  • organiza e define a estrutura das atividades dos membros do grupo;
  • explica quais atividades cada um deve fazer, onde, quando e como fazê-las;
  • estabelece padrões de organização bem definidos;
  • acompanha atentamente o progresso;
  • proporciona meios para se conseguir a realização do trabalho;
  • dá feedback na forma de redirecionamento;
  • toma decisões isoladamente ou com a participação do grupo.

Comportamento de apoio – refere-se à extensão e à intensidade com as quais o líder, concentrando-se na atitude da pessoa e em suas impressões:

  • ouve atentamente: sonda, esclarece, não julga;
  • discute suas ideias e contribuições;
  • explora alternativas;
  • oferece ajuda e apoia na priorização, gerenciamento de projetos, solução de problemas ou tomada de decisões;
  • estimula o sucesso

Cabe então ao líder identificar o nível de desenvolvimento do liderado, considerando o que já conhece sobre ele, observando seu desempenho, conversando com ele. E também ser flexível o suficiente para utilizar o estilo de liderança mais adequado às suas necessidades. Veja uma matriz que relaciona os comportamentos da liderança:

 

 

A tabela abaixo ajudará a refletir sobre os comportamentos mais adequados para o líder e para o liderado situacional: 

 

O líder poderá ser visto como eficaz ou ineficaz pelos liderados, em função da utilização do estilo certo no momento certo.

Como identificar o momento de mudar de estilo de liderança?

 

 

Assim como as diversas outras teorias, é imprescindível a compreensão dos passos que compõem a sua execução; mas, acima disso, é fator de sucesso se humanizar nesse processo. E com isso queremos dizer se dedicar na relação com o outro, tanto no objetivo de compreender e interagir, quanto na intenção genuína de contribuir com o seu desenvolvimento. Quando entendemos e nos apropriamos da responsabilidade da posição de liderança, conseguimos perceber que nosso papel é contribuir por meio dos outros, isto é, abrir os caminhos e estar a serviço para compartilhar os conhecimentos, direcionar o caminho e apoiar cada integrante da nossa equipe frente às necessidades.

Referências bibliográficas

HERSEY, P.,BLANCHARD, K., Psicologia para administradores São Paulo: EPU Editora, 1986.

BLANCHARD. K.; CARLOS. J.P; RANDOLPH, A. As três chaves do empowerment. Ed. Record.

BLANCHARD, K., RUBENICH, R. Liderança de Alto Nível – Edição Revisada e Ampliada: Como Criar e Liderar Organizações de Alto Desempenho. Editora Bookman, 2011.

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Atitudes que fazem a diferença em tempos de crise

Você está perdendo o sono por conta da crise? Não sabe se continuará empregado ao chegar para mais um dia de trabalho? Quanto essa crise te afeta?

Os profissionais que se mantêm em época de crise são aqueles que pouco se deixam afetar pelas circunstâncias, ou seja, aqueles que têm alto QA. Você sabe o que significa esse termo? Ouvimos muito a respeito do QI (quociente intelectual) e do QE (quociente emocional), mas pouco sobre o QA.

O QA nada mais é do que o Quociente de Adversidade, termo cunhado pelo Dr. Paul Stoltz, presidente da Peak Learning, diretor do Global Resilience Project, considerado um dos 100 pensadores mais influentes do nosso tempo e professor da Harvard Business School.

O autor desenvolveu o Adversity Quotient®, uma ferramenta composta por um questionário que avalia a capacidade das pessoas para lidar com adversidades, a partir de uma pesquisa fundamentada e comprovada cientificamente durante 37 anos, que envolveu mais de 1.500 estudos em mais de 100 universidades, bem como 10 anos de aplicação organizacional em diversas culturas. De acordo com esse estudo, uma pessoa enfrenta, em média, 23 adversidades por dia. A capacidade de lidar com essas situações é diretamente proporcional a um alto ou baixo QA.

 

Entendendo melhor o QA

Para melhor compreensão do papel do QA, é necessário o entendimento dos conceitos que o compõem.

O primeiro deles é o conceito de Resiliência, muitas vezes enfatizado como uma competência no ambiente organizacional. O termo, atualmente empregado no campo comportamental, é emprestado da física, ciência que se refere a ele como a capacidade que um determinado objeto possui de recuperar seu estado original após sofrer um impacto (compressão, expansão ou dobra).

Segundo Carmel, nas ciências humanas utiliza-se “o conceito para descrever a capacidade humana de responder de forma mais consciente aos desafios e dificuldades que aparecem na vida. Pessoas resilientes são aquelas que utilizam sua força, flexibilidade, inteligência e otimismo para enfrentar e superar circunstâncias desfavoráveis”. Ou seja, é a habilidade que uma pessoa tem de superar as adversidades.

O segundo conceito é o de Adversidade. Para o dicionário Houaiss, o termo se refere a uma situação desfavorável, um revés. Por exemplo: ao sair para trabalhar pela manhã, o seu carro não funciona; você não recebeu uma informação importante para compor aquele relatório que você tem de entregar nos próximos dez minutos; até mesmo a crise mundial, que coloca em risco sua permanência no emprego.

Algumas pessoas que possuem alto Quociente Intelectual e um alto Quociente Emocional podem ter suas capacidades minimizadas em situações adversas, caso apresentem um baixo Quociente de Adversidade.

 

Como as pessoas reagem frente às adversidades

De acordo com as pesquisas de Stoltz, boa parte das pessoas, ao passar por adversidades, tendem a comportamentos de culpa, vitimização, atribuição da responsabilidade ao outro. Comportando-se assim, acabam por ficar em suas “zonas de conforto”, mas ao mesmo tempo, correm maior risco de serem “engolidas” por tais adversidades.

O autor do Adversity Quotient® enfatiza que existem três tipos de comportamentos que evidenciam as atitudes das pessoas perante as adversidades.

O primeiro grupo caracteriza os derrotistas ou desistentes; são pessoas que respondem às adversidades como se tivessem pouco ou nenhum tipo de controle sobre elas. Um simples acontecimento acaba com o seu dia e pequenas dificuldades se transformam em grandes problemas. Para este grupo, o foco acaba por ficar no problema e não em possíveis soluções ou, muitas vezes, elas atribuem toda a responsabilidade da solução ao outro.

O segundo diz respeito aos acomodados ou campistas. Este grupo apresenta um QA mais alto que os derrotistas, possuindo um senso de controle razoável. Contudo, tendem a desistir de seus objetivos quando o nível de adversidade é muito grande. São pessoas que se desgastam demais perante as dificuldades enfrentadas, e que tendem a responsabilizar o outro quando as adversidades se acumulam. Os campistas preferem situações que lhes dêem segurança e, com isso, fazem com que não sejam os grandes mobilizadores quando mudanças são requeridas ou impostas.

Os alpinistas caracterizam o terceiro grupo de pessoas enfatizado por Stoltz, aqueles que possuem maior QA. As características desses profissionais são requeridas pela maioria das organizações em cenário de crise mundial. Alpinistas não aceitam que as adversidades os derrotem, são muito focados nos seus propósitos e objetivos e não desistem quando aparecem dificuldades. Continuam se esforçando, melhorando, crescendo e expandindo suas capacidades. Geralmente, são movidos por desafios e assumem sempre a sua parcela de responsabilidade. Ao invés de focarem no problema, investem toda a sua energia pensando em ações voltadas à solução. Ao escalar uma montanha, estão sempre olhando para o topo.


Dicas para se tornar um alpinista em tempos de crise

1) Se a crise ainda não te atingiu, não desperdice energia pensando nas possíveis consequências que podem surgir, caso ela chegue. Ao contrário, invista toda a sua energia pensando em maneiras de ser mais produtivo e se tornar cada vez mais indispensável em sua organização;

2) Caso a crise já tenha atingido o seu contexto profissional, tenha calma e continue investindo sua energia naquilo que é produtivo. Empenhe-se mais em suas atividades rotineiras, explore possibilidades de como você pode influenciar positivamente para atenuar a situação, vá além dos desafios e se mantenha otimista;

3) Mesmo que você tenha sido diretamente atingido pelas dificuldades impostas por momentos de crise, não perca a sua energia se lamentando, procurando culpados ou mesmo se sentindo injustiçado. Se você perdeu seu emprego, por exemplo, invista tempo e energia pensando em outras possibilidades, enviando o seu currículo para sua rede de relacionamento, fazendo pequenos trabalhos que vão ao encontro de sua expertise, enquanto não se recoloca. Estas atitudes o ajudam a não entrar em um “círculo vicioso”. Neste contexto, é possível que existam várias situações que contribuam para que você desanime; o importante é ter atitudes otimistas, positivas frente a todas as adversidades que encontrar, das menores às maiores.

 

A fórmula para se tornar um Alpinista em épocas de crise

Para você se estabelecer, ter sucesso, se destacar, ou se tornar um Alpinista em épocas de crise é importante colocar em prática a seguinte fórmula:


 

Isso quer dizer que o Quociente Intelectual é importante, mas não suficiente para fazer com que uma pessoa enfrente bem a adversidade. Potencializado pelo Quociente Emocional, leva ao equilíbrio razão/emoção. Evita racionalizações inadequadas ou reações emocionais que levam à atitudes impulsivas e impensadas.

Associados ao Quociente de Adversidade, permitem que o indivíduo exercite a resiliência, ou seja, perceba o impacto emocional que aquela situação lhe trouxe, reflita sobre como isso o afeta, pense sobre as alternativas mais produtivas e saudáveis para se lidar com aquela ocorrência e invista energia somente em ações que tenham valor agregado para si e para todos os que o cercam – família, amigos, colegas de trabalho, empresa, etc.

Como se pode perceber, tornar-se um Alpinista começa com a motivação pessoal de fazer uma auto-análise que leve a um processo de aprendizagem e desenvolvimento das habilidades necessárias para responder efetivamente aos desafios e oportunidades impostos pelo contexto.

Envolve reconhecer que nossos comportamentos têm efeitos reais em nossos resultados e conquistas. Leva a pessoa a considerar legítima a necessidade de entender profundamente como sua dinâmica pessoal colabora ou restringe sua atuação, e quais mudanças de comportamento são necessárias.

Como anda seu Quociente de Adversidade? Pense nisso.

[i] Eduardo Carmello é autor do livro “Supere! – a arte de lidar com as adversidades”, São Paulo, Ed. Gente, 2004.

