Autoridade

Neste capítulo, trago uma referência do que pode conduzir a humanidade para o tão necessário processo de evolução: a autoridade para influenciar e sermos  influenciados na direção dos  importantes propósitos que precisamos realizar juntos. Apresento um caminho  para que possamos construir  autoridade, a fim de alcançar, da melhor maneira possível, o futuro desejado.

Izabela Mioto

Eu lhe concedo autoridade porque acredito na sua intenção.

Eu lhe concedo autoridade porque não me sinto ameaçado(a) por você.

Eu lhe concedo autoridade porque você inclui a minha perspectiva.

Eu lhe concedo autoridade, pois vejo coerência em suas atitudes.

E quando lhe concedo autoridade, me percebo melhor, evoluo.

– Izabela Mioto

Autoridade é uma relational skill essencial, pois é capaz de conectar pessoas a bons propósitos. Explico. Parto do princípio de que pessoas que adquiriram níveis de consciência mais elevados, quando conquistam autoridade, facilitam o processo evolutivo da humanidade. Os mais conscientes sobre as condições climáticas podem mobilizar indispensáveis hábitos com o meio ambiente. Aqueles que compreendem como conquistar equilíbrio emocional, quando autorizados, contribuem para diminuir os altos índices de adoecimento emocional. Necessitamos de quem saiba como percorrer o caminho para genuinamente indicar a direção de nobres ideias para a edificação do futuro que desejamos. 

Neste capítulo, enfatizo que existe um processo para que a autoridade seja conquistada. Quem lhe concede autoridade é outro. Você pode até ter poder, mas isso não lhe concede autorização para influenciar outra pessoa na direção do que deseja. Um famoso livro, escrito por James Hunter (2004), O monge e o executivo, ao citar a diferença entre poder e autoridade, explica que ela se dá por meio da capacidade de influenciar as pessoas por meio do respeito que se conquistou. Ao exercer autoridade, por exemplo, uma liderança é capaz de inspirar de maneira positiva seus liderados, pois eles acreditam naquilo que devem realizar e passam a se conduzir de maneira espontânea e automotivada para atingir os resultados. O capítulo sobre Liderança Humanizada, escrito pela idealizadora desta obra, Lucedile Antunes, complementa muito bem o tema da autoridade. Compreender e exercitar a humanidade que nos habita facilita o processo de conexão com os liderados. 

E o poder? Ele, muitas vezes, pode até ser concedido a pessoas que não conquistaram autoridade. Mas o risco que se corre é que uma pessoa se sinta forçada a fazer algo, mesmo não acreditando naquilo. Uma motivação extrínseca pode ser acionada pelo poder, sendo ela um salário no final do mês, o medo de perder um emprego ou, até mesmo, o receio pessoal de não pertencer ou não ser validado(a). Poder deveria andar junto à autoridade. Nosso querido filósofo e professor Mario Sergio Cortella, há algum tempo, citou esta expressão: “Um poder que se serve, em vez de servir, é um poder que não serve”. Nosso poder deveria servir a um propósito que vai além das demandas dos egossistemas. O bom poder combina com alguém capaz de ter uma visão interdependente, mobilizando que se realize algo que seja bom para si, para os outros e que colabore para a evolução dos ecossistemas em que estamos inseridos.

Como construir o caminho da autoridade?

No livro Conversas decisivas, os autores afirmam que “As pessoas raramente ficam na defensiva por conta do que você está dizendo (conteúdo), elas ficam na defensiva por conta do motivo pelo qual elas pensam que você está dizendo algo (intenção)”. A primeira reflexão a se fazer no processo de construção da autoridade é se as pessoas acreditam e compreendem sua intenção. Aqui temos algo simples a se fazer: comunicar a intenção. Ao iniciar uma conversa em que precisa dizer para o outro que uma de suas atitudes não é adequada, você poderia começar dizendo sobre a intenção que tem de ajudar no processo de desenvolvimento do outro e no estabelecimento de melhores relações interpessoais para sua vida.

