Um dos dilemas da atualidade trata o equilíbrio entre Vida Pessoal e Vida Profissional. Ao longo de minha vida, aprendi que isso não existe, pois tentar equilibrar estes dois lados é impossível. A capa da Harvard Business Review de março de 2014 foi enfática: “Trabalho versus Vida: esqueça o balanceamento, você terá que fazer escolhas”.

 

Compreendo que mesmo precisando fazer escolhas, podemos fazê-las da maneira mais consciente possível, assim como podemos ajustá-las essas escolhas sempre que preciso.

O que estamos vendo nos dias de hoje são altos índices de pessoas com “burnout”, doenças psicológicas (principalmente depressão e crises de pânico), uso excessivo de drogas lícitas e ilícitas, famílias desestruturadas e empresas na UTI. Dessa forma, não podemos mais insistir em falar sobre esta separação em nossas vidas.

Uma pesquisa realizada pela Michael Page em 2019 diz que 8 em cada 10 pessoas não deixam as empresas e sim os líderes com que trabalham – o que reflete diretamente na existência de ambientes emocionalmente inseguros que ainda hoje são replicados pelas empresas e acarretam a extinção de seus talentos. Líderes tóxicos, autoritários, coercitivos, abusivos e até violentos é o que ouvimos nos corredores, fato que se tornou ainda mais latente após uma revista de grande circulação estampar em sua capa: “As piores empresas para trabalhar”. Pois é, isso existe e precisamos tomar medidas para ajudar na ampliação de consciência das pessoas, principalmente sobre gestão das consequências. Tornar o ambiente nas organizações psicologicamente seguro é fundamental para melhorar este cenário.

Por meio dos estudos realizados durante a fase em que me dediquei para escrever meu livro, cheguei à conclusão, com a ajuda de vários autores, que precisamos mesmo é integrar nossas vidas, pessoal e profissional, pois elas não existem de maneira separada. Entendo que devem estar sempre juntas, alinhadas, para que possamos conquistar a melhor integração possível em nossas vidas. Além disso, estudei e me especializei em um tipo específico de liderança, a chamada “Liderança Autêntica” (imaginando como seria se todas as pessoas pudessem se beneficiar com a capacidade de serem verdadeiramente autênticas). E foi quando eu entrei em contato com essa teoria que algo mais profundo despertou em mim.

Interessante que nos últimos anos o tema liderança vem ganhando uma porção de sobrenomes: Situacional, Servidora, Liberal, Democrática, Técnica, Motivadora e Carismática, apenas para citar alguns. Todas com seu valor e sua validade, por isso, podem ser utilizadas em conjunto.

A Liderança Autêntica surgiu como conceito por volta de 1960. Acreditava-se que a autenticidade das organizações refletia proporcionalmente a de seus líderes. Esta compreensão ganhou mais força com Bill George, e a partir do final dos anos 90, por meio do seu próprio estilo enquanto CEO da gigante Medtronic. Bill conseguiu comprovar que esta teoria traria resultados não vistos nesta indústria até então, e deixou um legado que perpetuaria nas organizações.

Nas pesquisas publicadas e em seus livros, fica claro que não existe um líder autêntico que não tenha sua vida integrada e um senso de preocupação e responsabilidade com o outro tão grande quanto consigo mesmo. Somente assim, com autoconhecimento e autodisciplina, será possível esse nível de gestão.


 

A definição de Liderança Autêntica por Bill George é:

“Líderes autênticos não apenas inspiram os que estão ao seu lado, eles os empoderam para que possam liderar. O Líder Autêntico traz as pessoas ao seu entorno, para que juntas possam dividir o mesmo propósito, estimulando-as a liderar de forma autêntica com o objetivo de criar valor a todos os stakeholders.”

Por meio dos meus estudos, certificação na metodologia e principalmente com a convivência com o professor Bill George, fui de certa forma adaptando o meu próprio conceito para Liderança Autêntica – que defino como: “o líder autêntico é alguém que tem uma forte noção ética, cuja motivação ao liderar pessoas em uma organização se apoia no propósito de trazer benefícios e relevância para a comunidade. O que o move não são ganhos individuais ou a conquista de uma boa reputação, mas o desejo de ser relevante”.

Mas, diante de tantas formas, conceitos e tipos de liderança, o que difere a Liderança Autêntica das demais? Por definição, já podemos imaginar que se trata de autenticidade, verdade, ética, respeito e uma forma de relacionamento onde o Líder midiático não tem espaço. Vivemos uma era onde o CEO já foi tratado quase como uma celebridade, com tapete vermelho, cercado por eventos sociais e isso traz o risco de que coisas mais importantes sejam negligenciadas, ou pessoas sacrificadas em prol desta “fama”.

Um outro famoso professor da Harvard Business School, Clayton Christensen, divide suas reflexões em 3 linhas, na obra “Como avaliar sua vida?”:

1 – Encontrar a felicidade na carreira profissional;

2 – Encontrar a felicidade nos relacionamentos;

3 – Ficar fora da prisão

Não são muitos os livros que recomendam aos executivos evitar serem presos. Nos dois primeiros itens, o professor discorre sobre a importância de se buscar um propósito na vida profissional que vá além de simplesmente adquirir poder e dinheiro. Também enfatiza a importância de manter os relacionamentos pessoais e familiares como uma prioridade, ponto que desenvolvo em detalhes no meu livro.