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A perseverança supera o talento e o propósito mobiliza a perseverança!

“Nosso potencial é uma coisa, o que fazemos com ele é outra, bem diferente.”

Dra. Angela Duckworth

Muitos de nós conhecemos pessoas com uma série de talentos, mas não conseguimos percebê-los se transformar em algo produtivo ou de valor para essa pessoa. É fato de dizer que Oscar Schimidt é talentoso na profissão que escolheu, mas será que o “mão santa” teria se tornado quem foi sem ter empreendido todos os esforços que empreendeu nas inúmeras horas que treinou? Possivelmente, ele também tinha o sonho de se ser um atleta reconhecido e as suas realizações talvez tenham superado suas expectativas. Quem não conhece sua história, basta pesquisar o quanto esse atleta treinava!

No livro “Garra – o poder da paixão e da perseverança”, a Dra. Angela Duckworth, por meio de suas pesquisas, demonstra que qualquer pessoa, do jeito certo, pode chegar às mais impressionantes realizações. Um ponto de suas pesquisas chamou muito minha atenção: o cuidado para a valorização excessiva do talento, que pode ser nocivo. Duckworth nos explica os motivos:

“ao focarmos apenas no talento, nós arriscamos deixar tudo o mais fora de visão. Sem querer, passamos a mensagem de que esses outros fatores – como a garra – são menos importantes”.

Já tivemos metodologias de gestão de pessoas enfatizando que deveríamos promover de maneira agressiva os colaboradores mais talentosos e, da mesma maneira, nos desfazer daqueles que apresentavam menor aptidão. Duckworth cita o jornalista Duff McDonald, autor de uma das pesquisas mais completas da McKinsey, em que menciona que o mais correto seria nomear essa filosofia empresarial como “A guerra do bom senso”. Penso que ainda existe pouca valorização para o esforço e muita desistência de pessoas que, em médio e longo prazo, teriam muitas chances de ultrapassar os limites que lhes foram pré-concebidos.

 

Duas histórias sobre esforçados

Não temos uma cultura de valorização do esforço. Na época da faculdade, meu marido sempre me dizia que eu era muito esforçada; ele acompanhava o meu empenho em cada etapa, as horas debruçadas escrevendo os trabalhos nas saudosas, ou nem tão saudosas assim, folhas de almaço – para os mais jovens, eu explico que eram folhas pautadas em que escrevíamos os nossos trabalhos. Sou pré-digital! Por vezes, eu chegava a ficar incomodada com os comentários dele, pois pensava que ele queria dizer que eu não era tão inteligente como ele e que, por isso, precisava me esforçar tanto. Ele era aluno na faculdade de Medicina e realmente não precisava de tantos esforços como eu para ter seus êxitos. De fato, ela é alguém com um nível de inteligência notável. Eu realmente tinha o propósito de me destacar por entregar algo de qualidade e continuar com os meus esforços. Confesso que nunca me senti talentosa em nenhuma área específica, mas alguém que tinha propósitos claros e procurou ir sempre um passo à frente e não desistir, mesmo com a presença das adversidades.

Lembro como se fosse hoje do primeiro dia de aula na Pós-graduação em Administração de Recursos Humanos que fiz na FAAP-SP. Ao observar aquela escola suntuosa, aqueles vitrais maravilhosos, senti um profundo desejo de ser professora e mentalizei que quando terminasse o curso, eu me tornaria sim professora daquela escola. O que ocorreu entre o primeiro e o último dia de aula, a defesa da monografia? Eu me esforcei ao máximo para fazer trabalhos consistentes; lia todas as referências que os professores passavam; investia tempo para fazer trabalhos que pudessem ser diferenciados e agregar valor para a turma e para o professor. Mesmo com o coração batendo fora do peito e a insegurança, eu me candidatava para apresentar os trabalhos. Iniciava sempre muito tensa, mas terminava feliz por ter conseguido dar o melhor de mim. Ficava até o último minuto de cada aula e aproveitava, enquanto o professor arrumava as suas coisas, para lhe fazer perguntas e solicitar mais referências.

 

 

Lembro de trabalhar o dia todo, chegar em casa muito tarde e ainda avançar noite adentro estudando e fazendo os trabalhos. Após um ano e meio de muito esforço, no último dia de aula, ao término da defesa da monografia, o meu querido coordenador, Márcio Amadi (que já não está mais entre nós) convidou-me a ir ao fundo da sala e fez o convite para eu me tornar professora. Foi um dos dias mais felizes da minha vida, porque realmente eu queria aquilo. E daquele dia em diante, honro cada minuto, cada oportunidade que tenho em poder ser professora. E nessa trajetória, entre o primeiro e o último dia de aula, encontrei pessoas que acreditaram em mim – e isso fez muita diferença: Celi Langhi, minha Professora de Metodologia Científica – essa, sim, tem talento; Professora e agora minha sócia, Claudia Serrano; Professor Claudio Queiroz, mestre com as palavras.

No ano passado, tive a oportunidade de conhecer e me inspirar com história de vida do Antonio Raimundo, ou Rai, como muitos o conhecem. Ele me fez refletir o quanto eu estava desistindo rápido demais, desde as pequenas até às grandes coisas e que, com o tempo, eu talvez tenha perdido a minha perseverança. O propósito do Rai tem a ver com a vontade de crescer por meio do estudo. Baiano, de família muito humilde, é o mais velho de dez irmãos. Chegou a passar fome e, desde muito pequeno, precisou encontrar alternativas criativas para ajudar os pais no sustento da casa.

Eu o conheci no Programa de Educação Continuada, da Universidade Corporativa do Esporte Clube Pinheiros. Sempre realizo a aula de abertura desse programa e fiquei logo sabendo que era a quinta vez que ele tinha se inscrito para ser aluno e que somente agora tinha sido sorteado. Ele nunca desistiu. Depois me contaram que ele morava em outra cidade e que para voltar para casa, pegava 3 conduções e gastava 3 horas e meia, sendo que no outro dia, acordava na madrugada para retornar ao trabalho. Com sotaque contagiante, era nítida a felicidade de Rai em estar ali. Depois fiquei sabendo por outra professora do programa, que ele havia ido à aula, mesmo com um problema bucal sério que o levou a ter uma hemorragia. No dia da formatura, eu me interessei em saber um pouco mais sobre a sua história. Ele estava radiante com a conclusão do curso. Contou que aos 40 anos, resolveu voltar a estudar e decidiu prestar o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Muitas pessoas o desestimularam, dizendo que era impossível passar depois de tanto tempo tendo concluído o ensino médio. Mas Rai não acreditou, pois o seu propósito o impulsionava. Sem dinheiro para comprar as apostilas, ele deu um jeito de emprestá-las e estudou o máximo que podia. Resultado: passou e conseguiu uma bolsa de 100%. Não faltou um dia sequer da faculdade e concluiu sua graduação com muito orgulho. Hoje o Rai faz Pós graduação na Fundação Getúlio Vargas e vez ou outra eu recebo mensagens contando sobre seus êxitos.

 

Vou relatar três das mensagens que recebi. A primeira foi que um dos primeiros professores do curso convidou os alunos para estudarem um artigo e, posteriormente, solicitou que um deles fizesse uma apresentação. Ele disse que ninguém se manifestou, todos em silêncio. Ele reuniu toda a sua coragem e foi lá para frente. Enfatizou que não foi tão bem, mas que fez o melhor que podia naquele momento. A segunda mensagem foi para trazer a sua primeira nota, de Marketing Empresarial: 9,1, aprovado com 100% de presença. E a terceira, que até me emocionou: um dos professores, o de Negociação e Conflitos, levou um livro de presente para ele escreveu a seguinte dedicatória: “Ao guerreiro Rai, pela empatia, pelo exemplo de vida, e pela esperança na educação como instrumento de transformação.”

E o que o Rai me inspirou a pensar? Como desisto rápido do que desejo!!! Exemplifico. Entro para pagar uma conta no banco, coisa rápida, leitura digital. Por algum motivo, dá errado, algumas vezes tento novamente, mas logo desisto. O tempo passa e a conta vence. Aí, eu tenho que gerenciar a consequência da tarefa não cumprida. O que tenho feito agora é tentar mais vezes e surpreendentemente, sempre tem dado certo. Fui à uma loja com uma amiga em um outro país. Enquanto ela escolhia algumas coisas, tirou o seu casaco e distraidamente o deixou em algum lugar, estava muito frio lá fora! Após passar as compras no caixa, ela percebeu que tinha perdido o casaco. Fiquei na porta da loja enquanto ela voltava a todos os lugares que passou na busca do casaco. Ela foi e voltou à porta da loja duas vezes; na terceira, ela me chamou para irmos embora, dizendo que estava convencida que não havia mais o que fazer. O casaco aqueceria daquele frio intenso. Imediatamente, lembrei do Rai e o que ele me aconselharia a fazer naquele momento. Eu disse a ela que tentasse só mais uma vez. Ela voltou ao interior da loja e poucos minutos depois, lá veio ela com um sorriso estampado no rosto, exibindo seu casaco. Uma Senhora estava à procura de quem o havia perdido.

 

Tudo isso me faz pensar que boa parte de nós somos muito bons em desistir. Mas por que desistimos tanto e tão facilmente? Lembrei de uma de minhas referências na Psicologia, Viktor Frankl – neuropsiquiatra austríaco, fundador da Logoterapia (fundamentada na busca de sentido da vida), que passou por uma dramática experiência em quatro campos de concentração – quando ele diz a famosa frase: “quem tem um porquê, pode suportar qualquer como.” Será que muitas vezes ficamos tão paralisados pelas adversidades e esquecemos de nos conectar aos nossos porquês, aquilo que fato, nos traria o combustível para perseverar?

Assim eu tenho seguido, sempre me perguntando sobre minha verdadeira intenção e se o que estou passando é um somente um momento a ser superado. Então me conecto ao porquê, respiro, tomo fôlego e sigo em frente. E posso dizer que tenho realizado muito mais nesses últimos dois anos, tenho conseguido concluir muitas coisas que são de meu desejo. Agradeço ao Rai, personagem da vida real, por compartilhar a sua história e me inspirar a ser melhor todos os dias.

 

 

A contabilidade do esforço versus a do talento!

