Atualmente, estes dois processos têm sido muito utilizados, e são, sem dúvida, importantes ferramentas de apoio ao desenvolvimento de um indivíduo.

Tais processos ocorrem desde a Grécia Antiga. Mas é fato que se popularizaram nos últimos anos, criando um contexto bem mais amplo quanto ao seu uso. O número de cursos, palestras, formações, publicações e informações de toda ordem, referentes a Coaching e Mentoria, aumenta a olhos vistos.

No entanto, algumas vezes notamos que o entendimento não está tão claro, seja para os profissionais que prestam estes serviços, seja para os potenciais clientes. Este entendimento é importante para que a escolha a ser feita pelo interessado seja a mais acertada possível, tanto pelas razões que levam à procura do processo, quanto pela maior possibilidade de buscar o profissional devidamente qualificado, aumentando expressivamente a possibilidade de êxito no resultado do processo.

Neste artigo, nosso objetivo é abordar o conceito de cada processo, bem como algumas de suas semelhanças e diferenças, sem a pretensão de considerar completas ou decisivas as definições e contextos aqui expostos, já que esses processos às vezes se complementam, às vezes se entrelaçam e, por vezes, se dissociam totalmente.


 

Antes de detalhar cada um, vejamos uma das semelhanças: ambos têm o objetivo de apoiar o desenvolvimento do indivíduo. Desenvolvimento pressupõe a atualização do potencial de todas as dimensões humanas, seja emocional, física, intelectual ou espiritual. Então, pode-se entender que são processos que não são acabados ou fechados em si, uma vez que o ser humano está em evolução todo o tempo, e tais ferramentas igualmente evoluem e se ajustam às novas necessidades. No contexto de que tais processos têm o olhar na integralidade do ser humano, vejamos a seguir os conceitos de cada um deles.

Iniciemos pelo Coaching. A ICF (International Coaching Federation) o define como uma parceria com o cliente, em um processo instigante e criativo, que inspira o interlocutor a maximizar seu potencial pessoal e profissional. Ou seja, é a parceria entre o profissional certificado como Coach e o indivíduo (Coachee), a fim de prover suporte ao desenvolvimento deste indivíduo. O processo se destina à autorreflexão e autodescobertas pelo Coachee, com o consequente entendimento e maior clareza da consciência sobre si, seus espaços e funções, o que leva à ampliação de possibilidades de ações e comportamentos e à ruptura de padrões que podem limitar o seu desenvolvimento. A essência do Coaching é estimular o potencial do indivíduo, para que sua performance seja aprimorada, em um objetivo específico. Mesmo sendo possível utilizá-lo para qualquer âmbito da vida, uma das premissas do Coaching é que se defina, ao início, o objetivo específico almejado, e esse deverá ser o foco das atividades ao longo dos encontros entre Coach e Coachee.

O termo Coaching deriva do inglês Coach que, dentre outros, significa ensinar, treinar, preparar alguém ou, ainda, designa o treinador, instrutor ou técnico.

No Coaching utiliza-se metodologia específica, baseada na qualificação do Coach. Ocorrem interações regulares entre Coach e Coachee, previamente agendadas, e com um prazo definido (em geral 2 a 3 meses), tendo claramente começo, meio e fim, e trabalhando-se uma ou mais competências bem específicas.

É fundamental ressaltar que o Coach não aconselha, não orienta ou fornece soluções. Por isso, uma das habilidades cruciais requeridas para um Coach é fazer perguntas, a fim de instigar reflexões do Coachee e estimulá-lo a ações diferentes a partir daí. Pode-se dizer que um dos principais objetivos do processo de Coaching é tirar o Coachee da sua zona de conforto, provocando reflexões. O Coach, além de perguntas, utiliza ferramentas apropriadas e aplicáveis às diferentes situações, a partir do objetivo traçado com o Coachee.

 

 

Já a Mentoria (Mentoring, do inglês) é o processo no qual o profissional (Mentor) compartilha as suas experiências sobre situações coerentes às necessidades de desenvolvimento do cliente (Mentorando), a fim de apoiar o entendimento e aperfeiçoamento de habilidades e talentos, e a gerenciar melhor as vulnerabilidades e os desafios, propiciando a oportunidade de ajustes e aprimoramento. O Mentor, na Mentoria profissional, é aquele que assume a Mentoria como atividade de trabalho, devido às experiências e conhecimentos adquiridos na carreira, com o intuito de aconselhar outros profissionais.

A Mentoria profissional é, então, um processo de aconselhamento estruturado, com início, meio e fim, com abordagem mais ampla e com prazo mais longo do que o Coaching, podendo se estender por meses ou anos. As interações são agendadas e comumente têm intervalo maior entre elas (quinzenal, mensal, trimestral, etc) em comparação ao Coaching, quando geralmente a interação é semanal.

Com os contextos acima, nota-se outra diferença: enquanto o Coach não orienta, não fornece soluções e nem dá orientações, devendo levar o Coachee a encontrar as soluções e respostas, o Mentor tem importante papel de compartilhar as suas experiências e prover orientações, para que o Mentorando aprenda com elas e possa incorporá-las para o seu próprio desenvolvimento.

Outra diferença a ressaltar é que o Mentor tem mais senioridade profissional do que o Mentorando, provocando neste as reflexões para que possa fazer diferentes e mais acertadas escolhas, incluindo as comportamentais, enquanto a senioridade não é requerimento para o Coach, apesar de ser um diferencial em certos casos.

Coaching e Mentoria são processos estruturados e destinados, primordialmente, a desenvolver competências. Competência se associa a saber agir, a mobilizar recursos, a integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber se engajar, assumir responsabilidades e ter visão estratégica. Nos dois processos há certamente um aprendizado para ambas as partes, e a interação deve sempre ser de parceria e baseada em confiança, respeitando-se a individualidade e a confidencialidade. Essas são semelhanças importantes!

Por último, vale ressaltar que esses processos têm foco no presente e no futuro, e esse é um dos principais pontos de diferenciação da Terapia. Esta tem um olhar voltado ao passado, à história de vida e relações familiares e pessoais, e a partir daí trata doenças ou situações. Um processo não invalida ou limita o outro, e podem ser complementares, mas é imprescindível que se tenha muita clareza sobre o que significam, como ocorrem e quais os objetivos de cada um.

Referências:

https://www.icfbrasil.org/icf/sobre-a-icf (acesso em 2 de abril de 2020).

https://coachfederation.org/faqs?fwp_faqs_categories=icf-and-professional-coaching (acesso em 2 de abril de 2020).

– Gomes, Ana Paula C. Z. Coaching e mentoring (FGV Management) . Editora FGV. 2015, 1ª ed.

– Milaré, S.A.; Yoshida, E.M.P. Coaching de executivos: adaptação e estágio de mudanças. Psicologia: Teoria e Prática, v. 9(1), 86-99, 2007.

– Passmore, J. Coaching and Mentoring: The Role of Experience and Sector Knowledge. International Journal of Evidence Based Coaching and Mentoring, Special Issue, 2007.

– Rego, Arménio et al. Coaching para executivos. 2. ed. Lisboa: Escolar, 2007.

– Vergara, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.