Autorrespeito e Autocompaixão

Autorrespeito e Autocompaixão

Neste capítulo, compartilho reflexões de como os temas autorrespeito e autocompaixão se inserem em um movimento que pode contribuir para que tenhamos uma vida plena e, porque não dizer, mais feliz. Minha intenção é provocar você, leitor(a), a fazer seu mergulho pessoal, refletindo sobre o significado que tem dado a essas duas palavras e o impacto disso em suas escolhas.

Cláudia Serrano

Falar sobre autorrespeito e autocompaixão é dar um mergulho na própria história e isso pode acontecer em várias fases da vida, mas existem momentos nos quais ele é muito mais profundo. No meu caso, ocorreu quando completei 60 anos, enquanto aguardava o embarque para um voo rumo a Fortaleza, onde eu daria aula para uma turma de pós-graduação.

Estava aproveitando o tempo fazendo algumas atividades no notebook quando ouvi: convidamos para o embarque as prioridades previstas por lei, pessoas idosas a partir dos 60 anos. As palavras idosas e 60 anos pareciam não combinar. Com essa idade, me sentia com toda a energia do mundo, cabeça cheia de ideias, muita vontade de realizar. De qualquer maneira, já que tinha conquistado uma etapa da vida na qual sou considerada “prioridade”, me dirigi para a fila, sob o olhar de algumas pessoas que me viam como se eu fosse uma usurpadora de privilégios por conta de minha genética privilegiada. Entretanto, passei a prestar mais atenção no meu momento e nas mudanças que ele trazia para meu dia a dia. Era importante ajustar meu percurso, e essa atitude pressupõe ressignificar muito do que se pensa. Vamos construindo a nossa história a partir de uma caminhada que fortalece formas de ser que podem ser muito úteis em um instante, mas não serão mais em outro. No meu caso, oriunda de uma família de mulheres fortes, que seguram tudo, matam no peito e fazem o que precisa ser feito, cuidam da casa, do marido, dos filhos, dos pais e, de quebra, sobem na escada para pintar a casa, pendurar o quadro, carregar as compras. Cuidando de tudo e de todos.

Vamos trilhando o caminho e nem sempre prestamos atenção às chamadas que a vida nos dá, como aquela que tive aos 40 e poucos anos, quando uma hérnia de disco, que nem sabia que existia, cansou de me avisar de sua presença com as constantes dores nas costas, que resultaram em uma cirurgia. Tive que ouvir de minha filha: “É, mãe, você não para nunca e o Cara Lá de Cima fez isso”. Uma frase e tanto, mas que não me calou tão fundo quanto deveria. Assim que fiquei bem, voltei com tudo para meu ritmo intenso.

Olho para tudo isso em um momento de profunda reflexão, que descortinou, aos poucos, aspectos que estavam relegados a um segundo plano e remetem às duas palavras deste capítulo: autorrespeito e autocompaixão.

Vamos à primeira. Segundo o dicionário, autorrespeito é o “respeito que alguém tem em relação a si mesmo. Apreço, atenção, consideração ou reverência que alguém tem por si próprio” (DICIONÁRIO, 2023). Autorrespeito implica a capacidade de identificarmos nossas prioridades, sejam elas associadas à mente ou ao corpo. Quando mais jovens, podemos ignorá-las como os períodos necessários de descanso ou o cuidado que se concretiza por meio de atividades físicas e acompanhamento médico. Para alguém que adora o que faz como eu, negligenciar esses aspectos é fácil. Trabalho em primeiro lugar. 

Ironicamente, sempre dei exemplos do valor do autoconhecimento e da autoconsciência (discutidos nos capítulos de Josiane e Ana Clara) para mudança de comportamento. Você sabe da importância de praticar atividade física e vira sócio(a) mantenedor de academia. Paga o plano anual e vai dois meses, quem sabe. Ora, venho de uma trupe de mulheres longevas e tenho o desejo de envelhecer bem. Deveria ter levado isso do saber para a consciência, certo?

Quantas vezes colocamos outras necessidades à frente das nossas? Quantas vezes o tempo aparece como uma “desculpa verdadeira”. Sim, é fato que ele é menor do que tudo o que temos para fazer, mas ele não pode se tornar a desculpa recorrente para não respeitarmos nossas prioridades. Disse sim para aquela reunião bem na hora de ir para a academia? Pensou que hoje trabalhou muito e está cansada(o) demais para ir se exercitar? Disse não para você e não honrou o que realmente importa. Isso pode acontecer de vez em quando, mas já parou para observar que podemos tornar isso algo recorrente? É uma observação que pode levar para a expansão da autoconsciência que, por sua vez, amplia nosso autoconhecimento e nos faz sair do “cabeção” e ir para o coração. Cabeção? Explico: usamos todas as justificativas racionais para o que fazemos, sem parar para sentir verdadeiramente o impacto dessas ações nos nossos desejos e limites.

Qual é a voz que impulsiona você?

Eric Berne (1995), pai da teoria da Análise Transacional, defende que nós desenvolvemos um “Argumento de Vida”, um modo fixo de agir, característico de cada pessoa nas mais variadas situações, destacando-se em uma das cinco categorias de impulsores:

  • Seja perfeito: perfeccionista, exigente, expressão.
  • Seja forte: não demonstra emoções, extremamente responsável, puxa para si as responsabilidades e não pede.
  • Seja apressado: inquieto, sempre pensando no que deve fazer em seguida, quer terminar tudo imediatamente.
  • Seja agradável: sente-se responsável por fazer os outros se sentirem bem, precisa da aprovação dos outros, não sabe dizer “não”.
  • Seja esforçado: está sempre achando dificuldades, não termina as coisas e está sempre se esforçando sem obter muito resultado.

Pelo meu relato anterior, já deu para entender que o seja forte fala alto comigo, tendo como parceiro de coro o seja agradável. Quando em equilíbrio formam uma boa dupla mas, quando se apresentam com muita força, acabam gerando vulnerabilidades.

Sentir-se querido, fazer parte é importante, mas não pode impedir que nosso eu genuíno imponha os limites indispensáveis para que nos posicionemos de maneira consciente diante do que é melhor para nós e para aqueles que estão em nosso entorno. Se agradar os outros passa a ser prioridade, acabamos por ignorar nossas necessidades.

Pare e reflita: qual é o jogo que você tem praticado na vida? Ele estabelece uma relação ganha-ganha?

Onde entra a autocompaixão nessa equação?

A palavra compaixão vem do latim compassio, que significa “o ato de partilhar o sofrimento de outra pessoa”. Isso é importante para que possamos estabelecer relacionamentos empáticos.

A compaixão (assim como outras características positivas)  é uma qualidade inata e sua expressão através da bondade é algo completamente natural. Tudo é uma questão de cultivar o que temos de melhor e conter nossas tendências destrutivas…

(JINPA, 2016)

Compaixão é um olhar para fora, enquanto a autocompaixão é um olhar para dentro. Está associada à resiliência emocional. Permite aceitarmos a nossa natureza humana imperfeita e nos ajuda a controlar a voz de nosso “juiz interior”, que pode assumir um forte tom de crítica. Por isso, é essencial encontrar o equilíbrio para que essa autocrítica seja benefício e não peso.

Mas, em uma sociedade intensa e competitiva como a nossa, nem sempre é tão simples praticar a autocompaixão. Ela precisa estar associada à autoconfiança para que usemos o autorrespeito, de modo a mantermos o controle de nossa vida, a partir de uma visão positiva de nossas fortalezas e vulnerabilidades.

Os benefícios para a saúde mental e física que advêm da autocompaixão nos permitem cuidar melhor de nós e dos outros. Isso me faz lembrar das recomendações de segurança a bordo: quando uma intercorrência faz cair amáscara de oxigênio, devemos colocar primeiro a nossa para depois auxiliarmos os outros. Se não cuidarmos de nós, como poderemos cuidar dos outros?

Autocompaixão não é autocomplacência, autopiedade ou autogratificação

Nada é tão difícil quanto não se enganar a si próprio.

LUDWIG WITTGENSTEIN

Todo mundo já deve ter se justificado por algo que deveria realizar e não fez. Tudo bem, mas o olhar é se essa dinâmica aparece de maneira recorrente, levando a fragilizar a sustentação de uma ideia, ter um viés perceptivo que nos coloca à parte do que deveríamos priorizar para concretizar nossa intenção. Passamos a viver na expectativa, à espera do que gostaríamos que acontecesse e que não está no nosso espaço de governabilidade, ficando confortavelmente em posição de autopiedade.

Joe Dispenza, autor do best-seller Quebrando o hábito de ser você mesmo (2019), nos provoca sobre quanto podemos coibir a mudança pela forma como criamos diferentes estados de ser. Uma experiência cria uma reação emocional que pode se transformar em humor, depois em temperamento e, por fim, molda um traço de personalidade. Memorizamos reações emocionais e respondemos em função delas, por conta das conexões sinápticas de nosso cérebro, e criamos sempre a mesma realidade.

Sentir pena de si mesmo é, como diz uma das palhaças do Doutores da Alegria, ficar umbigado, que é o caminho para a “ruminação” que Susan David ilustra em seu livro Agilidade Emocional (2018). Entramos em um redemoinho mental que nos impede de ter um posicionamento mais saudável e produtivo.

Autocompaixão também não é o mesmo que autogratificação. Pode até ser que, em algum momento, decidamos nos dar um mimo, um agrado. Mas essa atitude não deve se tornar um “tapa-buraco” que nos esquiva de lidar com o que verdadeiramente incomoda.

A autocompaixão remete à compreensão, à aceitação sem julgamento. Por isso também permite que não nos torturemos se, em algum momento, cedemos a um impulso e nos afogamos no agrado de uma barra de chocolate depois de trabalhar muito.

Permanecer em relações desequilibradas ou abusivas, assumindo a culpa por não estar dando certo; estar desconfortável com o próprio corpo, entupindo-se de comida ou entrando em dietas rigorosas; negligenciar necessidades básicas, como sono; colocar-se em uma posição de menos valia, sem valorizar o talento e a capacidade (síndrome do impostor) são indícios da falta de autocompaixão que levam à ausência de autorrespeito.