Um dos meus questionamentos, conforme já indaguei acima, tem a ver com o número de vezes que desistimos dos nossos objetivos. Digo “nossos” objetivos e não aqueles que as pessoas nos delegaram. E mais uma vez, a pesquisa da Dra. Angela nos traz muitos esclarecimentos sobre pessoas que chegaram lá e atingiram altos níveis de êxito. Vou expor a explicação sobre o que ela considera em sua teoria:

“O talento é a rapidez com que as habilidades de uma pessoa aumentaram quando ela se esforça. Êxito é o que acontece quando essa pessoa utiliza as habilidades requeridas. É claro que as oportunidades dessa pessoa – por exemplo, ter um excelente treinador ou professor – também são de enorme importância, talvez mais do que qualquer característica individual. Minha teoria não leva em conta essas forças externas, nem a sorte: ela trata da psicologia do êxito. Contudo, como psicologia não é tudo o que importa, minha teoria é incompleta.

E continua…

“(…) Segundo essa teoria, quando consideramos pessoas em circunstâncias idênticas, o resultado obtido por cada uma delas depende somente de duas coisas – talento e esforço. É claro que o talento (a rapidez com que melhorarmos nossas habilidades) é importante. No entanto, o esforço entra nesse cálculo duas vezes, e não apenas uma. O esforço constrói a habilidade. Ao mesmo tempo, o esforço torna a habilidade produtiva.”

Suas pesquisas nos levam a concluir que o esforço tem um impacto duas vezes maior que o talento, e que talento sem esforço é apenas uma habilidade potencial. Para complementar, entendo que o combustível para o esforço é a clareza de propósito em relação a tudo o que intencionamos. Pensando assim, faz muito sentido que alguns de nós, professores de comportamento humano, saiamos provocando nossos alunos para que identifiquem seus propósitos. A minha tese é que, dessa forma, existe maior possibilidade de aumentar seus níveis de perseverança.

O meu propósito em fazer a diferença na vida dos meus alunos tem me levado a querer ser uma melhor professora todos os dias. Então, eu me esforço para ler mais coisas, aprender mais e melhor os conteúdos de aula, de maneira a torná-los cada vez mais úteis e passíveis de serem colocados em prática. Sempre me acho obsoleta e corro atrás para suprir esse gap. O Rai acredita que sempre poderá ir além com a educação e, aos 50 anos, esforça-se muito lendo nos ônibus e metrôs, dormindo menos horas que o recomendado para concluir a sua Pós-graduação.

 

 

Sabemos que a vida é feita de altos e baixos e que o nosso desafio é buscar sempre o equilíbrio. Compreendo que existirão muitos momentos difíceis, que nos levarão a pensamentos e desejos de desistirmos daquilo que realmente queremos. Momentos em que as dificuldades nos distanciarão daquilo que desejamos. Mas precisamos ter em mente, como nos esclarece Dra. Angela Duckworth, que somos tomados por padrões de pensamentos que nos levam a abandonar os nossos objetivos. Pensamentos do tipo: “Isso não vai dar em nada, estou perdendo tempo, as coisas não avançam”. E fica o alerta de que esses pensamentos de desinteresse podem estruturar o comportamento da desistência – embora precisemos entender que, em alguns momentos, sentir-se desinteressado é algo legítimo. Então, o antídoto é para que voltemos nossos pensamentos e atenção aos nossos objetivos – e seguir em frente!

Malika Choppra, no livro “O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria”, escreveu a seguinte frase:

“Dar passos positivos em direção a nossos objetivos – ir do pensamento à ação – proporciona um movimento para a frente, mesmo se for medido em passinhos curtos. Isso infunde confiança e reforça o ímpeto. A vida é cheia de incertezas, mas pôr um pé na frente do outro e ter uma visão de onde podemos chegar é uma forma de assumir o controle e aproveitar todo o potencial disponível”.

E você, tem aproveitado todo o seu potencial? Tem se esforçado mais ou desistido mais? Sabe o que realmente deseja? Cuidado para não ficar “soterrado” na rotina e se levar para um lugar que não gostaria de ter ido. Cuidado com o barulho do mundo de fora que ecoará no mundo de dentro, fazendo com que você não seja capaz e deixe de empreender esforços naquilo que realmente deseja. Não me julgo uma pessoa com muitos talentos, mas sei que meus esforços recorrentes têm me ajudado a ter êxito. E seguirei assim pela vida… sendo esforçada e cheia de propósitos!

Referências bibliográficas

– CHOPPRA, M. O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria. São Paulo: Gente, 2015.

– DUCKWORTH, A. L. Garra: o poder da paixão e da perseverança. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.

– DUCKWORTH, A. L.; PETERSON, C.; MATTHEWS, M. D.; KELLY, D. R. Grit: Perseverance and passion for long-term goals. Journal of Personality and Social Psychology, v. 92, n. 6, p. 1087-1101, 2007.

– FRANKL, V. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Traduzido por Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. 25 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

– PINK, D. H. Motivação 3.0 – os fatores motivacionais para a realização pessoal e profissional. Rio de Janeiro, Elsevier, 2010.

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A inteligência emocional potencializando a sua carreira

Ao acordar em uma segunda-feira pela manhã, quando toca o despertador, qual é o seu sentimento? Qual significado o trabalho tem na sua vida? Ou, como recorrentemente pergunta o meu querido amigo, Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria no Brasil, “Você tem conseguido se divertir enquanto trabalha?”.

 

Se as respostas para essas perguntas não forem as mais produtivas, referencio que você não está sozinho. Uma pesquisa realizada pela Você S/A, em agosto de 2014, com 3254 profissionais de todos os níveis, revelou que 72,4% das pessoas responderam estar desmotivadas no trabalho. Para ser mais específica, a pesquisa relevou que desse grupo de desmotivados, 53,3% responderam estar parcialmente desmotivados, 29% altamente desmotivadas, enquanto os 17,7% restantes, demonstraram estar totalmente desmotivados.

No artigo da Harvard Business Review, “A Liderança do Oceano Azul”, publicado em 2014, é apresentada uma pesquisa do Gallup que traz o dado de que somente 30% dos funcionários aplicam produtivamente seu talento e energia para promover o progresso das empresas em que trabalham. Traz também que 50% das pessoas simplesmente “passam seu tempo na empresa”, enquanto o restante, 20%, mostram seu descontentamento de formas contraproducentes. O Gallup ainda estima que somente os 20% de pessoas altamente desmotivadas custam para a economia americana cerca de meio trilhão de dólares. Esse dado revela que, para as empresas, o prejuízo de ter pessoas desmotivadas é enorme. E para as pessoas que nelas trabalham, quais são as perdas?

Posso afirmar que o prejuízo pessoal não tem sido pequeno. Como consultora que presta serviços a várias empresas nacionais e multinacionais, não é raro observar pessoas adoecendo por conta da relação que estabelecem com o trabalho. Depressão, síndrome do pânico, algumas somatizações, são alguns dos problemas mais recorrentes. Estudo de 2017, um estudo liderado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) estimou que os transtornos depressivos e de ansiedade custam 1 trilhão de dólares à economia global a cada ano em perda de produtividade. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), um dos principais fatores de risco para a saúde mental de trabalhadores são: assédio e bullying, excesso de trabalho, jornadas inflexíveis, ameaça de desemprego, entre outros.

Sabemos que os motivos para esse adoecimento têm várias origens: descontentamento profissional; problemas de relacionamento interpessoal, seja com membros da equipe ou com a liderança; falta de sentido ou mesmo propósito em relação àquilo que fazem, dentre outros. Desde muito pequenos, somos condicionados a pensar acerca da profissão que iremos exercer e, ainda bastante jovens, a tomar uma importante decisão: qual profissão escolher. Essa é uma decisão das mais importantes de nossas vidas, pois passaremos boa parte dela no trabalho. E é a partir desse momento que a inteligência emocional pode nos ajudar!

Compreendendo o que é inteligência emocional

Daniel Goleman, precursor e grande estudioso do assunto, traz a referência de que a inteligência emocional se divide em duas: a intrapessoal e a interpessoal. Por inteligência intrapessoal, o autor esclarece que se trata da relação que nós estabelecemos conosco mesmos – a capacidade de compreendermos nossas próprias emoções e direcionarmos nossos impulsos de maneira produtiva. Por inteligência interpessoal, o autor se refere à capacidade de conseguirmos estabelecer uma boa relação com o outro. A partir dessa definição é importante enfatizar que será impossível ter uma boa relação com o outro, se não conseguirmos ter uma boa relação intrapessoal.

 

De acordo com o exposto acima, a inteligência emocional traz cinco habilidades. Três dizem respeito à inteligência intrapessoal e duas, à inteligência interpessoal. De acordo com Goleman:

Autoconhecimento:
Capacidade de reconhecer e entender seu estado de espírito, emoções, iniciativas e seus efeitos nos outros;

Automotivação:
Paixão pelo trabalho por motivos que transcendem salário e status. Disposição para perseguir metas com vigor e persistência;

Autocontrole:
Capacidade de controlar ou redirecionar impulsos perturbadores e seu estado de humor. Disposição para evitar julgamento precipitado, pensar antes de agir;

Empatia:
Capacidade de entender a formação emocional das outras pessoas. Habilidade de tratar as pessoas de acordo com as suas reações emocionais;

Sensibilidade Social:
‍Proficiência em administrar relações e construir redes de relacionamento. Capacidade de encontrar um denominador comum e estabelecer confiança.


‍Inteligência emocional e carreira

Em agosto de 2014, a Harvard Business Review publicou o artigo “Do propósito ao Impacto”, que fala sobre a liderança com propósito. O artigo enfatiza que especialistas em negócios sustentam que o propósito é a chave para um desempenho excepcional e que psicólogos o percebem como um caminho para um bem-estar maior. Chama a atenção a primeira citação, de Mark Twain, trazida no artigo, acerca de que os“[os] dois dias mais importantes da sua vida são o dia em que você nasce e o dia em que você descobre para quê”.(SNOOK; CRAIG, 2014: p.7).

AUTOMOTIVAÇÃO: Compreender o que de fato nos motiva, aquilo que vai ao encontro dos nossos talentos é a base essencial para que possamos desenvolver uma carreira de sucesso. Procure responder à pergunta: por que você escolheu trabalhar com o que trabalha hoje? Qual o verdadeiro sentido, propósito do que faz? Você encontra facilidade ou dificuldade para exercer o seu trabalho?