Já em relação ao terceiro, sobre como não ser preso, Clayton Christensen ensina que, na maior parte das vezes, os executivos ou empresários que tomaram decisões fora da legalidade acabaram vivenciando consequências catastróficas, como muitos casos recentes no Brasil e no mundo. E existe uma razão muito clara para isso: muitos líderes se deixaram levar pelo seu Ego e esqueceram que não se pode fazer coisas em busca única e exclusivamente de resultados financeiros, tampouco levar sua equipe ao limite físico e emocional, pois algumas falhas éticas poderão levá-los à prisão.

Não é este o tipo de legado que um líder deve deixar aos seus seguidores, a sua comunidade e a todos que estão ao seu redor. O legado deve ser algo que motive e inspire pessoas a fazer não o mesmo, mas inovar de uma forma autêntica, mantendo os valores e a ética acima de tudo, para promover resultados que gerem o mesmo impacto positivo.

Uma coisa também deve ficar clara e é muito relevante neste processo: o gestor, quando busca a liderança autêntica, deve estar preparado e com muita coragem pra se mostrar vulnerável, respeitar seus sentimentos e os de todos ao seu redor. Não existe este papo de que, entrando na empresa, os problemas individuais [particulares] ficam na porta e vice-versa. Na ideia de integração como seres humanos, esta falácia lançada há muitos anos sobre estudantes de uma forma em geral, e que gerou um grande número de líderes tóxicos, não cabe mais. Afinal, eles não apenas fazem mal a quem o rodeia, mas, principalmente, a si mesmo.

A busca pelo seu verdadeiro norte (True North) o ajuda na busca pela liderança autêntica. Como sempre digo, não se trata de uma corrida de 100 metros, e sim uma maratona até que você consiga integrar os diversos potes da sua vida. Compartilho aqui a figura central para que você também consiga iniciar seu caminho rumo a este estilo de liderança – o que percebo como uma bússola capaz de levar ao seu verdadeiro norte:

1- Definir seus princípios e valores;

2- Definir seu time de suporte;

3- Encontrar seu propósito de vida;

4- Integrar sua vida pessoal e profissional; e

5- Sempre buscar mais autoconhecimento

 

 

Por que a metáfora da bússola? Porque o autoconhecimento é o centro dela e trará solidez e completude.

Há diversas empresas no Brasil e no mundo onde temos, em minha opinião, líderes autênticos atuando e promovendo um legado fantástico. Cito como exemplo a Zappos e seu CEO Tony Hsieh, pelo modelo espetacular de gestão e autenticidade nas relações. Esse modelo traz não apenas bem-estar para os funcionários e à comunidade onde estão inseridos, como também resultados financeiros relevantes.

No Brasil, destaco duas empresas: Grupo Gaia, e seu CEO João Paulo Pacífico; e a Reserva, marca de vestuário que tem Rony Meisler como CEO. A primeira atua no ramo financeiro, nicho que muitos falavam não ser possível fazer uma gestão diferenciada; mas a Gaia, além de um sucesso empresarial, busca com sua atuação com a comunidade melhorar o todo onde está inserida. Exemplo disso é a ONG Gaia+, que se dedica a transformar a vida de crianças carentes com educação, esportes, artes, cultura e trabalhos com corpo e mente.

Já a Reserva faz questão de priorizar fornecedores locais, incentivando-os a inovar e continuar produzindo, além de motivar seus funcionários ao protagonismo e viabilizar doações de pratos de comida à população carente por cada peça comercializada. Seu slogan é “1 P para 5 P” ou seja, 1 peça de roupa gera a doação de 5 pratos de comida.

Esses são exemplos de que, sim, é possível fazer algo impactante e diferente que atinja não apenas as pessoas que trabalham com você, mas todos os stakeholders de qualquer tipo de operação. Eu não tenho dúvidas que existem ainda mais empresas com seus empreendedores sendo autênticos ao redor do mundo, mas, mais importante do que citá-los é fazer você pensar no que você precisa fazer para se tornar mais autêntico e, com isso, influenciar positivamente as pessoas ao seu redor.

Em tudo o que falei aqui neste artigo uma coisa deve ficar clara: não tente complicar, não há nenhuma fórmula nem tecnologia de foguete. É sobre ser você mesmo, se autoconhecer, tendo consciência de seus pontos fortes e vulnerabilidades. Conectar-se com pessoas que possam ajudar nas correções de rota, lidar com todas as emoções de forma produtiva, não utilizar máscaras e priorizar seu Ego – é, portanto, sobre ser genuíno.

Estão prontos para iniciar esta jornada?

E lembrem-se: é possível e depende 100% de você. E nós estamos aqui para ajudá-los neste desenvolvimento. Conte conosco!

 

 

Saiba mais em:

GEORGE, Bill. (2015) Discover your True North – becoming an authentic leader. Expanded and updated edition. John Wiley & Sons.

GEORGE, Bill & SIMS, Peter. (2007) True North – discover your Authentic Leadership. Jossey-Bass.

Harvard Business Review, edição de março de 2014. Work vs Life, forget about balance – you have to make choices.

MACHADO, Fredy. (2018) É Possível se reinventar e integrar vida pessoal e profissional. São Paulo: Benvirá.

Revista Exame, edição de fevereiro de 2020. Burn Out – o esgotamento pelo trabalho é o tema mais quente de 2020. Editora Abril.

Revista Você S/A, edição de fevereiro de 2020. As piores empresas para trabalhar. Editora Abril.