Lição 1 – Pause!
Sem avisar, um forte apito vindo do trem se fez ouvir. Um barulho ensurdecedor. Até os mais distraídos ouviram. “Todos desçam agora, sua vida está em perigo!”, alertavam. Alguns entraram em pânico, mesmo sem saber ao certo o tamanho do perigo; outros resolveram respirar, compreender e agir da forma mais cuidadosa possível; mas houve também aqueles que tomaram a decisão de seguir em frente, pois não se pode parar, há muito o que conquistar antes de descanso.
Você vinha se sentindo dentro de um trem bala, vendo tudo passar muito rápido? Sentindo-se mal por ter de finalizar um dia ainda cheio de pendências; por correr muito e parecer não chegar a um bom lugar; por não estar sendo capaz de perceber o que realmente se passa no caminho, perdendo importantes conexões? Não se esqueça de que quem dá sentido ao tempo somos nós mesmos!
E vejam que interessante: quando não temos consciência sobre a importância de fazermos as devidas pausas, as circunstâncias surgem e nos convidam a fazer isso. Não digo isso somente para este momento desafiador, mas para tudo em nossa vida. Pense sobre a importância da pausa – uma respiração em que conseguimos inspirar e expirar de maneira adequada, melhora e muito a concentração de oxigênio no sangue. Ela representa nossa conexão com o exterior, pois é responsável pela troca de gases com o ar atmosférico, elimina o que não nos serve e nos alimenta com o que é vital. Sem nem atenção a esse mecanismo vital estamos tendo, imagine com o restante: mastigar os alimentos, dormir e acordar, férias etc.
Como você percebeu o apito?
Comece pelo simples, mas vital: preste atenção à sua respiração, inspire e expire com mais consciência. Este é o melhor começo para acalmar a mente e o coração em momentos de pressão.
Lição 2 – Esteja presente, acolha-se!
Em seu livro “O poder da presença”, Amy Cuddy cita que “presença” são os próximos cinco minutos. Não temos a devida consciência de que tudo é impermanente e que não temos certeza sobre nada. Pense em qualquer certeza que tem e, em seguida, reflita: levando esse pensamento para o futuro – pode ser uma semana, um mês, um ano ou até dez anos –, você ainda assim continua certo disso? Quantas coisas podem acontecer e que não temos controle? Quantas situações podem mudar as nossas convicções, nossos desejos e até mesmo nossas capacidades?
O que temos é o agora. E parece que boa parte da humanidade vive a partir de uma projeção de futuro e uma busca de satisfação condicionada a um vir a ser.
Eu tenho esse momento: consigo ser grata por estar abrigada em um lar que estimo, por ter conquistado a capacidade de estar aqui escrevendo essas palavras para você e ainda pelo ar que entra em mim e que contribui para a renovação contínua do meu ser. Eu sou esse momento e, conectada a ele, posso caminhar com mais tranquilidade, construindo um futuro mais harmônico.
Uma outra citação do livro, é: Presença é renovação de julgamentos, barreiras e máscaras, de modo a criar uma conexão verdadeira e profunda com pessoas ou experiências. Entendo que a conexão profunda com pessoas e experiências se inicia pela conexão interior. Acolha-se! Olhe com atenção e cuidado para si e conecte-se aos seus sentimentos. O que tudo isso lhe causa? Quais são os sentimentos associados? Se você for capaz de acolher a si mesma(o), esse será o primeiro passo para que você se conduza com mais discernimento e um bom ponto de apoio para as pessoas que estão em estados emocionais caóticos. Viva cada experiência, procurando extrair o melhor que ela traz. “Pré ocupação” é agir em detrimento do que ainda não aconteceu e pode nos levar a um estado de ansiedade que paralisa as microações produtivas no aqui e agora, aquelas que constroem melhores perspectivas para o futuro.
Presença é ser eu mesmo e me manter confiante, aconteça o que acontecer. Acolha-se, tenha coragem de continuar caminhando, mesmo com medo. E repita: eu sou esse momento e serei o melhor possível agora!
Lição 3 – Lembre-se de que o todo nos influencia e nós influenciamos o todo
Para mim, uma das maiores inconsciências que temos como humanidade é a de que fazemos parte do mesmo sistema e que, ao fazer mal ao outro, estamos nos afetando também. Ouço frases do tipo: “não vou ajudar, não tenho nada a ver com isso”, “o outro que lide com as consequências dos seus atos”. Vejo empresas que espremem seus fornecedores ao máximo para garantir mais lucro em suas receitas. Será que essa ação é sustentável? Quanto mais uma empresa colabora com o negócio de seu fornecedor, mais qualidade na entrega de serviços ou produtos ela terá e mais sustentável se tornarão suas relações comerciais. Infelizmente, em muitos casos, ainda não percebemos a existência desse nível de consciência.