Se a sua resposta for sim, ótimo, você conseguiu fazer uma escolha de carreira que lhe traz sentido para acordar todos os dias. Caso sua resposta seja não, sugiro que busque refletir quais foram os momentos profissionais em que se sentiu pleno, ou mesmo tente lembrar o que você dizia que queria ser quando era criança; mas atente-se aos motivos, aos porquês da sua escolha. Eu encontro sentido no meu trabalho, pois ele me oferece a oportunidade de fazer diferença na vida das pessoas, e isso é algo que traz combustível para minha vida. Lembre-se: sempre é tempo de mudar, mas a mudança não precisa se dar em relação ao que faço, ao que tenho de expertise, mas em relação ao porquê, ao propósito do meu trabalho.

AUTOCONHECIMENTO: um de meus alunos do MBA em Finanças na FIA, Danilo Ramos, disse durante uma das aulas que tem ensinado para a filha de 15 anos que: “atualmente, ter inteligência é ter consciência.” Gostei muito dessa reflexão. Quanto conhecimento as pessoas adquirem, mas não têm consciência da melhor maneira de aplicá-lo.

Pensamos tanto em adquirir mais conhecimentos do ponto de vista técnico que, por vezes, esquecemos de refletir sobre a maneira como estamos aplicando esses conhecimentos. Aplicar um conhecimento com arrogância traz o risco de não conseguirmos nos conectar com o outro e obtermos, então, o resultado esperado em um desafio. Sendo assim, a reflexão que se deve fazer aqui é acerca da minha percepção sobre meu estado de espírito e sobre como isso reflete nas outras pessoas. Um exercício que pode ajudar é perguntando às pessoas que estão mais próximas de que forma elas te percebem no dia a dia. Você pode se surpreender com o resultado, caso ainda não tenha um bom autoconhecimento. Por outro lado, essa atitude pode lhe trazer uma importante compreensão sobre os motivos pelos quais você não tem conseguido os resultados esperados.

Uma maneira de você se conhecer melhor é entender seus pontos fortes. Em “Descubra seus pontos fortes”, citado nas referências bibliográficas deste artigo, os autores Buckingham e Clifton propõem um teste para que você identifique, dentre trinta e quatro pontos, quais são os seus cinco mais fortes. Descubra e comece a utilizá-los ainda mais a favor de sua carreira.

AUTOCONTROLE: Em mundo que pede o tempo todo para irmos “mais rápido”, onde tudo é “para ontem”, precisamos tomar alguns cuidados. Até o nosso respirar está mais acelerado, quando sentamos à mesa, não mastigamos os alimentos como deveríamos. Logo, pensar, refletir antes de agir, tem sido raro. Geralmente, reagimos primeiro e compreendemos os efeitos depois, por mais que esses efeitos nos tragam inúmeras consequências, como por exemplo, gerenciar a crise que nós mesmos geramos. Compreender o ponto de vista do outro não significa concordar com ele. Todas as pessoas fazem julgamentos a partir de seus referenciais, que envolvem crenças e valores, atitudes e pressupostos, contudo, não devem ser tidos como absolutos em todas as situações. Se isso ocorre, aparecem os famosos “rótulos”, o que significa restringir a pessoa a uma ocorrência e não observá-la holisticamente, generalizando aquele comportamento para todos os demais.

A reflexão proposta aqui é sobre a importância de você desacelerar um pouco. Fazer exercícios de respiração ou mesmo alguns exercícios simples de meditação, podem lhe ajudar a aquietar a sua voz interior, o grande “barulho” que trazemos conosco e que faz com que não sejamos capazes de perceber adequadamente o que está fora. Muitas pessoas tem dificuldade de fazer meditação e se você é uma delas, escolha apenas fazer mais vezes, algo que lhe traga tranquilidade, que ajude a esvaziar a sua mente em relação aquilo que pode ser trazido apenas como “lixo mental”. Esse exercício irá lhe ajudar a diminuir aquelas emoções negativas que fazem você reagir ao invés de compreender primeiro. Agindo assim, talvez você possa minimizar algumas turbulências que às vezes acontecem durante a sua carreira.

EMPATIA: diferentemente do que ouvimos falar, empatia não é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, pois isso seria quase que impossível, uma vez que não vivenciamos as experiências de outras pessoas. Mary Gordon, uma canadense que tem um projeto incrível que trabalha a diminuição do bullying por meio da empatia, enfatiza que a empatia tem dois lados. O primeiro, é o cognitivo, racional, onde somos capazes de imaginar como o outro se sente. O segundo, é um lado emocional, em que, ao imaginar como o outro se sente, não precisamos julgar e podemos ter a ética do cuidado em relação a ele. A ética do cuidado é quando percebemos que uma pessoa está triste naquele dia e procuramos não tratar de assuntos que a possam aborrecer ainda mais. É quando alguém sabe que você não gosta de muito sal na comida e faz um cardápio, diminuindo ao máximo esse ingrediente. Ética do cuidado, de acordo com a Mary Gordon, gera reciprocidade e reciprocidade gera confiança. Ela enfatiza que a empatia deveria ser viral. Será que se espalharmos o vírus da empatia, poderíamos ter ambientes emocionalmente mais seguros? Eu acredito que sim!

E em que a empatia poderia nos ajudar na carreira? Ao sermos mais empáticos, geramos relações mais produtivas e potencializamos mais confiança nessas relações, melhorando nossa qualidade de vida no trabalho.

SENSIBILIDADE SOCIAL: somos seres que vivem em sociedade, e trazemos uma interdependência para que as coisas possam fluir harmonicamente. Quanto mais nós conseguirmos ter uma boa inteligência intrapessoal, reconhecendo nossas emoções e necessidades mais genuínas, melhor e mais coerente serão as nossas escolhas em relação as nossas redes de relacionamentos. Você escolheu estar em um ambiente de trabalho em que compartilha seus valores com as pessoas que o cercam? Tem administrado os seus relacionamentos de maneira eficaz? Lembre-se que você pode ser um agente importante para potencializar a inteligência emocional no seu ambiente de trabalho. O fato de reunir pessoas para fazer uma atividade de que todas gostam, como o futebol ou cinema, pode aproximá-las e fazer com que elas encontrem pontos em comum que nem tinham ideia de que poderiam existir. Isso gera aproximação e uma rede onde a confiança é potencializada.

Referências bibliográficas

BUCKINGHAM, M.; CLIFTON, O. D. Descubra seus pontos fortes. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.

FRANKL, Viktor. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Tradução Victor Hugo Silveira Lapenta. 18 ed. São Paulo: Ideias & Letras, 2005.

HARVARD BUSINESS REVIEW. On Point: liderando pessoas. Abr/Mai de 2015.

HARVARD BUSINESS REVIEW, Do propósito ao impacto. Escrito por SCOTT, S; NICK, agosto de 2014.

HARVARD BUSINESS REVIEW, A liderança do Oceano Azul. 2014.

QUEM SE IMPORTA. Documentário dirigido por Mara Mourão, produzido pela Mamo Filmes.

REVISTA VOCÊ RH. Edição de agosto, 2014.

https://nacoesunidas.org/oms-empresas-devem-promover-saude-mental-de-funcionarios-no-ambiente-trabalho/

 

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Feedback: muito além da técnica, vamos exercitar o “diálogo transformativo” em três cliques?

 

“Quando nos conectamos com nosso verdadeiro “eu” e com o que acreditamos ser importante, o abismo entre a maneira como nos sentimos e a maneira como nos comportamentos diminui. Começamos a viver a vida sem tantos arrependimentos e sem tantas críticas posteriores.”

Susan David

 

Existem muitos cursos, principalmente de liderança, que ensinam técnicas de como dar e receber feedback. Parto do pressuposto de que as técnicas nos ajudam muito, mas elas por si só podem não funcionar. Explico. Tem uma citação que está no livro “Conversas Decisivas”, de Kerry Patterson, Joseph Grenny, Ron McMillan e Al Switzler que diz: “As pessoas raramente ficam na defensiva por conta do que você está dizendo (conteúdo), elas ficam na defensiva por conta do motivo pelo qual elas pensam que você está dizendo algo (intenção)”. A partir dessa consideração, uma técnica bem empregada não será realmente eficaz quando as pessoas não acreditam que a intenção seja positiva. Para compreendermos melhor essa questão, gostaria de apresentar o que chamo de tripé para um diálogo eficaz ou o que considero um “diálogo transformativo”.

Diálogo transformativo – diálogo implica em que todas as vozes e verdades sejam incluídas e transformativo no sentido de que pode transformar. Em minha perspectiva, transformativo tem a ver com, quando assumimos a liderança, a partir da autogestão e de quem nos tornamos diante do outro e dos fatos, somos capazes de provocar, de forma consciente e atenciosa, uma transformação no contexto, contemplando a solução mais criativa, produtiva e transformativa para mim, para o outro e para o todo, gerenciando a intenção e não iludindo-se nas expectativas. A palavra “transformativa” evoca o empoderamento da ação e responsabilidade frente aos fatos e frente às escolhas.

A seguir, segue uma ilustração do que considero o triângulo ou o tripé do diálogo transformativo, evocando atitudes que podem gerar um círculo virtuoso e mais consciência em relação às escolhas realizadas.

 

Parto do pressuposto de que esse processo traga valor agregado para mim, para o outro e para o contexto. Para isso acontecer, existem algumas questões ou “cliques” que devemos nos atentar:

PARTE 1 – EU: o primeiro “clique”!

Ao iniciar um diálogo, EU tenho que ter clareza da minha intenção. Para isso, preciso responder à pergunta: qual a minha intenção, o que desejo transformar em mim, no outro e/ou no contexto? Quais serão os benefícios para mim, para o outro e para o contexto? Com isso, consigo discriminar quais são os motivos, os porquês pelo qual aquela conversa deverá acontecer. Ainda na perspectiva do EU, existe algo de extrema relevância e um tanto quanto desafiador: o autoconhecimento. Quantas vezes “olhar no espelho” se faz desafiador em nossas vidas?

Na teoria do Pipeline de Liderança, Ram Charam e outros teóricos sustentam a importância de desenvolver as habilidades de um Pipeline antes de passar ao próximo. O primeiro Pipeline sustentado na teoria é o “líder de si”. Nessa perspectiva, o autoconhecimento se faz importante quando sou capaz de discriminar o que, em uma situação específica, tem a ver comigo e o que verdadeiramente diz respeito ao outro.

