Eu me perdoo por todas as vezes que eu não escolhi a mim, a maioria, era apenas um truque para aumentar a minha autoestima.
Quando criança, em idade escolar, sempre ouvi a minha mãe dizer que eu era esforçada e o meu irmão inteligente. E que as minhas notas eram frutos de muito estudo e dedicação; existia quase um amparo nesta observação, afinal, o meu irmão tinha notas semelhantes ou maiores e com poucas horas de dedicação. Com isso, aprendi desde cedo que o resultado era um critério importante de aprovação e me tornei uma pessoa competitiva.
Lembro de uma disciplina que tive ao entrar na universidade: neuroanatomia. O professor era médico e achava que nós éramos alunos de Medicina e não de Psicologia. A complexidade era tamanha, que num período muito curto de tempo, se instalou um sentimento de medo na turma e uma crença, coletiva e determinista, de que o professor era rígido e que de nada adiantaria estudar. E esta perspectiva gerou conforto para o grupo e as aulas tornaram-se mais fluidas, nem por isso menos difíceis!
Mas eu tive um comportamento controverso à crença coletiva instalada: estudei muito além do meu hábito, por horas e horas seguidas, ininterruptamente. Tirei a segunda maior nota da sala, aprendi a matéria, ocupei um lugar confortável com o professor e, mesmo assim, fiquei frustrada. O meu indicador mais importante era o resultado e não o processo de aprendizagem. E é claro que eu trouxe este valor para o mundo corporativo: altos padrões de resultados, horas de trabalhos, projetos desafiadores e criativos, alguns fracassos no meio do caminho, parte deles superados, outros não, algumas inabilidades políticas e uma boa dose de competição com pessoas que eram semelhantes a mim. Que exaustivo, tornei o mundo corporativo um lugar muito chato de se trabalhar.
Contudo, ocupei posições maiores e passei a receber feedbacks positivos, mas que em grande parte não me agradavam, pois em geral, avaliavam somente as minhas entregas e o resultado final dos meus projetos. O curioso é saber que, em alguns casos, eu tinha feito muito menos do que eu poderia, mas o possível dentro do contexto ao qual eu estava inserida. Eu demorei para saber disso porque, muitas vezes, os elogios reforçavam a minha autoestima. Quanta criatividade perdida!
Ao longo da minha jornada, também recebi críticas penosas e reducionistas sobre o meu trabalho e sobre o meu processo criativo e, em algumas delas, cheguei a duvidar do meu potencial por entender que essas críticas me definiam. Por sorte, eu tinha a curiosidade, a tenacidade e o gosto pelo desafio ao meu favor e, mais uma vez, contrariei as estatísticas e consegui sair deste lugar onde eu não pertencia. Carol Dweck, em seu livro Mindset: a nova Psicologia do sucesso, disse que “quando as pessoas acreditam que suas qualidades básicas podem ser desenvolvidas, os fracassos podem ser dolorosos, mas não os definem”.
Certa vez, fui convidada para palestrar sobre Carreira e, a partir de uma fala minha, uma pessoa na plateia interrompeu a discussão dizendo que não servia para ser líder e que outras pessoas da equipe, inclusive líderes, já haviam atestado essa falta de capacidade. O doloroso foi ela ter introjetado esta crença. De imediato, a questionei sobre o seu desejo em ser líder e se a resposta fosse sim, então com coragem, uma a boa dose de ânimo e muito esforço, ela seria capaz de modificar esta crença e conseguir prosperar em direção ao seu objetivo. Entretanto, passei a refletir também sobre uma característica ainda comumente encontrada nos ambientes corporativos: uma aparente necessidade de depreciação da capacidade de desenvolvimento do ser humano. Em função do que isso existe? Muitas vezes, elas podem marcar para sempre a vida de uma pessoa.
Por isso, invista no autoconhecimento e confie no potencial criativo da mudança, são eles que te levarão para outros lugares, muitas vezes desconhecidos, entretanto, longe de críticas reducionistas. Mudar não é fácil e, às vezes, pode significar transformar tudo. Mas, na maioria das vezes, é a única saída! Assuma as rédeas de sua vida.
E o melhor é que você não precisa estar sozinho nessa. O processo de mudança exige tempo e pode ser compartilhado com outras pessoas. Encontrei “anjos” no meu caminho que me encorajaram a buscar recursos internos nos momentos mais desafiadores. Eles me motivaram a ser uma profissional {e uma pessoa} melhor. Na dúvida, busque auxílio, só traz benefícios. E tenha uma vida próspera.