Quanto mais os meios de comunicação veiculem notícias mostrando somente o lado negativo dos acontecimentos, é bem possível que isso gere mais pânico nas pessoas e, por consequência, corremos o risco de entrar em um círculo vicioso. Pense no que você sentiu ao ler uma notícia positiva, com fonte confiável, em meio a esse momento turbulento que estamos vivendo? E então: como você pode influenciar os ambientes em que está inserido? O que tem feito para gerar mais harmonia, tranquilidade e confiança?
Recentemente, ouvi uma pessoa dizer que precisamos aproveitar todo o nosso tempo para nos preparar para o pior. De fato, senti um mal-estar; essa fala influenciou meu estado de espírito. Ainda bem que pude refletir sobre e retornar para o equilíbrio e ao fato de que preciso me manter atenta e cuidadosa para um estado de confiança e presença.
Como você tem contribuído para influenciar positivamente a si e aos outros?
Lição 4 – Cuidado com os julgamentos!
Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço que ofereceu excelentes contribuições no campo da Psicologia, tem uma citação que vale muito para os dias atuais: “pensar é difícil, por isso as pessoas preferem julgar”. Honestamente, sinto alguns julgamentos como armas que destroem as verdadeiras possibilidades de cocriarmos as melhores formas para vencermos esse momento tão desafiador para a humanidade. Esquecemos o propósito e nos conectamos em causas pessoais ou partidárias. Esquecemos que as pessoas podem, sim, ter opiniões distintas e que podemos respeitá-las; que muitas vezes é da contradição e do diálogo que pode nascer uma terceira alternativa, mais eficaz para a resolução das questões ou das divergências.
E assim tem caminhado a humanidade. Como diz o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos em que perdemos o espírito de comunidade, vivendo a sociedade em rede. Gosto quando ele cita que no mundo interligado “as interações sociais ganharam a aparência de brinquedos de crianças rápidas”. Ele enfatiza que perdemos o espírito de comunidade e que, para a rede, fazer o enfrentamento das situações cara a cara, olho no olho, acaba sendo um evento traumático. Então, nós conectamos e desconectamos. E os nossos julgamentos ditam a regra – você gosta do azul, eu também, está conectado; não gosta, então eu te desconecto. As relações acabam se tornando cada vez mais superficiais e com menor possibilidade de diálogos construtivos.
Platão nos convidou a pensar que o homem realmente sábio é aquele capaz de observar tanto o fenômeno, quanto a sua essência. Se não chegarmos à essência, corremos o risco de ficar com nossas visões sempre muito “enviesadas” por crenças que podem ser limitantes ou mesmo por paradigmas que fecham o canal de comunicação para visitarmos outras perspectivas. Agora é momento de acolher mais e julgar menos. Precisamos estar abertos a ouvir, a tecer a verdadeira rede que nos levará para tempos melhores, uma rede com seres humanos, conectados e acolhedores de suas potências e vulnerabilidades.
Você em acolhido ou julgado mais?
Lição 5 – Habite os melhores lugares, nutra-se!
Hoje, dia 14/04/2020, ao acessar as redes sociais, chamou a atenção o número de posts com fotos que contemplavam o por do sol na cidade de São Paulo. Será que em outras épocas daríamos tanto valor a essa obra de arte? Eu mesma, por amar o meu trabalho e seguir com muita determinação meu propósito de vida, chegava a pegar 8 voos na mesma semana; deixei de dar o devido valor e importância em nutrir meu filho com o alimento preparado por mim. Assim como lembrar que as melhores inspirações para a construção de minhas palestras nasceram das conversas que tenho com ele antes de dormir – e ele só tem dez anos, mas ensina tanto!
Todos esses dias ao lado dele, adotamos o hábito de uma “mini meditação”, seguida de uma prece, antes dormir. É impressionante o que esse momento tem representado para mim. Sou muito grata por ter o Luca em minha vida: ele rega o que há de melhor em mim.
Hoje eu ouço uma música, assisto a um filme ou leio um livro com um nível de apreciação mais profundo. A arte nos nutre! Conecte-se à natureza e sinta-se parte dela. Semana passada, enquanto fazia minha caminhada noturna, eu me peguei completamente apaixonada pela lua da cidade de Assis. Compartilho aqui a foto tirada por Marcos Ferreira. Eu me nutri da lua e me senti tão bem!
Você tem conseguido buscar o silêncio interior? Ouvir a voz que vai lhe conduzir para o melhor habitat possível? Um lugar em que você compreende para onde suas ações devem seguir, pois deixa a clareza do que realmente é importante e que trará a satisfação e plenitude tão essenciais para nos sentirmos partes de algo maior? Habite a si mesmo com amorosidade, atenção e compaixão; assim, você será alguém capaz de nutrir pessoas e contextos e, de alguma maneira, pessoas e contextos mais bem nutridos, por reciprocidade, farão o mesmo para você.
Tenho ficado muito feliz com os movimentos de ajuda para a população que apresenta menos recursos para fazer o enfrentamento dessa situação. Psicólogos nutrindo emocionalmente, ao abrir espaços para que as pessoas tenham um lugar seguro para se reorganizarem. Iniciativas para doações de cestas básicas e produtos de primeiras necessidades para populações carentes financeiramente. Esses movimentos nutrem a capacidade empática e o espírito de comunidade que tanto precisamos nesses momentos.