Pense uma situação que tenha te deixado muito fora de si, em que você foi completamente “sequestrado” por uma emoção negativa como, por exemplo, raiva ou frustração. Ao se conduzir para um diálogo condicionado por essa emoção, você corre os riscos de ser contaminado e a maneira que conduzirá esse processo pode ser desastrosa. Olhar para si e se questionar sobre os motivos de você ter se sentido daquela forma é sempre o primeiro e mais eficaz passo a ser dado. Gosto de pensar na seguinte afirmação: “Não é o que o outro é, mas aquilo que me torno frente ao que o outro é.” Essa reflexão nos aproxima do lugar de responsabilização, para que possamos assumir o nosso espaço de governabilidade frente a determinada situação. Também nos auxilia na discriminação do que é meu e do que é do outro. Vamos a um exemplo.

Há alguns anos recebi um telefonema de um Diretor que se dizia numa situação aflitiva: ia precisar demitir um de seus gestores. “Iza, gostaria de bater um papo com você para saber a sua opinião.” E lá fomos nós para um café e iniciamos o nosso diálogo. Ele me expôs a situação. Disse que não compreendia o que estava acontecendo com o gerente, que nos últimos dias ele havia mudado muito as suas atitudes, que estava agressivo e o afrontando. Eu solicitei que ele fosse mais específico, contando sobre o que havia mudado nas atitudes do seu gestor e o que, de fato, demonstrava que ele o estava afrontando. Antes de prosseguirmos, uma dica: precisamos tomar cuidado quando não temos fatos claros para compreender uma situação que alguém está nos relatando.

E ele prosseguiu trazendo os fatos. “Eu o tenho percebido arredio, ele não alinha comigo, não me comunica sobre as suas ações e decisões e, de repente, sou pego de surpresa…ele mudou o escopo de um projeto que havia alinhado comigo, comunicou todos os coordenadores, sem se quer me reportar. Essa foi a gota d’água, porque fui pego de surpresa na reunião.” Ouvi atentamente o que ele me contava e continuei a fazer perguntas para investigar melhor aquela situação. Quando fazemos perguntas, não estamos somente nos conduzindo para uma melhor compreensão, mas também ajudando o outro a organizar os seus pensamentos e sentimentos.

E segui com a próxima pergunta: “Quais foram as consequências de ele ter tido essa atitude?”. “Como assim, Iza?”, perguntou ele. E eu reforcei que gostaria de saber quais foram as consequências em termos de ter influenciado na performance dele, da equipe e nos resultados de forma geral. Depois de uma longa resposta, ele chegou a conclusão de que ainda não havia tido nenhuma influência, mas…que a sua autoridade estava em jogo. E eu perguntei: “Qual necessidade você tem, que a atitude desse liderado não tem atendido?”. E ele genuinamente respondeu que tinha a necessidade de estar no controle das situações. Senti que estávamos evoluindo na conversa. E então continuei com as minhas perguntas. “Você chegou a investigar o que pode ter acontecido para ele ter tido essa atitude, chegou a ter uma conversa com ele com o objetivo de compreender?”. A resposta foi: “Não, ele deveria saber como agir em situações como essa, isso não é adequado”. Deveria saber….quantas vezes, nós líderes, partimos desse pressuposto? O outro deveria saber…

E continuei… “Você chegou a alinhar com ele sobre as suas expectativas em situações como essa? Quantas vezes ele agiu dessa forma? É recorrente?”. E a pergunta que eu, particularmente, não esperava que ia fazer a diferença para a reflexão dele: “Você tem ideia do que pode ter desencadeado esse comportamento?”. Bem mais calmo que no início de nossa conversa, ele respondeu: “Agora eu me lembrei que ele tinha pedido para conversar comigo umas duas vezes, mas eu não tive tempo de parar, pois estávamos com o Diretor da Global aqui no Brasil. Lembrei que cheguei a me reunir com o Diretor e minha equipe em um dia que ele não estava e parece que isso o incomodou.” E aí eu continuei: “Você já parou para pensar em qual pode ser a necessidade dele que você não tenha atendido para desencadear essas atitudes?”. E depois de uma longa conversa, em que eu me conduzi com ele com a intenção de que ele tivesse a oportunidade de realizar uma autoinvestigação, ele chegou a uma conclusão que entendo como um insight importante para a condução de uma liderança eficaz. “Iza, na verdade ele deve estar se sentindo preterido por mim, pois eu o tenho deixado de escanteio”. Foi a partir dessas palavras que ele se deu conta de que uma necessidade que ele tinha, ser reconhecido em sua autoridade como líder estava sendo colocada em xeque, mas que os motivos pelos quais isso estava acontecendo poderiam ter sido desencadeados pelas suas atitudes.

Como diz Susan David, no livro “Agilidade Emocional”, o Diretor estava “enredado” e as suas emoções poderiam tê-lo tirado do foco. Ao pedir que pudéssemos conversar, ele gerou um tempo de compreensão importante para entender a situação sob uma perspectiva mais ampla. Ele conseguiu chegar na sua “verdade mais genuína.” David traz a importância de nos afastarmos e que “nesse processo é possível criar a distância entre o pensador e o pensamento, entre aquele que sente e o sentimento, o que possibilita que possamos adquirir uma nova perspectiva, nos desenredando e seguindo em frente”.

E por que temos dificuldade em chegar nesse ponto? A Teoria U, de Otto Scharmer, nos ajuda nessa compreensão quando pensamos sobre as Vozes que emergem em cada um dia nós em situações como essa. A primeira delas é a Voz do Julgamento. Julgar é mais fácil, pois distancia a nossa parcela de responsabilidade em relação ao problema. Julgamos e culpamos os outros pelas situações. Suspender a voz do julgamento é o primeiro passo para chegar ao lugar mais produtivo. Depois de suspendermos a voz do julgamento, a segunda voz que nos desafia é a Voz do Cinismo, aquela que nos desconecta da nossa “verdade”. Quantas vezes dizemos para as pessoas aquilo que é contextualmente ou socialmente mais adequado e não aquilo que, de fato, estamos pensando ou sentindo? Não é raro vivermos momentos em que não estava tudo bem em nossa percepção, mas reforçamos ao outro que está tudo certo, contudo ainda sentimos grande desconforto com aquela situação. Essas duas vozes nos protegem de uma voz que não é fácil “enfrentar”, mas ela está ali, lá no fundo do iceberg. Posso dizer que encará-la de frente não é o exercício mais fácil, porém é o mais produtivo. Ao fugirmos dela, não significa que ela deixou de estar ali e quando ativada, pode gerar emoções que nos sequestram e levam a atitudes que não são as mais adequadas. Que voz é essa? A Voz do Medo.

No exemplo com o Diretor fica claro observarmos como essas vozes foram surgindo. De início, ele disse que o seu liderado estava agressivo e o afrontando, e que deveria saber como agir em situações como essas. Após uma autoinvestigação, obviamente impulsionada pelas minhas perguntas, ele conseguiu sair desse lugar. Após suspender a voz do julgamento, e continuar com a autoinvestigação, ele conseguiu atingir o seu lugar de verdade, conectando-se também mais aos fatos do que aos seus sentimentos. “Agora eu me lembrei que ele tinha pedido para conversar comigo umas duas vezes, mas eu não tive tempo de parar, pois estávamos com o Diretor da Global aqui no Brasil. Lembrei que cheguei a me reunir com o Diretor e minha equipe em um dia que ele não estava e parece que isso o incomodou”. Posteriormente, ele avançou ainda mais e conseguiu fazer o “enfrentamento” das suas vulnerabilidades, conectando-se com as suas necessidades e desafios pessoais. Nesse primeiro clique, onde o Diretor passa a compreender qual a sua responsabilidade nessa história, é aberto então o espaço para compreensão do outro: “Iza, na verdade ele deve estar se sentindo preterido por mim, pois eu o tenho deixado de escanteio”. Quão corajoso é conseguirmos chegar nesse lugar de verdade para que possamos exercitar verdadeiramente a empatia? Simples de falar ou escrever, mas desafiador na ação! Temos então o primeiro clique: a conexão com nossas vulnerabilidades e a abertura para que possamos compreender, “empatizar” com o outro e avançarmos rumo às atitudes mais produtivas.

PARTE 2 – EU E O OUTRO: o segundo “clique”!

Parto da premissa que oferecer a nossa verdade para o outro, talvez seja sempre o melhor caminho para a transformação de situação desafiadora em um caminho para a solução. Esse primeiro e importante clique já compreendemos na parte 1. Como diz Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria, chegar para uma interação com a “cabeça limpa”, é fundamental. Ou chegamos de cabeça limpa ou levamos, ainda trazendo expressões “Wellingtonianas” todo o lixo mental que nos habita para aquela interação. Somente conseguimos chegar dessa forma se tivermos caminhado até o primeiro clique.

Gosto da definição que Mary Gordon, uma empreendedora social canadense, nos oferece. Mara Morão, ao registrar histórias de empreendedores sociais pelo mundo no premiado documentário “Quem se Importa”, tem como um dos destaques a história sobre o trabalho de Gordon por meio da empatia, com a intenção de diminuir o bullying nas escolas. O que ela faz? Leva crianças de 2 a 4 meses (com suas mães) para interagirem com crianças de 4 a 14 anos para que essas crianças desenvolvam a capacidade de cuidar. Mary Gordon enfatiza que “o melhor motor para o aprendizado é por meio da experiência”. Particularmente, acho simplista pensar que “empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro”. Gosto da maneira que ela conceitua.

A empreendedora social, apoiada por ideias de outros autores, nos traz a ideia de que a empatia tem dois lados, o cognitivo e o emocional. Para a parte cognitiva da empatia ela fala sobre a importância da tomada de perspectiva do outro. Entendo que, muitas vezes, teremos dificuldade em “tomar a perspectiva” se olharmos pelas nossas lentes, a partir da nossa história de vida, das nossas próprias experiências. Tomar a perspectiva do outro tem a ver com imaginarmos como ele se sente. Ao termos a perspectiva do outro e imaginarmos como ele se sente, abrimos o caminho para acessarmos o lado emocional, agindo a partir da ética do cuidado, isto é, cuidando para não invadir o espaço do outro, conectando com o seu “modelo mental”, seus sentimentos, suas perspectivas, seus anseios, seus medos. Compreendemos até que ponto podemos avançar e em que tempo, demonstramos cuidado genuíno com o bem-estar do outro. E para alcançar esse lugar, o que pode nos ajudar?

