A excelência pode ser conquistada dia a dia, beneficiando a si e muitas outras pessoas. Descubra o que você faz bem, coloque empenho, visualize as conquistas que essa habilidade lhe trará,  mantenha foco quando os obstáculos surgirem, aprimore sempre que possível. A excelência não surge do dia para noite, tem a ver com escolhas conscientes, com esforço e com o prazer sentido a cada pequena vitória!

Por que excelência?

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”

Ricardo Reis Fernando Pessoa

Inicio este capítulo enfatizando o motivo da escolha da soft skill que desenvolverei. Há mais de 12 anos, fiz a avaliação Clifton Strenghs, contemplada no livro Descubra seus Pontos Fortes e tive como meu primeiro ponto forte a Excelência. Nessa obra, temos o conceito de que quem se destaca nessa habilidade sempre encontra um modo de incentivar a excelência individual ou do grupo, estimula as pessoas a aplicarem seus potenciais e adora concentrar-se em áreas de competências para si mesmas e para os outros. Ao trabalhar com desenvolvimento do potencial humano, comecei a perceber a necessidade de estar cada dia mais atenta à prática cotidiana dessa soft skill, assim como sentir os efeitos benéficos que ela propicia em nossa vida. 

Associarei essa definição ao que propõe a psicóloga e professora da Universidade da Pensilvânia, Angela Duckworth, em seu livro Garra – o poder da paixão e da perseverança, no qual a autora salienta a importância da paixão e da perseverança na condução à excelência, bem como a compreensão trazida sobre o tema por Daniel H. Pink, em seu livro Motivação 3.0. E o meu convite é que você também busque estar mais atento em relação aos benefícios que a prática da excelência pode trazer para a sua vida e para as pessoas que o cercam.

Mudança de paradigmas: como mobilizamos a excelência?

A Psicologia Positiva surgiu no início do novo milênio, a partir dos estudos de Seligman e Csikszentmihalyi. Eles publicaram um artigo no ano 2000, intitulado “Positive Psychology: an introdution”, no qual afirmam que, desde a Segunda Guerra Mundial, o foco da Psicologia Positiva vinha sendo apenas para “doenças”, tratando como curar e reparar danos e que essa maneira de concebê-la a tornava incompleta. A partir daí, os aspectos saudáveis do ser humano igualmente começaram a ser considerados. Nasce, então, a Psicologia das Forças e Virtudes, e o foco passa a ser o olhar para questões saudáveis e de bem-estar do ser humano. Considero que ainda mantemos um olhar muito forte para os “pontos fracos”, por vezes, direcionando maior relevância a eles do que em relação ao que possuímos de forças e talentos. O nascimento da Psicologia Positiva e suas recentes pesquisas têm demonstrado quão eficaz é a utilização dos recursos positivos para maximizar nossas capacidades.

Então reflita:

Quais são seus principais pontos fortes?

Quais são suas principais virtudes e forças para alcançar a excelência?

No site do Instituto Gallup, vemos uma citação que nos auxilia rumo a essa descoberta daquilo que será possível experimentar se entronizarmos em nós grandes talentos de excelência: “Você não quer viver lamentando o que lhe falta. Em vez disso, quer aproveitar os dons com os quais foi abençoado. É mais divertido. É mais produtivo. E, contra intuitivamente, é mais exigente”.

No anteriormente citado livro Garra – o poder da paixão e da perseverança, a Dra. Angela Duckworth, por meio de suas pesquisas, revela que qualquer pessoa, do jeito certo, pode chegar às mais impressionantes realizações. Ressalto da análise dela o cuidado para a valorização excessiva do talento, que pode ser nocivo, e ela nos explica os motivos:  “Ao focarmos apenas no talento, nós arriscamos deixar tudo o mais fora de visão. Sem querer, passamos a mensagem de que esses outros fatores – como a garra – são menos importantes”. Já tivemos metodologias de gestão de pessoas que enfatizavam que se deveria promover de maneira agressiva os colaboradores mais talentosos e, da mesma maneira, se desfazer daqueles que apresentavam menor aptidão. Duckworth cita o jornalista Duff McDonald, autor de uma das análises mais completas da MacKinsey, na qual ele acredita que o mais correto seria nomear essa filosofia empresarial como “A guerra do bom senso”. Penso que ainda exista pouca valorização para o esforço e muita desistência de pessoas que, em médio e longo prazo, teriam muitas chances de ultrapassar os limites que lhes foram preconcebidos, tornando-se excelentes em uma ou outra tarefa ou, ainda, em determinada área de atuação. 