Autorrespeito e autocompaixão vs maturidade

Em uma sociedade que valoriza a juventude, a beleza, o processo de envelhecimento pode ser complexo, mas também muito libertador. Não há uma chave mágica que leve a aceitar de bate-pronto muitas mudanças que acontecem: aquela roupa na qual nunca mais vou entrar, as marcas do tempo que vejo no espelho, as mudanças corporais que me impõem limites. Se antes ministrava três dias de treinamento e duas noites de aula tranquilamente, agora tenho que me respeitar e entender que esse ritmo não é mais possível.

É necessário não ter receio de demonstrar nossas vulnerabilidades, de pedir ajuda, de colocar limites (primeiro em nós) sem sentir medo, sem ficar com o orgulho ferido. Orgulho é uma falsa proteção disfarçada de força, que nos torna relutantes em procurar apoio.

É fundamental mudar a forma como lidamos com o relógio biológico para adequar nosso jeito de lidar com o tempo marcado pelas horas do dia. Aprendi que posso fazer uma pausa à tarde para um chá sem fazer nada e que isso não é um luxo, mas o produto de uma conquista que os anos vão nos dando.

Como nos ensina a Antroposofia, a cada setênio, há uma nova forma de caminhar. Novas habilidades que também nascem com a maturidade.

 

Cada setênio traz um convite para uma ressignificação e a cada crise vivenciada, uma oportunidade. Cabe a nós escolhermos como atravessaremos nossa jornada. Brigar e resistir é um caminho e contemplar as mudanças e fluir com elas também é.

(ANDRESSA MIIASHIRO)

Esteja bem consigo mesmo(a) e, sobretudo, faça mais do que deixa você feliz.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

(FERNANDO TEIXEIRA DE ANDRADE)

Referências

BERNE, E. Os jogos da vida. Análise transacional e o relacionamento entre as pessoas. Barueri: Nobel, 1995.

DAVID, S. Agilidade emocional. São Paulo: Cultrix, 2018.

DICIONÁRIO on-line da língua portuguesa. Disponível em: <https:// www.dicio.com.br>. Acesso em: 29 abr. de 2023.

DISPENZA, J. Quebrando o hábito de ser você mesmo. Porto Alegre: Citadel Grupo Editorial, 2019.

JINPA, T. Um coração sem medo: porque a compaixão é o segredo mais bem guardado da felicidade. São Paulo:Sextante, 2016.

SAGE, C. Como praticar o autocuidado: cultive o bem-estar e a felici- dade de dentro para fora. Edição do Kindle,2023.

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Autoridade

Autoridade

Neste capítulo, trago uma referência do que pode conduzir a humanidade para o tão necessário processo de evolução: a autoridade para influenciar e sermos  influenciados na direção dos  importantes propósitos que precisamos realizar juntos. Apresento um caminho  para que possamos construir  autoridade, a fim de alcançar, da melhor maneira possível, o futuro desejado.

Izabela Mioto

Eu lhe concedo autoridade porque acredito na sua intenção.

Eu lhe concedo autoridade porque não me sinto ameaçado(a) por você.

Eu lhe concedo autoridade porque você inclui a minha perspectiva.

Eu lhe concedo autoridade, pois vejo coerência em suas atitudes.

E quando lhe concedo autoridade, me percebo melhor, evoluo.

– Izabela Mioto

Autoridade é uma relational skill essencial, pois é capaz de conectar pessoas a bons propósitos. Explico. Parto do princípio de que pessoas que adquiriram níveis de consciência mais elevados, quando conquistam autoridade, facilitam o processo evolutivo da humanidade. Os mais conscientes sobre as condições climáticas podem mobilizar indispensáveis hábitos com o meio ambiente. Aqueles que compreendem como conquistar equilíbrio emocional, quando autorizados, contribuem para diminuir os altos índices de adoecimento emocional. Necessitamos de quem saiba como percorrer o caminho para genuinamente indicar a direção de nobres ideias para a edificação do futuro que desejamos. 

Neste capítulo, enfatizo que existe um processo para que a autoridade seja conquistada. Quem lhe concede autoridade é outro. Você pode até ter poder, mas isso não lhe concede autorização para influenciar outra pessoa na direção do que deseja. Um famoso livro, escrito por James Hunter (2004), O monge e o executivo, ao citar a diferença entre poder e autoridade, explica que ela se dá por meio da capacidade de influenciar as pessoas por meio do respeito que se conquistou. Ao exercer autoridade, por exemplo, uma liderança é capaz de inspirar de maneira positiva seus liderados, pois eles acreditam naquilo que devem realizar e passam a se conduzir de maneira espontânea e automotivada para atingir os resultados. O capítulo sobre Liderança Humanizada, escrito pela idealizadora desta obra, Lucedile Antunes, complementa muito bem o tema da autoridade. Compreender e exercitar a humanidade que nos habita facilita o processo de conexão com os liderados. 

E o poder? Ele, muitas vezes, pode até ser concedido a pessoas que não conquistaram autoridade. Mas o risco que se corre é que uma pessoa se sinta forçada a fazer algo, mesmo não acreditando naquilo. Uma motivação extrínseca pode ser acionada pelo poder, sendo ela um salário no final do mês, o medo de perder um emprego ou, até mesmo, o receio pessoal de não pertencer ou não ser validado(a). Poder deveria andar junto à autoridade. Nosso querido filósofo e professor Mario Sergio Cortella, há algum tempo, citou esta expressão: “Um poder que se serve, em vez de servir, é um poder que não serve”. Nosso poder deveria servir a um propósito que vai além das demandas dos egossistemas. O bom poder combina com alguém capaz de ter uma visão interdependente, mobilizando que se realize algo que seja bom para si, para os outros e que colabore para a evolução dos ecossistemas em que estamos inseridos.

Como construir o caminho da autoridade?

No livro Conversas decisivas, os autores afirmam que “As pessoas raramente ficam na defensiva por conta do que você está dizendo (conteúdo), elas ficam na defensiva por conta do motivo pelo qual elas pensam que você está dizendo algo (intenção)”. A primeira reflexão a se fazer no processo de construção da autoridade é se as pessoas acreditam e compreendem sua intenção. Aqui temos algo simples a se fazer: comunicar a intenção. Ao iniciar uma conversa em que precisa dizer para o outro que uma de suas atitudes não é adequada, você poderia começar dizendo sobre a intenção que tem de ajudar no processo de desenvolvimento do outro e no estabelecimento de melhores relações interpessoais para sua vida.

Um segundo ponto relevante nessa trajetória é mobilizar a percepção de que existe um ambiente emocionalmente seguro nessa relação. Nesse aspecto, a segurança psicológica se faz essencial. Uma pesquisa feita pelo Google, com 180 equipes com bons resultados, que recebeu o título de “Projeto Aristóteles” (APPUS, 2023) e teve o intuito de compreender quais são os principais fatores que mobilizam a alta performance, revelou que o que condiciona uma equipe de sucesso são: segurança psicológica, confiabilidade, estrutura e clareza, significado e impacto. Enfatizo que a segurança psicológica se demonstrou nesse estudo um fator que tem quatro vezes mais impacto do que os demais, isto é, quatro vezes mais impacto para um time se tornar de alta performance.

De acordo com Amy Edmondson (2020), que escreveu A Organização sem medo, segurança psicológica é a crença de que temos um ambiente seguro para corrermos riscos interpessoais; quando nos sentimos confortáveis em nos expressar livremente, sermos nós mesmos, sentimo-nos à vontade para compartilhar nossas preocupações e nossos erros sem medo de constrangimento ou represália. Com segurança psicológica, o outro não se sente ameaçado na relação e não se coloca em uma condição defensiva, mas sim de abertura.

Costumo citar em minhas palestras que, no final do dia, tudo o que nós, seres humanos, desejamos é pertencer e acreditarmos que somos relevantes. Por isso, um terceiro e decisivo passo é substituir julgamentos rígidos pela inclusão de perspectivas. Atenção: por mais que não se concorde com a perspectiva alheia, você pode compreender por que o outro pensa, sente ou age de determinada maneira. Quando há compreensão, o outro não se sente ameaçado e abre espaço para também ouvir e incluir sua perspectiva, concedendo-lhe autoridade.

Geralmente, admiramos pessoas que têm discursos eloquentes, com oratórias dignas de nota, mas perdemos rapidamente essa admiração quando nos damos conta de que suas atitudes são incoerentes com suas palavras. Isso até pode acontecer, pois, nesse caminho, você vai errar, esquecer e ultrapassar limites. Não ignore suas atitudes. Seja humilde, volte atrás, peça desculpas, converse sobre suas inconsistências. Ao se perceber mais humano e menos super-herói, você se conecta com a humanidade que habita em si, o que também facilita a construção de autoridade. Seja coerente, dê exemplo e conquiste admiração por suas atitudes.

Um último ponto citado refere-se ao resultado que a influência gerada por meio da autoridade traz. Você deve se lembrar de um momento na sua vida em que a emoção negativa entrou em cena e quase o sequestrou, desviando sua atitude do que realmente desejava para aquela situação. Foi quando alguém, com tranquilidade e amorosidade, olhou para você, sem julgamento, fez uma pergunta poderosa ou deu um conselho. Aquela fala fez total sentido, porque sentiu que o outro realmente se importava com você. Ele o ajudou a se reconectar com sua intenção, diminuir os níveis de emoção negativa, prometendo uma reflexão crítica e mais racional sobre a situação. Você concedeu autoridade para que ele o influenciasse. E isso fez que você pudesse manter a integridade consigo mesmo(a), com sua intencionalidade. Um sentimento de gratidão, tranquilidade e uma sensação de que tudo estava no seu devido eixo tomou conta de você. E o vínculo com aquela pessoa se fortaleceu. Você evoluiu.

A experiência gerada por uma influência positiva, por meio da autoridade, teria um impacto benéfico até mesmo em nossa saúde. Goleman (2019) enfatiza que nossos relacionamentos moldam não somente nossa experiência, mas também nossa biologia. De acordo com Humberto Maturana e Francisco Varela, no livro A árvore do conhecimento, eu só aprendo quando me conecto – o imperativo da evolução é me conectar. Tudo o que está acontecendo é porque estamos desconectados. Assim, a autoridade permite que a influência ocorra e aumente nossos níveis de conexão, facilitando nosso processo de evolução.