Um segundo ponto relevante nessa trajetória é mobilizar a percepção de que existe um ambiente emocionalmente seguro nessa relação. Nesse aspecto, a segurança psicológica se faz essencial. Uma pesquisa feita pelo Google, com 180 equipes com bons resultados, que recebeu o título de “Projeto Aristóteles” (APPUS, 2023) e teve o intuito de compreender quais são os principais fatores que mobilizam a alta performance, revelou que o que condiciona uma equipe de sucesso são: segurança psicológica, confiabilidade, estrutura e clareza, significado e impacto. Enfatizo que a segurança psicológica se demonstrou nesse estudo um fator que tem quatro vezes mais impacto do que os demais, isto é, quatro vezes mais impacto para um time se tornar de alta performance.

De acordo com Amy Edmondson (2020), que escreveu A Organização sem medo, segurança psicológica é a crença de que temos um ambiente seguro para corrermos riscos interpessoais; quando nos sentimos confortáveis em nos expressar livremente, sermos nós mesmos, sentimo-nos à vontade para compartilhar nossas preocupações e nossos erros sem medo de constrangimento ou represália. Com segurança psicológica, o outro não se sente ameaçado na relação e não se coloca em uma condição defensiva, mas sim de abertura.

Costumo citar em minhas palestras que, no final do dia, tudo o que nós, seres humanos, desejamos é pertencer e acreditarmos que somos relevantes. Por isso, um terceiro e decisivo passo é substituir julgamentos rígidos pela inclusão de perspectivas. Atenção: por mais que não se concorde com a perspectiva alheia, você pode compreender por que o outro pensa, sente ou age de determinada maneira. Quando há compreensão, o outro não se sente ameaçado e abre espaço para também ouvir e incluir sua perspectiva, concedendo-lhe autoridade.

Geralmente, admiramos pessoas que têm discursos eloquentes, com oratórias dignas de nota, mas perdemos rapidamente essa admiração quando nos damos conta de que suas atitudes são incoerentes com suas palavras. Isso até pode acontecer, pois, nesse caminho, você vai errar, esquecer e ultrapassar limites. Não ignore suas atitudes. Seja humilde, volte atrás, peça desculpas, converse sobre suas inconsistências. Ao se perceber mais humano e menos super-herói, você se conecta com a humanidade que habita em si, o que também facilita a construção de autoridade. Seja coerente, dê exemplo e conquiste admiração por suas atitudes.

Um último ponto citado refere-se ao resultado que a influência gerada por meio da autoridade traz. Você deve se lembrar de um momento na sua vida em que a emoção negativa entrou em cena e quase o sequestrou, desviando sua atitude do que realmente desejava para aquela situação. Foi quando alguém, com tranquilidade e amorosidade, olhou para você, sem julgamento, fez uma pergunta poderosa ou deu um conselho. Aquela fala fez total sentido, porque sentiu que o outro realmente se importava com você. Ele o ajudou a se reconectar com sua intenção, diminuir os níveis de emoção negativa, prometendo uma reflexão crítica e mais racional sobre a situação. Você concedeu autoridade para que ele o influenciasse. E isso fez que você pudesse manter a integridade consigo mesmo(a), com sua intencionalidade. Um sentimento de gratidão, tranquilidade e uma sensação de que tudo estava no seu devido eixo tomou conta de você. E o vínculo com aquela pessoa se fortaleceu. Você evoluiu.

A experiência gerada por uma influência positiva, por meio da autoridade, teria um impacto benéfico até mesmo em nossa saúde. Goleman (2019) enfatiza que nossos relacionamentos moldam não somente nossa experiência, mas também nossa biologia. De acordo com Humberto Maturana e Francisco Varela, no livro A árvore do conhecimento, eu só aprendo quando me conecto – o imperativo da evolução é me conectar. Tudo o que está acontecendo é porque estamos desconectados. Assim, a autoridade permite que a influência ocorra e aumente nossos níveis de conexão, facilitando nosso processo de evolução.