Por meio de seus estudos, Duckworth escreve que teve um lampejo que orientaria todo o seu trabalho futuro, ao afirmar: “Nosso potencial é uma coisa. O que fazemos com ele é outra, bem diferente”. Ela também concluiu que o foco excessivo nos nossos talentos pode nos desviar de algo que acaba tendo a mesma importância: O esforço. Sua teoria  nos esclarece que “(…) quando consideramos pessoas em circunstâncias idênticas, o resultado obtido por cada uma delas depende somente de duas coisas – talento e esforço. É claro que o talento (a rapidez com que melhorarmos nossas habilidades) é importante. No entanto, o esforço entra nesses cálculos duas vezes, e não apenas uma. O esforço constrói a habilidade. Ao mesmo tempo, o esforço torna a habilidade produtiva”.

Você já respondeu quais seus principais fortes, agora reflita: quanto de esforço você emprega para fazer que a sua habilidade, traga cada vez mais resultados de mais alto nível e impacto?

No livro Motivação 3.0, Daniel Pink, ao explicar como funciona esse sistema operacional, ressalta que ele é alimentado mais por desejos intrínsecos do que por desejos extrínsecos e que tem menos a ver com recompensas externas e mais com a satisfação inerente da atividade em si. Ele reforça que a motivação intrínseca depende de três nutrientes: autonomia, excelência e propósito. Fazer escolhas autônomas e atrelar nossos desejos a uma causa maior que nós mesmos abrem espaço para que possamos criar novos campos para a excelência. De acordo com Pink, alguns cientistas comportamentais abordam a perspectiva de que a excelência obedece a três leis peculiares. A primeira é a de que ela seja um estado mental. Ele cita Carol Dweck, autora do livro Mindset, no qual a autora sustenta que aquilo que cremos dá forma àquilo que conquistamos. A segunda lei é que a excelência é dolorosa. A ênfase é a de que essa habilidade não é nenhum mar de rosas. Pink cita o trabalho do psicólogo Andres Ericsson sobre o desempenho de experts, em que ele chega à conclusão de que características que, antes eram tidas como talentos inatos, vieram por meio de resultados de uma prática intensa de, no mínimo, 10 anos. A excelência seria, então, uma conquista de longo prazo. E a terceira lei é que essa soft skill é uma assíntona – um termo de origem grega que tem referência a algo que não tem coincidência, “(…) uma reta que, prolongada indefinitivamente, aproxima-se cada vez mais do ponto de tangência de uma curva, mas sem jamais encontrá-lo”, disse ela. Dessa maneira, podemos nos aproximar da excelência, chegar muito perto, mas não tocá-la. Ela estará sempre fora do alcance, pois traz a potência de ser aprimorada a cada dia mais. A alegria estaria mais na procura que na realização em si. Excelência seria uma busca constante.

Depois de considerar quais são seus pontos fortes, empreender esforço em relação a eles, concentre-se em pensar o que você realmente quer conquistar por meio deles. Posteriormente, tenha em mente que tal conquista se dará em longo prazo, que será preciso superar as adversidades sem perder o foco e que, no dia seguinte, você poderá ficar ainda mais excelente, caso continue focado.

 

Um exemplo para ilustrar...

Fiquei pensando no que poderia ser um exemplo, levando em consideração a perspectiva trazida para soft skill excelência e não precisei ir muito longe para encontrá-lo. Inicio reforçando sobre quanto agrega valor para a nossa vida conviver com pessoas que praticam a excelência. 