Lição 6 – Simplifique!
Hoje eu estava vendo uma live – aliás, esta é uma das coisas que mais tenho feito: ouvir pessoas interessantes e agregadoras. Que bom que agora tenho tempo para isso! Estava ouvindo a Luciana Pianaro, CEO de uma das publicações aqui no Brasil de que eu mais gosto, a Revista Vida Simples. Eu admiro a Luciana pela sua história de vida, mas essencialmente pela humanidade com que ela expõe suas ideias e pelo propósito com que conduz sua vida. Ela falou que para ser simples, o que a gente precisa mesmo é descomplicar. Como somos bons em complicar as coisas, trazer peso para as bagagens que carregamos em nossas jornadas!
Começamos pelo consumismo desenfreado que tomou conta da sociedade. O ter, tão essencial para muitas pessoas que correm para lá e para cá, mas não desfrutam como gostariam. Talvez esse TER seja a sombra do SER perdido em nós. Entendo que não há problema nenhum em termos, mas não podemos condicionar nossas existências a isso – “eu não sou o que eu tenho”. Pergunte-se: se eu perdesse todos os bens materiais hoje, o que me restaria?
Esses dias de confinamento me fizeram perceber que eu posso viver com muito menos e que, surpreendentemente, fica muito mais leve e claro, sustentável. Por exemplo: para que ter várias coisas iguais? Isso só requer mais espaço, mais tempo para limpar e organizar; parece que a teoria do essencialismo nunca fez tanto sentido como agora.
Ao citar o consultor McKeown na Revista Simples, Rafael Tonom, autor do artigo “Só o essencial”, enfatiza: “O caminho do essencialista segue um propósito, não segue o fluxo. Em vez de escolher reativamente, ele distingue de maneira deliberada as poucas coisas vitais das muito triviais; elimina o que não é essencial e depois remove obstáculos para que o essencial tenha passagem livre”.
É chegado o momento de tirar o peso e remover os obstáculos para que tudo aquilo que realmente importa sinta-se regado para acontecer mais em nossas vidas!
O que você tem carregado em sua bagagem que não faz mais sentido para o agora?
Lição 7 – Encontre sentido
Encontrar sentido: sem dúvida, para mim, a lição norteadora de todas as outras, em relação a momentos de crise. Por distinção, eu a cito como última. Qual é o sentido de cada ação que você realiza? Qual o sentido da sua existência? O que verdadeiramente te move? Sei que não são perguntas fáceis de serem respondidas, mas de suma importância de serem perseguidas, mesmo que leve uma vida toda.
O sentido não está fora, essa é a principal pista para nos lançarmos nesse labirinto. Sou psicóloga e uma das linhas teóricas que mais parece atual é de Viktor Frankl – neuropsiquiatria austríaco, fundador de uma escola de psicoterapia, a Logoterapia (terapia do sentido). Ele ficou mundialmente conhecido após escrever “Em busca de sentido”, em que descreve a sua difícil experiência em quatro campos de concentração nazistas. Dr. Frankl tem uma frase que ficou muito famosa e resume um pouco do que contempla em sua teoria: “quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.”
Para Frankl, a busca de um sentido para a vida é a principal força motivadora de um ser humano. Gosto de pensar que a frustração dessa necessidade é um dos grandes causadores das principais dificuldades dos novos tempos: depressão e ansiedade, por exemplo. Tenho percebido o quão as pessoas que têm, de certa forma, algum sentido para a sua vida, estão passando muito melhor por este momento. Quando vamos para dentro de nossas casas, ou somos convidados a olhar para dentro, corremos o risco de nos depararmos com um vazio existencial que pode nos colocar em estados emocionais desafiadores, ou mesmo nos levar a preencher esse vazio com coisas que essencialmente não nos preencherão, e sim nos viciarão em uma dinâmica que fica mais parecida com aquele “buraco sem fundo”.
Eu sei que muitas pessoas podem até se irritar – por que todo mundo fala tanto em propósito? Eu não tenho e vivo bem assim. Claro que isso pode acontecer, mas por experiência – estudo muito e persegui meu propósito por anos, podendo afirmar que a vida fica mais conectada quando o temos. E em momentos de tensão, crise e desafios como o que estamos vivendo, o propósito nutre nossas ações e trazem mais sentimento de confiança para nossas existências. O meu propósito nessa vida é enxergar e comunicar a luz das pessoas, para trazer à tona a sua potência para si e para o mundo. E o resultado? Percebi que posso iluminar os caminhos por onde tenho passado.
A minha intenção genuína ao escrever estas palavras é a de que você se conecte e ascenda a luz que te habita, e que ela mobilize pensamentos de esperança, confiança, movendo em você ações que possam regar, mesmo que um pouquinho, as melhores condições para superarmos da melhor maneira possível a turbulência que se instaurou no planeta – a nossa casa, o nosso habitat!