Relato sobre conquista de autoridade

O gerente João chega esbravejando na frente da equipe. Uma das áreas de interface do projeto não tem cumprido o combinado e a entrega, tão importante ao cliente, talvez necessite ser postergada. As pessoas ouviram com atenção o desabafo do líder. Alguns disseram: “Isso é um absurdo, não podemos penalizar nosso trabalho porque os outros são incompetentes”.

O diretor da área entra na sala, fica sabendo do ocorrido. Muda até o semblante, bate na mesa, em sinal de desaprovação. Todos se calam. Ele diz que a ordem é entregar o projeto na data especificada, que todos deveriam ter acompanhado as etapas e que o problema é de todos. Boa parte das pessoas na sala sente-se incompreendida, pois tem consciência de que entregou seu melhor e acha que não é justo ouvir aquilo daquela forma. Ficam desanimadas. 

José, o estagiário, percebe o clima ruim que foi gerado. Ao término da reunião, convida o gerente João para tomar um café na padaria da esquina, a fim de falar sobre o projeto. 

Ele começa a conversa dizendo quanto aprecia a atitude de João em cumprir os prazos e entregar os projetos com o máximo de excelência, reforça sobretudo o que já aprendeu com ele e que tem a intenção de contribuir com uma perspectiva que pode ajudar. José pergunta qual é a opinião dele em relação à sua ideia: mobilizar, temporariamente, uma equipe de trabalho para apoiar a área que está com dificuldades. João responde que não acredita nessa possibilidade, pois o coordenador da área é muito individualista. José faz que sim com a cabeça, mas não desiste. 

Ele busca ampliar a perspectiva de João. “E se você disser a ele que, por ter participado do planejamento inicial, a sua equipe tem informações que podem facilitar? O que nós perderíamos com essa tentativa?”. Estou disposto a fazer parte dessa equipe temporária e lhe digo que, na semana passada, levei uma ideia que vi na faculdade para esse coordenador. E, ontem mesmo, recebi um e-mail agradecendo e que a ideia foi validada. 

Mais calmo, João já cogita essa possibilidade. Chega cedo no dia seguinte e se dirige para a sala desse coordenador. Começa dizendo a ele que tem a intenção de ajudar e que pensou em uma estratégia para não perderem o prazo. Dá a ideia da equipe de apoio temporária. Sem precisar ir adiante, um sorriso se abre e o coordenador diz a João: “Nunca imaginei que você fosse tão empático, que pudesse mobilizar sua equipe para nos ajudar. Muito obrigado, João; fico feliz e aceito”. 

José ousou comunicar sua intenção. Ele demonstrou que validava as atitudes do gerente João, incluiu sua perspectiva e deu exemplo de uma de suas atitudes, revelando coerência naquilo que estava propondo. O resultado? Todos evoluem nesse processo e encontram a forma mais íntegra de resolver os desafios, melhoram os níveis de conexão entre si e ainda entregam seu melhor para o cliente. E tudo isso porque José, o estagiário, construiu o caminho da autoridade. 

E você? Já pensou em que gostaria de ter autoridade? Trilhe esse caminho e contribua com o ciclo de evolução tão necessário. 

Referências

APPUS HR. Inspire-se no Projeto Aristóteles desenvolvido pela Google.
Disponível em: <https://www.appus.com/blog/people-analytics/
projeto-aristoteles/>. Acesso em: 08 jun. de 2023.
EDMONDSON, A. A organização sem medo. Criando segurança psicológica no local de trabalho para aprendizado, inovação e crescimento. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.
GOLEMAN, D. Inteligência social: a ciência revolucionária das relações humanas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.
HUNTER, J. C. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
MATURAMA, H. R.; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento – as bases biológicas da compreensão humana. Palas Athena. Edição original, 2001.
PATTERSON, K.; GRENNY, J.; McMILLAN, R; SWITZLER, A. Conversas decisivas – técnicas para argumentar, persuadir e assumir o controle nos momentos que definem sua carreira. São Paulo: Campus, 2003.

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Para quem você cantou hoje?

Para quem você cantou hoje?

Um estímulo para você viver a sua melhor versão

O grande dia estava chegando! Aquele em que eu poderia, finalmente, prestar a homenagem para a qual estava me preparando havia meses: cantar para a minha irmã a música tão cheia de significado para nós duas, no dia do casamento dela! Passei a véspera daquela data tão especial conversando com a minha mente para me convencer de que conseguiria cantar e não teria medo. Afinal, eu estava ensaiando duas vezes por semana, com uma professora incrível, nos últimos seis meses. Fui acordada várias vezes por uma voz que me dizia: “Desista, poupe-se dessa vergonha, dessa exposição. Você não precisa disso. Depois, você canta só para a sua irmã e não na frente de um monte de gente”.

A festa foi incrível. Minha irmã estava linda, feliz, um verdadeiro encanto! E eu, apesar de toda a dedicação, não cantei. Ameacei algumas vezes pedir o microfone, mas a voz interna do medo e da vergonha foi mais alta que a voz do amor e da coragem. Fiquei triste, frustrada e me sentindo uma perdedora. Para me perdoar, usei como desculpas minha gestação – eu estava grávida de sete meses – e o fato de que a respiração fica mais curta, o que dificulta ainda mais para uma cantora amadora como eu. Mas sei que foi apenas uma desculpa, o que não alivia a minha consciência.

Já aconteceu com você alguma situação semelhante a essa, em que esperava ansiosamente por algo e, na hora, não conseguiu fazer o que havia planejado? Eu diria que, provavelmente, sim!

Na verdade, arrisco a dizer que, com certeza, sim. E minha afirmação possui embasamento científico. Está comprovado que, constantemente, existe uma batalha acontecendo em nossa mente – de um lado, a parte que é nossa melhor amiga, “Sábia”, aquela que tem acesso aos nossos talentos, potencialidades, aos poderes mentais, inclusive os inexplorados. É a voz também da autenticidade, do equilíbrio e das emoções positivas. De outro, a parte responsável pela maioria do seu sofrimento na vida: “Sabotadora”, a qual, assim como a anterior, todos nós temos. Ela sempre coloca nossas habilidades e das outras pessoas em dúvida, questiona nossa autoconfiança, ameaça nossas potencialidades, fazendo com que nós hesitemos até sobre a intenção de quem está perto de nós. Como nos saímos dessa luta e para quem permitimos maior espaço e comando das decisões e atitudes é o que vai definir o tipo de vida que teremos, o quão feliz seremos e quanto do nosso potencial conseguiremos atingir.

Inteligência Positiva – o que é?

Quem apresenta esse conceito de forma detalhada, propositiva e prática é o professor Shirzad Chamine, da Universidade de Stanford e autor do livro com esse mesmo nome. Ele define a Inteligência Positiva como uma indicação do controle que você tem sobre a sua própria mente, ou seja, quão bem usa a sua mente a seu favor. Ela é fruto de um conhecimento construído a partir da Neurociência, da Psicologia Positiva, da Psicologia Cognitiva e da Ciência do Desempenho e pode ser entendida como a capacidade de se autogerenciar, ou seja, a habilidade que você tem de gerenciar, principalmente, seus pensamentos e suas emoções. A Inteligência Positiva também pode ser compreendida a partir da percepção de qual é a voz predominante em sua mente, considerando que temos duas tendências principais, sendo a primeira: aquela que o coloca para cima, agindo a seu favor, de maneira favorável a você e aos outros; e a segunda: aquela que o põe pra baixo e o sabota, transformando sua mente em sua pior inimiga. Essa percepção de qual voz está mais forte, falando mais alto na sua mente, pode ser medida pelo “Quociente de Inteligência Positiva” ou QP. Trata-se do índice objetivo que indica quanto tempo, em percentual, sua mente está agindo como sua melhor amiga, em vez de sua inimiga.

Quem desenvolve um nível alto de Inteligência Positiva, ou um alto QP, consegue gerenciar essas duas vozes para que a positiva, que chamamos de Sábia, prevaleça, mobilizando suas ações e, é claro, seus resultados do ponto de vista pessoal e profissional.

A boa notícia é que existem ferramentas que podem nos ajudar a aumentar nosso nível de Inteligência Positiva e, com isso, atingir o sucesso pleno com felicidade duradoura. Para isso, mais do que conhecer é importante aplicá-las. Essa é a única forma de se beneficiar de todo esse estudo que foi feito. Por isso, na Arquitetura RH, ajustamos a nomenclatura de Inteligência Positiva para Atitude Positiva, pois preconiza a ação como ponto fundamental.

A aplicação das ferramentas da Atitude Positiva pode ocorrer de diversas maneiras, tendo como estratégias principais: fortalecer a voz positiva (Sábia); minimizar a voz negativa (Sabotadora) e desenvolver a musculatura mental.

Fortalecendo a voz positiva (Sábia)

Suponha que você acabou de cometer um erro grave em algo importante na sua vida. A voz Sábia, movida pela empatia, vai primeiro se solidarizar com você – afinal, você é humano e, portanto, pode cometer erros, o que não o torna uma pessoa menos incrível. Você, então, se sente melhor e se abre para explorar o que aconteceu e onde errou, em vez de ficar se julgando, se criticando e se culpando. Com isso, essa voz o impulsiona a chegar a soluções inovadoras para se sair melhor da próxima vez. Vai ter mais energia para navegar entre as soluções e escolher o caminho que melhor se encaixe em seus valores e objetivos. Conseguirá, assim, agir de maneira decisiva e focada, alcançando melhores resultados, sem ter desperdiçado energia remoendo e sofrendo com o que já passou.

Sábia é a voz da sua essência, é a expressão das suas potencialidades, forças, qualidades, valores e do seu propósito. É a expressão daquilo que o torna único, especial. Ela é movida pela empatia, pela alegria de explorar as possibilidades, pelo desejo de criar e de se inspirar, pela vontade de contribuir e de encontrar significados construtivos, até mesmo durante crises. Para essa voz, que habita a mente de todos nós, os obstáculos que aparecem na nossa vida são chances para aprendermos, para ficarmos mais fortes e para nos inspirarmos a viver melhor. Ela aceita os fatos, em vez de negá-los, rejeitá-los ou ressenti-los e encara todos os resultados e circunstâncias como dádivas e oportunidades, considerando até situações extremas. Há diversos exemplos e pesquisas que corroboram com essa metodologia, desde a mais simples circunstância até casos de pessoas que passaram por tragédias e as transformaram em missão e inspiração. 

