Foi em uma das palestras da minha querida e sábia amiga Fátima Jinnyat que ouvi a frase: “não queremos pessoas perfeitas, queremos pessoas de verdade.” Ela diz muitas coisas que me fazem refletir, mas essa frase me “flechou” de um jeito mais profundo. Naquela semana, também estava lendo o livro da Susan David, Agilidade Emocional (aliás, fica como indicação!) e vi a história de Linda. Ela havia sido diagnosticada com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) e tinha como essencial seus filhos, seus amigos e também adorava dançar. Apesar do sofrimento à medida que os sintomas avançaram, ela escolheu a conexão com aquilo que lhe era essencial. De acordo com que relata Susan, Linda decidiu dançar em vez de lutar e morreu sentindo-se afortunada por ter conseguido viver sua missão.
Quantos de nós caminhamos pela vida sem estarmos conectados com nosso eu mais genuíno?
Utilizo o termo conectado para quando conseguimos compreender a luz que trazemos, mas também as nossas sombras, aquela parte de nós que não gostamos muito. Ao negarmos nosso lado sombrio, dispendemos muita energia na tentativa de escondê-lo. Não o encaramos de frente, mas isso não significa que ele deixou de nos habitar. Brené Brown foi outra autora admirável que nos presentou com sua pesquisa sobre o poder de nos abraçarmos com nossa vulnerabilidade para seguirmos inteiros em direção ao que desejamos. Costumo dizer em minhas palestras que as nossas vulnerabilidades podem representar um leão muito bravo e faminto. Ou escolhemos fazer “amizade” com ele, gerenciar seu apetite e o termos aos nossos olhos ou…sem percebermos, de repente, ele nos ataca.
E é exatamente sobre isso a que me refiro: ser inteiro, ser de verdade, ser simplesmente humano, tendo compaixão para se desculpar e aprender com nossos erros, não paralisando, mas avançando e tendo humildade para encarar e gerenciar as nossas vulnerabilidades. Mas por que isso é tão desafiador?
Todos nós, no fundo, temos medo. Medo de sermos rejeitados, de sermos julgados, de não pertencermos a esse ou aquele contexto e aí é que vêm as nossas lutas. Lutamos para não aceitar que o comportamento daquele colega de trabalho nos irrita muito, afinal de contas isso não é nada adequado. Lutamos para não cessar aquela escolha que fizemos e que já não faz mais sentido, para ter aquilo que não representa o nosso ser, para nos adequarmos, para não parecermos diferentes demais. E se você simplesmente se permitisse sentir raiva e se desse a oportunidade de compreender o porquê dessa raiva? Se você tivesse coragem para revisitar escolhas que não te trazem mais felicidade ou motivação? Se procurássemos descobrir aquilo que verdadeiramente nos importa? Se aceitássemos que muitas vezes, ser diferente é só ser diferente e ponto? Que o melhor e mais íntegro que posso fazer por mim é me apresentar como realmente sou, por outro lado, precisarei gostar e aceitar as pessoas por inteiro, com o que considero bom e não tão bom assim? Parece simples, mas nada fácil. Quem disse que o simples é fácil? E qual o caminho?
Por tudo que tenho estudado, considero que o caminho seja único: um mergulho em sua essência, uma disposição genuína para “se encarar de frente”. Só aqueles que conseguem ter uma boa relação consigo mesmos é que terão melhores condições de olhar para o outro sem tantos julgamentos, terão maior predisposição para praticar a compaixão. Se você pensou em autoconhecimento, sim! foi isso mesmo que eu quis dizer.
Termino dizendo que nesse caminho existirão muitas adversidades, das menores às maiores e, ao estar inteiro, você se apresentará mais forte – ou melhor, mais leve – para dançar com elas em vez de lutar. Ao se mostrar de verdade, correrá um sério risco das pessoas lhe amarem, lhe aceitarem e dançarem com você quando passarem juntas pelas dificuldades que a vida apresentar.
E o combustível? Considero que seja a coragem. Como diz Susan David..
“Coragem não é a ausência do medo. Coragem é caminhar no medo.”
Referências:
David, Susan. Agilidade Emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo, Cultrix, 2018.
Brown, Brené. A coragem de ser imperfeito. Sextante, 2015.