Relato sobre conquista de autoridade

O gerente João chega esbravejando na frente da equipe. Uma das áreas de interface do projeto não tem cumprido o combinado e a entrega, tão importante ao cliente, talvez necessite ser postergada. As pessoas ouviram com atenção o desabafo do líder. Alguns disseram: “Isso é um absurdo, não podemos penalizar nosso trabalho porque os outros são incompetentes”.

O diretor da área entra na sala, fica sabendo do ocorrido. Muda até o semblante, bate na mesa, em sinal de desaprovação. Todos se calam. Ele diz que a ordem é entregar o projeto na data especificada, que todos deveriam ter acompanhado as etapas e que o problema é de todos. Boa parte das pessoas na sala sente-se incompreendida, pois tem consciência de que entregou seu melhor e acha que não é justo ouvir aquilo daquela forma. Ficam desanimadas. 

José, o estagiário, percebe o clima ruim que foi gerado. Ao término da reunião, convida o gerente João para tomar um café na padaria da esquina, a fim de falar sobre o projeto. 

Ele começa a conversa dizendo quanto aprecia a atitude de João em cumprir os prazos e entregar os projetos com o máximo de excelência, reforça sobretudo o que já aprendeu com ele e que tem a intenção de contribuir com uma perspectiva que pode ajudar. José pergunta qual é a opinião dele em relação à sua ideia: mobilizar, temporariamente, uma equipe de trabalho para apoiar a área que está com dificuldades. João responde que não acredita nessa possibilidade, pois o coordenador da área é muito individualista. José faz que sim com a cabeça, mas não desiste. 

Ele busca ampliar a perspectiva de João. “E se você disser a ele que, por ter participado do planejamento inicial, a sua equipe tem informações que podem facilitar? O que nós perderíamos com essa tentativa?”. Estou disposto a fazer parte dessa equipe temporária e lhe digo que, na semana passada, levei uma ideia que vi na faculdade para esse coordenador. E, ontem mesmo, recebi um e-mail agradecendo e que a ideia foi validada. 

Mais calmo, João já cogita essa possibilidade. Chega cedo no dia seguinte e se dirige para a sala desse coordenador. Começa dizendo a ele que tem a intenção de ajudar e que pensou em uma estratégia para não perderem o prazo. Dá a ideia da equipe de apoio temporária. Sem precisar ir adiante, um sorriso se abre e o coordenador diz a João: “Nunca imaginei que você fosse tão empático, que pudesse mobilizar sua equipe para nos ajudar. Muito obrigado, João; fico feliz e aceito”. 

José ousou comunicar sua intenção. Ele demonstrou que validava as atitudes do gerente João, incluiu sua perspectiva e deu exemplo de uma de suas atitudes, revelando coerência naquilo que estava propondo. O resultado? Todos evoluem nesse processo e encontram a forma mais íntegra de resolver os desafios, melhoram os níveis de conexão entre si e ainda entregam seu melhor para o cliente. E tudo isso porque José, o estagiário, construiu o caminho da autoridade. 

E você? Já pensou em que gostaria de ter autoridade? Trilhe esse caminho e contribua com o ciclo de evolução tão necessário. 

Referências

APPUS HR. Inspire-se no Projeto Aristóteles desenvolvido pela Google.
Disponível em: <https://www.appus.com/blog/people-analytics/
projeto-aristoteles/>. Acesso em: 08 jun. de 2023.
EDMONDSON, A. A organização sem medo. Criando segurança psicológica no local de trabalho para aprendizado, inovação e crescimento. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.
GOLEMAN, D. Inteligência social: a ciência revolucionária das relações humanas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.
HUNTER, J. C. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
MATURAMA, H. R.; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento – as bases biológicas da compreensão humana. Palas Athena. Edição original, 2001.
PATTERSON, K.; GRENNY, J.; McMILLAN, R; SWITZLER, A. Conversas decisivas – técnicas para argumentar, persuadir e assumir o controle nos momentos que definem sua carreira. São Paulo: Campus, 2003.