Para fortalecer a voz Sábia, quando estiver diante de um obstáculo ou problema, busque ter empatia por você, compaixão, explorar a situação com curiosidade e abertura. Assim, conseguirá aprender e se fortalecer para enfrentar novos desafios de modo mais leve e positivo, evoluindo constantemente.

Apesar de parecer simples, essa atitude ainda não é comum. Segundo Shirzad Chamine, apenas 20% da população consegue passar a maior parte do tempo com a voz positiva no comando de suas vidas. Essas pessoas, graças à autorregulação que têm da própria mente, conseguem atingir o seu máximo potencial. Os outros 80% da população estão majoritariamente infelizes e desconectados da sua Atitude Positiva. Isso porque na mente delas, o que prevalece é a voz negativa, a Sabotadora. Acesse o link para saber quanto a sua mente está funcionando a partir da vos sábia.

Minimizando a voz negativa (Sabotadora)

Um conjunto de padrões mentais automáticos e habituais, que se apresenta em diversos modelos pré-formatados, cada um com características, crenças e suposições que atuam de forma contraproducente, diminuindo suas oportunidades e resultados, além, é claro, do seu bem-estar. Isto é, agem contra o que é melhor para você, essa é a voz Sabotadora, que se mostra em diferentes abordagens improdutivas.

A formação dela é um processo orgânico, que ocorre durante o primeiro estágio de nosso desenvolvimento mental, na infância. Ela nasce para ser nossa amiga, nos ajudando e protegendo de ameaças físicas e, principalmente, emocionais. Sabe quando era pequeno e respondeu em sala uma pergunta errada? Você imediatamente ficou constrangido e se sentiu ameaçado, criando a oportunidade perfeita para essa voz Sabotadora se manifestar, como uma estratégia de sobrevivência criada pela sua mente para protegê-lo de passar vergonha novamente ou de se sentir mal. 

Na vida adulta, essa Sabotadora pode se manifestar de diversas maneiras: criticando, tentando convencê-lo de que não é bom o suficiente, fazendo você se sentir uma vítima injustiçada e por aí vai. Dentre todas as manifestações, foram definidas dez categorias de vozes sabotadoras que consolidam características específicas, sendo elas: Crítica, Prestativa, Hipervigilante, Hiper-realizadora, Controladora, Insistente, Esquiva, Vítima, Inquieta e Hiper-racional. Essas vozes vão fazendo com que nós criemos máscaras protetoras e nos afastando da nossa essência, diminuindo a autoestima e a confiança. Elas são as maiores responsáveis pelo nosso sofrimento na vida adulta.

Quando não aprendemos a trabalhar essas manifestações e a gerenciar nossa mente, perdemos oportunidades de ser quem somos verdadeiramente e de nos expressar com autenticidade. Nem mesmo os melhores pais e mães conseguem nos proteger desse drama mental. Não somos, definitivamente, educados para lidar com as emoções na infância e isso se agrava na idade adulta, com mais estímulos, responsabilidades, desafios e, é claro, muito mais complexidade. Por isso, fortalecer a voz sábia e desenvolver a musculatura mental é tão importante. Quer saber quais são os seus sabotadores principais? Acesse o link para saber quais são os seus sabotares principais.

Desenvolvendo a musculatura mental

As vozes sabotadoras nunca vão embora, eles continuam vivendo na nossa mente. Por isso, é a prática, ou seja, o exercício constante da musculatura mental, que vai permitir diminuir o volume delas. A conquista da boa forma mental funciona da mesma maneira que a da boa forma física: praticamos academia e levantamos pesos de modo rotineiro, disciplinado e focado para, com o tempo, ganharmos a musculatura desejada. Essa Academia Mental é fundamental para a criação dos novos músculos e caminhos cerebrais, permitindo uma reprogramação mental e o desenvolvimento de novos hábitos.

Seu funcionamento ocorre a partir da realização diversos exercícios ao longo do dia quando você se conecta com o presente, com uma mente tranquila e atenta ao aqui e agora e não fica preso ao passado ou ansioso com o futuro. Afinal, uma mente cheia faz você perder a vida que está acontecendo no momento. Isso significa, por exemplo: escovar os dentes de forma presente; fazer respirações conscientes ao longo do dia; meditar para aqueles que já tem esse hábito; se alimentar percebendo cada alimento e sabor; entre outras tantas possibilidades.

Com a musculatura mental forte, quando você estiver diante de um desafio, será mais fácil trazer à tona a voz Sábia que está aí com você, para que ela acolha você com empatia quando errar, o ajude a explorar o erro com curiosidade para aprender; a pensar fora da caixa e inovar; a navegar pelas possibilidades e a tomar as melhores decisões honrando sua integridade.

Afinal, qual caminho você escolhe? Essa decisão é só sua!

Adotando uma Atitude Positiva, você poderá viver com fluidez, leveza e muita sabedoria, acessando seu máximo potencial e desfrutando de cada experiência. Deixo a você, então, um convite: que tal praticar e escolher ouvir a voz Sábia, deixando que ela assuma o comando e fazendo da sua mente a sua melhor amiga? Veja a beleza na sua essência.

Pare um instante e faça uma respiração mais profunda. Se quiser, feche os olhos e imagine como seria a sua vida se vivesse o seu verdadeiro eu, sua essência, seu potencial, sua voz Sábia. Qual o impacto para si mesmo, as pessoas ao seu entorno e a sociedade? O que mudaria? O que se tornaria possível? Você é especial, único e única, um ser magnífico! Está na hora de se lembrar disso e não esquecer mais!

Como na frase de Oliver Wendell Holmes, “muitas pessoas morrem com sua música ainda dentro delas, não tocada”. Eu fortaleci minha voz Sábia, silenciei as críticas Sabotadoras e, finalmente, cantei para a minha irmã! E você, quando e para quem vai cantar sua música?

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Qual é a sua intenção?

Qual é a sua intenção?

A melhor solução para um problema é aquela que você pode encontrar dentro de si. Essa é uma reflexão rápida para estimular mais momentos de felicidade em sua vida.

 

Por um lado, há uma ligação íntima e dinâmica entre como percebemos nós mesmos, os outros e o entorno e, por outro, a maneira pela qual experienciamos tudo isso. Essa percepção influencia o modo como agimos. Em outras palavras, nossas emoções definem nosso comportamento, pensamentos e percepções. A visão de mundo pode ser completamente diferente para duas pessoas na mesma vizinhança, com o mesmo nível socioeconômico, se elas tiverem perspectivas opostas. Buda (563-483 a.C.) reforça esse entendimento, que já é comprovado cientificamente, quando citou: “Nós criamos o mundo com nossos pensamentos”. Ele percebeu que nossos pensamentos, nossas emoções e nossas ações são as principais fontes de sofrimento, mas também de nossa alegria e nossa liberdade.

 

Tudo o que reside dentro de nós constrói aquilo que habitará outros espaços, contextos e pessoas, isto é, a partir de como nos relacionamentos conosco expressamos comportamentos e entendemos sinais. Nossas relações interpessoais são dependentes e influenciadas pela forma como nos encontramos internamente, ainda que nossas emoções não sejam explícitas; pelo contrário, estejam reprimidas.

 

“Qualquer um pode ver que pretender e não agir quando podemos não é realmente pretender, e amar e não fazer o bem quando podemos não é realmente amar”, afirmou o filósofo sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772). Quando nossas aspirações incluem o bem-estar e a felicidade de outros, nossas ações e nossa vida como um todo adquirem um propósito maior que nossa existência individual. 

 

Há diversas técnicas, métodos e conhecimentos que podem fazer a diferença em nossa vida e na de outras pessoas, inclusive hábitos de motivação e intenção.

 

Motivação para fazer algo é uma ou mais razões por trás daquele comportamento, a fonte de nosso desejo e o ímpeto de realizá-lo, ou seja, tudo que nos anima e pode ser estimulado a partir de um ciclo de desejo e recompensa.

 

Já a intenção é a articulação de uma meta consciente. Ela pode influenciar nosso humor, nossos pensamentos e sentimentos. Portanto, se estabelecermos uma intenção pela manhã, criamos o tom do dia e escolhemos o tipo de experiência que queremos ter. Podemos incorporar esse hábito e potencializar o nosso bem-estar. É algo simples, mas não necessariamente fácil. 

 

Esse pequeno passo que está acessível a todos demanda disciplina, assim como dedicar mais tempo às reflexões.

 

Quando estabelecemos uma intenção pela manhã, precisamos completar o ciclo que foi iniciado com uma avaliação, isto é, ao final do dia se reconectar com o propósito estabelecido, investigando de forma curiosa e não julgadora, como foi materializado ou não e se alegrando com o que foi conquistado. Para viver nossa intenção de forma verdadeira, é necessário estabelecê-la e restabelecê-la sempre. Uma grande oportunidade é encontrar forças e motivação nesta avaliação. Contudo, podemos não alcançar essa meta e, quando isso acontece, é fundamental não nos penalizarmos com julgamentos negativos ou autocríticas. Devemos apenas reconhecer a diferença entre intenção e ação e tentar de novo no dia seguinte. Esse ato contínuo nos mostra que temos uma escolha que, por si só, pode nos dar uma sensação mais intensa de controle.

 

Trata-se de uma consciência que nos deixa mais atentos e possibilita novas oportunidades para que pensamentos e ações cotidianas estejam mais alinhados com nossas metas.

 

Há benefícios adicionais, como o autoconhecimento e a autopercepção, para identificar situações e momentos, nos quais ainda temos a possibilidade de nos autorregularmos, em vez de transformarmos nossas emoções em atitudes impulsivas ou até desastrosas.

 

Também nos leva a ter mais confiança, segurança e, é claro, potencializar as relações com todos, inclusive conosco.