Rosana Aparecida Matheus, minha assistente do lar há mais de 17 anos, pessoa por quem nutro uma forte admiração e respeito, mais conhecida como Ro, já teve algumas oportunidades na vida, desde trabalhar em indústrias até recepcionista em hotel. Cheia de energia, ela escolheu acumular dois trabalhos por uma época, mas nunca deixou a profissão de assistente do lar. A Ro escolheu fazer algo que faz bem e focou nisso. Sem dúvida, ela é melhor a cada dia. Mesmo após 17 anos no mesmo trabalho, ela surpreende positivamente em muitos quesitos.

Dia a dia, noto seu esforço. Ela está sempre à procura de novas receitas, foi aprimorando a cozinha saudável com o passar dos anos e, atualmente, muitas pessoas reconhecem seu talento acima da média. A sua capacidade de organizar as coisas foi se aperfeiçoando ao longo do tempo. Semanalmente, reparo que ela incorpora facilidades para o dia a dia da casa. Proativamente, ela estabeleceu a organização dos guarda-roupas por cores e multiplicou as plantas da sacada, parece dar mais vida ainda a elas pelo carinho com que cuida, entre outras providências. 

A Ro visualiza o que deseja desde logo cedo. Nunca chegou de mau humor, e uma das suas frases preferidas é “como a vida é boa, não sei como alguém pode acordar mal-humorado com um dia tão lindo!”.

 Cada café da manhã ao lado dela é uma dose de energia postiva para o dia que está por iniciar. Ela expressa gratidão o tempo todo e parece fazer, mesmo das adversidades, pequenos obstáculos a serem superados. A Ro curte o fluxo, adora planejar os almoços, principalmente quando temos convidados, interessa-se pelo que as pessoas gostam, cuida de cada detalhe. Quando temos visita, ela prepara tudo de maneira pessoal, levando em consideração as particularidades de cada um. 

A busca da excelência passou a ser um hábito para a Ro e, sem dúvida, ela me inspira a ser melhor, sempre que possível no meu trabalho. A Ro é excelente no que faz, desperta admiração. Quantas vezes eu ouvi das minhas amigas: “Queria ter uma Ro na minha vida”.

“Excelente-se!”

“Todos nós temos um potencial inabalável
dentro de nós mesmos,
o que falta é crer e exercê-lo.”

Melissa Hadassah

Como sempre faz questão de enfatizar meu querido amigo Luciano Alves Meira, excelente profissional quando o assunto é desenvolvimento do potencial humano –, “muitos de nós ainda dormimos em cima dos nossos potenciais e o potencial humano é infinito”. Por isso, eu desejo que você “excelente-se” – neologismo que resolvi utilizar para a sua capacidade de acreditar que sempre será possível estar melhor em algo hoje, que no dia anterior e melhor amanhã que hoje. Para isso, precisamos ter consciência, empenho e não nos deixarmos paralisar pelas adversidades. Então, “excelente-se” da seguinte forma: 

1) Descubra o que você tem de pontos fortes e procure focar neles. 

2) Coloque empenho em suas competências e esforce-se para ser cada dia melhor. 

3) Visualize o que você deseja conquistar a partir desses pontos.

4) Não se desestimule com os obstáculos, mantenha o FOCO. Adversidades virão, e a excelência pode requerer mais tempo que imagina. Curta o fluxo, aproveite cada oportunidade para aprender.

5) Tenha em mente que a excelência não tem um ponto de chegada e que ela pode ser aprimorada todos os dias. Excelência é um hábito.

E finalizo com mais duas observações a serem consideradas: excelente-se, se possível, divertindo-se! Adote o mindset de crescimento, mantendo-se curioso e persistente, mesmo diante daquilo que desafia suas melhores habilidades. Não tema as falhas que poderão acontecer; pelo contrário, encare-as como oportunidades de aprendizado para que você seja cada vez mais excelente! Quanto mais excelência você conquista, mais ativa a sua paixão pelo aprendizado e, certamente, mais realizações virão.

Referências:

DWECK, Carol S. MINDSET. A Nova Psicologia do Sucesso. São Paulo, Objetiva, 2017.

DUCKWORTH, Angela L. Garra: o poder da paixão e da perseverança. Trad.Donaldson M. Garschagen, Renata Guerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. 

GALUUP. Uma introdução ao tema Excelência Clifton Strengths. Acesso em: 20out. de 2021.