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Longevidade

Cada situação da vida pode ser vista e analisada sob diferentes perspectivas. Algumas surgirão no momento exato em que o evento está acontecendo – interpretações, opiniões, emoções, inferências, julgamentos; outras, somente com o tempo, no formato de visões retrospectivas. A importância destas reside no fato de que elas, em geral, são retomadas e revividas por meio de camadas de reflexão – eventualmente, até com um toque de nostalgia. E essa reflexão, por sua vez, é um exercício necessário que nos ajuda a entender melhor nossa trajetória, as decisões tomadas, e então encontrar as pepitas de propósito e beleza que compõem a vida.

Lembro do dia em que voltei da maternidade, logo após o nascimento de minha filha. Saímos de casa dois, voltamos três. Já no finalzinho da tarde, chegamos em casa e estacionei o carrinho de bebê na sala de estar. Olhei para o rostinho dela e entendi – só neste momento – que a paternidade havia se materializado. Claro: o momento do nascimento foi uma experiência e sensação únicas, mas até então era algo menos tangível do que o era para a mãe, que sentiu seus primeiros “chutes”, percebeu a barriga crescendo com o passar dos meses e se unia cada vez mais àquela criança que se formava. Para o pai, a coisa toda se transforma a partir do momento em que o staff da maternidade fica para trás e ele se encontra em casa, sozinho com o bebê. O que fazer agora?

Essa experiência me trouxe, com o passar dos anos, alguns aprendizados importantes sobre o tempo e sua passagem. Antes de ser pai – e de forma egoísta, confesso –, enxergava minha própria vida como o limite da existência: “Après moi, le déluge”, diria, prepotente, o pomposo Luís XIV. Não que eu não me preocupasse com questões humanas e ambientais – meu ponto é que o Universo era então finito. Com a chegada da Sophie, essa finitude deu lugar a uma imensidão.

Assim, comecei a pensar em longevidade. Não a minha. Mas como meus atos e palavras se estenderiam e que imagem de mim ela carregaria consigo. Comecei a pensar em algo que até então passava despercebido: a qualidade de presença – o quanto a atenção, a dedicação e a participação em cada momento, ali com ela, desde os mais simples, assumia uma importância maior, mais longeva. De como as escolhas que eu fizesse, dali em diante, causariam impactos – positivos ou negativos – nessa relação e no seu desdobramento ao longo do seu processo de crescimento.

 

 

Foi uma fase difícil, que demandou rupturas de paradigmas que até então norteavam minha vida, especialmente no âmbito profissional. Foi também um momento de autorreflexão sobre as escolhas que teria de fazer: quais sensações, ensinamentos, lembranças (com um toque de nostalgia também, talvez) gostaria de deixar a ela como legado.

Transpondo essa experiência para o contexto profissional, devemos nos questionar como se tem dado nossa presença nas conversas que travamos e relacionamentos que construímos. O quanto de nós mesmos estamos realmente depositando no dia a dia, a fim de absorver os elementos do contexto e, principalmente, nos conectar genuinamente com as pessoas.

Nos dias de glória da Roma antiga, generais eram ovacionados pela população sempre que retornavam a sua terra vitoriosos de um combate. Ao seu lado, contudo, um plebeu acompanhava o cortejo, repetindo: memento mori – “lembre-se de que você é mortal”. Essa reflexão era uma forma de lembrá-los da fugacidade daquela celebração e enfatizar que o que realmente importava era a perenidade de suas ações e como elas influenciariam aquelas pessoas. Assim, convido-os a pensar: o que realmente nos importa e qual legado queremos deixar às pessoas com quem nos relacionamos?

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Tiago Rodrigo

Tiago Rodrigo

Entusiasta de frameworks ágeis, Kanban e Trello - mas, acima de tudo, do protagonismo e do encontro de cada um com seu propósito. Economista Comportamental dedicado a esta ciência multidisciplinar na construção de modelos que facilitem e simplifiquem a tomada de decisão em diversos contextos.

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