Ajuda-nos pensar que eu não preciso interagir com o outro com a intenção de concordar, mas sim de compreender como ele pensa, sente e age, quais os seus verdadeiros motivos. Ouvi, se não estou enganada, na formação em Coaching pelo ICI (Integrated Coaching Institute), do Randhy di Stefano: “por trás de toda ação negativa, tem sempre uma intenção positiva”. Para não polemizar demais essa afirmação, reflito que a intenção é positiva para quem a teve. Seja mascarar uma fragilidade ou até mesmo se dar melhor que o outro em um processo. Gosto de pensar que sempre é preciso compreender o caminho do outro. E só será possível chegar nesse nível de compreensão se eu me disponibilizar a ouvir empaticamente, suspendendo aquela voz que insistirá em nos acompanhar: a voz do julgamento.

Há uns anos fui a uma loja de utensílios domésticos para comprar alguma coisa que nem me lembro mais o que era, pois a experiência se tornou mais importante. Não pensem que eu seja uma exímia dona de casa, mas tenho evoluído nesse quesito. Rispidamente, a moça olhou para mim e disse que não tinha o que eu procurava e, em seguida, fez uma cara de dor. Claro que não concordo em alguém tratar um cliente rispidamente como ela me tratou. Penso até que, apesar de não ter o que eu queria, eu poderia ter me interessado por outras coisas a partir de um atendimento cordial. Mas fui iluminada ao me conectar na expressão de dor a partir da sua feição. Eu estava presente, prestando atenção aos mínimos sinais. Então, perguntei, de maneira verdadeira e genuína: “está tudo bem com você?” Ela respirou fundo, deu um leve sorriso e me respondeu: “menina, estou com uma dor de cabeça.. hoje está difícil”. Entendo um pouco de dores de cabeça, já tive enxaquecas que me tiraram a energia para o trabalho. Perguntei a ela se tinha tomado remédio e ela respondeu que não, que ainda não tinha conseguido sair para ir até uma farmácia. Foi quando me disponibilizei e ofereci o blister de comprimidos que eu tinha na bolsa. Prontamente e com alívio, ela aceitou. E engatamos um papo agradável, compartilhando nossas experiências com as dores de cabeça. Ela perguntou o meu nome e passou a me chamar carinhosamente de Iza, pois ouviu minha amiga me chamando dessa forma. Ela me tratou com o máximo de cordialidade e atenção. E foi assim que nos aproximamos. Comprei um liquidificador e um jogo de xícaras. Para mim, foi surpreendente quando entrei dois meses depois naquela loja, e ela me chamou pelo nome. E foi assim que nos conectamos. Não deixei a raiva tomar conta de mim, ao contrário, escolhi me conectar em uma energia de amorosidade. Nem sempre é fácil…

Esse exemplo demonstra que quando estamos genuinamente disponíveis para a compreensão, abrimos espaço para a conexão e uma possível transformação. Ao compreender que a “dor de cabeça” do outro pode lhe tirar do lugar de percepção sobre os impactos das suas ações, eu “vou até o lugar onde ele habita naquele momento” para ter uma melhor interação, sem me diluir no que é do outro (o incômodo com a dor de cabeça era dela, a ação ríspida era dela) e sem me desviar da minha intenção. Gosto muito de falar sobre intenção e expectativa, mas esse assunto deixo para o meu futuro livro. Lembro que, muitas vezes, deixamos de honrar as nossas intenções por conta de termos as nossas expectativas frustradas. Naquele momento, ter uma interação cordial e amorosa era a minha intenção. Felizmente, consegui manter esse lugar de integridade e consegui transformar a situação. As atitudes do outro não devem servir de “guia” para as minhas atitudes, é importante pensarmos a respeito disso. Obviamente, se eu tivesse em um dia ruim, do tipo que discuti com o marido antes de sair de casa, meu filho está com febre e ainda por cima, bati o meu carro no pilar da garagem, o risco de eu me encontrar em outro estágio emocional seria alto.

Ao nos sentirmos respeitados, mesmo que naquele momento não fomos capazes de manter o respeito na situação, a probabilidade de essa atitude gerar reciprocidade por parte do outro é imensa. Ela foi recíproca a minha maneira de interagir com ela, realizou um atendimento atencioso e de maneira amorosa, fez com que eu me sentisse muito bem. É nessa conexão que temos o segundo clique: duas pessoas genuinamente interessadas em gerar um ambiente seguro para que elas possam se relacionar. E esse ambiente emocionalmente seguro é que proporciona que as pessoas sintam confiança umas nas outras. A mensagem subliminar é: estou aqui com disponibilidade e presença plena, mesmo nos momentos em que você não se conduzir bem.

E após o segundo clique é que geramos a oportunidade de transformação, seja transformar uma relação que não era produtiva, ou uma forma de enxergar e se relacionar com o contexto ou com os fatos. E aí é que vem a agregação de valor que vamos compreender na parte 3.

PARTE 3 – CONTEXTO: os tantos outros cliques possíveis

Líder e liderado não encontram um tempo para dialogar. Por um lado, o liderado pensa no quanto o seu líder não acredita mais no trabalho dele, que o tem deixado de lado. Sente-se muito mal. Tem medo de perder o emprego, afinal de contas, paga a escola de três filhos. Essa aflição toma conta de seus pensamentos. Quando chega em casa é ríspido com a esposa, não dá atenção para os filhos e até chega a ignorar o fato de a filha ter feito um desenho especialmente para ele.

Por outro lado, seu líder tem compreendido as atitudes do liderado como “ele quer passar por cima de minha autoridade”, fica muito incomodado com isso e sente raiva. Como tem poder, é tomado pela sua raiva, tendo atitudes cada vez mais desconectadas do que realmente deseja para si próprio, para o seu liderado e para o contexto. Algum tempo depois, em posse do poder que tem, o líder vai lá e demite o liderado. Sente-se mal algum tempo depois, lembrando do quanto de coisas conquistaram juntos e o quanto esse liderado o ajudou quando teve que lidar com as adversidades da crise econômica. O liderado chega em casa após ter sido demitido, conta para a família, que o acolhe com gentileza e carinho. Sua esposa diz que tudo vai dar certo e seus filhos ficam abraçados a ele, enquanto assistem um filme. Nesse momento, ele se vê diante de um dos piores sentimentos, encontra-se extremamente arrependido pela maneira como tratou a esposa e, surpreendentemente, também se encontra arrependido pelas suas atitudes no trabalho.

E, assim, os dois são tomados pelo mesmo pensamento: da próxima vez vou agir de uma maneira diferente, não me conduzi bem nessa situação, mas me deixei influenciar pelas minhas emoções. Será que precisamos nos colocar em situações desafiadoras para aprendermos a ter melhores atitudes? Gosto de pensar que aprender deveria ser uma ação mais proativa do que reativa.

Susan David enfatiza que as nossas emoções são alertas, que a partir delas podemos no questionar a respeito de qual é o propósito daquela emoção, sobre o que ela está nos dizendo, o que está por trás daquela tristeza, frustração, alegria ou euforia. Ao encararmos dessa maneira, criamos o espaço que precisamos para nos “desenredar”, conseguimos exercitar a meta visão que, de acordo com a autora, significa: “a visão de cima que amplia a perspectiva e o torna sensível ao contexto”.

Felizmente, a desfecho relatado acima não aconteceu dessa forma. Os tantos treinamentos e processos de desenvolvimento a que o Diretor citado se submeteu, também trouxeram a ele a consciência de que, sozinho, ele não ia conseguir se “desenredar” de maneira produtiva. Ele conseguiu, como cita Viktor Frankl, utilizar o espaço entre o estímulo e sua atitude. Conectou suas emoções aos fatos, conseguiu retomar a razão. Pense por esse exemplo, aparentemente simples, quantas desconexões aconteceriam, caso o Diretor tivesse agido a partir de um impulso, tomado por uma emoção negativa, sem ter tido o primeiro clique, sem ter aberto espaço para o segundo clique, o da conexão com o outro.

Encontrei no dicionário online uma definição de conexão, a partir do ponto de vista da eletricidade: “Ligação de uma corrente elétrica que se estabelece por contato; mecanismo que faz essa ligação”. Me empolguei ao pensar que conexão é eletricidade e que o mecanismo seja a empatia. Eletricidade, porque gera transformação. Pense em uma espiral ascendente, o ponto de conexão seria quando incluímos os aprendizados que já temos e transcendemos para um novo nível de consciência, ampliamos a nossa meta visão e compreendemos cada vez mais o impacto que a nossa atitude tem para o contexto. É o curto circuito do bem.

O Diretor volta para o trabalho no dia seguinte, convida o seu liderado para um café e o encoraja a dizer o que ele está sentindo, traz exemplos a respeito de algumas atitudes que não tem sido condizentes com a maneira como ele sempre agiu. Cria um “ambiente emocionalmente seguro”, encorajando o liderado e fazendo perguntas para que ele traga a sua verdade. Ele se sente bem em poder dizer o que está sentindo, compreende as suas emoções e necessidades não atendidas, tem o seu “clique”. Logo em seguida, vem o segundo clique por meio de uma atitude empática de ambos. Depois disso, vem os tantos outros cliques que agregam valor para o contexto. Eles combinam de aperfeiçoar um projeto, de fazer um trabalho com a equipe para melhorar o alinhamento entre áreas. O Diretor se sente um líder empoderado e assume mais a responsabilidade pelo desenvolvimento dos outros gerentes. O liderado resolve fazer uma festa surpresa de aniversário para a esposa e envolve os três filhos nesse empreendimento. Alguns meses depois, eles têm a sensação de que a “roda da vida” está girando de maneira mais leve, que os resultados que almejam para a área estão sendo mais facilmente atingidos.

Ainda sinto a “eletricidade” da conexão com a Maria, a vendedora da loja de utensílios domésticos, o seu olhar de gratidão pelo acolhimento que fui capaz de realizar e a reciprocidade do seu tratamento naquele dia, e por lembrar de mim efetiva e amorosamente me reconhecer ao retornar à loja. Esse fio elétrico tem me condicionado a pensar primeiro e julgar depois. Esse clique ainda se faz presente em mim e espero que nunca se apague.