 

E antes de encerrarmos essa provocação, tenha em mente que é essencial estabelecer uma intenção, mas também é importante saber qual intenção estabelecemos. Todos nós já enumeramos muitas metas, desde planos de carreira, estudos até dietas e mudanças de hábitos de saúde. Sabemos que uma intenção, mesmo que seja realmente sincera e boa, está muito longe de ser um fato consumado. Em nosso cotidiano, a relação entre nossas intenções conscientes e nossas motivações não tão conscientes que influenciam nossos pensamentos e ações é complexa. Contudo, com consciência e reflexão persistentes podemos tornar nossas motivações cada vez mais alinhadas com nossas intenções. 

 

E há um modo simples sugerido pelo Dalai Lama que facilita muito a verificação das nossas motivações. Ele pede que façamos estas três perguntas:

1. Isso é só para mim ou para os outros?

2. Pelo benefício de pouco ou de muitos?

3. Para agora ou para o futuro?

Essas perguntas nos ajudam a esclarecer com objetividade e critério, novamente sem julgamento, nossas motivações. Assim como trazem compaixão a nossos pensares e atitudes. Podemos usar esse método antes de uma ação, decisão, enquanto já estamos realizando ou mesmo ao final do dia. Lembre-se de que sempre haverá a oportunidade de restabelecer nossa intenção com a chance de agir de acordo com ela, pois amanhã é sempre uma oportunidade de aplicar o aprendizado de hoje.

 

Um provérbio tibetiano já dizia: “Ficamos à mercê de nossos pensamentos e nossos pensamentos ficam à mercê de nossas emoções negativas e dessa maneira nós sabotamos”. Quando podemos aquietar a mente e não a perturbar com nossas rajadas costumeiras de pensamentos – expectativas, apreensões e julgamentos – enxergarmos a verdade dos fatos com maior clareza, descobrimos o que realmente importa, o que serve a nosso propósito e o que precisamos fazer.

 

Com frequência somos nossa própria “pessoa difícil”. Por isso, meu convite é para que você inclua, junto comigo, um pequeno hábito que pode promover um grande resultado na sua jornada. Vamos tentar hoje?

Nota: Esse texto foi criado a partir de muitos recortes de Um coração sem medo, de Thupten Jinpa. Tomei a liberdade de construir uma sequência cronológica diferente do que se apresenta na obra, bem como ajustar e incluir novos trechos. Caso tenha gostado, leia o citado livro na íntegra. Ele traz muitas oportunidades de aprofundamento acerca da Compaixão, bem como exercícios e práticas para impulsionar sua conexão consigo, com os outros e com toda a humanidade.

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Conexão e cuidado: plantar, regar e florescer

Por que ainda somos tão inconscientes sobre a interdependência e a conexão que há entre tudo e todos? Por que será que não temos a dimensão sobre a importância e os benefícios do autocuidado, de estabelecermos relações interpessoais eticamente cuidadosas e de convivermos de forma respeitosa com a natureza? Essa são indagações que me faço frequentemente.

Vivemos os movimentos dos ciclos das nossas vidas, alguns mais favoráveis, outros nem tanto. Ciclos que nos convidam a evoluir, a avançarmos para estar melhor amanhã do que estamos hoje. Cada ciclo tem seu aprendizado. Cada atitude que empreendemos, inclusive as pequenas, constroem o nosso futuro e podem facilitar até os ciclos mais desafiadores. Plantar. Regar. Florescer.

Atitudes inconscientes e desconectadas do que realmente intencionamos, não trazem florescimento e, por isso, não contribuem com a nossa evolução. O piloto automático que permitimos que ocorra em nossas vidas repetidas vezes, traz com ele o risco de deixarmos o ‘cultivo’ de lado. Na construção de um futuro sustentável, a nossa qualidade de presença pode ser a chave para cuidarmos e regarmos o que realmente desejamos, para percebermos a potência das conexões.

A vida, tal qual a natureza, não tem a hora exata do desabrochar, do amadurecer. O tempo para as coisas acontecerem pode não ser o tempo que projetamos. A ansiedade e o imediatismo, muitas vezes, nos tira o foco. Eu te convido a refletir:


– Em sua vida, quais são as sementes que você genuinamente deseja plantar?

 

Tendo clareza de quais elas são, vamos seguir refletindo:

 
– Você já deu o primeiro passo para materializar essa intenção?


Em seguida, convido você a investigar sempre de forma curiosa e amorosa:

 
– Qual é o foco e a disciplina com que nutre essas sementes? Tem regado periodicamente, mesmo nos dias mais desafiadores?
 

Plantar. Regar. Florescer. Com cuidado, disciplina e conexão nós chegamos lá!

 
Era final de tarde. Voo tranquilo, pouso calmo. Aproveitei cada minuto das três horas de voo para colocar o sono em dia. O avião pousa em uma área remota e, por isso, demanda um ônibus, subo nele para chegar até o desembarque. De repente, um barulho ensurdecedor. Uma mãe entra com seus dois filhos neste mesmo ônibus. A menina, filha mais velha, acomoda-se calmamente em um dos assentos, mas está nitidamente incomodada com a atitude do caçula. Ele deveria ter uns três ou quatro anos e grita desesperada e repetidamente: “seca, seca, seca.” Percebo o semblante da mãe. Desconsertada, ela nada fala. Uma mulher pergunta se ele deseja se sentar, mas antes mesmo de ceder o lugar para a criança, a mãe envergonhada diz que não, que ele não queria sentar-se, ele queria ‘secar’. Explicou que o menino havia derrubado água na calça.
 
Da minha perspectiva e ainda sem conseguir conectar ao certo o que deveria estar sentindo o pequenino, pensei – ‘está calor’, não seria agradável estar um pouco molhado? Mas ele continua e os gritos se fazem cada vez mais altos.: ‘seca, seca, seca.’ A irmã finge nem ouvir, mas a mãe fica com o semblante cada vez mais fechado. Sem olhar para o menino, ela repete – ‘já vai chegar’. Tenta mudar o foco de atenção do garoto mostrando os aviões que estão na pista. E os gritos não cessam, pelo contrário, ele parece gritar cada vez mais alto.
  
De repente, aparece uma moça, estatura média, bem magrinha. Ela abaixa para ficar na altura do menino. Ele parece ignorar o sorriso dela. Ela diz em voz alta tentando se fazer ouvir: ‘eu tenho um superpoder. O menino para de gritar uns três segundos, mas logo continua, ainda mais alto. Penso que ela vai desistir, não teve êxito.
 
Achei interessante a tentativa. Para minha surpresa ela não desiste, continua: ‘eu tenho um superpoder e você também tem, quer saber qual é?’ E ele responde: ‘não tenho não e nem você.’ Ela insiste. ‘Está vendo a minha calça? Estava molhada e eu consegui secar com o meu superpoder. Você também consegue. Nós, super-heróis, temos esses superpoderes. Toma cuidado para as pessoas não nos reconhecerem aqui, não estamos com as nossas capas.’

O menino começou a prestar atenção. Um alívio se deu. O semblante da mãe já não estava tão tenso. E a moça continuou: ‘feche seus olhos, pense no que você deseja com muita vontade, conte até dez e depois você não vai mais sentir que está molhado.’ A moça pacientemente começou a contar e ao fim disse: ‘Pode abrir os olhos. Você sentiu? Viu como melhorou? Você é um super-herói!’ Como se o sol nascesse após um dia cinza e chuvoso, um sorriso se abriu. E o grito de desespero, deu lugar a uma linda manifestação de alegria – ‘mãe, eu sou um super-herói!’.  

 

Confesso que entrei em flow com essa cena. Aliás, flow é aquela sensação de quando você está totalmente absorvido por uma atividade, onde você fica 100% focado, sem perceber o tempo passar e sem se dar conta de tudo o que está acontecendo ao seu redor. Eu torci por aquela super-heroína, como se eu tivesse em uma superprodução de Hollywood. Senti o desejo genuíno que ela demonstrou ao amparar aquela criança. Ela não o julgou, mas gentilmente, saiu da sua perspectiva de um adulto racional, para uma diferente, não menor ou inferior, apenas diferente. Plantou uma semente. Não desistiu, esteve ali, conectada, presente, atenciosa, regando, insistindo. Após o olhar de consentimento da mãe, parecia não se importar com mais nada a seu redor. Apenas com o garotinho. Ela semeou, regou e floresceu. A gargalhada de satisfação que ela deu quando o pequeno disse que era um super-herói denunciou uma alegria contagiante. Ela nos fez acreditar que todos nós temos superpoderes. Plantar. Regar. Florescer.

 

Nesta interação e intenção genuína, aprendi um pouco mais sobre cuidado e conexão. Ela poderia seguir o seu curso até o desembarque, eram poucos minutos ouvindo os gritos, cada um tomaria seu rumo e tudo ficaria bem. Mas existem pessoas que se desafiam a ir além, conectando com as possibilidades que a vida apresenta. De repente, eu senti tudo, absolutamente tudo conectado! A energia gerada na intenção daquela moça, moveu muita coisa naquele ônibus. Passageiros que agora podem florescer mais por estarem conscientes do superpoder do cuidado e da conexão,Plantar. Regar. Florescer.

 

Moça do ônibus, onde quer que você esteja, saiba do meu desejo de que você tenha sempre bons motivos para sorrir e dançar nesse jardim que é a sua vida, o qual você demonstrou estar cultivando e regando tão bem. Aproveite o florescimento!

 

Não por acaso, uma das minhas empresas, a que eu cofundei com Claudia Serrano e tenho hoje também como sócia, Marília Camargo, a Arquitetura RH, tem os seus C ‘s como valores chave. Colaboração, Coerência, Coragem, Confiança, Cuidado e Conexão. Acreditamos que essas atitudes podem melhorar o mundo.

 

Eu acredito que a sustentabilidade que tanto desejamos possa ser cultivada com pequenas atitudes como a dessa moça. Sustentabilidade começa agora. Com a consciência do presente e do quanto você contribui e impacta. Quais sementes você tem plantado? Quais das suas atitudes tem regado essas sementes? Plantar. Regar. Florescer.

 
Não basta PLANTAR
Você precisa saber como REGAR.
Uma simples atitude
Faz surgir uma grande virtude.
 