O meu convite para cada um de vocês que, pacientemente, chegaram ao final dessa leitura é que, juntos, possamos criar uma corrente elétrica tão poderosa que nos ajude na geração de ambientes mais emocionalmente seguros, em que tenhamos menores índices de adoecimento e mais potência para (como diz o meu querido amigo e pensador admirável, Luciano Meira) o florescimento humano.

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Não queremos pessoas perfeitas, queremos pessoas de verdade.

Foi em uma das palestras da minha querida e sábia amiga Fátima Jinnyat que ouvi a frase: “não queremos pessoas perfeitas, queremos pessoas de verdade.” Ela diz muitas coisas que me fazem refletir, mas essa frase me “flechou” de um jeito mais profundo. Naquela semana, também estava lendo o livro da Susan David, Agilidade Emocional (aliás, fica como indicação!) e vi a história de Linda. Ela havia sido diagnosticada com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) e tinha como essencial seus filhos, seus amigos e também adorava dançar. Apesar do sofrimento à medida que os sintomas avançaram, ela escolheu a conexão com aquilo que lhe era essencial. De acordo com que relata Susan, Linda decidiu dançar em vez de lutar e morreu sentindo-se afortunada por ter conseguido viver sua missão.

Quantos de nós caminhamos pela vida sem estarmos conectados com nosso eu mais genuíno?

‍Utilizo o termo conectado para quando conseguimos compreender a luz que trazemos, mas também as nossas sombras, aquela parte de nós que não gostamos muito. Ao negarmos nosso lado sombrio, dispendemos muita energia na tentativa de escondê-lo. Não o encaramos de frente, mas isso não significa que ele deixou de nos habitar. Brené Brown foi outra autora admirável que nos presentou com sua pesquisa sobre o poder de nos abraçarmos com nossa vulnerabilidade para seguirmos inteiros em direção ao que desejamos. Costumo dizer em minhas palestras que as nossas vulnerabilidades podem representar um leão muito bravo e faminto. Ou escolhemos fazer “amizade” com ele, gerenciar seu apetite e o termos aos nossos olhos ou…sem percebermos, de repente, ele nos ataca.

E é exatamente sobre isso a que me refiro: ser inteiro, ser de verdade, ser simplesmente humano, tendo compaixão para se desculpar e aprender com nossos erros, não paralisando, mas avançando e tendo humildade para encarar e gerenciar as nossas vulnerabilidades. Mas por que isso é tão desafiador?

Todos nós, no fundo, temos medo. Medo de sermos rejeitados, de sermos julgados, de não pertencermos a esse ou aquele contexto e aí é que vêm as nossas lutas. Lutamos para não aceitar que o comportamento daquele colega de trabalho nos irrita muito, afinal de contas isso não é nada adequado. Lutamos para não cessar aquela escolha que fizemos e que já não faz mais sentido, para ter aquilo que não representa o nosso ser, para nos adequarmos, para não parecermos diferentes demais. E se você simplesmente se permitisse sentir raiva e se desse a oportunidade de compreender o porquê dessa raiva? Se você tivesse coragem para revisitar escolhas que não te trazem mais felicidade ou motivação? Se procurássemos descobrir aquilo que verdadeiramente nos importa? Se aceitássemos que muitas vezes, ser diferente é só ser diferente e ponto? Que o melhor e mais íntegro que posso fazer por mim é me apresentar como realmente sou, por outro lado, precisarei gostar e aceitar as pessoas por inteiro, com o que considero bom e não tão bom assim? Parece simples, mas nada fácil. Quem disse que o simples é fácil? E qual o caminho?

Por tudo que tenho estudado, considero que o caminho seja único: um mergulho em sua essência, uma disposição genuína para “se encarar de frente”. Só aqueles que conseguem ter uma boa relação consigo mesmos é que terão melhores condições de olhar para o outro sem tantos julgamentos, terão maior predisposição para praticar a compaixão. Se você pensou em autoconhecimento, sim! foi isso mesmo que eu quis dizer.

Termino dizendo que nesse caminho existirão muitas adversidades, das menores às maiores e, ao estar inteiro, você se apresentará mais forte – ou melhor, mais leve – para dançar com elas em vez de lutar. Ao se mostrar de verdade, correrá um sério risco das pessoas lhe amarem, lhe aceitarem e dançarem com você quando passarem juntas pelas dificuldades que a vida apresentar.

E o combustível? Considero que seja a coragem. Como diz Susan David..

‍“Coragem não é a ausência do medo. Coragem é caminhar no medo.”

 

Referências:

David, Susan. Agilidade Emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo, Cultrix, 2018.
Brown, Brené. A coragem de ser imperfeito. Sextante, 2015.

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O que desejam os líderes do futuro?

Curiosos (e apaixonados!) pela visão de jovens líderes, promovemos frequentemente com grupos desse perfil experiências vivenciais, reflexões e rodas de diálogos. Um recente exemplo foi o convite para mediar o encontro Conexão do Bem, liderado pelo executivo Ricardo Ogawa, Country Manager do laboratório farmacêutico Shire. O grupo, composto por jovens executivos de várias empresas, se reúne quatro vezes por ano para discutir os desafios contemporâneos e as atitudes necessárias para gerar mais sustentabilidade nas relações que estabelecemos com o trabalho.

Confesso que sempre me impressiono com as convicções dessa geração de líderes. Os comportamentos e valores para eles essenciais a futuras lideranças não são os mesmos que seriam mencionados em tempos não tão distantes.

Quais são as consequências dessa mudança de necessidades? Ao que as empresas devem estar atentas? Como potencializar essas características dentro da visão de negócio? Talvez as respostas não sejam tão simples e exijam uma pitada de experimentação dentro dos novos modelos.

Abaixo listo os comportamentos e valores mais mencionados por jovens líderes durante os encontros que promovemos.

AS 5 MAIORES NECESSIDADES DAS LIDERANÇAS JOVENS

AUTOCONHECIMENTO

‍‍O termo e sua importância não deixam de ser mencionados em nenhum encontro. Isso porque, na visão dos jovens, quanto mais ampliada a consciência, maior é a compreensão das nossas responsabilidades sobre os fatos. Quando atribuímos a responsabilidade para o outro, ficamos muito menos “empoderados” acerca das mudanças que precisamos empreender para realizar os nossos desejos e objetivos. Eles concluem que muitas lideranças agem inadequadamente por não terem tido a oportunidade de enxergar os fatos sob uma ótica mais ampliada ou mesmo pelo fato de se prenderem a crenças que já foram potencializadoras no passado, mas com a mudança de contexto, passaram a ser limitantes. Ao assumirmos mais as responsabilidades, passamos a ter mais atitudes sustentáveis para as nossas vidas, diminuindo a nossa tendência julgadora ou mesmo de nos percebermos no lugar de “vítimas”.

PROPÓSITO

O que te move? A necessidade de uma conexão genuína com algo maior para motivar e inspirar a execução das atividades, seja dentro de uma organização ou no cotidiano. Como cita Viktor Frankl, “quem tem um porquê, pode suportar qualquer como”. Recentemente durante um projeto para uma fabricante japonesa de automóveis, ouvimos de um colaborador da inspeção final, área responsável pela revisão de todos os detalhes do carro antes que saia para testes e seja enfim repassado ao consumidor: “Minha área é muito importante. Se eu não identificar um parafuso mal apertado, posso matar uma pessoa. A minha função salva vidas.” Isso é propósito.

COERÊNCIA

Incoerência não mobiliza, ou seja, a liderança pelo exemplo é essencial. Essa é aquela liderança que não se constrói com discursos, mas com atitudes. Deve-se tomar cuidado com atitudes impulsivas, pois podem trazer um impacto negativo para os contextos. É necessário fazer mais pausas, respirar mais, sair do trem bala que a vida nos coloca. Processar e questionar o que vem de fora.

AMBIENTE EMOCIONALMENTE SEGURO

‍Com medo não é possível obter equipes criativas, produtivas e com resultados sustentáveis. Abrir espaço para a autenticidade e criatividade é fundamental. Precisamos eliminar os escudos, eles não constroem o futuro desejado. Sem escudos, é possível que exista mais conexão. Nesse sentido, postura assertiva é fundamental: afugentar os receios de dizer a verdade e suas intenções, desde que seja com respeito e cuidado.

DIÁLOGO INTER-GERAÇÕES

A troca entre gerações traz riqueza de perspectivas para equipes. Os jovens trazem os ares da inovação, da velocidade de mudança que, atreladas à experiência e prudência das gerações anteriores são direcionadas para decisões mais assertivas.

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Respeito e tolerância: o diálogo em tempos difíceis

É momento de voltarmos nosso olhar para o impacto de nossas atitudes nos contextos em que estamos inseridos, bem como o impacto dos contextos em nossas vidas. Percebemos certa tensão nesse momento de grande importância para o nosso país. Relações estremecidas entre familiares, amigos, colegas de trabalho. Polarizações de todos os tipos, fake news, ânimos inflamados e pouco respeito e tolerância.

A partir da nossa história de vida, das referências e influências que tivemos, vamos constituindo nossa “visão de mundo” que é sempre pautada por opiniões que nos levam a tomar diversas decisões. É arriscado julgar alguém que tem uma opinião diferente da minha sem levar em consideração os motivos que fizeram com que essa pessoa pensasse, sentisse e agisse daquela maneira. É sempre libertador pensar que eu não preciso concordar com as pessoas, mas a partir do exercício da empatia, eu posso compreendê-las. E, ao compreender alguém, mesmo que não se concorde, passamos a ter uma conexão genuína com o outro e criamos um ambiente emocionalmente seguro e favorável ao diálogo. Mary Gordon, uma empreendedora social que tem um programa em escolas do Canadá para diminuir o bullying por meio da empatia, nos apresenta a seguinte definição:

A empatia tem dois lados: o lado racional, que é a tomada de perspectiva do outro. E o lado emocional, que torna possível ser eticamente cuidadoso com essa relação.