É da intenção presente no CUIDAR
Que uma incrível CONEXÃO pode dar.
Colher é como renascer
E sustentar um novo amanhecer.
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Autoliderança

O primeiro passo para a autoliderança: saia do piloto automático!

“De vez em quando você tem de fazer uma pausa e visitar a si mesmo.”

Audrey Giorgi

Muitos de nós andamos pela vida sem ter a verdadeira compreensão para onde nossas atitudes poderão nos conduzir. É o que muitas pessoas chamariam de uma condução inconsciente de si. Gosto de dizer que seria um existir no “piloto automático”.  Viver nesse estado nos traz um enorme risco, pois estarmos nos conduzindo para um “lugar” que, ao chegarmos, não nos sentiremos confortáveis.

Será que as nossas atitudes vão na direção do que realmente é bom para nós mesmos ou, muitas vezes, são condicionadas ao que é conveniente para o mundo externo? Penso que ainda não contamos, na maioria das escolas, com uma educação socioemocional – ou seja, com as inteligências emocional e racional – que ajude a nos compreender, que privilegiem o autoconhecimento e uma melhor gestão das nossas emoções. Esse é o tema da reflexão que convido você a fazer: quando nos encorajamos a olhar para o mundo interior, entramos em contato com os nossos aspectos luminosos e sombrios, e somos capazes de abraçar nossa essência integral, diminuindo os medos e trazendo mais amplo repertório para gerir atitudes. Passamos a liderar de dentro para fora e não o contrário. E o mais importante para o que irei tratar aqui: passamos a compreender nossos desejos mais genuínos e nos tornamos aptos a direcionar nossas ações com muito maior consciência.

Para saber mais sobre isso, não deixe de ler o capítulo que fala sobre autenticidade.

Na série de aulas sobre a história do autoconhecimento, ministradas por Luciano Meira, autoridade quando o assunto é desenvolvimento do potencial humano, ele afirma que todo conhecimento tem serventia, mas o autoconhecimento possui um valor incalculável, inestimável. Meira, que também assina a abertura deste livro, enfatiza que todo conhecimento — científico, técnico ou mesmo de negócio — pode perder validade, pois o mundo é instável nesses aspectos. Porém, o autoconhecimento não, pois quanto mais aprofundado, mais perene ele é e os níveis de consciência se ampliam, considerando que seja a única área do saber que é possível ter um encontro muito rico de perspectivas – tradições espirituais, filosofia, psicologia e neurociência. Por isso, investir no conhecimento de si próprio é o principal caminho para a autoliderança, pois ganhamos maior clareza das atitudes que nos condicionam.

O primeiro passo para a autoliderança é ir ao encontro de nosso Eu mais genuíno, essa dimensão que dispensa “disfarces”, em que nossas ações são pautadas em verdades, aumentando os níveis de amorosidade e diminuindo nossos medos e raivas. Para chegarmos a esse “estágio”, muitas vezes teremos que abandonar aquilo que é bom para o mundo de fora (me refiro aquilo que é bom para as pessoas que nos cercam e para os contextos em que estamos inseridos), assumindo e sustentando as nossas verdadeiras intenções e fazendo uma boa gestão das nossos potenciais e nossas sombras. Nessa perspectiva, caminharemos em nossas vidas com a capacidade de oferecer o melhor de nós para os outros e para os contextos. Para se aprofundar no assunto, recomendo o capítulo sobre Liderança Altruísta que faz parte desta publicação.

Somente quando somos capazes de exercitar o autorrespeito, ficamos muito mais inteiros para uma conexão genuína com o outro e com os contextos em que habitamos, podendo desfrutar da potência que nos cabe e das estradas de evolução que somos convidados a trilhar! Caso você se perceba no piloto automático, pare, respire, visite as suas intenções e depois “revisite” seus pensamentos, emoções e ações. Verifique se elas fluem na direção do que deseja ou se têm sido sabotadores de si mesmo.

Intenções e expectativas para sustentar escolhas 

João  teve uma infância em que o estudo sempre foi prioridade. Mesmo sendo de família humilde, seus pais fizeram questão que estudasse nas melhores escolas possíveis. O pai dele sempre foi muito rigoroso e repetidas vezes lhe dizia: “Meu filho, você precisa se preparar para o mundo. As coisas não são fáceis e as pessoas não facilitarão para você”. João  tinha muita admiração e respeito pelo seu pai, e essa frase acabou sendo assimilada por ele, influenciando suas escolhas, mesmo que inconscientemente.

João  cresceu com o desejo genuíno de progredir na carreira. Queria dar orgulho aos pais que tanto haviam se empenhado em sua educação. A irmã mais velha acabou por se tornar uma renomada e bem- sucedida executiva. O rapaz  percebia o brilho nos olhos de seus pais ao falarem dela e deseja ser alvo da mesma admiração. Com 26 anos, já era analista sênior de uma multinacional e tinha a expectativa que seu gestor o promovesse a coordenador. Ele esperava há mais de um ano pelo surgimento de uma nova oportunidade. De fato, ela surgiu. João nutriu uma expectativa muito grande, acreditando que tudo daria certo.

Ele participou do processo seletivo interno, juntamente com outras pessoas da empresa e, em uma manhã de segunda-feira, recebeu a notícia do seu próprio gestor de que não tinha passado. Naquela vez, quem havia  sido escolhido fora um colega de trabalho que, nas palavras do seu administrador, estava mais bem preparado. Para o jovem, foi como perder o chão. Ele depositou todas as suas expectativas naquela conquista. Saiu da sala sem conseguir dizer quase nada, teve dificuldade em trabalhar durante o restante do dia. Foi tomado por uma frustação que lhe tirou toda a energia.

No dia seguinte, ao encontrar o colega de trabalho que tinha conseguido o cargo de coordenador, João  não conseguiu parabenizá-lo. Estava tão sem energia que acabou se atrasando para uma reunião importante. E também perdeu o ânimo para dar o melhor de si em um dos projetos que estavam sob sua liderança, o que acarretou muito retrabalho. Em uma das reuniões, chegou a elevar o tom de voz, e o clima ficou tenso.

Vamos analisar essas circunstâncias em que João se envolveu, mas que poderiam ter ocorrido a qualquer um de nós. Qual era o verdadeiro desejo de João? Chamarei esse desejo de intenção – progredir na carreira. No dicionário Aurélio, intenção quer dizer “propósito, pensamento impulsionado pela vontade e que perdura conscientemente durante a ação”. No livro da Malika Chopra O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria, traz-se a ideia de que o tempo em que as coisas acontecem não é necessariamente aquele que desejaríamos. Então, manter-se no caminho, gerenciar a ansiedade e não perder o foco serão atitudes essenciais para realizarmos aquilo que desejamos. Intenção é o que está no nosso espaço de governabilidade, tem a ver com aquilo que depende de nós para realizarmos. Mais à frente, exploraremos as outras possibilidades que João tinha para continuar no caminho da intenção.

Mas por que nos desviamos das nossas intenções? Sem dúvida, por causa de nossas tantas expectativas frustradas. Um bom ponto para termos consciência é o de que, para realizar intenções, precisaremos empreender todas as ações possíveis, gerenciando os prováveis obstáculos e emoções negativas que surgirem até que cheguemos lá! E, mesmo não realizando a intenção, ao agir dessa maneira, saímos tranquilos de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.

Um dos maiores desafios para concretizarmos intenções repousa sobre nossas expectativas. Essas sim dependem do outro para realizarmos algo. No dicionário Aurélio, a definição de expectativa é “um estado interno de esperar algo que se deseja, cuja realização julgamos ser provável”.

Vamos compreender, a partir da situação que apresentamos, sobre gestão de intenção e gestão de expectativa e como esse entendimento pode nos ajudar na autoliderança.

João esperava de que o seu gestor o promovesse – dessa forma, a realização do que desejava estava submetida à dependência de que um outro fizesse alguma coisa – e, quando isso não aconteceu, ele perdeu completamente o foco da sua intenção. É evidente que teremos sempre anseios, mas a grande questão é a maneira como lidamos com eles. Quantos de nós temos expectativas em relação às pessoas, mas nunca comunicamos a elas o que verdadeiramente aguardamos? Ao comunicar, estamos lhes dando uma oportunidade de conhecer o nosso desejo, mas também estamos nos concedendo a chance de fazer a gestão daquilo que esperamos do outro. Quantas das nossas frustrações poderiam ser minimizadas se tivéssemos o hábito de contar às pessoas o que almejamos?

Voltamos ao caso de João. Será que as escolhas que ele fez, logo após não ter sido promovido, foram as melhores para o que ele desejava? Há uma célebre frase de Viktor Frankl que nos desafia a fazer diferente. Frankl foi um neuropsiquiatria austríaco, fundador de uma escola de psicoterapia e mundialmente conhecido pelo best-seller Em busca de sentido, livro em que relatou a sua experiência em quatro campos de concentração nazistas. Esta é a frase dele a que me refiro:

“Entre o estímulo e a reação há um espaço. Neste espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta está nosso crescimento e a nossa liberdade”.

O que quero enfatizar é que, nos momentos em que nossas expectativas são frustradas, é importante que façamos uso desse espaço sugerido por Frankl, pois assim nos damos o tempo de revisitarmos nossos propósitos. Após a tomada da consciência da intenção, devemos nos questionar: quais ações me conduzirão na direção do que desejo?

João se deixou “sequestrar” pela emoção negativa gerada pela frustração da expectativa não atendia. Em vez de ir ao encontro de sua intenção, ele se valeu de atitudes que poderão levá-lo justamente para o caminho oposto ao desejado – a tão almejada progressão na carreira. O que ele poderia ter feito para permanecer na liderança do que desejava, honrando seu intuito? Primeiramente, poderia ter feito uma pausa para compreender melhor a situação e observar as próprias emoções. Mais tranquilo e sereno, o rapaz  poderia ter tido uma conversa com o gestor, exposto as suas expectativas e buscado a compreensão de quais seriam os deficits que precisaria preencher para conquistar a promoção. Poderia ter sido cordial com o colega, cumprimentando-o pela promoção e continuar a fazer o seu trabalho com a máxima qualidade possível. E, se uma nova possibilidade surgisse, na mesma área, em outro departamento, ou até mesmo em outra empresa? Assim  teria mantido sempre as melhores referências sobre seu perfil.

É possível que João estivesse mais conectado ao “mundo de fora”, ou seja, ao desejo paterno de sentir por ele o mesmo orgulho que já revelava pela irmã dele. A crença vinda do pai — “meu filho, você precisa se preparar para o mundo. As coisas não são fáceis, e as pessoas não facilitarão para você” — também pode ter tido uma grande influência nas percepções e atitudes dele. Com experiência de vida e consciência, podemos revisitar algumas crenças que, por vezes, nos serviram bem, mas, depois de um tempo, acabam por pesar em nosso caminho.

No livro de Susan David, Agilidade Emocional, a autora nos convida a dançarmos mais do que lutarmos com a vida e com as circunstâncias. Ela nos faz compreender que, com autogentileza e presença, é possível transformar os nossos desafios diários em oportunidades, sem perder o foco daquilo que realmente desejamos. Uma das perguntas que ela faz é: “quantas voltas no quarteirão você tem dado?” E ela mesma responde: “andamos (ou corremos) repetidamente em volta dos quarteirões das nossas vidas, obedecendo a regras que são escritas, implícitas ou simplesmente imaginárias, presos ao costume de ser e fazer coisas que não são úteis. Ela ainda afirma: “Por vezes, somos instrumentos de corda, indo repetidamente de encontro às mesmas paredes sem perceber que pode haver uma porta aberta à nossa esquerda ou à nossa direita”.

O autoconhecimento é a chave para que possamos fazer boas escolhas, criando os melhores alicerces para a nossa vida. Meira, em seu livro Ser ou não Ser: a nossa dramática encruzilhada evolutiva, diz:

“(…) a espécie humana não pode se eximir da responsabilidade de carregar em si a capacidade de fazer escolhas conscientes. Após 13,8 bilhões de anos de evolução, o Cosmos vem cobrar, de nós, empenho e perseverança; e a cobrança chega na forma de um chamado para o crescimento e para a maturidade existencial: ‘Quem pode deve. Quem pode, deve e não faz cria débito. Débito gera sofrimento”.

Que possamos entrar em contato com o nosso Eu mais genuíno, assumindo e conduzindo nossos desejos na direção daquilo que realmente nos trará mais plenitude, equilíbrio e leveza. Que possamos fazer escolhas com maior consciência e atenção, compreendendo que são elas que constroem os enredos de nossas vidas. Assumamos o controle!

Desejo que você se conduza para um lugar em que se sentirá orgulhoso quando lá chegar!

 

Referências Bibliográficas

 

CHOPRA, Malika. O que vale é a intenção – como transformar suas intenções em ações, vivendo com equilíbrio, paz e alegria. São Paulo: Gente, 2015.

DAVID, Susan. Agilidade Emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo, Cultrix, 2018.

FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Traduzido por Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. 25 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

MEIRA, Luciano A. Ser ou não Ser: a nossa dramática encruzilhada evolutiva. 1ª ed. Goiânia: Vida Integral, 2019. @caminhosvidaintegral

 

 

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Excelência

A excelência pode ser conquistada dia a dia, beneficiando a si e muitas outras pessoas. Descubra o que você faz bem, coloque empenho, visualize as conquistas que essa habilidade lhe trará,  mantenha foco quando os obstáculos surgirem, aprimore sempre que possível. A excelência não surge do dia para noite, tem a ver com escolhas conscientes, com esforço e com o prazer sentido a cada pequena vitória!

Por que excelência?

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”

Ricardo Reis Fernando Pessoa

Inicio este capítulo enfatizando o motivo da escolha da soft skill que desenvolverei. Há mais de 12 anos, fiz a avaliação Clifton Strenghs, contemplada no livro Descubra seus Pontos Fortes e tive como meu primeiro ponto forte a Excelência. Nessa obra, temos o conceito de que quem se destaca nessa habilidade sempre encontra um modo de incentivar a excelência individual ou do grupo, estimula as pessoas a aplicarem seus potenciais e adora concentrar-se em áreas de competências para si mesmas e para os outros. Ao trabalhar com desenvolvimento do potencial humano, comecei a perceber a necessidade de estar cada dia mais atenta à prática cotidiana dessa soft skill, assim como sentir os efeitos benéficos que ela propicia em nossa vida. 

Associarei essa definição ao que propõe a psicóloga e professora da Universidade da Pensilvânia, Angela Duckworth, em seu livro Garra – o poder da paixão e da perseverança, no qual a autora salienta a importância da paixão e da perseverança na condução à excelência, bem como a compreensão trazida sobre o tema por Daniel H. Pink, em seu livro Motivação 3.0. E o meu convite é que você também busque estar mais atento em relação aos benefícios que a prática da excelência pode trazer para a sua vida e para as pessoas que o cercam.

Mudança de paradigmas: como mobilizamos a excelência?

A Psicologia Positiva surgiu no início do novo milênio, a partir dos estudos de Seligman e Csikszentmihalyi. Eles publicaram um artigo no ano 2000, intitulado “Positive Psychology: an introdution”, no qual afirmam que, desde a Segunda Guerra Mundial, o foco da Psicologia Positiva vinha sendo apenas para “doenças”, tratando como curar e reparar danos e que essa maneira de concebê-la a tornava incompleta. A partir daí, os aspectos saudáveis do ser humano igualmente começaram a ser considerados. Nasce, então, a Psicologia das Forças e Virtudes, e o foco passa a ser o olhar para questões saudáveis e de bem-estar do ser humano. Considero que ainda mantemos um olhar muito forte para os “pontos fracos”, por vezes, direcionando maior relevância a eles do que em relação ao que possuímos de forças e talentos. O nascimento da Psicologia Positiva e suas recentes pesquisas têm demonstrado quão eficaz é a utilização dos recursos positivos para maximizar nossas capacidades.

Então reflita:

Quais são seus principais pontos fortes?

Quais são suas principais virtudes e forças para alcançar a excelência?

No site do Instituto Gallup, vemos uma citação que nos auxilia rumo a essa descoberta daquilo que será possível experimentar se entronizarmos em nós grandes talentos de excelência: “Você não quer viver lamentando o que lhe falta. Em vez disso, quer aproveitar os dons com os quais foi abençoado. É mais divertido. É mais produtivo. E, contra intuitivamente, é mais exigente”.

No anteriormente citado livro Garra – o poder da paixão e da perseverança, a Dra. Angela Duckworth, por meio de suas pesquisas, revela que qualquer pessoa, do jeito certo, pode chegar às mais impressionantes realizações. Ressalto da análise dela o cuidado para a valorização excessiva do talento, que pode ser nocivo, e ela nos explica os motivos:  “Ao focarmos apenas no talento, nós arriscamos deixar tudo o mais fora de visão. Sem querer, passamos a mensagem de que esses outros fatores – como a garra – são menos importantes”. Já tivemos metodologias de gestão de pessoas que enfatizavam que se deveria promover de maneira agressiva os colaboradores mais talentosos e, da mesma maneira, se desfazer daqueles que apresentavam menor aptidão. Duckworth cita o jornalista Duff McDonald, autor de uma das análises mais completas da MacKinsey, na qual ele acredita que o mais correto seria nomear essa filosofia empresarial como “A guerra do bom senso”. Penso que ainda exista pouca valorização para o esforço e muita desistência de pessoas que, em médio e longo prazo, teriam muitas chances de ultrapassar os limites que lhes foram preconcebidos, tornando-se excelentes em uma ou outra tarefa ou, ainda, em determinada área de atuação. 

Por meio de seus estudos, Duckworth escreve que teve um lampejo que orientaria todo o seu trabalho futuro, ao afirmar: “Nosso potencial é uma coisa. O que fazemos com ele é outra, bem diferente”. Ela também concluiu que o foco excessivo nos nossos talentos pode nos desviar de algo que acaba tendo a mesma importância: O esforço. Sua teoria  nos esclarece que “(…) quando consideramos pessoas em circunstâncias idênticas, o resultado obtido por cada uma delas depende somente de duas coisas – talento e esforço. É claro que o talento (a rapidez com que melhorarmos nossas habilidades) é importante. No entanto, o esforço entra nesses cálculos duas vezes, e não apenas uma. O esforço constrói a habilidade. Ao mesmo tempo, o esforço torna a habilidade produtiva”.

Você já respondeu quais seus principais fortes, agora reflita: quanto de esforço você emprega para fazer que a sua habilidade, traga cada vez mais resultados de mais alto nível e impacto?

No livro Motivação 3.0, Daniel Pink, ao explicar como funciona esse sistema operacional, ressalta que ele é alimentado mais por desejos intrínsecos do que por desejos extrínsecos e que tem menos a ver com recompensas externas e mais com a satisfação inerente da atividade em si. Ele reforça que a motivação intrínseca depende de três nutrientes: autonomia, excelência e propósito. Fazer escolhas autônomas e atrelar nossos desejos a uma causa maior que nós mesmos abrem espaço para que possamos criar novos campos para a excelência. De acordo com Pink, alguns cientistas comportamentais abordam a perspectiva de que a excelência obedece a três leis peculiares. A primeira é a de que ela seja um estado mental. Ele cita Carol Dweck, autora do livro Mindset, no qual a autora sustenta que aquilo que cremos dá forma àquilo que conquistamos. A segunda lei é que a excelência é dolorosa. A ênfase é a de que essa habilidade não é nenhum mar de rosas. Pink cita o trabalho do psicólogo Andres Ericsson sobre o desempenho de experts, em que ele chega à conclusão de que características que, antes eram tidas como talentos inatos, vieram por meio de resultados de uma prática intensa de, no mínimo, 10 anos. A excelência seria, então, uma conquista de longo prazo. E a terceira lei é que essa soft skill é uma assíntona – um termo de origem grega que tem referência a algo que não tem coincidência, “(…) uma reta que, prolongada indefinitivamente, aproxima-se cada vez mais do ponto de tangência de uma curva, mas sem jamais encontrá-lo”, disse ela. Dessa maneira, podemos nos aproximar da excelência, chegar muito perto, mas não tocá-la. Ela estará sempre fora do alcance, pois traz a potência de ser aprimorada a cada dia mais. A alegria estaria mais na procura que na realização em si. Excelência seria uma busca constante.