 

 

A ética do cuidado gera reciprocidade e a reciprocidade gera confiança. Ao invés de intolerância, poderíamos buscar a compreensão. Ao invés da polaridade, partirmos do pressuposto que nem tudo é somente bom ou ruim, certo ou errado, que existem formas diferentes de se ver a mesma coisa e que podemos ter aspectos interessantes e não interessantes nas duas perspectivas. E que, talvez, o melhor de cada uma poderia nos trazer uma terceira perspectiva, mais consciente, mais sustentável, porém conectada a um único propósito. Se conversarmos com a maioria dos brasileiros, talvez exista uma convergência em relação ao futuro que queremos. A decisão da escolha é eminente, todos nós deveremos fazer quando escolhemos ir às urnas. Vivemos em uma democracia e vencerá a escolha da maioria. Seremos governados por essa escolha, sendo ou não minoria. A provocação aqui é a de que, se formos minoria, que sejamos uma minoria respeitosa à escolha da maioria, que empreendamos nossas intenções e ações para o propósito de um país melhor. Que passemos a torcer para que o lado escolhido tenha consciência para conduzir suas ações. O equilíbrio sempre será importante, assim como a flexibilidade para visitar outros pontos de vista.

Pode até ser que a sua escolha não seja a da maioria, que você tenha divergências sobre uma ou várias formas de se conduzir importantes assuntos. E aí está então a oportunidade de uma escolha consciente: fazer uma oposição equilibrada, com respeito, diálogo e tolerância, podendo trazer importantes contribuições para as decisões que influenciarão cada um de nós.

Por um Brasil melhor, com respeito, tolerância e diálogo.

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Saúde emocional começa com diálogo na infância

Atualmente, a vida tem nos condicionado a ficar por muito tempo com a sensação de estarmos em um trem bala. Temos muito mais coisas para fazer do que tempo hábil e, por vezes, não vemos o tempo passar, com aquela sensação de estamos no modo “piloto automático” e com certa dificuldade de termos uma boa qualidade de presença.

E as nossas crianças, convivendo com adultos que se apresentam dessa forma, como ficam? Muito tempo no celular, no videogame ou no computador e pouco diálogo com os pais ou outros adultos que a cercam pode trazer prejuízos a sua saúde emocional. Por isso, devemos abrir esses espaços de “prosa” com nossos pequeninos.

Meu filho chega da escola e diz que está com raiva do amiguinho. Eu tenho várias maneiras de lidar com isso e a mais comum é dizendo o quanto é feio sentir raiva e simplesmente interromper o assunto. O adequado seria não julgar a fala dele, dedicar um tempo de qualidade para compreender os motivos pelos quais ele apresenta esse sentimento. Abrir esse espaço faz com que ele possa se organizar emocionalmente, extravasar a emoção negativa, tirando de dentro de si toda essa raiva. Todos nós sentimos raiva, medo, frustração e ao não falarmos sobre isso, esses sentimentos vão acumulando dentro da gente e, quando saem, apresentam-se de maneira descontrolada e inconsciente. Heloisa Capelas, em seu livro, “O mapa da felicidade”, apoiada na teoria de Bob Hoffman, explica que desde criança vamos acumulando essas raivas, que se transformam em mágoas e quando adultos, bastam simples acontecimentos para que elas venham à tona.

Tendo a consciência de abrir espaço para a expressão do sentimento da criança, criamos um caminho para que ela também compreenda e organize suas emoções. Fazer perguntas de compreensão é uma excelente estratégia, apenas precisamos tomar cuidado para não fazermos perguntas de julgamento ou ameaças do tipo:

“você não percebe o quanto é feio pensar assim?”;

 

‍‍“o que pode acontecer com você se a professora souber disso?”.

 

Agindo dessa forma, de maneira natural, criamos confiança para que nossas crianças expressem seus sentimentos, não acumulem raivas ou emoções negativas, potencializando mais saúde emocional para os nossos Capitães do Amanhã!

 

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Como a inteligência emocional pode ajudar a sua carreira?

“Os dois dias mais importantes da sua vida são o dia em que você nasce e o dia em que você descobre para quê”.
Mark Twain

Ao acordar às segundas-feiras pela manhã, quando toca o despertador, qual é o seu sentimento? Qual o significado que o trabalho tem na sua vida?

Se as respostas para essas perguntas não forem as mais produtivas, você não está sozinho. Uma pesquisa realizada pela Você S/A com mais de 3.000 profissionais de todos os níveis, revelou que 72% das pessoas estão desmotivadas no trabalho. O Gallup estima que os 20% de pessoas altamente desmotivadas custem para a economia americana cerca de meio trilhão de dólares. Esse dado demonstra que, para as empresas, o prejuízo de ter pessoas desmotivadas é enorme. Mas e para as pessoas, quais são as perdas?

O prejuízo pessoal não tem sido pequeno. Não é raro observar pessoas adoecendo por conta da relação que estabelecem com o trabalho: depressão, síndrome do pânico, somatizações. Desde muito pequenos, somos condicionados a pensar sobre a profissão que iremos exercer e, ainda bastante jovens, a tomar a importante decisão sobre o rumo que seguiremos. Quando entramos para o universo profissional, tudo parece ficar ainda mais complicado. As responsabilidades, a pressão por resultados, os prazos, tudo nos consome e as coisas, em algum momento, parecem não fazer mais sentido.

Mas qual seria, então, uma alternativa para balizarmos nossas escolhas e a relação que estabelecemos posteriormente com elas? A Inteligência Emocional é um caminho.

‍AFINAL, O QUE É INTELIGÊNCIA EMOCIONAL?

Segundo Daniel Goleman, autor referência no assunto, a inteligência emocional se divide em duas frentes principais: a intrapessoal e a interpessoal. Cada uma delas conta com habilidades distintas e complementares.

E COMO APLICAR TUDO ISSO PARA UMA CARREIRA QUE FAÇA SENTIDO?


AUTOCONHECIMENTO: Compreender o que de fato nos motiva, aquilo que vai ao encontro dos nossos talentos é a base essencial para que possamos desenvolver uma carreira de sucesso. Procure responder à pergunta: por que você escolheu trabalhar com o que trabalha hoje? Qual o verdadeiro sentido, propósito do que faz? Se encontrar uma resposta, ótimo! Você conseguiu fazer uma escolha de carreira que lhe traz sentido para acordar todos os dias. Caso tenha dificuldades e desconfortos com a resposta, sugiro que busque refletir quais foram os momentos profissionais que se sentiu pleno, ou mesmo tente lembrar o que você dizia que queria ser quando era criança, mas atente-se aos motivos, os porquês da sua escolha. Lembre-se: sempre é tempo de mudar, mas a mudança não precisa se dar em relação ao que faço, ao que tenho de expertise, mas em relação ao porquê, ao propósito do meu trabalho.

AUTOMOTIVAÇÃO: Quanto conhecimento as pessoas adquirem, mas não tem consciência da melhor maneira de aplicá-lo? Pensamos tanto em adquirir mais conhecimentos do ponto de vista técnico que, por vezes, esquecemos de refletir sobre a maneira que estamos aplicando esses conhecimentos. Aplicar um conhecimento com arrogância traz o risco de não conseguirmos conectar com o outro e conseguirmos, então, o resultado esperado em um desafio. Sendo assim, que tal refletir: qual a minha percepção do meu estado de espírito e como isso reflete nas outras pessoas? Um exercício que pode ajudar é perguntando para as pessoas que estão mais próximas sobre como elas te percebem no dia a dia. Você pode se surpreender com o resultado, caso ainda não tenha um bom autoconhecimento. Essa atitude pode trazer uma importante compreensão sobre os motivos pelos quais você não tem conseguido os resultados que gostaria.

AUTOCONTROLE: Em mundo que pede o tempo todo para irmos “mais rápido”, onde tudo é “para ontem”, precisamos tomar alguns cuidados. Até o nosso respirar está mais acelerado. Logo, pensar, refletir antes de agir tem sido raro. Geralmente, reagimos primeiro e compreendemos os efeitos depois, por mais que esses efeitos nos tragam inúmeras consequências, como por exemplo, gerenciar a crise que nós mesmos geramos. Compreender o ponto de vista do outro não significa concordar com ele. Todas as pessoas fazem julgamentos a partir de seus referenciais, que envolvem crenças e valores, atitudes e pressupostos. Contudo, não devem ser tidos como absolutos em todas as situações. Se isso ocorre, aparecem os famosos “rótulos”, que restringem a pessoa a uma ocorrência, generalizando aquele comportamento para todos os demais.

EMPATIA: diferentemente do que ouvimos falar, empatia não é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, pois isso seria quase que impossível, uma vez que não vivenciamos as experiências de outras pessoas. Mary Gordon, uma canadense trabalha a diminuição do bullying, enfatiza que a empatia tem dois lados: o racional e o emocional. No primeiro, somos capazes de imaginar como o outro se sente. Em seguida, ao imaginar como o outro se sente, não precisamos julgar e podemos ter em relação a ele a ética do cuidado. A ética do cuidado é quando percebemos que uma pessoa está triste naquele dia e procuramos não tratar de assuntos que a possam aborrecer ainda mais. É quando alguém sabe que você não gosta de muito sal na comida e faz um cardápio tendo o cuidado de diminuir ao máximo esse ingrediente. A ética do cuidado gera reciprocidade e, consequentemente, confiança. Mas como a empatia poderia nos ajudar na carreira? Ao sermos mais empáticos, geramos relações mais produtivas e potencializamos mais confiança nas relações, melhorando a nossa qualidade de vida no trabalho.

SENSIBILIDADE SOCIAL: somos seres que vivemos em sociedade, trazemos uma interdependência para que as coisas possam fluir harmonicamente. Quanto mais nós conseguirmos ter uma boa inteligência intrapessoal, reconhecendo nossas emoções e necessidades mais genuínas, melhor e mais coerente serão as nossas escolhas em relação às nossas redes de relacionamentos. Você escolheu estar em um ambiente de trabalho em que compartilha dos seus valores com as pessoas que o cercam? Tem administrado os seus relacionamentos de maneira eficaz? Lembre-se que você pode ser um agente importante para potencializar a inteligência emocional no seu ambiente de trabalho. O fato de reunir pessoas para fazerem uma atividade que todas gostam, como por exemplo, o futebol ou um cinema, pode aproximar as pessoas e fazer com que encontrem pontos em comum que nem tinham ideia que poderiam existir. Isso aproxima as pessoas e gera uma rede na qual a confiança é potencializada.

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