Depois de considerar quais são seus pontos fortes, empreender esforço em relação a eles, concentre-se em pensar o que você realmente quer conquistar por meio deles. Posteriormente, tenha em mente que tal conquista se dará em longo prazo, que será preciso superar as adversidades sem perder o foco e que, no dia seguinte, você poderá ficar ainda mais excelente, caso continue focado.

 

Um exemplo para ilustrar...

Fiquei pensando no que poderia ser um exemplo, levando em consideração a perspectiva trazida para soft skill excelência e não precisei ir muito longe para encontrá-lo. Inicio reforçando sobre quanto agrega valor para a nossa vida conviver com pessoas que praticam a excelência. 

Rosana Aparecida Matheus, minha assistente do lar há mais de 17 anos, pessoa por quem nutro uma forte admiração e respeito, mais conhecida como Ro, já teve algumas oportunidades na vida, desde trabalhar em indústrias até recepcionista em hotel. Cheia de energia, ela escolheu acumular dois trabalhos por uma época, mas nunca deixou a profissão de assistente do lar. A Ro escolheu fazer algo que faz bem e focou nisso. Sem dúvida, ela é melhor a cada dia. Mesmo após 17 anos no mesmo trabalho, ela surpreende positivamente em muitos quesitos.

Dia a dia, noto seu esforço. Ela está sempre à procura de novas receitas, foi aprimorando a cozinha saudável com o passar dos anos e, atualmente, muitas pessoas reconhecem seu talento acima da média. A sua capacidade de organizar as coisas foi se aperfeiçoando ao longo do tempo. Semanalmente, reparo que ela incorpora facilidades para o dia a dia da casa. Proativamente, ela estabeleceu a organização dos guarda-roupas por cores e multiplicou as plantas da sacada, parece dar mais vida ainda a elas pelo carinho com que cuida, entre outras providências. 

A Ro visualiza o que deseja desde logo cedo. Nunca chegou de mau humor, e uma das suas frases preferidas é “como a vida é boa, não sei como alguém pode acordar mal-humorado com um dia tão lindo!”.

 Cada café da manhã ao lado dela é uma dose de energia postiva para o dia que está por iniciar. Ela expressa gratidão o tempo todo e parece fazer, mesmo das adversidades, pequenos obstáculos a serem superados. A Ro curte o fluxo, adora planejar os almoços, principalmente quando temos convidados, interessa-se pelo que as pessoas gostam, cuida de cada detalhe. Quando temos visita, ela prepara tudo de maneira pessoal, levando em consideração as particularidades de cada um. 

A busca da excelência passou a ser um hábito para a Ro e, sem dúvida, ela me inspira a ser melhor, sempre que possível no meu trabalho. A Ro é excelente no que faz, desperta admiração. Quantas vezes eu ouvi das minhas amigas: “Queria ter uma Ro na minha vida”.

“Excelente-se!”

“Todos nós temos um potencial inabalável
dentro de nós mesmos,
o que falta é crer e exercê-lo.”

Melissa Hadassah

Como sempre faz questão de enfatizar meu querido amigo Luciano Alves Meira, excelente profissional quando o assunto é desenvolvimento do potencial humano –, “muitos de nós ainda dormimos em cima dos nossos potenciais e o potencial humano é infinito”. Por isso, eu desejo que você “excelente-se” – neologismo que resolvi utilizar para a sua capacidade de acreditar que sempre será possível estar melhor em algo hoje, que no dia anterior e melhor amanhã que hoje. Para isso, precisamos ter consciência, empenho e não nos deixarmos paralisar pelas adversidades. Então, “excelente-se” da seguinte forma: 

1) Descubra o que você tem de pontos fortes e procure focar neles. 

2) Coloque empenho em suas competências e esforce-se para ser cada dia melhor. 

3) Visualize o que você deseja conquistar a partir desses pontos.

4) Não se desestimule com os obstáculos, mantenha o FOCO. Adversidades virão, e a excelência pode requerer mais tempo que imagina. Curta o fluxo, aproveite cada oportunidade para aprender.

5) Tenha em mente que a excelência não tem um ponto de chegada e que ela pode ser aprimorada todos os dias. Excelência é um hábito.

E finalizo com mais duas observações a serem consideradas: excelente-se, se possível, divertindo-se! Adote o mindset de crescimento, mantendo-se curioso e persistente, mesmo diante daquilo que desafia suas melhores habilidades. Não tema as falhas que poderão acontecer; pelo contrário, encare-as como oportunidades de aprendizado para que você seja cada vez mais excelente! Quanto mais excelência você conquista, mais ativa a sua paixão pelo aprendizado e, certamente, mais realizações virão.

Referências:

DWECK, Carol S. MINDSET. A Nova Psicologia do Sucesso. São Paulo, Objetiva, 2017.

DUCKWORTH, Angela L. Garra: o poder da paixão e da perseverança. Trad.Donaldson M. Garschagen, Renata Guerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. 

GALUUP. Uma introdução ao tema Excelência Clifton Strengths. Acesso em: 20out. de 2021.

 
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Feliz Eu Novo

Estava no mercado fazendo algumas compras para a celebração de fim de ano, quando um colega passou feito um foguete e bradou: – Feliz ano novo! Respondi às felicitações com um sorriso percebido pelo olhar, mas escondido pela máscara. Trocamos algumas palavras e, ao se despedir, ele disse: – Os anos tem sido tão cruéis que espero que o próximo ano nos traga coisas boas. Esta frase ficou em minha cabeça.

Como é costume nos fins de ano, renovam-se os votos de esperança e o desejo de um novo ano melhor e diferente. Cada um traz consigo expectativas, sonhos e ideais. Veio então à minha mente uma frase do grande educador Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”

Nós insistimos em nos esquivar de nossas responsabilidades. Fazemos isso muitas vezes para fugir das nossas dores e de um íntimo contato com nós mesmos. Quando nos vemos diante de um problema, tendemos a fazer de conta que ele não existe ou transferir responsabilidades, buscando culpas e culpados em tudo e em todos. Precisamos passar a nos sentir parte daquilo que acontece em nossas vidas.

Como seria bom se, quando olhássemos para os anos que se passaram, pudéssemos dedicar-lhes agradecimento, gratidão. Eles foram repletos de tempestades, mas também nos transformaram. Percebendo ou não, somos hoje frutos daquilo que vivemos. Se chegamos até aqui, isso é resultado de tudo aquilo que experienciamos. É necessário acolher os anos que se passaram, ao invés de atacá-los, culpá-los por eventuais deslizes ou transferir responsabilidades. Vamos colocar o ano que se encerra no colo e oferecer-lhe carinho, independentemente do que aconteceu, porque, por mais duro e difícil que tenha sido, ele nos trouxe até aqui.

Assim serão todos os próximos anos enquanto estivermos vivos. E se, ao invés de ficarmos repetindo este comportamento de transferência de responsabilidades, pudéssemos ressignificar? Esse processo de ressignificação pode começar com três pontos que gostaria de trazer para reflexão:

1) Autoavaliação: é necessário que comecemos a nos abrir para dentro, para nós mesmos, buscando respostas internas, e não justificativas externas para tudo o que acontece. Vamos mergulhar profundamente nas nossas relações. E, quando falo em relações, falo de três esferas: com o planeta, com a sociedade e conosco. Reclamamos das chuvas e das enchentes ou das secas e das faltas de água. Reclamamos do calor ou do frio. Mas por que não reclamamos de nós mesmos quando gastamos água em abundância, quando jogamos lixo que irá permanecer no meio ambiente por séculos, quando preferimos concreto ao invés de verde? É hora de assumir responsabilidades e fazer parte de um mundo que gradativamente vem contribuindo para mudanças ambientais. Ressignificar nossa relação com o planeta, trazendo para nossas vidas uma relação de maior zelo, nos permitirá contribuir para um melhor equilíbrio ambiente – ser humano e nos dará a oportunidade de contemplar essa beleza que nos cerca e da qual fazemos parte. Quando falamos em sociedade, tendemos a culpar políticos, colegas de trabalho, pais, família. Por que não perguntamos quem elegeu os políticos, quem não deu o máximo para a atividade do trabalho, quem não praticou o perdão dentro do próprio lar? Ressignificar nossa relação com a sociedade implica em fazer constantemente a mesma pergunta: qual minha parcela de contribuição para isso estar acontecendo? Isso certamente nos aproximará mais do outro. E, em relação a nós mesmos, temos investido em autoconhecimento e na melhora da relação conosco? Temos cuidado da nossa saúde física e mental? Lembrem-se de que nosso eu, é o nosso templo, é a nossa sustentação. Se não cuidarmos de nós mesmos, provavelmente não teremos força para as mudanças e evoluções que a vida nos impõe.

2) Autocompaixão: apesar de olharmos pra dentro e buscarmos melhorias e evoluções constantes, será que precisamos ser tão duros conosco? Será que não precisamos diminuir nosso nível de exigência? É normal errar, falhar, cometer deslizes. Como seres humanos, temos imperfeições, medos e vulnerabilidades. Ao invés de nos castigarmos ou nos repreendermos, precisamos aprender a nos abraçar. Ao fazermos isso, passamos a nos acolher mais e, com isso, temos menos medo de falhar. Nós só acertamos na medida em que arriscamos e tentamos. Vamos aprender a nos abraçar mais.

3) Gratidão: nesse mundo onde lutamos pela perfeição, esquecemos de agradecer. Mas a gratidão só floresce no reconhecimento. Precisamos aprender a reconhecer tudo de bom que acontece em nossas vidas para podermos agradecer. Precisamos estar mais atentos a tantas coisas boas que acontecem conosco e não estamos sendo capazes de perceber. Na gratidão, a vida floresce, a paz habita e novos horizontes se abrem.

Que o abrir das portas do novo ano nos traga um olhar mais profundo. O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu uma vez: “Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” É pensando nisso que trago a vocês o desafio de viver um ano novo realmente diferente, um ano novo de dentro para fora. Sejamos melhores, sejamos felizes, sejamos amor, e, acima de tudo, sejamos nós mesmos. Que nossa mudança interior gere frutos, trazendo o essencial para nossas vidas. Um feliz EU NOVO!

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